Água azul turquesa e trilha no Cerrado aberto: conheça detalhes sobre cachoeira que fica dentro de território quilombola

Cachoeira de Santa Bárbara fica em Cavalcante e é uma das favoritas dos turistas. Além da beleza, as águas cristalinas contribuíram para o desenvolvimento da comunidade do Engenho II. Conheça detalhes sobre cachoeira que fica no Quilombo Kalunga
Água azul turquesa, trilha no Cerrado aberto, queda de 28 metros. Esses são alguns dos detalhes que envolvem a cachoeira de Santa Bárbara, localizada em Cavalcante, região nordeste de Goiás. Além da paisagem paradisíaca que encanta locais e turistas, a cachoeira também é parte importante do Quilombo Kalunga, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como território quilombola em 2021(conheça os detalhes da cachoeira abaixo).
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Os paredões de pedra que cercam a pequena lagoa que se forma no pé da queda são quase um casulo no meio do Cerrado. A cachoeira é uma das centenas de quedas d’água na Chapada dos Veadeiros, mas se destaca entre os destinos mais procurados em Goiás.
Melanye Rocha Amado, de 31 anos, visitou a cachoeira em junho deste ano. Em entrevista ao g1, a carioca contou que a viagem foi uma das experiências mais marcantes que ela já viveu.
“De tudo o que eu vivi lá [na Chapada dos Veadeiros], uma das coisas que mais me marcou foi, de fato, a Cachoeira de Santa Bárbara. Não só pela beleza, que é surreal, tem um paraíso escondido ali, mas também pela história do lugar”, disse ela.
Melanye na cachoeira Santa Bárbara
Arquivo pessoal/Melanye Rocha Amado
Destino em alta
Santa Bárbara fica dentro do povoado Engenho II, na área do sítio histórico do quilombo Kalunga. Segundo a turismóloga Lucilene Kalunga, a cachoeira de Santa Bárbara é uma das mais vendidas em pacotes turísticos da região e recebe turistas de todo o mundo.
A comunidade fica a aproximadamente 27 km do centro de Cavalcante. Chegando lá, o turista precisa pegar um transporte local conhecido como 'pau-de-arara' para um percurso de 4,5 km até a cachoeira, que custa R$ 10 para ir e outros R$ 10 para voltar.
Depois disso, uma trilha de 1,7 km separa os turistas da famosa Santa Bárbara. De acordo com o guia turístico Tiago Arantes Batista, a entrada para a cachoeira custa R$ 55 e o acesso é permitido para, no máximo, 60 pessoas simultaneamente, devido à extensão da área.
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Trilha no Cerrado
Dentro do complexo é possível visitar três cachoeiras que têm caminhos opostos, todas na companhia de guias Kalunga, requisito obrigatório para o passeio. Os guias podem ser contratos nas redes sociais ou no Centro de Atendimento ao Turista do povoado. Além da Santa Bárbara, que é a favorita dos turistas, há também as cachoeiras Capivara e Candaru.
Para chegar nas águas turquesa, Melanye conta que a caminhada fez parte do espetáculo da natureza. O percurso é uma trilha aberta no Cerrado, de dificuldade leve.
“É muito rico em detalhes, né? Aquela coisa mais seca, mais árido, o mato muito verde. A gente vê as plantas, as flores pequenas e diferentes, aquele chuveirinho que é local. Então, é realmente impressionante”, relatou.
Vegetação na trilha para a cachoeira
Arquivo pessoal/Lucilene Kalunga
Segundo o guia Kalunga Júlio César Paulino dos Santos, muitos turistas de diversos lugares do mundo visitam o povoado para conhecer a cachoeira, além dos paulistas e cariocas que “dominam” o fluxo.
Água azul turquesa
Cachoeira de Santa Bárbara em Cavalcante, Goiás
Arquivo pessoal/Júlio César
Os principais comentários sobre a cachoeira de Santa Bárbara giram em torno da água azul turquesa, muito comparada às praias paradisíacas do Caribe. O guia Tiago Arantes explica que a água azul se deve a uma substância comum na natureza: o carbonato de cálcio.
"É parecido com o calcário. Ele muda o pH da água e, quando o sol bate e reflete luz, aumenta a frequência dessa luz e dá essa ilusão de que a água é azul deixando esse cenário espetacular", explicou o guia.
O verde da vegetação mais densa próximo da cachoeira destaca ainda mais a cor azul. Segundo os guias, o período ideal para visitação vai de maio a setembro, com pouca chuva e muito sol. Assim, a água fica ainda mais azul pela maior incidência de raios solares.
Quem foi Santa Bárbara?
Ao contrário do que pode se pensar, Santa Bárbara não é padroeira do povoado e nem da cidade de Cavalcante. Portanto, a explicação para o nome da cachoeira não tem comprovação documental, mas mora nas histórias contadas pelo povo Kalunga.
Segundo o guia Júlio César, uma curandeira e parteira chamada Bárbara vivia nos arredores da cachoeira. De acordo com as lendas, a mulher ajudava escravos que fugiam de diversas regiões do Brasil para se refugiarem em Goiás.
"Eu costumo falar que ela ajudava os escravos que fugiam não só da Bahia, mas de diversas regiões do Brasil. Ela dava comida, cuidava de machucados... E também contam uma história de que ela usava a água da cachoeira para curar as pessoas", contou.
Júlio César guiando turistas para a cahcoeira
— Fotos: Arquivo pessoal/Júlio César
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Território Kalunga
A beleza da cachoeira não é só opção de lazer para os Kalunga, que encontraram nas águas de Santa Bárbara um caminho para o desenvolvimento econômico da região. De acordo com a turismóloga Lucilene Kalunga, o aumento da procura pelo turismo de cachoeiras não foi algo planejado.
"O auge aconteceu nos anos 2000. Por volta de 2004, nós percebemos que precisaria de uma organização maior para receber as pessoas e o Sebrae nos ajudou com o preparo e cursos de condutores com outros parceiros", explica.
De acordo com ela, a atividade turística é a grande responsável pelo desenvolvimento do Engenho II. O guia Júlio César explica que a Associação Quilombo Kalunga e a Associação Kalunga Comunitária do Engenho II, que ele descreve como "pequenas prefeituras", cuidam de toda a parte financeira, da manutenção das trilhas e da preservação das cachoeiras.
"Eles separam uma parte para a Educação, Esporte, Saúde, se precisar fazer manutenção de trilha ou algo na comunidade, eles arcam com o valor, ajudam através desses recursos", conta ele.
Toda uma cadeia produtiva está ligada ao turismo na comunidade, desde o artesanato vendido nas lojas e restaurantes que podem ser visitados por turistas, ao próprio trabalho dos guias. Além disso, eles ressaltam que o turismo faz parte da manutenção da cultura Kalunga.
"A gente conta muitas histórias nossas para os turistas. Inclusive, quando o movimento está grande, a associação contrata uma pessoa só para contar as nossas histórias e as nossas vivências dentro do território", destacou.
Placa que indica o território e festa de Folia comemorada na comunidade
Reprodução/Instagram de Lucilene Kalunga e Arquivo pessoal/Júlio César
Hoje, o território faz parte de projetos culturais e artísticos, como a Residência Artística do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, que recebe artistas de diversos estados e de fora do Brasil para uma imersão na cultura Kalunga e no Cerrado. No projeto, os artistas são convidados a pensar a arte por meio da história e vivências da comunidade.
Lucilene destaca que o turismo se coloca não só como parte importante da economia, mas também como um jeito de despertar o interesse dos mais novos pela cultura Kalunga. "O turismo veio para mostrar a necessidade das nossas culturas continuarem e não sofrerem com o apagamento histórico das nossas tradições", pontuou.
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Água azul turquesa, trilha no Cerrado aberto, queda de 28 metros. Esses são alguns dos detalhes que envolvem a cachoeira de Santa Bárbara, localizada em Cavalcante, região nordeste de Goiás. Além da paisagem paradisíaca que encanta locais e turistas, a cachoeira também é parte importante do Quilombo Kalunga, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como território quilombola em 2021(conheça os detalhes da cachoeira abaixo).
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Os paredões de pedra que cercam a pequena lagoa que se forma no pé da queda são quase um casulo no meio do Cerrado. A cachoeira é uma das centenas de quedas d’água na Chapada dos Veadeiros, mas se destaca entre os destinos mais procurados em Goiás.
Melanye Rocha Amado, de 31 anos, visitou a cachoeira em junho deste ano. Em entrevista ao g1, a carioca contou que a viagem foi uma das experiências mais marcantes que ela já viveu.
“De tudo o que eu vivi lá [na Chapada dos Veadeiros], uma das coisas que mais me marcou foi, de fato, a Cachoeira de Santa Bárbara. Não só pela beleza, que é surreal, tem um paraíso escondido ali, mas também pela história do lugar”, disse ela.
Melanye na cachoeira Santa Bárbara
Arquivo pessoal/Melanye Rocha Amado
Destino em alta
Santa Bárbara fica dentro do povoado Engenho II, na área do sítio histórico do quilombo Kalunga. Segundo a turismóloga Lucilene Kalunga, a cachoeira de Santa Bárbara é uma das mais vendidas em pacotes turísticos da região e recebe turistas de todo o mundo.
A comunidade fica a aproximadamente 27 km do centro de Cavalcante. Chegando lá, o turista precisa pegar um transporte local conhecido como 'pau-de-arara' para um percurso de 4,5 km até a cachoeira, que custa R$ 10 para ir e outros R$ 10 para voltar.
Depois disso, uma trilha de 1,7 km separa os turistas da famosa Santa Bárbara. De acordo com o guia turístico Tiago Arantes Batista, a entrada para a cachoeira custa R$ 55 e o acesso é permitido para, no máximo, 60 pessoas simultaneamente, devido à extensão da área.
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Chapada dos Veadeiros é um dos dez destinos que os brasileiros têm maior interesse em visitar; conheça atrativos
Trilha no Cerrado
Dentro do complexo é possível visitar três cachoeiras que têm caminhos opostos, todas na companhia de guias Kalunga, requisito obrigatório para o passeio. Os guias podem ser contratos nas redes sociais ou no Centro de Atendimento ao Turista do povoado. Além da Santa Bárbara, que é a favorita dos turistas, há também as cachoeiras Capivara e Candaru.
Para chegar nas águas turquesa, Melanye conta que a caminhada fez parte do espetáculo da natureza. O percurso é uma trilha aberta no Cerrado, de dificuldade leve.
“É muito rico em detalhes, né? Aquela coisa mais seca, mais árido, o mato muito verde. A gente vê as plantas, as flores pequenas e diferentes, aquele chuveirinho que é local. Então, é realmente impressionante”, relatou.
Vegetação na trilha para a cachoeira
Arquivo pessoal/Lucilene Kalunga
Segundo o guia Kalunga Júlio César Paulino dos Santos, muitos turistas de diversos lugares do mundo visitam o povoado para conhecer a cachoeira, além dos paulistas e cariocas que “dominam” o fluxo.
Água azul turquesa
Cachoeira de Santa Bárbara em Cavalcante, Goiás
Arquivo pessoal/Júlio César
Os principais comentários sobre a cachoeira de Santa Bárbara giram em torno da água azul turquesa, muito comparada às praias paradisíacas do Caribe. O guia Tiago Arantes explica que a água azul se deve a uma substância comum na natureza: o carbonato de cálcio.
"É parecido com o calcário. Ele muda o pH da água e, quando o sol bate e reflete luz, aumenta a frequência dessa luz e dá essa ilusão de que a água é azul deixando esse cenário espetacular", explicou o guia.
O verde da vegetação mais densa próximo da cachoeira destaca ainda mais a cor azul. Segundo os guias, o período ideal para visitação vai de maio a setembro, com pouca chuva e muito sol. Assim, a água fica ainda mais azul pela maior incidência de raios solares.
Quem foi Santa Bárbara?
Ao contrário do que pode se pensar, Santa Bárbara não é padroeira do povoado e nem da cidade de Cavalcante. Portanto, a explicação para o nome da cachoeira não tem comprovação documental, mas mora nas histórias contadas pelo povo Kalunga.
Segundo o guia Júlio César, uma curandeira e parteira chamada Bárbara vivia nos arredores da cachoeira. De acordo com as lendas, a mulher ajudava escravos que fugiam de diversas regiões do Brasil para se refugiarem em Goiás.
"Eu costumo falar que ela ajudava os escravos que fugiam não só da Bahia, mas de diversas regiões do Brasil. Ela dava comida, cuidava de machucados... E também contam uma história de que ela usava a água da cachoeira para curar as pessoas", contou.
Júlio César guiando turistas para a cahcoeira
— Fotos: Arquivo pessoal/Júlio César
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Território Kalunga
A beleza da cachoeira não é só opção de lazer para os Kalunga, que encontraram nas águas de Santa Bárbara um caminho para o desenvolvimento econômico da região. De acordo com a turismóloga Lucilene Kalunga, o aumento da procura pelo turismo de cachoeiras não foi algo planejado.
"O auge aconteceu nos anos 2000. Por volta de 2004, nós percebemos que precisaria de uma organização maior para receber as pessoas e o Sebrae nos ajudou com o preparo e cursos de condutores com outros parceiros", explica.
De acordo com ela, a atividade turística é a grande responsável pelo desenvolvimento do Engenho II. O guia Júlio César explica que a Associação Quilombo Kalunga e a Associação Kalunga Comunitária do Engenho II, que ele descreve como "pequenas prefeituras", cuidam de toda a parte financeira, da manutenção das trilhas e da preservação das cachoeiras.
"Eles separam uma parte para a Educação, Esporte, Saúde, se precisar fazer manutenção de trilha ou algo na comunidade, eles arcam com o valor, ajudam através desses recursos", conta ele.
Toda uma cadeia produtiva está ligada ao turismo na comunidade, desde o artesanato vendido nas lojas e restaurantes que podem ser visitados por turistas, ao próprio trabalho dos guias. Além disso, eles ressaltam que o turismo faz parte da manutenção da cultura Kalunga.
"A gente conta muitas histórias nossas para os turistas. Inclusive, quando o movimento está grande, a associação contrata uma pessoa só para contar as nossas histórias e as nossas vivências dentro do território", destacou.
Placa que indica o território e festa de Folia comemorada na comunidade
Reprodução/Instagram de Lucilene Kalunga e Arquivo pessoal/Júlio César
Hoje, o território faz parte de projetos culturais e artísticos, como a Residência Artística do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, que recebe artistas de diversos estados e de fora do Brasil para uma imersão na cultura Kalunga e no Cerrado. No projeto, os artistas são convidados a pensar a arte por meio da história e vivências da comunidade.
Lucilene destaca que o turismo se coloca não só como parte importante da economia, mas também como um jeito de despertar o interesse dos mais novos pela cultura Kalunga. "O turismo veio para mostrar a necessidade das nossas culturas continuarem e não sofrerem com o apagamento histórico das nossas tradições", pontuou.
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