Wado mostra, no giro coeso do álbum ‘Obstrução samba’, que ainda produz belezas derivadas da música brasileira
Wando lança o 14º álbum solo, ‘Obstrução samba’, com músicas feitas a partir do repertório de disco de Momo
Mônica Guimarães / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Obstrução samba
Artista: Wado
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♬ Não parece mera retórica ou autoelogio banal quando Wando sentencia que Obstrução samba – álbum lançado na sexta-feira, 11 de julho, em edição do selo indie carioca Lab 344 – é o título mais forte da discografia do artista desde o sereno álbum A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa (2020), lançado há cinco anos em pleno isolamento social provocado pela pandemia de covid-19.
Décimo quarto álbum solo de Wado, Obstrução samba representa de fato um novo momento de vigor estético na trajetória fonográfica do artista catarinense residente em Maceió (AL), longe demais das capitais de um Brasil ainda voltado sobretudo para a etnocêntrica produção cultural do eixo Rio de Janeiro – São Paulo.
Neste disco, Wado parte do samba para dar um giro pela brasilidade plural do país do samba, do frevo, do ijexá, do samba-rock – mote de Jão, grande faixa do álbum Obstrução samba, gravada por Wado com Fábio Trummer em levada inebriante – e da ciranda, entre outros gêneros que resistem ao império do sertanejo, do funk-rap-trap e do forró industrializado.
Gravada com João Menezes com groove aliciante, a ciranda Gira aponta a matriz de parte do álbum. O repertório de Obstrução samba começou a ser gerado quando Wado aceitou a desafiante proposta de Momo para escrever letras para os temas instrumentais do álbum Gira (2024), lançado por Momo no ano passado.
Wado fez o remake das músicas, adicionou temas inéditos e fez bom uso da liberdade poética que rege Obstrução samba. Isso explica a coincidência ocasional de títulos de músicas como Passo de avarandar, samba gravado por Wado com a adesão vocal de Priscila Tossan.
No disco, Wado se cerca de convidados recrutados na vasta cena indie nacional. A cantora alagoana Marina Nemesio participa do samba Sereia e de Pára. O pernambucano Junio Barreto figura no samba Conversa entre sementes, composto por Wado com Álvaro Lancellotti. Colega de Wado desde os primórdios das carreiras de ambos no grupo carioca Fino Coletivo, Lancellotti também se une a Wado, como cantor, na cadência do ijexá Atotô Obaluaê.
Já Adriano Siri (outro integrante do seminal Fino Coletivo) acerta com Wado os passos dos frevos Deixa acontecer (com ecos da obra foliã de Moraes Moreira) e Esse mar, subindo a ladeira com a massa que faz o Carnaval do Brasil em fevereiro e também ao longo do ano.
No todo, o álbum gravita em torno do samba e das variações do gênero com boa carga poética. Poeta alagoano, Rogério Dyaz recita versos em Minador.
Aquecido pelos arranjos dançantes, trunfos do álbum, o cancioneiro do álbum Obstrução samba indica que Wado ainda produz belezas derivadas da música brasileira, mas que a ela escapam pela invisibilidade reservada aos artistas indies que se desviam das fórmulas do mercado.
Capa do álbum ‘Obstrução samba’, de Wado
Divulgação
Mônica Guimarães / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Obstrução samba
Artista: Wado
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♬ Não parece mera retórica ou autoelogio banal quando Wando sentencia que Obstrução samba – álbum lançado na sexta-feira, 11 de julho, em edição do selo indie carioca Lab 344 – é o título mais forte da discografia do artista desde o sereno álbum A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa (2020), lançado há cinco anos em pleno isolamento social provocado pela pandemia de covid-19.
Décimo quarto álbum solo de Wado, Obstrução samba representa de fato um novo momento de vigor estético na trajetória fonográfica do artista catarinense residente em Maceió (AL), longe demais das capitais de um Brasil ainda voltado sobretudo para a etnocêntrica produção cultural do eixo Rio de Janeiro – São Paulo.
Neste disco, Wado parte do samba para dar um giro pela brasilidade plural do país do samba, do frevo, do ijexá, do samba-rock – mote de Jão, grande faixa do álbum Obstrução samba, gravada por Wado com Fábio Trummer em levada inebriante – e da ciranda, entre outros gêneros que resistem ao império do sertanejo, do funk-rap-trap e do forró industrializado.
Gravada com João Menezes com groove aliciante, a ciranda Gira aponta a matriz de parte do álbum. O repertório de Obstrução samba começou a ser gerado quando Wado aceitou a desafiante proposta de Momo para escrever letras para os temas instrumentais do álbum Gira (2024), lançado por Momo no ano passado.
Wado fez o remake das músicas, adicionou temas inéditos e fez bom uso da liberdade poética que rege Obstrução samba. Isso explica a coincidência ocasional de títulos de músicas como Passo de avarandar, samba gravado por Wado com a adesão vocal de Priscila Tossan.
No disco, Wado se cerca de convidados recrutados na vasta cena indie nacional. A cantora alagoana Marina Nemesio participa do samba Sereia e de Pára. O pernambucano Junio Barreto figura no samba Conversa entre sementes, composto por Wado com Álvaro Lancellotti. Colega de Wado desde os primórdios das carreiras de ambos no grupo carioca Fino Coletivo, Lancellotti também se une a Wado, como cantor, na cadência do ijexá Atotô Obaluaê.
Já Adriano Siri (outro integrante do seminal Fino Coletivo) acerta com Wado os passos dos frevos Deixa acontecer (com ecos da obra foliã de Moraes Moreira) e Esse mar, subindo a ladeira com a massa que faz o Carnaval do Brasil em fevereiro e também ao longo do ano.
No todo, o álbum gravita em torno do samba e das variações do gênero com boa carga poética. Poeta alagoano, Rogério Dyaz recita versos em Minador.
Aquecido pelos arranjos dançantes, trunfos do álbum, o cancioneiro do álbum Obstrução samba indica que Wado ainda produz belezas derivadas da música brasileira, mas que a ela escapam pela invisibilidade reservada aos artistas indies que se desviam das fórmulas do mercado.
Capa do álbum ‘Obstrução samba’, de Wado
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