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Nova espécie de morcego é descrita por cientista e nome homenageia etnia guarani

Nova espécie de morcego é descrita por cientista e nome homenageia etnia guarani
Antes confundido com outros morcegos do gênero Myotis, animal foi identificado por cientistas da Fiocruz Mata Atlântica e parceiros. Encontrada principalmente no Pantanal, Myotis guarani é a nova espécie de morcego descrita por pesquisadores
Roberto Novaes
Uma nova espécie de morcego foi descrita por pesquisadores da Fiocruz Mata Atlântica, em parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a Universidade do Porto (Portugal) e o Smithsonian Institution (EUA).
Batizado de Myotis guarani, o animal foi nomeado em homenagem ao povo indígena que originalmente ocupava áreas onde o morcego vive atualmente, como o Pantanal, o Chaco e partes do Cerrado e da Mata Atlântica, em países como Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina.
A nova espécie é exclusivamente insetívora e pesa cerca de 6 gramas. Os resultados foram publicados em artigo no Journal of Mammalogy, uma das principais revistas internacionais sobre biologia e taxonomia de mamíferos.
Segundo o pesquisador Roberto Novaes, da Fiocruz Mata Atlântica, primeiro autor do estudo, a descoberta teve início com análises genéticas.
“As sequências de DNA já apontavam para uma nova espécie do gênero Myotis. A partir daí, começamos a investigar a morfologia de morcegos disponíveis em coleções centenárias e confirmamos se tratar de uma espécie distinta”, explica.
A identificação só foi possível com uma abordagem chamada taxonomia integrativa, que combina estudos genéticos, morfológicos e ecológicos. Isso porque Myotis guarani é o que se chama de espécie críptica: visualmente, ela é muito semelhante a outras do gênero Myotis, dificultando a diferenciação a olho nu mesmo por cientistas experientes.
Amostras de sangue, pele ou órgãos foram utilizadas para extrair e sequenciar o DNA dos animais, revelando, com o apoio de análises computacionais, suas reais identidades biológicas.
“Descobrir essas espécies é um desafio, porque exige muito tempo de estudo e muitas análises diferentes para investigar toda variação existente na anatomia corporal, nos genes, no comportamento, etc. Sem esses estudos, nem mesmo cientistas experientes são capazes de distingui-las, e elas acabam ficando escondidas nas coleções por décadas ou mesmo séculos”, comenta Novaes.
Trabalho de campo realizado durante estudos para descrição do morcego Myotis guarani
Roberto Novaes
Apesar de estar presente há mais de 120 anos em coleções e museus ao redor do mundo, Myotis guarani só agora foi reconhecido como uma nova espécie. "Com esse estudo, mostramos que podem existir muitas espécies desconhecidas da ciência vivendo bem embaixo de nossos olhos e nós não estamos conseguindo diferenciá-las das demais por falta de estudos", destaca Novaes.
No Brasil, a nova espécie ocorre principalmente no Pantanal, mas também em regiões de transição com o Cerrado e a Mata Atlântica. Embora ainda não haja uma estimativa populacional, os pesquisadores afirmam que o morcego é comum e abundante nesses locais.
“Isso não significa que essa espécie não possa estar sob algum tipo de risco, mas nos indica que suas populações estão lidando bem com as condições que estão vivendo nesse momento”, pondera o pesquisador.
Papel ecológico
O morcego Myotis guarani tem um papel ecológico importante. Alimentando-se exclusivamente de insetos, ele pode consumir mais de 200 por noite, incluindo mariposas, mosquitos e besouros. Dessa forma, atua no controle de pragas agrícolas e vetores de doenças que afetam o ser humano.
A descoberta foi feita no âmbito do projeto “Rede de prospecção e monitoramento de agentes zoonóticos associados a morcegos no Brasil”, financiado pela FAPERJ e pelo CNPq.
O próximo passo é investigar se Myotis guarani pode ser hospedeiro de microrganismos de interesse para a saúde pública, além de estudar com mais profundidade seu comportamento, reprodução, dieta e distribuição geográfica.
Segundo Ricardo Moratelli, coordenador da Fiocruz Mata Atlântica e líder do projeto, a pesquisa reforça a importância de conservar os morcegos.
“Se, por um lado, eles são reservatórios de microrganismos, por outro, são fundamentais para a manutenção dos ecossistemas. Precisamos de programas específicos de conservação e de um manejo adequado desses animais, especialmente nas regiões onde há maior contato com humanos”, acrescenta.
O alerta é reforçado pelo avanço do agronegócio no Pantanal, bioma essencial para a espécie, uma vez que práticas de desmatamento e incêndios ameaçam a vegetação nativa e alteram o equilíbrio ambiental da região. “Ainda não sabemos a magnitude desses impactos sobre o Myotis guarani, mas certamente ele está sendo afetado”, conclui Novaes.
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