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Os americanos atraídos para igreja ortodoxa russa que promete desenvolver 'masculinidade'

Os americanos atraídos para igreja ortodoxa russa que promete desenvolver 'masculinidade'
Uma religião com tradições que remontam a séculos atrás está atraindo jovens americanos. A congregação do padre Moses McPherson triplicou de tamanho em 18 meses — e ele tem um grande número de seguidores online
BBC
"Muitas pessoas me perguntam: 'Padre Moses, como posso aumentar minha masculinidade a níveis absurdos?"
Em um vídeo do YouTube, um padre está defendendo uma forma de masculinidade viril e sem remorso.
Usar calça jeans skinny, cruzar as pernas, passar roupa, fazer a sobrancelha e até mesmo comer sopa estão entre as coisas que ele ridiculariza como sendo muito femininas.
Há outros vídeos do padre Moses McPherson — um homem corpulento pai de cinco filhos — fazendo levantamento de peso ao som de heavy metal.
Ele foi criado como protestante e já trabalhou como carpinteiro, mas agora serve como sacerdote na Igreja Ortodoxa Russa no Exterior (ROCOR, na sigla em inglês) em Georgetown, no Estado americano do Texas, uma ramificação da igreja mãe em Moscou.
A ROCOR, uma rede global com sede em Nova York, tem se expandido recentemente em partes dos EUA — principalmente como resultado da conversão de pessoas de outras religiões.
Nos últimos seis meses, o padre Moses preparou 75 novos seguidores para o batismo na Igreja da Mãe de Deus, ao norte de Austin.
"Quando minha esposa e eu nos convertemos, há 20 anos, costumávamos chamar a Ortodoxia de o segredo mais bem guardado, porque as pessoas simplesmente não sabiam o que era", diz ele.
"Mas no último ano e meio, nossa congregação triplicou de tamanho."
Theodore — que até recentemente rejeitava toda religião, e agora se converteu — levanta pesos três vezes por semana com o padre Moses
BBC
Durante a liturgia de domingo na igreja do padre Moses, fiquei impressionada com o número de homens na faixa dos vinte e trinta anos rezando e fazendo o sinal da cruz no fundo da nave, e como esta religião — com tradições que remontam ao século 4 d.C. — parece atrair jovens desconfortáveis com a vida nos EUA moderno.
O engenheiro de software Theodore me disse que tinha um emprego dos sonhos e uma esposa que adorava, mas se sentia vazio por dentro, como se houvesse um buraco em seu coração. Ele acredita que a sociedade tem sido "muito dura" com os homens, e está constantemente dizendo que eles estão errados. Ele reclama que os homens são criticados por quererem ser os provedores e sustentar uma esposa que fica em casa.
"Dizem que esse é um relacionamento muito tóxico hoje em dia", afirma Theodore. "Não é assim que deveria ser."
Quase todos os convertidos que conheci optaram por educar seus filhos em casa, em parte porque acreditam que as mulheres devem priorizar suas famílias, em vez de suas carreiras.
O padre John Whiteford, arcipreste da ROCOR de Spring, ao norte de Houston, diz que o ensino domiciliar garante uma educação religiosa — e é "uma forma de proteger seus filhos", evitando qualquer papo sobre "pessoas transgênero, ou os 57 gêneros do mês ou o que quer que seja".
Em comparação com os milhões de fiéis das megaigrejas evangélicas dos EUA, o número de cristãos ortodoxos é minúsculo — apenas cerca de 1% da população. Isso inclui a Ortodoxia Oriental, praticada na Rússia, Ucrânia, Leste Europeu e Grécia, e os ortodoxos orientais do Oriente Médio e da África.
Fundada por padres e clérigos que fugiram da Revolução Russa em 1917, a ROCOR é vista por muitos como a jurisdição ortodoxa mais conservadora dos EUA. No entanto, esta pequena comunidade religiosa é bastante eloquente, e o que está acontecendo nela reflete mudanças políticas mais amplas, especialmente após a dramática guinada do presidente americano, Donald Trump, em direção a Moscou.
O aumento real no número de convertidos é difícil de quantificar, mas dados do instituto Pew Research Centre sugerem que 64% dos cristãos ortodoxos são homens, contra 46% em 2007.
Um estudo menor com 773 convertidos parece corroborar a tendência. A maioria dos recém-chegados são homens, e muitos dizem que a pandemia de covid-19 os levou a buscar uma nova fé. Este levantamento é da Igreja Ortodoxa da América (OCA, na sigla em inglês), que foi fundada por monges russos no Alasca no fim do século 18, e agora conta com mais de 700 paróquias, missões, comunidades, mosteiros e instituições nos EUA, no Canadá e no México que se identificam como ortodoxos russos.
O professor Scott Kenworthy, que estuda a história e o pensamento do Cristianismo Ortodoxo Oriental — particularmente na Rússia moderna — diz que "está saindo gente pelo ladrão" na sua paróquia da OCA, em Cincinnati.
Ele frequenta a mesma igreja há 24 anos, e afirma que os números da congregação permaneceram estáveis até o lockdown em decorrência da pandemia. Desde então, tem havido um fluxo constante de novos interessados, e pessoas se preparando para serem batizadas, conhecidas como catecúmenos.
"Esse não é um fenômeno exclusivo da minha própria paróquia ou de alguns lugares no Texas", observa Kenworthy.
"É definitivamente algo mais amplo."
O espaço digital é fundamental para essa onda de novos convertidos. O padre Moses tem um grande número de seguidores online — quando ele compartilha a foto de um teste positivo de gravidez em seu feed do Instagram, recebe 6 mil curtidas por anunciar a chegada do sexto filho.
Mas há dezenas de outros podcasts e vídeos apresentados pelo clero ortodoxo e um exército de seguidores — principalmente homens.
O padre Moses diz à sua congregação que há duas maneiras de servir a Deus — ser monge ou freira, ou se casar. Aqueles que seguem o segundo caminho devem evitar a contracepção, e ter o maior número possível de filhos.
"Me mostra um santo na história da Igreja que tenha abençoado qualquer tipo de controle de natalidade", diz o padre Moses.
Ele também condena a masturbação — ou o que a igreja chama de autoabuso —, classificando como um ato "patético e não masculino".
O padre Moses diz que a Ortodoxia "não é masculina, é simplesmente normal", enquanto "no Ocidente tudo se tornou muito feminilizado". Algumas igrejas Protestantes, segundo ele, atendem principalmente às mulheres.
"Não quero ir a cultos que pareçam um show da Taylor Swift", diz o padre Moses. "Se você observar a linguagem da 'música de adoração', é tudo emotivo — não é coisa de homem".
Elissa Bjeletich Davis, uma ex-protestante que agora é membro da Igreja Ortodoxa Grega em Austin, é professora de catequese e tem seu próprio podcast. Ela diz que muitos convertidos pertencem à "turma anti-woke" e, às vezes, têm ideias estranhas sobre sua nova fé — especialmente aqueles na Igreja Russa.
"Eles veem como uma religião militar, rígida, disciplinar, masculina e autoritária", diz Elissa. "É um pouco engraçado. É quase como se os antigos puritanos americanos e sua loucura estivessem ressurgindo."
O ex-ateu Buck Johnson começou a explorar a Ortodoxia Russa durante a pandemia de covid
Buck Johnson
Buck Johnson trabalha como bombeiro há 25 anos, e apresenta o podcast Counterflow.
Ele conta que inicialmente teve medo de entrar na Igreja Ortodoxa Russa local, pois ele "parece diferente, coberto de tatuagens", mas me conta que foi recebido de braços abertos. Ele também ficou impressionado com o fato de a igreja ter permanecido aberta durante o lockdown em decorrência da pandemia de covid-19.
Sentado em um sofá em frente a duas telas enormes de televisão em sua casa em Lockhart, ele diz que a fé recém-descoberta está mudando sua visão de mundo.
"O que me preocupa são as visões negativas dos americanos sobre a Rússia", diz Buck. Ele me disse que a grande mídia apresenta uma imagem distorcida da invasão da Ucrânia.
"Acho que há um resquício da geração baby boomer aqui nos EUA, que viveu a Guerra Fria", avalia Buck.
"E não entendo bem por que, mas eles dizem que a Rússia é ruim."
O chefe da Igreja Russa em Moscou, patriarca Kirill, apoia obstinadamente a invasão da Ucrânia, chamando o conflito de Guerra Santa, e manifestando pouca compaixão pelas vítimas. Quando pergunto ao padre John Whiteford sobre o principal clérigo da Rússia, que muitos consideram um belicista, ele me garante que as palavras do patriarca foram distorcidas.
Vídeos e fotografias de Vladimir Putin citando versículos bíblicos, segurando velas durante cultos na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, e mergulhando na água gelada para celebrar a Epifania, parecem ter tocado muitos. Alguns — nos EUA e em outros países — veem a Rússia como o último bastião do verdadeiro Cristianismo.
Há quase uma década, outro convertido ortodoxo que se tornou sacerdote do Texas, o padre Joseph Gleason, se mudou dos EUA para Borisoglebskiy, um vilarejo a quatro horas de carro ao norte de Moscou, com a esposa e oito filhos.
"A Rússia não tem casamento homossexual, não tem uniões civis, é um lugar onde você pode educar seus filhos em casa e, é claro, eu adoro os mil anos de história do Cristianismo Ortodoxo aqui", disse ele a um apresentador de vídeo russo.
Esse texano de barba rala está na vanguarda de um movimento que incentiva os conservadores a se mudarem para a Rússia. Em agosto passado, Putin introduziu a concessão facilitada e acelerada de vistos de valores compartilhados para aqueles que fogem do liberalismo ocidental.
De volta ao Texas, Buck me conta que ele e seus colegas convertidos estão dando as costas à gratificação instantânea e ao consumismo americano.
"Estamos pensando em coisas de longo prazo", diz ele, "como tradições, amor pela família, amor pela comunidade, amor pelos vizinhos".
"Acho que nos encaixamos bem na Ortodoxia, especialmente no Texas."

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