Sabão-de-soldado: a árvore que limpa, cura e ajuda a regenerar a natureza

Com frutos que possuem saponinas, espécie nativa do Brasil foi aliada de soldados no passado e hoje ganha destaque no reflorestamento e na agricultura. Frutos maduros da árvore
mauricio_mercadante / iNaturalist
Uma planta que cresce em meio às florestas tropicais e subtropicais das Américas, atrai abelhas, pássaros e morcegos e tem um nome curioso que desperta a imaginação: sabão-de-soldado (Sapindus saponaria). Mas, por trás desse apelido peculiar, existe uma árvore poderosa, tanto do ponto de vista ecológico quanto cultural.
Nativa do Brasil, a árvore de copa arredondada possui frutos globosos que já serviram como itens de higiene pessoal e doméstica para soldados durante campanhas militares. A tradição deu nome à espécie, mas seu valor vai muito além das trincheiras.
Os frutos do sabão-de-soldado contêm saponinas - substâncias naturais que formam espuma ao entrarem em contato com a água. Populações tradicionais e até militares aprenderam a usar esse recurso para lavar roupas, utensílios e o próprio corpo. Basta amassar o fruto e misturar com água para ver a mágica acontecer.
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“Embora os registros específicos variem, há indícios de que comunidades tradicionais utilizam a planta para higiene, artesanato e fins medicinais, especialmente em regiões do Cerrado e da Amazônia”, explica o professor Milton Groppo, curador do herbário do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP.
Além da aplicação como sabão, as saponinas possuem propriedades antimicrobianas, repelentes e até inseticidas. Não por acaso, a planta vem ganhando espaço na agricultura ecológica como biopesticida e biofertilizante, sendo uma alternativa natural aos agrotóxicos como solução eficiente para o controle de pragas e doenças.
Sabão-de-soldado registrado em São José dos Campos (SP)
miacinachi / iNaturalist
Da Amazônia ao sul do Brasil
Com altura que varia entre 3 e 20 metros, o sabão-de-soldado tem tronco escuro, folhas com vários pares de “folhinhas” finas e flores pequenas e peludas. Seus frutos arredondados, que vão do amarelo ao marrom, têm um interior gelatinoso rico em saponinas. A semente é negra e brilhante, envolta por um fruto que lembra uma cápsula.
Flores da saboneteira
fredericosonntag / iNaturalist
A planta se adapta a diferentes biomas, como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. No Brasil, sua distribuição vai do Norte ao Sudeste, com ocorrência também no Paraná. Fora daqui, também é encontrada em partes da América Central, do Caribe e sul dos Estados Unidos.
A árvore é tão versátil que recebe muitos nomes populares, resultado de sua ampla distribuição. Em regiões indígenas, é chamada de ibaró, jequiri, jequiriti ou jequitiguaçu. Há indícios de que povos indígenas e comunidades quilombolas a utilizam há gerações, em usos que vão da higiene, a medicina natural e o artesanato.
Apesar do uso de seus frutos pelo ser humano, a espécie não está ameaçada de extinção. Pelo contrário: é utilizada em projetos de reflorestamento e arborização urbana, sendo valorizada por sua resistência e por ajudar na recuperação de áreas degradadas.
Sabão-de-soldado ou saboneteira (Sapindus saponaria)
Eric Hough / iNaturalist
“Não há indícios de que esteja em risco de extinção no momento. Pelo contrário, é bastante usada em arborização urbana e projetos de reflorestamento, mesmo em cidades grandes”, acrescenta o botânico.
No ecossistema, o sabão-de-soldado cumpre papel importante na cadeia alimentar e na regeneração das matas. Seus frutos são consumidos por aves e morcegos, que espalham as sementes, e suas flores atraem polinizadores, como abelhas.
Hoje, a ciência confirma o que a sabedoria popular já sabia: o sabão-de-soldado é multifuncional e possui benefícios comprovados. Além do uso doméstico, seus extratos, tanto dos frutos quanto das folhas e da casca, têm aplicações medicinais e agrícolas.
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