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'Entrelaçando vidas': projeto em Bauru incentiva apadrinhamento de crianças e adolescentes em abrigos

'Entrelaçando vidas': projeto em Bauru incentiva apadrinhamento de crianças e adolescentes em abrigos
Apadrinhamento afetivo ajuda crianças e adolescentes acolhidos em Bauru
Em Bauru, 125 crianças e adolescentes vivem hoje em situação de acolhimento institucional, distribuídos entre seis abrigos ou integrados ao programa de famílias acolhedoras. A maioria foi afastada do convívio com as famílias biológicas por motivos como abandono, negligência ou violação de direitos.
Para transformar essa realidade, um projeto, em Bauru, tem mobilizado voluntários e ajudado a construir laços que vão além da convivência institucional.
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Criado em 2023, o programa “Entrelaçando Vidas” orienta e acompanha todas as etapas do processo de apadrinhamento. Só em 2025, 25 crianças e adolescentes já foram beneficiados. Apesar do avanço, o número ainda é considerado baixo — reflexo, em parte, de mitos que cercam a iniciativa.
“O programa surgiu diante da alta demanda de crianças acima dos seis anos que permaneciam muito tempo nos abrigos. Há um receio comum de que não será possível criar vínculos com essa faixa etária. Mas essas crianças, como quaisquer outras, também precisam e têm direito à experiência familiar”, explica Thalyta de Oliveira Ferreira, técnica de referência do programa.
Apadrinhamento ajuda na criação de vínculos afetivos das crianças e adolescentes acolhidos em abrigos de Bauru
TV TEM/ Reprodução
Três formas de apadrinhamento
Existem três modalidades de apadrinhamento: afetivo, colaborativo e financeiro. No modo afetivo, o padrinho ou madrinha constrói uma relação próxima com a criança ou adolescente, promovendo momentos de convivência fora do abrigo, especialmente aos finais de semana.
O modelo colaborativo é voltado a profissionais que podem doar tempo e serviços em sua área de atuação — como psicologia, odontologia ou reforço escolar. Já o financeiro permite contribuições em dinheiro para cobrir necessidades específicas dos acolhidos.
Segundo Amanda Gouveira Inocêncio, coordenadora de um dos abrigos da cidade, o impacto do apadrinhamento pode ser transformador.
“Quando uma criança chega ao abrigo, geralmente está muito fragilizada. Precisamos fazer um trabalho emocional intenso. O apadrinhamento funciona como um suporte para ajudar a mudar essa realidade após histórias difíceis vividas no passado”, afirma.
Vínculos que transformam
A educadora parental Caroline Torres se tornou madrinha afetiva de uma adolescente que vive em um dos abrigos de Bauru. Um ano depois, ela vê os reflexos da relação para ambas.
“Convivemos aos finais de semana, saímos para almoçar e jantar juntas, dividimos segredos. Me sinto privilegiada por acompanhar o crescimento dela. Vi uma jovem mais livre e segura florescer com o fortalecimento do nosso vínculo”.
Caroline também destaca que não estabeleceu nenhum critério para a escolha da afilhada e estava disposta a oferecer amor e carinho, independentemente de quem fosse.
“O apadrinhamento afetivo não é só para ela. Eu também me sinto amada e querida. A verdade é que a maior beneficiada sou eu”, diz.
A psicóloga Ana Luiza Figueira Hortelan também integra a rede de apoio. Há um ano, ela se tornou madrinha colaborativa de um adolescente acolhido.
“O atendimento nesse contexto é muito particular. O primeiro desafio é criar vínculo, por conta do histórico de vida dessas crianças e jovens. Por isso, trabalho com estratégias lúdicas para desenvolver autoestima e regulação emocional”, explica.
Ela acredita que o papel de madrinha tem sido transformador também para si mesma. “Aprendi sobre empatia, escuta ativa e acolhimento. Quando usamos nosso trabalho para apoiar essas crianças, a diferença é real. É uma experiência incrível. Quem decidir apadrinhar precisa vir de coração aberto. É um desafio, mas extremamente gratificante”.
Carolina Torres se tornou madrinha de uma adolescente que vivem em um abrigo de Bauru
TV TEM/ Reprodução
Como participar
O apadrinhamento é regulamentado pelo Tribunal de Justiça. Os interessados devem ter mais de 18 anos e passam por uma avaliação da Vara da Infância e da Juventude e das equipes das instituições acolhedoras. A análise considera aspectos sociais e psicológicos para garantir a segurança de quem será apadrinhado.
“A diferença entre apadrinhamento e adoção é fundamental. A adoção é um projeto de vida que envolve a criação de um filho. Já o apadrinhamento busca formar um vínculo afetivo, sem o objetivo de filiação. Queremos oferecer referências afetivas fora do abrigo e ampliar a conexão dessas crianças com o mundo exterior”, explica a juíza assessora da Corregedoria Mônica Gonzaga Arnoni.
Uma das principais barreiras, segundo a magistrada, é o medo da separação, caso o jovem seja adotado futuramente.
“Mas vínculos afetivos nunca são demais. O que buscamos é oferecer relações mais seguras para quem já teve tantas perdas. Todas as formas de apadrinhamento podem fornecer segurança emocional — e até física — a essas crianças e adolescentes. A convivência familiar e comunitária transforma vidas”, finaliza.
Informações sobre o apadrinhamento podem ser obtidas no site do projeto e também do Tribunal de Justiça.
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