Terra Apyterewa (PA): indígenas Parakanã sofrem 5º ataque a tiros em 6 meses; entenda conflito com invasores

Esta em busca de aumentar suas vendas?
Serviço completo para gestão de midias sociais, Anuncie no Instagram, Facebook e Linnpy
BID Mídia Patrocinado

Área já foi a mais desmatada do país e teve retirada de não indígenas. Agora, invasores investem na retomada armada. Um indígena foi ferido por bala de chumbo; e profissionais da saúde e educação pediram a saída do território diante de ameaças. Da esq. à dir.: Munições encontradas nos ataques; ponte destruída.
Reprodução / Arquivo Pessoal
Os indígenas Parakanã foram alvo de um quinto ataque armado na Terra Indígena (TI) Apyterewa, no Pará. Um indígena ficou ferido na perna com bala de chumbo. Outro ficou desaparecido por horas em área de mata. Agentes da Força Nacional e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foram acionados nesta terça-feira (13). Nenhum dos atiradores foi encontrado.
A TI vive uma onda de ataques desde dezembro de 2024. O aumento da tensão fez com que profissionais da saúde e educação indígenas pedissem a saída do território diante de constantes ameaças. O conflito entre os indígenas e invasores mobiliza órgãos federais e preocupa organizações da sociedade civil, que acompanham o caso.
A TI Apyterewa fica em São Félix do Xingu, no sudoeste do Pará, e tem 773 mil hectares - onde caberia aproximadamente cinco vezes a cidade de São Paulo. Já foi a mais desmatada do país, sendo palco de operação federal de desintrusão concluída em 2024.
A desintrusão é a retirada de invasores não indígenas do território - ação que, no caso da TI Apyterewa, foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao Governo Federal. Mas, agora, desde dezembro, os Parakanã denunciam uma série de ataques armados em que não indígenas estão buscando retornar para a área.
Indígenas Parakanã são alvo do 5º ataque armado dentro do território Apyterewa, no Pará; um indígena ficou ferido com bala de chumbo.
Reprodução / Arquivo Pessoal
O interesse dos não indígenas no território, segundo os Parakanã, são as plantações de cacau e as áreas que tinham sido abertas para criação ilegal de gado. Os invasores que exploravam a TI foram alvo de ações judiciais pela venda de cerca de 50 mil cabeças de gado dentro da área.
Operações investigam fraudes e comércio ilegal de milhares de bois em Terra Indígena no PA
A tentativa de retorno à TI pelos não indígenas é feita mediante ameaças de morte e ataques a tiros, principalmente à noite, para tentar intimidar os Parakanã, segundo relatos coletados pelo g1.
"São pistoleiros, grileiros, que mandam ameaças toda semana, dizendo que vão matar todos nós, todas as nossas famílias", afirma liderança, cuja identidade foi preservada pela reportagem.
⚠️ Em áudios, indígenas relataram ao órgãos federais de segurança como os invasores agiram no ataque mais recente. Os relatos descrevem que um grupo de oito Parakanã estava próximo a um igarapé, quando foi surpreendido por atiradores, não identificados - ouça:
Indígenas relatam mais um ataque a tiros na Terra Apyterewa, no Pará
Na reação aos disparos, o grupo se dispersou. Um deles fugiu para dentro da mata e ficou desaparecido. Ele foi encontrado horas depois, buscando abrigo na casa de um morador.
Já o indígena ferido chegou a ir até a base federal, e conseguiu atendimento na Vila Taboca, em São Félix do Xingu. A vila fica distante cerca de 15 quilômetros do local do tiroteio, segundo os indígenas.
"Aconteceu coisa ruim aqui na ocupação, hoje foi baleado nosso parente".
Até este quinto ataque, ninguém havia sido ferido. Nas aldeias, a sensação de insegurança acendeu o alerta, já que segundo as comunidades a base de agentes da Força Nacional e Funai ainda não consegue dar conta de patrulha mais efetiva.
? Nesta reportagem sobre o conflito entre indígenas Parakanã e invasores da TI Apyterewa, você vai entender mais sobre:
Cronologia do conflito
Onda de ataques
Aumento da vulnerabilidade
O que diz o Governo
1. Cronologia do conflito
Ação de retirada de gado ocorre após desintrusão na TI Apyterewa
Divulgação
A desintrusão na TI ocorreu, oficialmente, entre 2 de outubro de 2023 até fevereiro de 2024, com retirada de invasores, fiscalização e consolidação. À época, o Governo Federal celebrou a entrega simbólica do território ao povo Parakanã.
Depois disso, houve a etapa de pós-desintrusão, com patrulhamento, monitoramento e repressão a crimes. No dia 6 de março de 2024, foi assinada a Certidão de Conclusão de Desintrusão, durante assembleia com autoridades federais e lideranças indígenas.
Toda a desintrusão foi então considerada completa em março de 2024, mas operações continuaram a ser realizadas, inclusive retirando gado ilegal, como foi o caso da "Operação Boi Pirata".
Uma base federal permaneceu para realizar monitoramento e fiscalização de forma permanente e garantir a proteção do território. Foi a partir deste período que os ataques se intensificaram.
Luísa Molina, antropóloga do Instituto Socioambiental (ISA), explica que os ataques chamam atenção para a "extrema delicadeza" das terras indígenas, sofrendo "pressões contínuas, que não cessam no momento da desintrusão".
"É necessário trabalho muito fino de inteligência territorial, de monitoramento, de acompanhamento das pressões e de acompanhamento constante de pontos mais vulneráveis dentro dos territórios", ela defende.
Ela também argumenta que "é fundamental o amparo de políticas específicas que contemplem o público que pode ser mais propenso a se engajar com os ilícitos dentro dos territórios indígenas": "é preciso olhar essa população, quem ela é, o que que ela ela faz, o que que ela precisa, quais são as políticas públicas que podem ampará-las de modo a evitar essa reincidência das invasões".
2. Onda de ataques
?Desde a desintrusão, a ordem dos momentos de tensão entre indígenas e invasores foi a seguinte:
1. Dezembro de 2024 – Ataque à aldeia Tekatawa
Em 18 de dezembro de 2024, a recém-criada aldeia Tekatawa foi alvo de ataque armado, quando indígenas foram surpreendidos por tiros. Ficaram evidências de cartuchos de munição e furos de bala em redes e paredes das casas. Não houve feridos, mas o ataque provocou clima de tensão na TI.
2. Janeiro de 2025 – Tiroteio durante atividade de caça
Em 25 de janeiro de 2025, três indígenas Parakanã estavam caçando quando encontraram um acampamento suspeito. Os invasores iniciaram um tiroteio e houve troca de tiros, segundo os indígenas. Novamente, não houve feridos, mas o episódio reforçou o estado de alerta.
3. Fevereiro de 2025 – Novo ataque à aldeia Tekatawa
Na madrugada de 19 de fevereiro de 2025, homens armados invadiram novamente a aldeia Tekatawa, disparando diversos tipos de armas (espingarda calibre 12, pistola, carabina, rifle 44). Mulheres, crianças e idosos precisaram ser evacuados para aldeias vizinhas devido ao risco. O ataque foi denunciado ao MPF.
4. Abril de 2025 – Ataque em igarapé
Em 28 de abril de 2025, indígenas relataram um novo ataque a tiros em uma aldeia às margens do igarapé São Sebastião. Cápsulas de munição foram encontradas no local. A Força Nacional e a Funai foram acionadas, mas os atiradores fugiram antes da chegada das autoridades.
5. Maio de 2025 – Ataque a grupo
No dia 13 de maio de 2025, um grupo de oito indígenas estava na área de um igarapé. Um ficou ferido, e outro ficou por horas desaparecido em área de mata, sendo encontrado horas depois na casa de um morador. O indígena ferido havia sido atingido por uma bala de chumbo.
Em vídeo gravado em dezembro de 2024 (assista abaixo), os indígenas registraram diversas marcas de tiros nas paredes moradia. O cenário, após os ataques, também incluem:
munições espalhadas pela floresta;
ponte construída pela Funai destruída;
tela contra mosquito com perfurações de tiros.
Indígenas registram marcas de tiros em aldeia; Força Nacional foi acionada na TI Apyterewa
Advogado atuante na Associação Indígena Tato'a, Paulo Büll acompanha os indígenas Parakanã. Ele detalha que são ataques, na maioria, noturnos. Ainda não se sabe quantos envolvidos, nem se estão envolvidos em um grupo.
Ele explica que as restrições e limitações de estrutura para o trabalho de agentes federais diminuem a efetividade do enfrentamento.
"Há, primeiro, a dificuldade para chegar no território, que é muito grande e a comunidade está se deslocando, entrando em uma outra configuração de ocupação territorial, organizando as aldeias. Os acessos até as aldeias são dos mais diversos".
O advogado entende que "a situação extrapola a capacidade dos órgãos prestarem a apoio na segurança" e que "não indígenas que se sentem violados pela operação de retirada se aproveitam das limitações estruturais, e também do território em si, para enfim promover os ataques".
3. Aumento da vulnerabilidade
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 1.383 indígenas Parakanã vivem na TI Apyterewa. O povo é considerado de recente contato, ocorrido em meados de 1983. Agora, com a desintrusão, boa parte das famílias estão reocupando o território e se reorganizando em novas aldeias.
Mas, com a onda de ataques, os indígenas relatam que serviços básicos que começaram se estruturar estão sendo afetados. Profissionais de saúde e de educação indígena pediram a retirada por riscos da atuação.
Paulo Büll explica que a saída dos profissionais "representa retrocesso muito grande, porque já há uma vulnerabilidade histórica pela distância e dificuldade de acesso, além da permanência segura de profissionais na área".
"Se no primeiro momento o risco é da distância, é tomar uma picada de cobra, não ter a quem recorrer, ou ter só uma pessoa na enfermagem, agora são os riscos territoriais. Quem acaba sofrendo as consequências são os próprios Parakanã, a própria comunidade indígena".
4. Como estão as investigações
A investigação sobre os ataques é sigilosa e está em andamento, segundo a Polícia Federal.
O Ministério Público Federal (MPF) informou, ao g1, que encaminhou à PF todos os relatos que vem recebendo e que "prefere não se pronunciar sobre o tema até que as investigações estejam concluídas".
Para Luísa Molina, do ISA, "não é novidade a dificuldade das ações de proteção dentro de territórios indígenas, devido às questões orçamentárias e de pessoal para dar o caráter contínuo". "Custam muito, tanto em termos de recursos humanos, como em financeiros".
Já Paulo Büll, da Tato'a, aponta que ainda há limitações na atuação da Força Nacional, "uma vez que o órgão prevê ações específicas de apoio aos órgãos, como a Funai, e não às comunidades propriamente ditas". "Essas dificuldades são estruturais e caberia um trabalho legislativo, da ordem política macro, para se fortalecer".
5. O que diz o Governo
Já o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) afirmou, em nota, que a base da Força Nacional, montada na TI Apyterewa, "compõe a estrutura de apoio no âmbito de uma operação de proteção territorial" e que "a atuação ocorre em apoio à Funai, à PF e aos órgãos estaduais de segurança pública, conforme planejamento e diretrizes estabelecidos por essas instituições".
"Os acionamentos da Força Nacional são realizados pelas autoridades competentes, como a Funai e a Polícia Federal, a partir das demandas verificadas in loco e das necessidades operacionais específicas", afirma o ministério.
A nota do MJSP explica, ainda, que a estrutura da operação envolve:
patrulhamento ostensivo,
pronto emprego em áreas sensíveis
e apoio logístico às ações dos órgãos demandantes.
A pasta destacou que vem enfrentando desafios como a logística de acesso a áreas remotas; a complexidade da malha territorial; e as condições climáticas.
"O Governo Federal atua de forma integrada com os demais órgãos para garantir a continuidade das ações, respeitando as particularidades de cada território e promovendo segurança e estabilidade nas regiões em processo de desintrusão", diz a nota.
A Funai, responsável pelo acompanhamento direto aos indígenas, e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) também foram procurados pelo g1, mas ainda não tinham se manifestado até a publicação da reportagem.
Base de agentes federais na TI Apyterewa, no Pará.
Reprodução
Reprodução / Arquivo Pessoal
Os indígenas Parakanã foram alvo de um quinto ataque armado na Terra Indígena (TI) Apyterewa, no Pará. Um indígena ficou ferido na perna com bala de chumbo. Outro ficou desaparecido por horas em área de mata. Agentes da Força Nacional e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foram acionados nesta terça-feira (13). Nenhum dos atiradores foi encontrado.
A TI vive uma onda de ataques desde dezembro de 2024. O aumento da tensão fez com que profissionais da saúde e educação indígenas pedissem a saída do território diante de constantes ameaças. O conflito entre os indígenas e invasores mobiliza órgãos federais e preocupa organizações da sociedade civil, que acompanham o caso.
A TI Apyterewa fica em São Félix do Xingu, no sudoeste do Pará, e tem 773 mil hectares - onde caberia aproximadamente cinco vezes a cidade de São Paulo. Já foi a mais desmatada do país, sendo palco de operação federal de desintrusão concluída em 2024.
A desintrusão é a retirada de invasores não indígenas do território - ação que, no caso da TI Apyterewa, foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao Governo Federal. Mas, agora, desde dezembro, os Parakanã denunciam uma série de ataques armados em que não indígenas estão buscando retornar para a área.
Indígenas Parakanã são alvo do 5º ataque armado dentro do território Apyterewa, no Pará; um indígena ficou ferido com bala de chumbo.
Reprodução / Arquivo Pessoal
O interesse dos não indígenas no território, segundo os Parakanã, são as plantações de cacau e as áreas que tinham sido abertas para criação ilegal de gado. Os invasores que exploravam a TI foram alvo de ações judiciais pela venda de cerca de 50 mil cabeças de gado dentro da área.
Operações investigam fraudes e comércio ilegal de milhares de bois em Terra Indígena no PA
A tentativa de retorno à TI pelos não indígenas é feita mediante ameaças de morte e ataques a tiros, principalmente à noite, para tentar intimidar os Parakanã, segundo relatos coletados pelo g1.
"São pistoleiros, grileiros, que mandam ameaças toda semana, dizendo que vão matar todos nós, todas as nossas famílias", afirma liderança, cuja identidade foi preservada pela reportagem.
⚠️ Em áudios, indígenas relataram ao órgãos federais de segurança como os invasores agiram no ataque mais recente. Os relatos descrevem que um grupo de oito Parakanã estava próximo a um igarapé, quando foi surpreendido por atiradores, não identificados - ouça:
Indígenas relatam mais um ataque a tiros na Terra Apyterewa, no Pará
Na reação aos disparos, o grupo se dispersou. Um deles fugiu para dentro da mata e ficou desaparecido. Ele foi encontrado horas depois, buscando abrigo na casa de um morador.
Já o indígena ferido chegou a ir até a base federal, e conseguiu atendimento na Vila Taboca, em São Félix do Xingu. A vila fica distante cerca de 15 quilômetros do local do tiroteio, segundo os indígenas.
"Aconteceu coisa ruim aqui na ocupação, hoje foi baleado nosso parente".
Até este quinto ataque, ninguém havia sido ferido. Nas aldeias, a sensação de insegurança acendeu o alerta, já que segundo as comunidades a base de agentes da Força Nacional e Funai ainda não consegue dar conta de patrulha mais efetiva.
? Nesta reportagem sobre o conflito entre indígenas Parakanã e invasores da TI Apyterewa, você vai entender mais sobre:
Cronologia do conflito
Onda de ataques
Aumento da vulnerabilidade
O que diz o Governo
1. Cronologia do conflito
Ação de retirada de gado ocorre após desintrusão na TI Apyterewa
Divulgação
A desintrusão na TI ocorreu, oficialmente, entre 2 de outubro de 2023 até fevereiro de 2024, com retirada de invasores, fiscalização e consolidação. À época, o Governo Federal celebrou a entrega simbólica do território ao povo Parakanã.
Depois disso, houve a etapa de pós-desintrusão, com patrulhamento, monitoramento e repressão a crimes. No dia 6 de março de 2024, foi assinada a Certidão de Conclusão de Desintrusão, durante assembleia com autoridades federais e lideranças indígenas.
Toda a desintrusão foi então considerada completa em março de 2024, mas operações continuaram a ser realizadas, inclusive retirando gado ilegal, como foi o caso da "Operação Boi Pirata".
Uma base federal permaneceu para realizar monitoramento e fiscalização de forma permanente e garantir a proteção do território. Foi a partir deste período que os ataques se intensificaram.
Luísa Molina, antropóloga do Instituto Socioambiental (ISA), explica que os ataques chamam atenção para a "extrema delicadeza" das terras indígenas, sofrendo "pressões contínuas, que não cessam no momento da desintrusão".
"É necessário trabalho muito fino de inteligência territorial, de monitoramento, de acompanhamento das pressões e de acompanhamento constante de pontos mais vulneráveis dentro dos territórios", ela defende.
Ela também argumenta que "é fundamental o amparo de políticas específicas que contemplem o público que pode ser mais propenso a se engajar com os ilícitos dentro dos territórios indígenas": "é preciso olhar essa população, quem ela é, o que que ela ela faz, o que que ela precisa, quais são as políticas públicas que podem ampará-las de modo a evitar essa reincidência das invasões".
2. Onda de ataques
?Desde a desintrusão, a ordem dos momentos de tensão entre indígenas e invasores foi a seguinte:
1. Dezembro de 2024 – Ataque à aldeia Tekatawa
Em 18 de dezembro de 2024, a recém-criada aldeia Tekatawa foi alvo de ataque armado, quando indígenas foram surpreendidos por tiros. Ficaram evidências de cartuchos de munição e furos de bala em redes e paredes das casas. Não houve feridos, mas o ataque provocou clima de tensão na TI.
2. Janeiro de 2025 – Tiroteio durante atividade de caça
Em 25 de janeiro de 2025, três indígenas Parakanã estavam caçando quando encontraram um acampamento suspeito. Os invasores iniciaram um tiroteio e houve troca de tiros, segundo os indígenas. Novamente, não houve feridos, mas o episódio reforçou o estado de alerta.
3. Fevereiro de 2025 – Novo ataque à aldeia Tekatawa
Na madrugada de 19 de fevereiro de 2025, homens armados invadiram novamente a aldeia Tekatawa, disparando diversos tipos de armas (espingarda calibre 12, pistola, carabina, rifle 44). Mulheres, crianças e idosos precisaram ser evacuados para aldeias vizinhas devido ao risco. O ataque foi denunciado ao MPF.
4. Abril de 2025 – Ataque em igarapé
Em 28 de abril de 2025, indígenas relataram um novo ataque a tiros em uma aldeia às margens do igarapé São Sebastião. Cápsulas de munição foram encontradas no local. A Força Nacional e a Funai foram acionadas, mas os atiradores fugiram antes da chegada das autoridades.
5. Maio de 2025 – Ataque a grupo
No dia 13 de maio de 2025, um grupo de oito indígenas estava na área de um igarapé. Um ficou ferido, e outro ficou por horas desaparecido em área de mata, sendo encontrado horas depois na casa de um morador. O indígena ferido havia sido atingido por uma bala de chumbo.
Em vídeo gravado em dezembro de 2024 (assista abaixo), os indígenas registraram diversas marcas de tiros nas paredes moradia. O cenário, após os ataques, também incluem:
munições espalhadas pela floresta;
ponte construída pela Funai destruída;
tela contra mosquito com perfurações de tiros.
Indígenas registram marcas de tiros em aldeia; Força Nacional foi acionada na TI Apyterewa
Advogado atuante na Associação Indígena Tato'a, Paulo Büll acompanha os indígenas Parakanã. Ele detalha que são ataques, na maioria, noturnos. Ainda não se sabe quantos envolvidos, nem se estão envolvidos em um grupo.
Ele explica que as restrições e limitações de estrutura para o trabalho de agentes federais diminuem a efetividade do enfrentamento.
"Há, primeiro, a dificuldade para chegar no território, que é muito grande e a comunidade está se deslocando, entrando em uma outra configuração de ocupação territorial, organizando as aldeias. Os acessos até as aldeias são dos mais diversos".
O advogado entende que "a situação extrapola a capacidade dos órgãos prestarem a apoio na segurança" e que "não indígenas que se sentem violados pela operação de retirada se aproveitam das limitações estruturais, e também do território em si, para enfim promover os ataques".
3. Aumento da vulnerabilidade
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 1.383 indígenas Parakanã vivem na TI Apyterewa. O povo é considerado de recente contato, ocorrido em meados de 1983. Agora, com a desintrusão, boa parte das famílias estão reocupando o território e se reorganizando em novas aldeias.
Mas, com a onda de ataques, os indígenas relatam que serviços básicos que começaram se estruturar estão sendo afetados. Profissionais de saúde e de educação indígena pediram a retirada por riscos da atuação.
Paulo Büll explica que a saída dos profissionais "representa retrocesso muito grande, porque já há uma vulnerabilidade histórica pela distância e dificuldade de acesso, além da permanência segura de profissionais na área".
"Se no primeiro momento o risco é da distância, é tomar uma picada de cobra, não ter a quem recorrer, ou ter só uma pessoa na enfermagem, agora são os riscos territoriais. Quem acaba sofrendo as consequências são os próprios Parakanã, a própria comunidade indígena".
4. Como estão as investigações
A investigação sobre os ataques é sigilosa e está em andamento, segundo a Polícia Federal.
O Ministério Público Federal (MPF) informou, ao g1, que encaminhou à PF todos os relatos que vem recebendo e que "prefere não se pronunciar sobre o tema até que as investigações estejam concluídas".
Para Luísa Molina, do ISA, "não é novidade a dificuldade das ações de proteção dentro de territórios indígenas, devido às questões orçamentárias e de pessoal para dar o caráter contínuo". "Custam muito, tanto em termos de recursos humanos, como em financeiros".
Já Paulo Büll, da Tato'a, aponta que ainda há limitações na atuação da Força Nacional, "uma vez que o órgão prevê ações específicas de apoio aos órgãos, como a Funai, e não às comunidades propriamente ditas". "Essas dificuldades são estruturais e caberia um trabalho legislativo, da ordem política macro, para se fortalecer".
5. O que diz o Governo
Já o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) afirmou, em nota, que a base da Força Nacional, montada na TI Apyterewa, "compõe a estrutura de apoio no âmbito de uma operação de proteção territorial" e que "a atuação ocorre em apoio à Funai, à PF e aos órgãos estaduais de segurança pública, conforme planejamento e diretrizes estabelecidos por essas instituições".
"Os acionamentos da Força Nacional são realizados pelas autoridades competentes, como a Funai e a Polícia Federal, a partir das demandas verificadas in loco e das necessidades operacionais específicas", afirma o ministério.
A nota do MJSP explica, ainda, que a estrutura da operação envolve:
patrulhamento ostensivo,
pronto emprego em áreas sensíveis
e apoio logístico às ações dos órgãos demandantes.
A pasta destacou que vem enfrentando desafios como a logística de acesso a áreas remotas; a complexidade da malha territorial; e as condições climáticas.
"O Governo Federal atua de forma integrada com os demais órgãos para garantir a continuidade das ações, respeitando as particularidades de cada território e promovendo segurança e estabilidade nas regiões em processo de desintrusão", diz a nota.
A Funai, responsável pelo acompanhamento direto aos indígenas, e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) também foram procurados pelo g1, mas ainda não tinham se manifestado até a publicação da reportagem.
Base de agentes federais na TI Apyterewa, no Pará.
Reprodução
Para ler a notícia completa, acesse o link original:
0 curtidas
Notícias Relacionadas
Não há mais notícias para carregar
Comentários 0