Linnpy

G
G1
4h

Especialistas da Indonésia analisam por que brasileira não foi resgatada com vida de vulcão

Especialistas da Indonésia analisam por que brasileira não foi resgatada com vida de vulcão
A BBC conversou com especialistas em montanhismo da Indonésia que conhecem bem o monte Rinjani. Resgate foi muito criticado por internautas brasileiros. Quais são os possíveis erros do resgate da brasileira na Indonésia?
A morte da brasileira Juliana Marins em uma queda em uma trilha na Indonésia despertou muitas críticas nas redes sociais brasileiras sobre a infraestrutura no país asiático.
Muitos disseram que houve falta de preparo das equipes de resgate — que demoraram quatro dias para chegar até Juliana, que já estava morta neste ponto. Também houve críticas ao fato de que as cordas que chegaram no primeiro momento não eram longas o suficiente para alcançar o ponto onde ela se encontrava.
Outros comentários questionaram a ausência de helicóptero para o resgate nas primeiras horas e se teria sido possível manter Juliana viva com o fornecimento de alimentos, água e agasalho.
A BBC Indonesia (serviço da BBC em idioma indonésio) conversou com especialistas em montanhismo da Indonésia que conhecem bem o monte Rinjani.
Um dos especialistas disse que de fato o equipamento que chegou ao local era insuficiente — mas disse que a resposta considerada lenta pode ter ocorrido em função do mau tempo, e não por negligência.
"As cordas não eram longas o suficiente. Isso não deveria acontecer. No futuro, todas as cordas — de 500 metros, 600 metros — devem estar disponíveis no local", disse Mustaal, que trabalha com trilhas no monte Rinjani há 25 anos.
Todos relataram o desafio que é subir no monte Rinjani e contaram sobre as dificuldades e riscos que diversos aventureiros enfrentam no local. Com mais de 3,7 mil metros de altura, o monte é o segundo maior vulcão da Indonésia e um dos destinos mais procurados por turistas de aventura.
Mesmo não sendo considerado por alguns como um dos níveis mais difíceis de trilha, eles relataram que é preciso muita atenção — e que o desgaste físico para se chegar ao cume prejudica muito o foco dos trilheiros.
Confira abaixo o relato dos especialistas à BBC Indonesia.
Momento em que o corpo de Juliana Marins é trazido para trilha
Divulgação
'As cordas não eram longas o suficiente. Isso não deveria acontecer'
Mustaal tem 45 anos e organiza trilhas. Ele conhece o monte Rinjani desde 2000, onde já trabalhou como guia. Ele diz:
Em termos de dificuldade, o Monte Rinjani está, na verdade, entre as montanhas mais difíceis. Rinjani é conhecido por seu terreno desafiador, especialmente a trilha para o cume.
Alguns alpinistas já me disseram que mesmo o Monte Kinabalu — o pico mais alto da Malásia — não é nada comparado ao Rinjani em termos de dificuldade. Rinjani é muito mais difícil.
A seção Letra A (um trecho de trilha notoriamente íngreme) é muito difícil. Descer até o lago também exige muita concentração. Se você perder o foco, pode sofrer acidentes graves.
Por exemplo, certa vez guiei um trilheiro da Austrália. Na descida para o lago, ele perdeu o foco, chutou o próprio pé e caiu. Felizmente, a queda não foi muito profunda e ele conseguiu se levantar e continuar.
Em relação à queda recente da turista brasileira, o terreno lá é especialmente acidentado. No final da tarde, a área perto de Sembalun, em direção ao cume, costuma estar coberta por uma névoa espessa e escura.
Acredito que a trilha até o cume seja exaustiva o suficiente para prejudicar o estado de alerta mental do alpinista. Alguns descem com o cérebro já desconectado do corpo devido à fadiga. Isso afeta o controle emocional.
O caminho é estreito, com talvez um metro de largura, como uma pequena trilha. À esquerda, há um penhasco de 45 graus, e à direita, uma queda acentuada.
A fadiga contribui para a perda de foco.
Todos os guias seguem um procedimento operacional padrão: antes de qualquer caminhada, orientamos os visitantes sobre segurança e comportamento na montanha. Uma vez na montanha, a responsabilidade total recai sobre o guia — não sobre o operador de trilhas, que cuida da logística antes da trilha.
As autoridades do Parque Nacional também recomendam, e até insistem, que os trilheiros utilizem guias e carregadores de equipamentos. A trilheira brasileira cumpriu isso.
Olhando para o futuro, realmente esperamos que o equipamento de resgate em Rinjani seja atualizado e expandido. Isso é muito importante.
Por exemplo, agradecemos todos os esforços feitos pela equipe de resgate em terra — mas as cordas não eram longas o suficiente. Isso não deveria acontecer. No futuro, todas as cordas — de 500 metros, 600 metros — devem estar disponíveis no local.
Isso é crucial para garantir que não haja atrasos durante os resgates. Queremos salvar vidas, não recuperar corpos. Os equipamentos devem ser atualizados e colocados em zonas de alto risco.
Até agora, neste ano, duas pessoas morreram. A anterior era da Malásia, na mesma rota. Outras caíram na mesma área, mas sobreviveram.
Atualmente, os equipamentos de resgate geralmente vêm de longe — até mesmo de Mataram. Isso atrasa as coisas.
Também precisamos de uma resposta de emergência mais rápida. Se um acidente for relatado pela manhã, as equipes devem partir imediatamente.
Alguns dizem que a resposta foi lenta. Acho que pareceu lenta por causa do clima, não por negligência. Devemos proteger a equipe de resgate também — elas não devem se tornar vítimas.
Para acelerar as coisas, equipamentos melhores são essenciais. Em condições de neblina, apenas profissionais experientes com as ferramentas certas conseguem localizar pessoas.
TV da Indonésia mostra momento em que corpo de Juliana Marins é trazido para trilha
'Um movimento em falso pode ser fatal'
Ang Asep Sherpa é alpinista e membro da Wanadri, a organização de atividades ao ar livre mais antiga da Indonésia:
Escalar o Rinjani é uma viagem que pode durar um dia para atletas — atualmente isso é bem popular. Para quem carrega cargas pesadas (25 kg), é desafiador. Então, eu diria que Rinjani é uma montanha de nível médio.
A parte mais difícil é o cume. Não é "fácil", mas moderado. Não há trechos com pedras — você só precisa se manter na trilha.
De Sembalun Lawang até o cume, o terreno tem mais de 3 mil metros de altitude, sem cobertura de árvores. Os ventos costumam ser fortes. Se estiver muito ventoso, os carregadores aconselham não subir ao cume.
O trecho final, de 3 a 5 horas, é em terreno aberto. A última hora antes do cume é arenosa — dois passos para frente, um passo para trás.
É por isso que digo que Rinjani é "moderado" — você precisa de resistência física.
É muito exposto. Ambos os lados são penhascos. Um movimento em falso pode ser fatal. Os carregadores aconselham os escaladores a se manterem na trilha, mesmo para pausas.
Se você seguir a trilha, é seguro. Mas desviar para a esquerda ou para a direita é arriscado, especialmente com ventos fortes.
Os alpinistas precisam estar devidamente equipados — jaquetas quentes, por exemplo — porque a subida ao cume é longa (cerca de cinco horas). Iniciantes precisam estar fisicamente preparados.
Para efeito de comparação, o Monte Gede tem lojas ao longo do caminho. Alguns acham que Rinjani será semelhante. Encontrei um alpinista no Monte Ciremai perguntando: "Não vendem salgadinhos fritos aqui?". Eles não estavam acostumados a essa logística.
A regra de ouro (de acordo com os padrões internacionais de montanhismo) é: se a sua caminhada for de dois dias, leve comida para três.
'É justo dizer que a resposta foi lenta? Para mim, foi normal'
Galih Donikara é um montanhista famoso na Indonésia.
É justo dizer que a resposta foi lenta? Para mim, foi normal — com base na disponibilidade da equipe, equipamento e coordenação.
Toda montanha deveria ter um procedimento e uma equipe de resgate de emergência. Se isso estiver em vigor, eles podem seguir a operação padrão. Em caso de mau tempo, deve haver vários planos de ação.
A familiaridade com a área é vital. Se não for possível alcançar de cima, vá por baixo ou pelas laterais. Use helicópteros e drones — as redes de resgate devem atender aos padrões adequados.
Os parques nacionais — Rinjani, Kerinci, Carstensz — todos devem aplicar a coordenação de emergência padrão.
O problema não é o padrão — é a má implementação. Esses incidentes já aconteceram antes. Deveríamos ter previsto o que fazer se alguém caísse perto do cume, do lago ou de outras zonas de risco.
A Basarnas (nome da Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia) tem a habilidade e deve orientar o desenvolvimento de padrões de procedimento para montanhas como Rinjani e Carstensz. O treinamento conjunto é fundamental.
Em Rinjani, guias, carregadores e equipes de busca e salvamento devem participar da coordenação contínua — especialmente durante a alta temporada. Postos de emergência ao longo das principais rotas dariam mais tranquilidade aos caminhantes.
Corpo da brasileira Juliana Marins é recuperado de vulcão na Indonésia
9 mortes em 5 anos: por que o monte Rinjani, onde brasileira morreu em área de vulcão, é tão perigoso?
A cronologia da tragédia que matou Juliana Marins em vulcão na Indonésia
Equipes na Indonésia tentam resgatar corpo de Juliana Marins
Reprodução/redes sociais

Para ler a notícia completa, acesse o link original:

Ler notícia completa

Comentários 0

Não há mais notícias para carregar