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Caju, morango, figo e maçã: as 'frutas' que não são frutas do ponto de vista científico

Caju, morango, figo e maçã: as 'frutas' que não são frutas do ponto de vista científico
Chamados de pseudofrutos, espécies ajudam a manter o equilíbrio nos ecossistemas por meio de cores e sabores diversificados que atraem dispersores de sementes. Mudas de caju utilizadas no projeto foram trazidas do Nordeste
Raquel Maia/Rede Amazônica
Quando pensamos em caju, morango ou maçã, raramente nos damos conta de que, do ponto de vista botânico, esses alimentos não são exatamente frutas. Conhecidos como falsos frutos, eles se formam a partir de estruturas florais que não são o ovário da flor - ao contrário dos chamados frutos verdadeiros, como o abacate ou a banana.
O termo técnico para falso fruto é pseudofruto, e sua formação é resultado do desenvolvimento de outras partes da flor, como o receptáculo ou o pedúnculo floral.
“No caso dos frutos verdadeiros, a parte carnosa se origina do ovário da flor, após a fecundação dos óvulos. Já nos pseudofrutos, outras estruturas se desenvolvem e ganham a aparência e função de fruto”, explica a professora Isa Lucia de Morais, da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
No Brasil, o consumo de pseudofrutos é comum, mesmo que muitas vezes as pessoas nem saibam disso. Entre os exemplos mais populares estão o caju (nativo), a maçã, a pera, o morango, o marmelo e o figo. Todos eles têm em comum o fato de que a parte que comemos não é o fruto verdadeiro.
Morango que consumimos atualmente é um híbrido cultivado
tatjana_koroteeva05 / iNaturalist
O caju, por exemplo, é um pseudofruto do tipo hipocarpo, ou seja, é formado a partir do pedúnculo da flor. Aquela parte suculenta e adocicada que consumimos é, na verdade, apenas o “invólucro”. O fruto verdadeiro do cajueiro é a castanha, parte que se encontra presa na extremidade inferior do caju e que é amplamente usada na indústria alimentícia.
Já o morango, tão presente em doces e sobremesas, é um pseudofruto do tipo conocarpo. A parte vermelha e suculenta que comemos é o receptáculo floral desenvolvido. Os verdadeiros frutos são os minúsculos grãos visíveis na superfície do morango, chamados frutículos. Eles são as pequenas “sementes secas” que vemos, e se formam a partir dos ovários fecundados.
Maçã tem origem na Ásia Central, especialmente na região do atual Cazaquistão
Alex Press / iNaturalist
A maçã e a pera também se encaixam nessa categoria. Elas produzem pseudofrutos do tipo pomo, em que a parte carnosa se forma do receptáculo ou hipanto da flor. O verdadeiro fruto está na porção central, onde se encontram as sementes, sendo geralmente descartada durante o consumo.
Já o figo é ainda mais peculiar: trata-se de uma infrutescência chamada sicônio, em que diversas flores minúsculas ficam protegidas dentro de uma estrutura carnosa e oca. Essas flores são polinizadas por pequenas vespas, num fascinante exemplo de relação mutualística na natureza.
Figueira (Ficus carica) é nativa da região entre Ásia Menor ao norte da Índia
Trash Panda Permaculture / iNaturalist
Pseudofrutos menos conhecidos
Além desses casos, o Brasil abriga uma grande diversidade de pseudofrutos nativos ainda pouco exploradas pela agricultura e pela gastronomia.
É o caso de diversas representantes da família Annonaceae, como as espécies dos gêneros Annona, Duguetia e Rollinia. Esses vegetais produzem frutos compostos do tipo sincarpo, resultado da fusão de múltiplos ovários de uma mesma flor - e são ricos em sabor, nutrientes e potencial farmacológico.
Fruta-do-conde (Annona squamosa) é exemplo de espécie do gênero Annona
chiehliangchen / iNaturalist
Segundo a professora, o gênero Annona é o mais estudado, com espécies como a pinha, a graviola, a cherimóia, a atemóia e a pinha-de-conde. Além do valor nutricional, esses pseudofrutos despertam o interesse da ciência por conterem compostos bioativos com propriedades antibacterianas, anticancerígenas, antidiabéticas e anti-inflamatórias.
Equilíbrio dos ecossistemas
Mais que fontes de alimento para humanos, segundo a especialista, os pseudofrutos exercem um papel vital na manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas por meio de sua influência com os aspectos:
Dispersão de sementes: assim como frutos verdadeiros, são frequentemente consumidos por animais, que auxiliam na dispersão das sementes presentes no fruto ou no pseudofruto, permitindo que a planta se estabeleça em novas áreas e colonize diferentes habitats;
Alimentação de animais: são fontes de alimento para diversas espécies de animais, contribuindo para a manutenção da cadeia alimentar e para a saúde dos ecossistemas;
Interações ecológicas: por influenciar as interações entre diferentes espécies, como a relação entre plantas e animais polinizadores, ou entre plantas e animais dispersores de sementes;
Ciclo de nutrientes: a decomposição de pseudofrutos, assim como de frutos verdadeiros, contribui para a reciclagem de nutrientes no solo, enriquecendo-o e favorecendo o crescimento de outras plantas e fungos
Diversidade de espécies: a existência de diferentes tipos de frutos e pseudofrutos, com variações em tamanho, cor, sabor e composição nutricional, contribui para a diversidade de espécies em um ecossistema, tornando-o mais resiliente e adaptável a diferentes condições ambientais;
Equilíbrio ecológico: a presença de pseudofrutos em um ecossistema ajuda a manter o equilíbrio entre as diferentes populações do ambiente, evitando desequilíbrios que possam levar à extinção de espécies ou ao surgimento de pragas;
“A relação entre plantas que produzem pseudofrutos e animais dispersores de sementes é um exemplo de relação mutualística, na qual ambos os parceiros são beneficiados, contribuindo para a sustentabilidade do ecossistema”, comenta a botânica.
Para ela, entender a verdadeira origem do que comemos é uma forma de se reconectar com a natureza e valorizar a diversidade dos alimentos à nossa disposição.
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