Do GLS ao LGBTQIAPN+: relembre a evolução da sigla que representa a comunidade

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A sigla, antes usada como marcador comercial, ganhou novos componentes e um uso mais político-social. Do ‘GLS’ ao ‘LGBTQIAPN+’: ativistas do Ceará explicam evolução da sigla que representa a comunidade.
JL Rosa/SVM
Quem viveu os anos 1990 ou 2000 deve lembrar da sigla “GLS”, que significava “Gays, Lésbicas e Simpatizantes”. O termo era um marcador de estabelecimentos onde a diversidade sexual era respeitada — ou deveria. Os anos se passaram e as três letras entraram em desuso, dando lugar a, ainda não padronizada, LGBTQIAPN+ (veja abaixo o que cada letra significa). Mas como foi esse processo?
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Primeiro, os ativistas de direitos humanos que viveram a “época GLS” explicam que a sigla possuía um uso essencialmente comercial. Ela era usada para marcar os locais onde gays e lésbicas poderiam se sentir à vontade. E o “S”? Representava quem era heterossexual (e outras pessoas não-homossexuais), mas não via problema em andar nesses locais. Ou seja, o uso era mercadológico e pouco político-social — o que gerou a necessidade de mudança.
Significado das letras na sigla que representa a comunidade LGBTQIAPN+
Arte/TV Verdes Mares
“Mas o bom de tudo isso é porque essa galera começou a se reunir. As lideranças, o pessoal que já estava aí na vanguarda do movimento, que começou a frequentar, começou mesmo a fazer essa captação de LGBTs para a causa. Então, o bom é porque a gente pôde compartilhar nesses espaços nossas experiências e pôde também captar gente para o nosso movimento”, explicou Fábio Mendes, que é ativista de diversidade sexual e de gênero há 30 anos em Fortaleza.
Hoje, com o GLS abolido, ainda não há uma padronização da sigla. No Ceará, por exemplo, a comunicação pública do governo estadual utiliza “LGBTI+”. Já no Brasil, o Governo Federal usou “LGBTQIA+” ao falar sobre a “4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+”, que acontece em outubro de 2025.
Veja abaixo linha do tempo da evolução da sigla LGBTQIAPN+
Evolução da sigla
Linha do tempo da evolução da sigla da comunidade
Arte/TV Verdes Mares
A evolução da sigla se deu de maneira gradual e nem sempre “bater um martelo” sobre datas é tarefa simples. Nos anos 1970, um movimento pioneiro, durante a ditadura militar, deu origem a uma primeira sigla: o MHB — Movimento Homossexual Brasileiro. “Esse movimento vai se organizar politicamente como a gente conhece, com movimentos sociais, a partir desse processo”, lembrou Dediane Souza, pesquisadora e ativista dos direitos humanos.
Com isso, surgiram várias representações nacionalmente, como o Grupo Somos de Afirmação Homossexual, o Grupo Gay da Bahia e a Rede Nacional de Travestis (Renata), que precedeu a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). No Ceará, foi fundado o Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB) em Fortaleza, em 17 de março de 1989.
Já em 1995, foi criada a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT) — que, à época, ainda tinha o “G” antes do “B”; posição que mudou posteriormente após reivindicações de mulheres lésbicas e bissexuais. Com isso, passava a surgir de maneira mais sólida a sigla que, no futuro, viraria LGTBQIAPN+.
Pedagogo Fabio Mendes, militante de direitos humanos há 30 anos.
Arquivo pessoal
No entanto, é apenas em 2008, após a “I Conferência Nacional GLBT” que as discussões sobre a sigla ganham mais força, reconhecem os atravessamentos de gênero feminino na comunidade e mudam a ordem das letras para algo mais próximo do que se tem atualmente. A conferência foi o primeiro evento governamental do mundo dedicado ao público LGBT.
Dediane Souza, pesquisadora e ativista dos direitos humanos.
Reprodução
“Então, a partir dessa primeira conferência, o movimento se reúne e começaram a discutir a ampliação dessa sigla e também a mudança da ordem. Então essa sigla, ela deixa de ser GLBT e passa a ser LGBT”, destacou Dediane.
“E a partir daí uma série de governos, estaduais e prefeituras, elas também criaram suas coordenadorias, criaram espaços de reconhecimento desse público e começaram também a desenvolver as políticas públicas para esse público”, complementou o pedagogo e ativista Fabio Mendes.
Na década de 2010, ficou mais popular a sigla LGBTQIA+, incluindo Queer, Intersexo, Assexual/ e outros. Na década seguinte veio a adição do P (Panssexual) e N (Não-binário). O sinal "+" indica que existem outras identidades e variações que não estão explicitamente descritas na sigla.
QIAPN+
Em entrevista ao g1, em 2023, a socióloga Stela Cristina de Godoi, da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas, explicou que as letras que vieram do Q para frente ganharam força nos últimos dez anos. O marco é uma movimentação iniciada nos Estados Unidos, nos anos 1980, sobre a “teoria queer”.
“A teoria queer, de certo modo, cria uma nova forma de interpretar o desejo, a sexualidade, o processo biopsicossocial diante de uma perspectiva nova”, disse a pesquisadora.
Com a noção de que as abordagens de sexo, gênero e orientação sexual são parte de um fenômeno social, até então, preso a um certo formato, a teoria entendeu que “as chamadas 'minorias sexuais', ficaram estigmatizadas ou por uma ideia marginalizante ou desviante, como aquilo que não é normal, que escapa da compreensão de normalidade. A teoria queer faz essa crítica”, comentou Stela.
O ativista Fabio Mendes, que vivenciou todas essas mudanças, complementa: “Esse ‘carrosselzinho’ de letras que a gente tem, nada mais é do que uma acomodação das identidades e das orientações sexuais, que hoje a gente entende que elas existem e que elas precisam ter visibilidade. Elas precisam ser mostradas, elas precisam ser conhecidas”, destacou.
"O movimento passa por processo do reconhecimento das diversas formas de sexualidade. Se a gente for compreender no mundo, existe mais de 30 expressões de gênero e de sexualidade. Então, esse movimento passa a incorporar pautas políticas de movimento, de sujeitos que estão organizados", reforçou Dediane Souza.
"Então essa sigla é muito mais para trazer essas marcas das identidades para o debate da política pública. Então é interessante a gente perceber que esse movimento vai incorporando, ele vai se modificando, ele vai incorporando outras pautas", explicou a pesquisadora.
Assista aos vídeos mais vistos do Ceará:
JL Rosa/SVM
Quem viveu os anos 1990 ou 2000 deve lembrar da sigla “GLS”, que significava “Gays, Lésbicas e Simpatizantes”. O termo era um marcador de estabelecimentos onde a diversidade sexual era respeitada — ou deveria. Os anos se passaram e as três letras entraram em desuso, dando lugar a, ainda não padronizada, LGBTQIAPN+ (veja abaixo o que cada letra significa). Mas como foi esse processo?
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Primeiro, os ativistas de direitos humanos que viveram a “época GLS” explicam que a sigla possuía um uso essencialmente comercial. Ela era usada para marcar os locais onde gays e lésbicas poderiam se sentir à vontade. E o “S”? Representava quem era heterossexual (e outras pessoas não-homossexuais), mas não via problema em andar nesses locais. Ou seja, o uso era mercadológico e pouco político-social — o que gerou a necessidade de mudança.
Significado das letras na sigla que representa a comunidade LGBTQIAPN+
Arte/TV Verdes Mares
“Mas o bom de tudo isso é porque essa galera começou a se reunir. As lideranças, o pessoal que já estava aí na vanguarda do movimento, que começou a frequentar, começou mesmo a fazer essa captação de LGBTs para a causa. Então, o bom é porque a gente pôde compartilhar nesses espaços nossas experiências e pôde também captar gente para o nosso movimento”, explicou Fábio Mendes, que é ativista de diversidade sexual e de gênero há 30 anos em Fortaleza.
Hoje, com o GLS abolido, ainda não há uma padronização da sigla. No Ceará, por exemplo, a comunicação pública do governo estadual utiliza “LGBTI+”. Já no Brasil, o Governo Federal usou “LGBTQIA+” ao falar sobre a “4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+”, que acontece em outubro de 2025.
Veja abaixo linha do tempo da evolução da sigla LGBTQIAPN+
Evolução da sigla
Linha do tempo da evolução da sigla da comunidade
Arte/TV Verdes Mares
A evolução da sigla se deu de maneira gradual e nem sempre “bater um martelo” sobre datas é tarefa simples. Nos anos 1970, um movimento pioneiro, durante a ditadura militar, deu origem a uma primeira sigla: o MHB — Movimento Homossexual Brasileiro. “Esse movimento vai se organizar politicamente como a gente conhece, com movimentos sociais, a partir desse processo”, lembrou Dediane Souza, pesquisadora e ativista dos direitos humanos.
Com isso, surgiram várias representações nacionalmente, como o Grupo Somos de Afirmação Homossexual, o Grupo Gay da Bahia e a Rede Nacional de Travestis (Renata), que precedeu a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). No Ceará, foi fundado o Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB) em Fortaleza, em 17 de março de 1989.
Já em 1995, foi criada a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT) — que, à época, ainda tinha o “G” antes do “B”; posição que mudou posteriormente após reivindicações de mulheres lésbicas e bissexuais. Com isso, passava a surgir de maneira mais sólida a sigla que, no futuro, viraria LGTBQIAPN+.
Pedagogo Fabio Mendes, militante de direitos humanos há 30 anos.
Arquivo pessoal
No entanto, é apenas em 2008, após a “I Conferência Nacional GLBT” que as discussões sobre a sigla ganham mais força, reconhecem os atravessamentos de gênero feminino na comunidade e mudam a ordem das letras para algo mais próximo do que se tem atualmente. A conferência foi o primeiro evento governamental do mundo dedicado ao público LGBT.
Dediane Souza, pesquisadora e ativista dos direitos humanos.
Reprodução
“Então, a partir dessa primeira conferência, o movimento se reúne e começaram a discutir a ampliação dessa sigla e também a mudança da ordem. Então essa sigla, ela deixa de ser GLBT e passa a ser LGBT”, destacou Dediane.
“E a partir daí uma série de governos, estaduais e prefeituras, elas também criaram suas coordenadorias, criaram espaços de reconhecimento desse público e começaram também a desenvolver as políticas públicas para esse público”, complementou o pedagogo e ativista Fabio Mendes.
Na década de 2010, ficou mais popular a sigla LGBTQIA+, incluindo Queer, Intersexo, Assexual/ e outros. Na década seguinte veio a adição do P (Panssexual) e N (Não-binário). O sinal "+" indica que existem outras identidades e variações que não estão explicitamente descritas na sigla.
QIAPN+
Em entrevista ao g1, em 2023, a socióloga Stela Cristina de Godoi, da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas, explicou que as letras que vieram do Q para frente ganharam força nos últimos dez anos. O marco é uma movimentação iniciada nos Estados Unidos, nos anos 1980, sobre a “teoria queer”.
“A teoria queer, de certo modo, cria uma nova forma de interpretar o desejo, a sexualidade, o processo biopsicossocial diante de uma perspectiva nova”, disse a pesquisadora.
Com a noção de que as abordagens de sexo, gênero e orientação sexual são parte de um fenômeno social, até então, preso a um certo formato, a teoria entendeu que “as chamadas 'minorias sexuais', ficaram estigmatizadas ou por uma ideia marginalizante ou desviante, como aquilo que não é normal, que escapa da compreensão de normalidade. A teoria queer faz essa crítica”, comentou Stela.
O ativista Fabio Mendes, que vivenciou todas essas mudanças, complementa: “Esse ‘carrosselzinho’ de letras que a gente tem, nada mais é do que uma acomodação das identidades e das orientações sexuais, que hoje a gente entende que elas existem e que elas precisam ter visibilidade. Elas precisam ser mostradas, elas precisam ser conhecidas”, destacou.
"O movimento passa por processo do reconhecimento das diversas formas de sexualidade. Se a gente for compreender no mundo, existe mais de 30 expressões de gênero e de sexualidade. Então, esse movimento passa a incorporar pautas políticas de movimento, de sujeitos que estão organizados", reforçou Dediane Souza.
"Então essa sigla é muito mais para trazer essas marcas das identidades para o debate da política pública. Então é interessante a gente perceber que esse movimento vai incorporando, ele vai se modificando, ele vai incorporando outras pautas", explicou a pesquisadora.
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