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Aumento populacional de quatis acende alerta sobre saúde, manejo e convivência com humanos

Aumento populacional de quatis acende alerta sobre saúde, manejo e convivência com humanos
Pesquisas recentes apontam para mudanças no comportamento da espécie, riscos sanitários e desafios para o equilíbrio ecológico nas cidades. Animal tem ampla distribuição geográfica na América do Sul e, no Brasil, ocorre em todos os biomas
geraldomorais / iNaturalist
Simpáticos, curiosos e parte da paisagem de parques urbanos em diversas cidades brasileiras. Longe de serem apenas personagens carismáticos da fauna nacional, os quatis (Nasua nasua) vêm despertando o interesse de pesquisadores por seu impacto ambiental, risco sanitário e capacidade de adaptação a ambientes cada vez mais próximos do ser humano.
Com registros de mais de 50 indivíduos por km² no Parque das Mangabeiras (MG), a espécie passou a ser monitorada de forma sistemática desde os anos 2000.
“Devido ao aumento da densidade de quatis em várias cidades, várias pesquisas estão voltadas para responder perguntas sobre o tamanho populacional, densidade, estrutura etária e outros parâmetros demográficos a fim de entender a necessidade ou não de manejo da espécie. Os dados também podem subsidiar modelagens de ações de manejo”, explica a bióloga Nadja Simbera Hemetrio, coordenadora do Projeto Quatis.
Animal registrado em Fênix, no Paraná
paulo_celso_cunha / iNaturalist
A presença constante dos animais em áreas urbanas também levantou uma bandeira amarela no campo da vigilância epidemiológica. Pesquisadores identificaram em quatis patógenos como Babesia e Ehrlichia, os mesmos que causam a conhecida “doença do carrapato” em cães.
“O contato de quatis com os cães continua sendo a maior ameaça à espécie. No entanto, o contato de quatis com pessoas que ofertam alimentos a eles ou que não acondicionam bem o seu lixo representa hoje uma ameaça crescente à saúde das pessoas e dos próprios quatis”, alerta a bióloga.
Pesquisas
Em meio às pesquisas mais atuais, destaca-se o trabalho da ecóloga Cecília Alves-Costa, ainda referência na área de ecologia alimentar. Seu estudo no Mangabeiras revelou detalhes sobre a dieta do mamífero e confirmou seu papel ecológico como dispersor de sementes.
Realizada ao longo de três anos em um fragmento urbano de floresta semidecídua, a análise contou com 226 amostras fecais da espécie e mostrou que os quatis consomem principalmente partes de plantas (85,4%), insetos (75,7%), milípedes (53,9%) e frutos (48,7%). Aranhas foram detectadas em 33,6% das amostras, enquanto vertebrados apareceram ocasionalmente (9,3%).
Quatis fotografados no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná
deis2020 / iNaturalist
O estudo também identificou variações sazonais no cardápio: mais aranhas e diplópodes (piolhos-de-cobra) foram ingeridos durante a estação chuvosa, enquanto frutos foram mais consumidos na estação seca, servindo como importante recurso quando há escassez de artrópodes. Além disso, os quatis ingeriram e defecaram sementes intactas de 49 espécies de plantas, reforçando seu papel como dispersores eficazes.
Já o cientista Ben Hirsch avançou nos estudos de estrutura social da espécie em Foz do Iguaçu (PR). Ele identificou que cada bando abriga um macho residente que permanece com as fêmeas durante o ano todo, sendo o pai da maioria dos filhotes. Mas há espaço também para “cópulas furtivas” de machos solitários.
A tecnologia também vem ajudando a entender melhor o comportamento dos quatis. Drones com sensores térmicos vem sendo utilizados para estimar a população, e colares com GPS ajudam a mapear deslocamentos dos indivíduos - embora a durabilidade das baterias ainda seja um desafio, devido ao tamanho do animal.
Hábitos curiosos
Uma curiosidade também confirmada em pesquisas acadêmicas é o uso do piolho-de-cobra pelos quatis como “repelente natural”: o mamífero o esfrega no corpo antes de comê-lo, liberando substâncias urticantes.
Segundo o ICMBio, a espécie não está ameaçada de extinção
nielspouldreyer / iNaturalist
“Outro comportamento interessante é a atração de quatis por materiais de limpeza e perfumaria, que também têm de ser acondicionados como os alimentos nas residências com problemas com quatis. Os quatis esfregam esses materiais no corpo, provavelmente na intenção de controle de ectoparasitas”, conta a pesquisadora.
Em áreas onde os animais têm acesso fácil a casas ou lixeiras, os moradores são orientados a guardar bem não só alimentos, mas também cosméticos.
Além da necessidade de mais estudos sobre os efeitos do aumento populacional dos quatis sobre suas presas, o desafio dos profissionais que trabalham com esses mamíferos inclui pensar em formas de manter o equilíbrio na convivência entre humanos e quatis.
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