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Jovem se torna primeira quilombola a se formar pela UFRR: 'Empoderar mulheres pretas'

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Jovem se torna primeira quilombola a se formar pela UFRR: 'Empoderar mulheres pretas'
Rafaela André, de 28 anos, se graduou em jornalismo. Descendente do Quilombo da Tapera, localizado em Petrópolis, no Rio de Janeiro, ela é a primeira quilombola formada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), criada há 35 anos. Jornalista Rafaela de Oliveira André, de 28 anos, primeira quilombola formada pela Universidade Federal de Roraima.
Arquivo pessoal
"Enquanto comunicadora, quero continuar empoderando outras meninas e mulheres pretas". Esse é um dos planos da jornalista Rafaela de Oliveira André, de 28 anos, recém-formada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Descendente do Quilombo da Tapera, no Rio de Janeiro, ela é a primeira quilombola na história a se formar na instituição pública.
Rafaela André contou ao g1 a trajetória dela até o diploma de graduação, que começou com uma viagem de mais de 5.000 km, do Rio de Janeiro até Roraima. A cerimônia de colação de grau ocorreu na última terça-feira (29), no Centro Amazônico de Fronteiras (Caf) da UFRR.
[Quero] que outras mulheres pretas entendam que a partir do momento que elas ocupam esses locais, elas se tornam a referência. Minha meta é continuar sendo uma referência".
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Nascida no município de Petrópolis, a jovem é descendente do Quilombo da Tapera, localizado na região de Boa Esperança, no bairro Itaipava. Essa é a única comunidade remanescente de quilombo na cidade fluminense.
Jornalista Rafaela André e a família, durante uma exposição sobre o Quilombo da Tapera, no Rio de Janeiro.
Arquivo pessoal
? Historicamente, os quilombos eram espaços de liberdade e resistência onde viviam comunidades de pessoas escravizadas fugitivas entre os séculos 16 e 19. Cem anos depois da abolição da escravidão, a Constituição de 1988 criou a nomenclatura “comunidades remanescentes de quilombos” — expressão que foi sendo substituída pelo termo "quilombola" ao longo dos anos.
Roraima é um dos dois estados do país que não possuem comunidades quilombolas, segundo o Censo de 2022. Com a formação de Rafaela, agora a UFRR não tem nenhum aluno autodeclarado desta forma, de acordo com a pró-reitora de ensino e graduação da UFRR, Leuda Evangelista.
"A universidade se sente honrada em ser a primeira instituição no estado que forma uma aluna quilombola. A Rafaela, apesar de não ser do estado, faz história na UFRR como a primeira aluna quilombola a se formar na Universidade Federal no estado de Roraima", afirmou Leuda.
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Caminho do diploma
Rafaela André durante a colação de grau no Centro Amazônico de Fronteiras (Caf) da UFRR.
Arquivo pessoal
O caminho até o diploma começou a ser percorrido em 2015, quando ela ainda estava no ensino médio. Sem expectativas de futuro, mas com muito incentivo da família, ela foi convidada pela irmã para estudar e morar em Boa Vista.
Na capital roraimense, Rafaela fez um ano de curso preparatório de estudos e, em 2016, foi aprovada em dois cursos na Universidade Federal de Roraima: comunicação social – jornalismo, pelo vestibular da instituição, e geografia, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com a nota do Enem.
Ela concorreu as vagas, nas duas categorias, pela modalidade de ampla concorrência. Com condições de estudo melhores do que de outras pessoas negras, a jovem decidiu não usar os sistema de cotas para dar oportunidade para quem não teve acesso a uma educação de qualidade assim como ela.
"Então, eu preferi deixar para uma pessoa que de fato não teve esse acesso pela consciência de que eu sou sim um ponto fora da curva, porque se você pegar os dados, a população preta é a que menos tem acesso, mas eu fui um ponto fora da curva porque eu tive acesso", explicou a jovem em entrevista ao g1.
Construção de um orgulho
Com habilidades para desenvolver redações e apaixonada por documentários, Rafaela escolheu o curso de jornalismo. Na universidade, entre as aulas noturnas, bolsas universitárias e um estágio em uma emissora local, ela tomou mais consciência sobre a negritude e as lutas raciais no Brasil. Marcada por episódios de racismo na infância, a jovem tinha vergonha de ser quilombola.
"Quando eu chego na Universidade Federal de Roraima, que eu tenho contato com os povos indígenas e eu sei que a nossa luta ela se encontra ali no período colonial, as nossas causas se encontram em alguns momentos, eu penso: 'Bom, esse é um povo de luta, um povo de resistência e tem orgulho da sua própria família, da sua cultura, da sua vivência, porque eu que também sou de um povo tradicional, não posso me orgulhar de ser quem eu sou?'. E aí, eu começo a construir esse orgulho, esse empoderamento dentro de mim", relembra.
Rafaela de Oliveira André, de 28 anos, coordenadora estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Roraima.
Arquivo pessoal
A partir daí, a jovem não demorou muito tempo a se envolver na luta contra o racismo e pela valorização da negritude em Roraima. Atualmente, ela é coordenadora estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Roraima, a primeira pessoa a ocupar o cargo, que foi criado em 2023.
Criada pelo governo de Roraima, a Coordenação Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Ceppir) é responsável por promover a proteção dos direitos de grupos étnicos raciais, como a população negra e povos indígenas, além de desenvolver políticas públicas de igualdade racial no estado.
"Essa minha trajetória que começou com a decisão de vir para o estado de Roraima também se cruzou com a trajetória de me tornar a primeira coordenadora estadual de políticas de promoção da igualdade racial. Algo que eu já lutava no jornalismo, hoje eu tenho a capacidade de executar enquanto política pública estadual para o estado inteiro", afirmou ela.
É com essa linha de pensamento que agora, graduada em jornalismo, ela quer incentivar o empoderamento de mais mulheres negras dentro e fora da mesma profissão. A ideia é se tornar uma referência para meninas e mulheres pretas, quilombolas ou não, e mostrar que podem ocupar todos os lugares.
"Os meus próximos planos, enquanto comunicadora, são de continuar empoderando outras mulheres. Por mais que hoje a nossa mídia, nossos veículos tradicionais tenha a presença de mais mulheres pretas, é necessário que haja esse empoderamento para que elas entendam que podem ocupar esses espaços e que o preconceito, o racismo, não é um fator capaz de limitar onde você quer chegar e o que pode fazer".
Criada há 35 anos, em setembro de 1989, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) é a primeira e a maior instituição de ensino superior do estado. Ela oferece mais de 50 cursos de graduação, entre bacharelados e licenciaturas, além de mestrados e doutorados, em três câmpus.
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