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De 'Godzilla' a 'Astro Boy': como a bomba atômica transformou a cultura japonesa

De 'Godzilla' a 'Astro Boy': como a bomba atômica transformou a cultura japonesa
'Godzilla'
Reprodução/Netflix
As bombas nucleares que atingiram Hiroshima e Nagasaki influenciaram profundamente e durante décadas a cultura japonesa, inspirando desde "Godzilla" até as histórias dos mangás.
O título em japonês do mangá "Astro Boy" é traduzido como "Átomo poderoso", enquanto outros animes famosos "Akira", "Neon Genesis Evangelion" e "Ataque dos Titãs" mostram explosões em larga escala.
"Passar por um sofrimento extremo" e exorcizar um trauma é um tema recorrente na produção cultural japonesa, e isto fascinou o público mundial", comenta William Tsutsui, professor de História na Universidade de Ottawa.
As bombas atômicas lançadas em agosto de 1945 deixaram quase 140.000 mortos em Hiroshima e 74.000 em Nagasaki.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as histórias de destruição e mutações foram associadas ao temor das frequentes catástrofes naturais e, após 2011, ao acidente em Fukushima.
Embora alguns poemas "descrevam o puro terror causado pela bomba atômica no momento em que foi lançada", muitas obras abordam o tema de forma indireta, segundo a escritora Yoko Tawada.
Em seu livro "O Emissário", publicado no Japão em 2014, a autora se concentra nas consequências de uma grande catástrofe, inspirando-se nas semelhanças entre as bombas atômicas, Fukushima e a "doença de Minamata", um envenenamento por mercúrio devido à poluição industrial no sudoeste japonês desde a década de 1950.
"Não se trata tanto de um aviso, mas de uma mensagem para dizer: as coisas podem piorar, mas encontraremos uma maneira de sobreviver", explica Tawada.
Série 'Astro Boy', baseada no mangá de mesmo nome
Reprodução
Dar rosto a "medos abstratos"
"Godzilla" é, sem dúvidas, a criação mais famosa que reflete a complexa relação entre o Japão e a energia nuclear: uma criatura pré-histórica despertada por testes atômicos americanos no Pacífico.
"Precisamos de monstros para dar forma e rosto a medos abstratos", diz Tsutsui, autor do livro "Godzilla on My Mind".
"Na década de 1950, Godzilla cumpriu esse papel para os japoneses, com a energia atômica, com as radiações, com as lembranças das bombas atômicas", completou.
Muitos saíram chorando do cinema após ver esta criatura fictícia destruindo Tóquio no filme original de 1954.
O tema nuclear está presente em quase 40 filmes sobre Godzilla, mas muitas vezes não se destaca nas tramas.
"O público americano não se interessava muito por filmes japoneses que refletiam a dor e o sofrimento da guerra e que, de certa forma, faziam referência negativa aos Estados Unidos e ao uso de bombas atômicas", segundo Tsutsui.
"Chuva negra"
"Chuva Negra", romance de Masuji Ibuse de 1965 sobre a doença e a discriminação causados pela radiação, é um dos relatos mais conhecidos sobre o bombardeio de Hiroshima.
Ibuse não era um sobrevivente, o que alimenta um "grande debate sobre quem tem legitimidade para escrever este tipo de histórias", explica Victoria Young, da Universidade de Cambridge.
Kenzaburo Oe, escritor e vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1994, compilou testemunhos de sobrevivente no "Hiroshima Notes", uma coleção de ensaios escritos na década de 1960.
Livro 'Hiroshima Notes', de Kenzaburo Oe
Reprodução/Grove Atlantic
O autor optou pelo gênero documental, observa Yoko Tawada. "Ele enfrenta a realidade, mas tenta abordá-la de um ângulo pessoal", incluindo a relação com seu filho deficiente, acrescenta.
Para esta escritora, que viveu na Alemanha por 40 anos, depois de crescer no Japão, a "educação antimilitarista" que recebeu por vezes a levava a pensar que apenas o Japão foi "uma vítima" durante a Segunda Guerra Mundial.
Para ela, "no que diz respeito aos bombardeios, o Japão foi uma vítima, sem dúvidas, mas é importante ter uma visão global" e considerar as atrocidades que também cometeu.
Quando criança, as ilustrações dos bombardeios atômicos nos livros a lembravam das descrições do inferno na arte clássica japonesa.
"Isso me levou a questionar se a civilização humana não era, em si mesma, uma fonte de perigos", ressalta. Desta perspectiva, as armas atômicas não seriam tanto "um avanço tecnológico, mas algo que assombra o coração da humanidade", completou.

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