Por que algumas regiões concentram mais espécies? Ciência encontra resposta no clima

Estudo da revista Science propõe uma forma inovadora de analisar o planeta com base em clima, e não em localização geográfica. Artigo detalha porque algumas regiões do planeta possuem maior número de espécies
Vanessa Lima/G1 RR
Por que algumas regiões do mundo concentram muito mais espécies do que outras? Esse mistério da ciência, formulado ainda no século 18, acaba de ganhar uma nova e poderosa lente de investigação.
Em um artigo publicado nesta quinta-feira (3) na revista Science, pesquisadores de várias instituições, incluindo cientistas brasileiros, propuseram uma abordagem inovadora para estudar a relação entre clima e biodiversidade.
A equipe demonstrou que, ao invés de analisar a Terra com base em coordenadas geográficas (latitude e longitude), é mais eficaz agrupar locais que compartilham as mesmas condições climáticas, como temperatura e precipitação.
Com isso, regiões distantes como a Amazônia, o Congo e a Papua-Nova Guiné, que têm climas parecidos, passam a ser estudadas juntas. Isso permite "isolar" melhor o efeito da energia ambiental sobre a diversidade de espécies.
Tucano-toco é um símbolo da biodiversidade e da importância da preservação das florestas tropicais
Fabrício Corsi Arias
Esse novo olhar revelou padrões claros e consistentes entre fatores como calor, umidade, produtividade do ecossistema e a quantidade de espécies presentes. Pela primeira vez, foi possível confirmar teorias desenvolvidas nas últimas décadas que antes pareciam contraditórias ou difíceis de provar.
A partir disso, os padrões antes confusos passaram a ser claros e previsíveis: a diversidade de espécies aumenta em locais com maior disponibilidade de energia (sol e água) e maior produtividade ecológica. Os dados também mostraram que:
A temperatura tem efeito direto e positivo sobre a diversidade de espécies, principalmente em ectotérmicos (como répteis e anfíbios), sem depender da produtividade;
A precipitação exerce um efeito indireto positivo, pois influencia a produtividade. Mas, em excesso, pode até diminuir a diversidade por favorecer a competição entre espécies;
Ambientes com grande área climática e alto isolamento tendem a acumular mais espécies e trajetórias evolutivas únicas.
Artigo detalha porque algumas regiões do planeta possuem maior número de espécies
Terra da Gente/Acervo Pessoal
Além disso, foi possível medir quão comum ou isolado um clima é no planeta. Quanto mais comum, mais espécies ele pode acumular ao longo do tempo. Quanto mais isolado, mais histórias evolutivas únicas podem estar ocorrendo paralelamente ali.
"Em resumo, essas hipóteses sugerem que a quantidade de vida, ou seja, a biodiversidade, de um lugar depende da energia que o ambiente oferece, principalmente por meio da luz solar e da água disponível", afirma Marco Túlio Coelho, pesquisador brasileiros do Instituto Federal Suíço de Pesquisa WSL e autor principal do artigo.
"Juntas, elas determinam o quanto de "vida vegetal" uma região consegue produzir, o que chamamos de produtividade primária, ou seja, o quanto de energia é transformada em alimento pelas plantas e algas, a base de toda a cadeia alimentar", acrescenta.
Mudando a análise
Antes, a história parecia simples. Locais mais quentes, úmidos e produtivos deveriam ter mais espécies de seres vivos. Mas, nas últimas décadas, os dados contaram uma história confusa. Às vezes essas ideias se confirmam, às vezes o resultado mostra o oposto: lugares com muita energia têm menos espécies.
Em outros casos, o padrão é intermediário, como um "sino", com mais espécies em condições nem muito extremas, nem muito escassas. "Nos últimos anos, venho propondo que o problema talvez não esteja nas ideias em si, mas em como estamos medindo essa relação entre energia e biodiversidade", diz o pesquisador.
Foram analisados dados de cerca de 30 mil espécies de vertebrados terrestres (aves, mamíferos, anfíbios e répteis). Ao colocar o clima no centro da análise, os pesquisadores conseguiram eliminar distorções causadas por barreiras geográficas, história evolutiva e outros fatores locais.
“Esse novo método nos permitiu, finalmente, isolar os efeitos puros do clima, como temperatura e precipitação, sobre a diversidade de espécies”, afirma Marco Túlio Coelho, pesquisador do instituto suíço WSL e autor principal do artigo.
Segundo o estudo, o uso do chamado “espaço climático” também consegue ajudar a prever com mais precisão como as mudanças ambientais, como o aquecimento global, irão impactar a biodiversidade do planeta e quando isso ocorrerá.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
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Vanessa Lima/G1 RR
Por que algumas regiões do mundo concentram muito mais espécies do que outras? Esse mistério da ciência, formulado ainda no século 18, acaba de ganhar uma nova e poderosa lente de investigação.
Em um artigo publicado nesta quinta-feira (3) na revista Science, pesquisadores de várias instituições, incluindo cientistas brasileiros, propuseram uma abordagem inovadora para estudar a relação entre clima e biodiversidade.
A equipe demonstrou que, ao invés de analisar a Terra com base em coordenadas geográficas (latitude e longitude), é mais eficaz agrupar locais que compartilham as mesmas condições climáticas, como temperatura e precipitação.
Com isso, regiões distantes como a Amazônia, o Congo e a Papua-Nova Guiné, que têm climas parecidos, passam a ser estudadas juntas. Isso permite "isolar" melhor o efeito da energia ambiental sobre a diversidade de espécies.
Tucano-toco é um símbolo da biodiversidade e da importância da preservação das florestas tropicais
Fabrício Corsi Arias
Esse novo olhar revelou padrões claros e consistentes entre fatores como calor, umidade, produtividade do ecossistema e a quantidade de espécies presentes. Pela primeira vez, foi possível confirmar teorias desenvolvidas nas últimas décadas que antes pareciam contraditórias ou difíceis de provar.
A partir disso, os padrões antes confusos passaram a ser claros e previsíveis: a diversidade de espécies aumenta em locais com maior disponibilidade de energia (sol e água) e maior produtividade ecológica. Os dados também mostraram que:
A temperatura tem efeito direto e positivo sobre a diversidade de espécies, principalmente em ectotérmicos (como répteis e anfíbios), sem depender da produtividade;
A precipitação exerce um efeito indireto positivo, pois influencia a produtividade. Mas, em excesso, pode até diminuir a diversidade por favorecer a competição entre espécies;
Ambientes com grande área climática e alto isolamento tendem a acumular mais espécies e trajetórias evolutivas únicas.
Artigo detalha porque algumas regiões do planeta possuem maior número de espécies
Terra da Gente/Acervo Pessoal
Além disso, foi possível medir quão comum ou isolado um clima é no planeta. Quanto mais comum, mais espécies ele pode acumular ao longo do tempo. Quanto mais isolado, mais histórias evolutivas únicas podem estar ocorrendo paralelamente ali.
"Em resumo, essas hipóteses sugerem que a quantidade de vida, ou seja, a biodiversidade, de um lugar depende da energia que o ambiente oferece, principalmente por meio da luz solar e da água disponível", afirma Marco Túlio Coelho, pesquisador brasileiros do Instituto Federal Suíço de Pesquisa WSL e autor principal do artigo.
"Juntas, elas determinam o quanto de "vida vegetal" uma região consegue produzir, o que chamamos de produtividade primária, ou seja, o quanto de energia é transformada em alimento pelas plantas e algas, a base de toda a cadeia alimentar", acrescenta.
Mudando a análise
Antes, a história parecia simples. Locais mais quentes, úmidos e produtivos deveriam ter mais espécies de seres vivos. Mas, nas últimas décadas, os dados contaram uma história confusa. Às vezes essas ideias se confirmam, às vezes o resultado mostra o oposto: lugares com muita energia têm menos espécies.
Em outros casos, o padrão é intermediário, como um "sino", com mais espécies em condições nem muito extremas, nem muito escassas. "Nos últimos anos, venho propondo que o problema talvez não esteja nas ideias em si, mas em como estamos medindo essa relação entre energia e biodiversidade", diz o pesquisador.
Foram analisados dados de cerca de 30 mil espécies de vertebrados terrestres (aves, mamíferos, anfíbios e répteis). Ao colocar o clima no centro da análise, os pesquisadores conseguiram eliminar distorções causadas por barreiras geográficas, história evolutiva e outros fatores locais.
“Esse novo método nos permitiu, finalmente, isolar os efeitos puros do clima, como temperatura e precipitação, sobre a diversidade de espécies”, afirma Marco Túlio Coelho, pesquisador do instituto suíço WSL e autor principal do artigo.
Segundo o estudo, o uso do chamado “espaço climático” também consegue ajudar a prever com mais precisão como as mudanças ambientais, como o aquecimento global, irão impactar a biodiversidade do planeta e quando isso ocorrerá.
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