‘Chronoworking’: conheça o modelo de trabalho que segue o ritmo biológico do funcionário

Neste formato, o trabalhador segue os horários de seu ritmo biológico. Ou seja: ele atua no momento do dia em que se sente mais produtivo, em um esquema que atende aos ‘cronotipos’ de cada pessoa. Conheça o ‘Chronoworking’, método de trabalho que segue o ritmo biológico
O expediente de Laerte Nogueira, líder de equipe da Everymind, é bem diferente dos padrões da maioria das empresas brasileiras: começa às 11h. Ele segue o modelo "chronoworking" ("cronotrabalho", em português).
Neste formato, o funcionário segue os horários do ritmo biológico do corpo. Ou seja: ele atua conforme se sente mais produtivo, em um modelo que atende aos "cronotipos" de cada pessoa. (entenda mais abaixo)
Criado pela jornalista britânica Ellen C. Scott, o "chronoworking" propõe mais flexibilidade para os trabalhadores. No entanto, não há legislação brasileira específica para esse sistema.
Por isso, cada empregador precisa determinar:
⏱️ se haverá limites de horário para início e fim da jornada;
✍? se o benefício constará do contrato;
??? a quais áreas ele se aplica.
“A flexibilidade ajuda muito na minha vida pessoal. Consigo ficar mais tempo com o meu filho, e à noite posso focar e ser mais produtivo”, explica Nogueira.
O modelo segue outras tendências do mundo corporativo que valorizam o bem-estar profissional e a retenção de talentos, como a semana de quatro dias, o "short friday", o “workation” e a licença parental estendida.
As empresas que adotaram o "chronoworking" afirmam que os efeitos são positivos, mas a implantação exige atenção às leis trabalhistas.
“Sendo flexível e dentro dos limites da lei, acho possível e funciona bem. Claro que depende do negócio. Setores bancários, fábricas com linha de produção e hospitais não conseguem trabalhar assim”, explica a advogada trabalhista Fabiana Fittipaldi.
Abaixo, o g1 explica o "chronoworking" a partir das seguintes perguntas:
Como funciona em empresas que já aderiram?
O que diz a lei trabalhista?
O que é o ritmo biológico?
Quais são os cronotipos?
O ‘chronoworking’ vale a pena?
Entre os principais cronotipos, estão: Matutino, Vespertino e Intermediário.
g1/Thalita Ferraz
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1. Como funciona em empresas que já aderiram? ???
Embora seja tendência em outros países, o "chronoworking" já é realidade em algumas empresas brasileiras.
O modelo de trabalho foi criado para promover flexibilidade para os funcionários, que já atuam no sistema “Anywhere Office” — formato que permite que os profissionais realizem as atividades de qualquer lugar do mundo.
Segundo Eduardo Nunes, vice-presidente de pessoas e cultura na Everymind, os colaboradores têm liberdade de trabalhar no horário que acharem mais conveniente.
Porém, é importante:
⏰ alinhar horário com a liderança;
⌚ alinhar horário com a equipe;
? entender os horários e agenda dos clientes.
Dos mais de 500 colaboradores da empresa, 90% têm disponibilidade para trabalhar no horário que quiserem. A flexibilidade é um dos principais motivos de avaliação positiva dos funcionários em pesquisas internas há mais de cinco anos.
“Gosto muito de viajar. Então, sempre que tenho oportunidade, pego a estrada e trabalho de qualquer lugar, no horário da minha preferência”, explica Nogueira, que afirma que os feedbacks sempre foram positivos dos demais trabalhadores.
Laerte Nogueira trabalhando na parte da tarde diretamente de um camping no interior de São Paulo.
Arquivo Pessoal
Outra empresa que também aderiu a esse formato de trabalho é a loja de móveis e decoração Homedock. Lá, algumas áreas específicas, como atendimento, logística e expedição, não conseguem atuar em qualquer horário.
Em setores com maior flexibilidade, os funcionários têm liberdade de escolher a hora de expediente. Apesar de atuar no sistema híbrido, a empresa não estabelece quantos dias o empregado precisa estar presencialmente no escritório.
“Não existe hoje uma obrigatoriedade, como três dias no escritório e dois dias em casa. Isso vai de acordo com a necessidade do funcionário”, explica Raphael Freire, que é gerente de projetos da empresa.
O sistema faz parte da cultura da empresa desde sua fundação, em 2013. Cabe à equipe de Recursos Humanos analisar o perfil comportamental do trabalhador e adaptar as funções conforme as necessidades da companhia.
“Pensamos na individualidade da pessoa e entendemos que cada um traz resultados de formas diferentes, de acordo com perfil e sistema biológico. No dia a dia, administramos tudo isso”, completa Eliane Abreu Pencinato, gerente de gente e gestão da Homedock.
Raphael Freire e Eliane Abreu Pencinato atuam no modelo chronoworking, e conciliam o trabalho com atividades físicas.
Arquivo Pessoal
2. O que diz a lei trabalhista? ?
Apesar de não existirem leis que regulamentem o "chronoworking", é necessário tomar alguns cuidados antes de aderir ao sistema.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece que:
a jornada de trabalho é de 8 horas diárias e no máximo 44 horas semanais.
em caso de horas extras, o trabalhador pode estender a jornada em até duas horas.
para quem trabalha entre as 22h e as 5h, é pago um adicional noturno de 20% sobre o valor da hora diurna.
Segundo Márcia Cleide Ribeiro, advogada especializada em direito do trabalho, o limite de horas é estipulado para proteger o trabalhador. “Não há impedimento de trabalhar menos, tudo depende da categoria e dos acordos feitos em convenções coletivas”, explica.
Para quem prefere trabalhar à noite ou de madrugada, a especialista alerta para o pagamento do adicional noturno. “Mesmo que trabalhe três horas no horário diurno e três horas no noturno, o adicional é pago somente no período noturno”, completa Márcia.
Outro ponto é a interjornada, ou seja, o intervalo entre o fim e início das jornadas de trabalho, que é de 11 horas consecutivas. Isso significa que o funcionário não pode, por exemplo, trabalhar até as 22h de um dia e iniciar novamente às 7h do outro dia.
“É necessário haver uma limitação para a segurança do trabalhador. A lei estipula que nas jornadas a partir de seis horas, é necessário ter uma hora de intervalo para descanso e refeição”, afirma a especialista.
De acordo com a advogada trabalhista Fabiana Fittipaldi, algumas empresas têm flexibilidade de horários, mas proíbem ou limitam o trabalho noturno. Isso significa que o empregado pode escolher os horários de trabalho, mas dentro de um período específico.
“Tenho alguns clientes que têm no contrato uma jornada de trabalho flexível, mas dentro de um horário específico. Por exemplo, o empregado pode entrar a qualquer horário entre 7h e 10h da manhã, mas deve sair a qualquer horário até as 22h”, diz.
? ATENÇÃO: O artigo 468 da CLT estabelece que qualquer alteração no contrato só pode ser feita com consentimento mútuo entre patrão e empregado, e as mudanças não podem causar prejuízo ou desvantagem ao trabalhador.
Isso significa que, se o “chronoworking” for aplicado na empresa e constar no contrato, o empregador não poderá suspender o benefício e exigir expediente como antes, sem a concordância dos funcionários.
“A empresa pode determinar no contrato que essa política pode ser alterada a qualquer momento, em caso de necessidade. Se houver uma previsão contratual, não há problema”, completa Fabiana.
3. O que é o ritmo biológico? ?
O corpo humano, como todos os seres vivos, tem um sistema temporal interno chamado relógio biológico. Esse sistema sincroniza funções básicas como dormir, acordar, sentir fome ou saciedade.
“Esse sistema de temporização está sincronizado com alguns eventos ambientais, como por exemplo o claro e escuro”, explica a professora e pesquisadora Claudia Moreno, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a especialista, o ser humano é uma espécie diurna. Isso significa que nós fazemos as atividades durante o dia e dormimos à noite. “Não é porque somos diurnos, que todo mundo acorda e dorme no mesmo horário. Existe uma certa variação”, afirma.
Essa variação tem uma determinação genética, com algumas pessoas propensas a acordar mais cedo ou mais tarde. Além disso, há influências ambientais e sociais no sistema temporal humano.
“Por exemplo, tenho uma propensão genética a ser vespertina, o que significa que vou acordar e dormir mais tarde do que pessoas com propensão genética a serem matutinas”, explica a especialista.
Pessoas vespertinas que precisam acordar muito cedo para trabalhar não conseguem dormir em um horário adequado para ter o tempo necessário de sono, que é em média 7 ou 8 horas seguidas.
“Essas pessoas precisam dormir às 22h para acordar às 6h, por exemplo. No entanto, dormem à meia-noite e acabam dormindo pouco. Ao longo da semana, são privadas de sono e têm consequências para a saúde”, afirma Claudia.
A privação de sono pode causar problemas como fadiga, enfraquecimento do sistema imunológico, aumento do risco de problemas cardiovasculares e alterações hormonais, além de afetar a concentração, a memória e o humor.
Ainda de acordo com a especialista, é recomendável que as empresas, antes de contratar profissionais, apliquem testes para identificar se eles têm ritmos biológicos matutinos ou vespertinos.
“Na maioria das vezes isso não acontece. Quando as pessoas já estão empregadas, investigar quem é mais vespertino ou matutino pode levar ao desemprego”, explica Claudia.
Ou seja, em vez de ajustar o horário do funcionário, o empregador pode interpretar a situação de forma equivocada, optar por dispensar o trabalhador e contratar outra pessoa mais alinhada ao horário estabelecido.
4. Quais são os cronotipos? ?
Os cronotipos, ou tipos cronobiológicos, são características e padrões individuais de cada pessoa, refletindo a tendência natural do corpo humano, como os horários de preferência para dormir ou ficar acordado.
Esse sistema se baseia no ciclo circadiano, que regula as funções biológicas. Os cronotipos indicam o momento do dia em que cada pessoa tem mais energia e disposição para realizar suas atividades.
Ou seja: os cronotipos determinam se alguém é mais produtivo pela manhã, à tarde ou à noite.
Entre os principais estão:
Entre os principais cronotipos, estão: Matutino, Vespertino e Intermediário.
Thalita Ferraz/g1
Segundo Vânia D’Almeida, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono, a maioria das pessoas se encaixa no perfil intermediário.
“É como se fosse indiferente, não existe uma preferência. Esse grupo pode acordar cedo ou tarde”, explica a especialista.
5. O ‘chronoworking’ vale a pena? ?
A pesquisadora avalia que sistemas de trabalho como o "chronoworking" podem ser muito benéficos, já que podem ajudar a aumentar a produtividade no trabalho e trazer mais benefícios à saúde dos empregados. Porém, pode causar problemas sem orientações adequadas.
“O cronotrabalho é benéfico se respeitar as preferências das pessoas, mas é necessário orientar para que durmam direito e regularmente”, explica Vânia.
Pedro Camargo, pesquisador e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), defende que não é questão de tempo, mas de produtividade. Ou seja, não importa o horário de trabalho, mas se a demanda está sendo entregue no prazo.
“Muitas coisas não são consideradas, como o fato de que o ‘chronoworking’ reduziria o adoecimento mental das pessoas. Esse sistema diminui burnout, estresse, irritação e aumenta a cooperação e produtividade entre os profissionais”, completa o especialista.
O vice-presidente da Everymind, Eduardo Nunes, afirma que a flexibilidade trouxe diversos benefícios para os colaboradores e a empresa.
Os principais fatores destacados são:
Melhora na qualidade de vida;
Conciliação entre os principais papéis: vida pessoal e profissional;
Aumento da produtividade;
Maior engajamento e motivação;
Retenção de talentos;
Maior diversidade e inclusão de trabalhadores.
Eliane Pencinato, gerente da Homedock, afirma que os colaboradores ficam mais motivados e engajados, além de não haver atraso na entrega de demandas. “Eu não gosto de rotina, então para mim é sensacional, principalmente para minha vida pessoal”, explica.
Renato Amendola, especialista em RH, afirma que o sistema faz sentido em funções que não exigem uma atuação fixa em horário comercial. “A pandemia mostrou que produtividade tem mais a ver com foco, clareza e propósito do que com a rigidez do relógio”, explica.
Ainda segundo o especialista, respeitar o ritmo biológico e as individualidades de cada um não está relacionado apenas ao bem-estar, mas também a uma escolha estratégica das empresas que querem ser mais humanas e eficientes.
“Nos grandes centros, onde o deslocamento consome horas e a rotina é exaustiva, oferecer essa flexibilidade pode melhorar significativamente a qualidade de vida e, por consequência, a performance dos profissionais. Mas, para que isso avance de verdade, é preciso que a legislação, especialmente a CLT, evolua e se atualize”, completa.
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O expediente de Laerte Nogueira, líder de equipe da Everymind, é bem diferente dos padrões da maioria das empresas brasileiras: começa às 11h. Ele segue o modelo "chronoworking" ("cronotrabalho", em português).
Neste formato, o funcionário segue os horários do ritmo biológico do corpo. Ou seja: ele atua conforme se sente mais produtivo, em um modelo que atende aos "cronotipos" de cada pessoa. (entenda mais abaixo)
Criado pela jornalista britânica Ellen C. Scott, o "chronoworking" propõe mais flexibilidade para os trabalhadores. No entanto, não há legislação brasileira específica para esse sistema.
Por isso, cada empregador precisa determinar:
⏱️ se haverá limites de horário para início e fim da jornada;
✍? se o benefício constará do contrato;
??? a quais áreas ele se aplica.
“A flexibilidade ajuda muito na minha vida pessoal. Consigo ficar mais tempo com o meu filho, e à noite posso focar e ser mais produtivo”, explica Nogueira.
O modelo segue outras tendências do mundo corporativo que valorizam o bem-estar profissional e a retenção de talentos, como a semana de quatro dias, o "short friday", o “workation” e a licença parental estendida.
As empresas que adotaram o "chronoworking" afirmam que os efeitos são positivos, mas a implantação exige atenção às leis trabalhistas.
“Sendo flexível e dentro dos limites da lei, acho possível e funciona bem. Claro que depende do negócio. Setores bancários, fábricas com linha de produção e hospitais não conseguem trabalhar assim”, explica a advogada trabalhista Fabiana Fittipaldi.
Abaixo, o g1 explica o "chronoworking" a partir das seguintes perguntas:
Como funciona em empresas que já aderiram?
O que diz a lei trabalhista?
O que é o ritmo biológico?
Quais são os cronotipos?
O ‘chronoworking’ vale a pena?
Entre os principais cronotipos, estão: Matutino, Vespertino e Intermediário.
g1/Thalita Ferraz
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Como identificar um ambiente de trabalho tóxico? Responda o QUIZ e saiba como agir
1. Como funciona em empresas que já aderiram? ???
Embora seja tendência em outros países, o "chronoworking" já é realidade em algumas empresas brasileiras.
O modelo de trabalho foi criado para promover flexibilidade para os funcionários, que já atuam no sistema “Anywhere Office” — formato que permite que os profissionais realizem as atividades de qualquer lugar do mundo.
Segundo Eduardo Nunes, vice-presidente de pessoas e cultura na Everymind, os colaboradores têm liberdade de trabalhar no horário que acharem mais conveniente.
Porém, é importante:
⏰ alinhar horário com a liderança;
⌚ alinhar horário com a equipe;
? entender os horários e agenda dos clientes.
Dos mais de 500 colaboradores da empresa, 90% têm disponibilidade para trabalhar no horário que quiserem. A flexibilidade é um dos principais motivos de avaliação positiva dos funcionários em pesquisas internas há mais de cinco anos.
“Gosto muito de viajar. Então, sempre que tenho oportunidade, pego a estrada e trabalho de qualquer lugar, no horário da minha preferência”, explica Nogueira, que afirma que os feedbacks sempre foram positivos dos demais trabalhadores.
Laerte Nogueira trabalhando na parte da tarde diretamente de um camping no interior de São Paulo.
Arquivo Pessoal
Outra empresa que também aderiu a esse formato de trabalho é a loja de móveis e decoração Homedock. Lá, algumas áreas específicas, como atendimento, logística e expedição, não conseguem atuar em qualquer horário.
Em setores com maior flexibilidade, os funcionários têm liberdade de escolher a hora de expediente. Apesar de atuar no sistema híbrido, a empresa não estabelece quantos dias o empregado precisa estar presencialmente no escritório.
“Não existe hoje uma obrigatoriedade, como três dias no escritório e dois dias em casa. Isso vai de acordo com a necessidade do funcionário”, explica Raphael Freire, que é gerente de projetos da empresa.
O sistema faz parte da cultura da empresa desde sua fundação, em 2013. Cabe à equipe de Recursos Humanos analisar o perfil comportamental do trabalhador e adaptar as funções conforme as necessidades da companhia.
“Pensamos na individualidade da pessoa e entendemos que cada um traz resultados de formas diferentes, de acordo com perfil e sistema biológico. No dia a dia, administramos tudo isso”, completa Eliane Abreu Pencinato, gerente de gente e gestão da Homedock.
Raphael Freire e Eliane Abreu Pencinato atuam no modelo chronoworking, e conciliam o trabalho com atividades físicas.
Arquivo Pessoal
2. O que diz a lei trabalhista? ?
Apesar de não existirem leis que regulamentem o "chronoworking", é necessário tomar alguns cuidados antes de aderir ao sistema.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece que:
a jornada de trabalho é de 8 horas diárias e no máximo 44 horas semanais.
em caso de horas extras, o trabalhador pode estender a jornada em até duas horas.
para quem trabalha entre as 22h e as 5h, é pago um adicional noturno de 20% sobre o valor da hora diurna.
Segundo Márcia Cleide Ribeiro, advogada especializada em direito do trabalho, o limite de horas é estipulado para proteger o trabalhador. “Não há impedimento de trabalhar menos, tudo depende da categoria e dos acordos feitos em convenções coletivas”, explica.
Para quem prefere trabalhar à noite ou de madrugada, a especialista alerta para o pagamento do adicional noturno. “Mesmo que trabalhe três horas no horário diurno e três horas no noturno, o adicional é pago somente no período noturno”, completa Márcia.
Outro ponto é a interjornada, ou seja, o intervalo entre o fim e início das jornadas de trabalho, que é de 11 horas consecutivas. Isso significa que o funcionário não pode, por exemplo, trabalhar até as 22h de um dia e iniciar novamente às 7h do outro dia.
“É necessário haver uma limitação para a segurança do trabalhador. A lei estipula que nas jornadas a partir de seis horas, é necessário ter uma hora de intervalo para descanso e refeição”, afirma a especialista.
De acordo com a advogada trabalhista Fabiana Fittipaldi, algumas empresas têm flexibilidade de horários, mas proíbem ou limitam o trabalho noturno. Isso significa que o empregado pode escolher os horários de trabalho, mas dentro de um período específico.
“Tenho alguns clientes que têm no contrato uma jornada de trabalho flexível, mas dentro de um horário específico. Por exemplo, o empregado pode entrar a qualquer horário entre 7h e 10h da manhã, mas deve sair a qualquer horário até as 22h”, diz.
? ATENÇÃO: O artigo 468 da CLT estabelece que qualquer alteração no contrato só pode ser feita com consentimento mútuo entre patrão e empregado, e as mudanças não podem causar prejuízo ou desvantagem ao trabalhador.
Isso significa que, se o “chronoworking” for aplicado na empresa e constar no contrato, o empregador não poderá suspender o benefício e exigir expediente como antes, sem a concordância dos funcionários.
“A empresa pode determinar no contrato que essa política pode ser alterada a qualquer momento, em caso de necessidade. Se houver uma previsão contratual, não há problema”, completa Fabiana.
3. O que é o ritmo biológico? ?
O corpo humano, como todos os seres vivos, tem um sistema temporal interno chamado relógio biológico. Esse sistema sincroniza funções básicas como dormir, acordar, sentir fome ou saciedade.
“Esse sistema de temporização está sincronizado com alguns eventos ambientais, como por exemplo o claro e escuro”, explica a professora e pesquisadora Claudia Moreno, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a especialista, o ser humano é uma espécie diurna. Isso significa que nós fazemos as atividades durante o dia e dormimos à noite. “Não é porque somos diurnos, que todo mundo acorda e dorme no mesmo horário. Existe uma certa variação”, afirma.
Essa variação tem uma determinação genética, com algumas pessoas propensas a acordar mais cedo ou mais tarde. Além disso, há influências ambientais e sociais no sistema temporal humano.
“Por exemplo, tenho uma propensão genética a ser vespertina, o que significa que vou acordar e dormir mais tarde do que pessoas com propensão genética a serem matutinas”, explica a especialista.
Pessoas vespertinas que precisam acordar muito cedo para trabalhar não conseguem dormir em um horário adequado para ter o tempo necessário de sono, que é em média 7 ou 8 horas seguidas.
“Essas pessoas precisam dormir às 22h para acordar às 6h, por exemplo. No entanto, dormem à meia-noite e acabam dormindo pouco. Ao longo da semana, são privadas de sono e têm consequências para a saúde”, afirma Claudia.
A privação de sono pode causar problemas como fadiga, enfraquecimento do sistema imunológico, aumento do risco de problemas cardiovasculares e alterações hormonais, além de afetar a concentração, a memória e o humor.
Ainda de acordo com a especialista, é recomendável que as empresas, antes de contratar profissionais, apliquem testes para identificar se eles têm ritmos biológicos matutinos ou vespertinos.
“Na maioria das vezes isso não acontece. Quando as pessoas já estão empregadas, investigar quem é mais vespertino ou matutino pode levar ao desemprego”, explica Claudia.
Ou seja, em vez de ajustar o horário do funcionário, o empregador pode interpretar a situação de forma equivocada, optar por dispensar o trabalhador e contratar outra pessoa mais alinhada ao horário estabelecido.
4. Quais são os cronotipos? ?
Os cronotipos, ou tipos cronobiológicos, são características e padrões individuais de cada pessoa, refletindo a tendência natural do corpo humano, como os horários de preferência para dormir ou ficar acordado.
Esse sistema se baseia no ciclo circadiano, que regula as funções biológicas. Os cronotipos indicam o momento do dia em que cada pessoa tem mais energia e disposição para realizar suas atividades.
Ou seja: os cronotipos determinam se alguém é mais produtivo pela manhã, à tarde ou à noite.
Entre os principais estão:
Entre os principais cronotipos, estão: Matutino, Vespertino e Intermediário.
Thalita Ferraz/g1
Segundo Vânia D’Almeida, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono, a maioria das pessoas se encaixa no perfil intermediário.
“É como se fosse indiferente, não existe uma preferência. Esse grupo pode acordar cedo ou tarde”, explica a especialista.
5. O ‘chronoworking’ vale a pena? ?
A pesquisadora avalia que sistemas de trabalho como o "chronoworking" podem ser muito benéficos, já que podem ajudar a aumentar a produtividade no trabalho e trazer mais benefícios à saúde dos empregados. Porém, pode causar problemas sem orientações adequadas.
“O cronotrabalho é benéfico se respeitar as preferências das pessoas, mas é necessário orientar para que durmam direito e regularmente”, explica Vânia.
Pedro Camargo, pesquisador e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), defende que não é questão de tempo, mas de produtividade. Ou seja, não importa o horário de trabalho, mas se a demanda está sendo entregue no prazo.
“Muitas coisas não são consideradas, como o fato de que o ‘chronoworking’ reduziria o adoecimento mental das pessoas. Esse sistema diminui burnout, estresse, irritação e aumenta a cooperação e produtividade entre os profissionais”, completa o especialista.
O vice-presidente da Everymind, Eduardo Nunes, afirma que a flexibilidade trouxe diversos benefícios para os colaboradores e a empresa.
Os principais fatores destacados são:
Melhora na qualidade de vida;
Conciliação entre os principais papéis: vida pessoal e profissional;
Aumento da produtividade;
Maior engajamento e motivação;
Retenção de talentos;
Maior diversidade e inclusão de trabalhadores.
Eliane Pencinato, gerente da Homedock, afirma que os colaboradores ficam mais motivados e engajados, além de não haver atraso na entrega de demandas. “Eu não gosto de rotina, então para mim é sensacional, principalmente para minha vida pessoal”, explica.
Renato Amendola, especialista em RH, afirma que o sistema faz sentido em funções que não exigem uma atuação fixa em horário comercial. “A pandemia mostrou que produtividade tem mais a ver com foco, clareza e propósito do que com a rigidez do relógio”, explica.
Ainda segundo o especialista, respeitar o ritmo biológico e as individualidades de cada um não está relacionado apenas ao bem-estar, mas também a uma escolha estratégica das empresas que querem ser mais humanas e eficientes.
“Nos grandes centros, onde o deslocamento consome horas e a rotina é exaustiva, oferecer essa flexibilidade pode melhorar significativamente a qualidade de vida e, por consequência, a performance dos profissionais. Mas, para que isso avance de verdade, é preciso que a legislação, especialmente a CLT, evolua e se atualize”, completa.
Home office vai acabar? Por que cada vez mais empresas estão voltando ao trabalho presencial
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