Mulher morta a facadas no RS disse à polícia que temia 'ato de violência' do ex em ocorrência 3 dias antes de feminicídio

Medida protetiva foi determinada, mas Judiciário diz que não conseguiu intimar suspeito. Polícia confirma que não pediu tornozeleira. Vítima de feminicídio em Três Coroas pediu socorro 3 dias antes à polícia
Juliana Thaís Mateus, 40 anos, pediu ajuda à Polícia Civil três dias antes de ser assassinada pelo ex-companheiro e contou que tinha medo de "algum ato de violência contra si ou a sua família". A informação consta na ocorrência registrada por ela na delegacia de polícia de Três Coroas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, na última sexta-feira (16), e obtida pela reportagem da RBS TV.
? Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
A vítima acabou assassinada a facadas — exatamente como temia — na cidade onde morava, na noite de segunda-feira (19). A mãe dela, de 68 anos, também foi atacada a facadas e está internada em estado grave no Hospital de Pronto Socorro de Canoas.
A filha de Juliana, de cinco anos, presenciou o assassinato e está sob os cuidados de uma familiar, acompanhada pelo Conselho Tutelar. O suspeito do crime, Ederson Jesus da Silveira, foi preso na terça-feira (20), em São Leopoldo.
Na ocorrência, Juliana contou que manteve um relacionamento amoroso com Ederson por oito meses antes de morarem juntos e que, logo depois, ele se mostrou violento em ocasiões em que consumia drogas. Ela relatou ainda que havia sido ameaçada de morte.
"Relata que foi ameaçada de morte em diversas ocasiões, inclusive na semana passada, quando, durante a madrugada, o suspeito tentou asfixiá-la. A vítima menciona ainda que, por duas vezes, foi ameaçada com uma faca, em que o suspeito afirmou que, caso ela não ficasse com ele, não seria de mais ninguém", detalhou na ocorrência.
Ela disse, também, que ele havia voltado dias antes para a cidade dele, São Leopoldo, mas continuava com medo: "Todavia a comunicante expressa temor de que ele retorne a essa cidade e cometa algum ato de violência contra si ou contra a sua família".
O delegado Ivanir Caliari, responsável pela delegacia, defendeu que encaminhou o caso ao Judiciário no mesmo dia do registro solicitando uma medida protetiva de urgência. O Judiciário confirmou o pedido ainda na sexta-feira. No entanto, Ederson não foi localizado pelo oficial de justiça para ser intimado. Ou seja, embora a medida estivesse válida, o suspeito não foi informado da sua existência.
Juliana Thais Mateus foi vítima de feminicídio, segundo a polícia
Arquivo Pessoal
Polícia não pediu tornozeleira
A polícia admite que não solicitou ao Judiciário que Ederson fosse incluído no sistema de monitoramento eletrônico de agressores — programa iniciado em 2023 no Rio Grande do Sul. A diretora do Departamento de Grupos Vulneráveis da Polícia Civil, delegada Tatiana Bastos, declarou que não cabe ao delegado fazer o pedido, e sim ao Judiciário.
Para a diretora da polícia, não houve falha:
"Falhas, não, mas gargalos, sim. O que é gargalo? É um hiato, onde nós não temos algo mais a fazer. A Polícia Civil fez todo o trabalho que ela tinha pra fazer e fez de maneira muito eficiente. No registro e medida protetiva e tanto prendendo imediatamente. Qual é o gargalo? A rede de proteção", declarou Tatiana.
Caliari disse à RBS TV que a instalação da tornozeleira tem sido adotada de ofício pelo Judiciário da cidade.
Já o Tribunal de Justiça, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que o delegado não fez o pedido, o que seria de sua atribuição. Acrescentou também que o "Ministério Público analisou os autos e não se pronunciou favoravelmente à adoção dessa medida".
BM não ficou sabendo
Ainda na terça-feira (20), o tenente Alexandro Raupp, comandante do pelotão da Brigada Militar em Três Coroas, afirmou que a unidade não sabia da ocorrência registrada por Juliana e, por isso, não encaminhou acompanhamento da vítima pela Patrulha Maria da Penha — que acompanha mulheres com medidas protetivas vigentes.
"Até o momento da ocorrência, nós não tínhamos nenhum pedido de tratamento especial para essa vítima", informou Raupp.
Ederson permaneceu em silêncio durante seu depoimento na DP de Três Coroas. Ele ainda não apresentou advogado. A RBS TV tenta localizá-lo para contraponto.
Casa onde mulher foi encontrada morta com golpes de faca
Vítor Rosa/RBS TV
ONG aponta falhas
A ONG Themis, formada por advogadas com atuação em questões de gênero e fundada há 25 anos, aponta quatro aspectos no caso de Juliana que poderiam ter ocorrido de maneira diferente caso a estrutura municipal de enfrentamento à violência contra a mulher fosse mais abrangente. São eles: a demora na intimação do agressor, a ausência de notificação à Patrulha Maria da Penha de Três Coroas, a inexistência de uma Delegacia da Mulher e a falta de uma vara judicial especializada no tema.
"A gente entende que os caminhos deveriam ter sido preenchidos o mais rápido possível, tanto a comunicação da patrulha para monitoramento, notificação do ex-companheiro, e como caso de maior risco narrado pela vítima, deveria se também ter sido implementado o uso da tornozeleira", afirmou Rafaela Caapora, coordenadora da área de enfrentamento às violências da ONG.
Ela também questiona o modelo adotado atualmente para o enfrentamento ao feminicídio:
"A gente aposta na resposta à violência sempre no aspecto criminal. mas precisa também pensar em mecanismos de prevenção pra que não chegue nos patamares que estão chegando hoje".
Confira a ocorrência registrada por Juliana na íntegra:
"Comparece nessa DP para relatar que manteve o relacionamento amoroso com o suspeito por aproximadamente oito meses período em que passaram a residir juntos nesta cidade. Informa que há cerca de três a quatro meses descobriu que o suspeito usuário quanto mais de cocaína e desde então ele passou a demonstrar comportamento extremamente possessivo e ciumento. Relata que foi ameaçada de morte em diversas ocasiões inclusive na semana passada quando durante a madrugada o suspeito tentou asfixiá-la. A vítima menciona ainda que por duas vezes foi ameaçada com uma faca. Em que o suspeito afirmou que no caso ela não ficasse com ele e não seria de mais ninguém. Informa que na última terça dia treze o suspeito retornou para sua cidade de origem São Leopoldo.
Todavia comunicante expressa temor de que ele retorne a essa cidade e cometa algum ato de violência contra si ou contra a sua família. Diante dos fatos narrados a vítima manifesta expressamente o desejo de representar criminalmente contra o suspeito e requer a concessão de medidas protetivas de urgência."
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
Juliana Thaís Mateus, 40 anos, pediu ajuda à Polícia Civil três dias antes de ser assassinada pelo ex-companheiro e contou que tinha medo de "algum ato de violência contra si ou a sua família". A informação consta na ocorrência registrada por ela na delegacia de polícia de Três Coroas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, na última sexta-feira (16), e obtida pela reportagem da RBS TV.
? Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
A vítima acabou assassinada a facadas — exatamente como temia — na cidade onde morava, na noite de segunda-feira (19). A mãe dela, de 68 anos, também foi atacada a facadas e está internada em estado grave no Hospital de Pronto Socorro de Canoas.
A filha de Juliana, de cinco anos, presenciou o assassinato e está sob os cuidados de uma familiar, acompanhada pelo Conselho Tutelar. O suspeito do crime, Ederson Jesus da Silveira, foi preso na terça-feira (20), em São Leopoldo.
Na ocorrência, Juliana contou que manteve um relacionamento amoroso com Ederson por oito meses antes de morarem juntos e que, logo depois, ele se mostrou violento em ocasiões em que consumia drogas. Ela relatou ainda que havia sido ameaçada de morte.
"Relata que foi ameaçada de morte em diversas ocasiões, inclusive na semana passada, quando, durante a madrugada, o suspeito tentou asfixiá-la. A vítima menciona ainda que, por duas vezes, foi ameaçada com uma faca, em que o suspeito afirmou que, caso ela não ficasse com ele, não seria de mais ninguém", detalhou na ocorrência.
Ela disse, também, que ele havia voltado dias antes para a cidade dele, São Leopoldo, mas continuava com medo: "Todavia a comunicante expressa temor de que ele retorne a essa cidade e cometa algum ato de violência contra si ou contra a sua família".
O delegado Ivanir Caliari, responsável pela delegacia, defendeu que encaminhou o caso ao Judiciário no mesmo dia do registro solicitando uma medida protetiva de urgência. O Judiciário confirmou o pedido ainda na sexta-feira. No entanto, Ederson não foi localizado pelo oficial de justiça para ser intimado. Ou seja, embora a medida estivesse válida, o suspeito não foi informado da sua existência.
Juliana Thais Mateus foi vítima de feminicídio, segundo a polícia
Arquivo Pessoal
Polícia não pediu tornozeleira
A polícia admite que não solicitou ao Judiciário que Ederson fosse incluído no sistema de monitoramento eletrônico de agressores — programa iniciado em 2023 no Rio Grande do Sul. A diretora do Departamento de Grupos Vulneráveis da Polícia Civil, delegada Tatiana Bastos, declarou que não cabe ao delegado fazer o pedido, e sim ao Judiciário.
Para a diretora da polícia, não houve falha:
"Falhas, não, mas gargalos, sim. O que é gargalo? É um hiato, onde nós não temos algo mais a fazer. A Polícia Civil fez todo o trabalho que ela tinha pra fazer e fez de maneira muito eficiente. No registro e medida protetiva e tanto prendendo imediatamente. Qual é o gargalo? A rede de proteção", declarou Tatiana.
Caliari disse à RBS TV que a instalação da tornozeleira tem sido adotada de ofício pelo Judiciário da cidade.
Já o Tribunal de Justiça, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que o delegado não fez o pedido, o que seria de sua atribuição. Acrescentou também que o "Ministério Público analisou os autos e não se pronunciou favoravelmente à adoção dessa medida".
BM não ficou sabendo
Ainda na terça-feira (20), o tenente Alexandro Raupp, comandante do pelotão da Brigada Militar em Três Coroas, afirmou que a unidade não sabia da ocorrência registrada por Juliana e, por isso, não encaminhou acompanhamento da vítima pela Patrulha Maria da Penha — que acompanha mulheres com medidas protetivas vigentes.
"Até o momento da ocorrência, nós não tínhamos nenhum pedido de tratamento especial para essa vítima", informou Raupp.
Ederson permaneceu em silêncio durante seu depoimento na DP de Três Coroas. Ele ainda não apresentou advogado. A RBS TV tenta localizá-lo para contraponto.
Casa onde mulher foi encontrada morta com golpes de faca
Vítor Rosa/RBS TV
ONG aponta falhas
A ONG Themis, formada por advogadas com atuação em questões de gênero e fundada há 25 anos, aponta quatro aspectos no caso de Juliana que poderiam ter ocorrido de maneira diferente caso a estrutura municipal de enfrentamento à violência contra a mulher fosse mais abrangente. São eles: a demora na intimação do agressor, a ausência de notificação à Patrulha Maria da Penha de Três Coroas, a inexistência de uma Delegacia da Mulher e a falta de uma vara judicial especializada no tema.
"A gente entende que os caminhos deveriam ter sido preenchidos o mais rápido possível, tanto a comunicação da patrulha para monitoramento, notificação do ex-companheiro, e como caso de maior risco narrado pela vítima, deveria se também ter sido implementado o uso da tornozeleira", afirmou Rafaela Caapora, coordenadora da área de enfrentamento às violências da ONG.
Ela também questiona o modelo adotado atualmente para o enfrentamento ao feminicídio:
"A gente aposta na resposta à violência sempre no aspecto criminal. mas precisa também pensar em mecanismos de prevenção pra que não chegue nos patamares que estão chegando hoje".
Confira a ocorrência registrada por Juliana na íntegra:
"Comparece nessa DP para relatar que manteve o relacionamento amoroso com o suspeito por aproximadamente oito meses período em que passaram a residir juntos nesta cidade. Informa que há cerca de três a quatro meses descobriu que o suspeito usuário quanto mais de cocaína e desde então ele passou a demonstrar comportamento extremamente possessivo e ciumento. Relata que foi ameaçada de morte em diversas ocasiões inclusive na semana passada quando durante a madrugada o suspeito tentou asfixiá-la. A vítima menciona ainda que por duas vezes foi ameaçada com uma faca. Em que o suspeito afirmou que no caso ela não ficasse com ele e não seria de mais ninguém. Informa que na última terça dia treze o suspeito retornou para sua cidade de origem São Leopoldo.
Todavia comunicante expressa temor de que ele retorne a essa cidade e cometa algum ato de violência contra si ou contra a sua família. Diante dos fatos narrados a vítima manifesta expressamente o desejo de representar criminalmente contra o suspeito e requer a concessão de medidas protetivas de urgência."
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
Para ler a notícia completa, acesse o link original:
0 curtidas
Notícias Relacionadas
Não há mais notícias para carregar
Comentários 0