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Conheça duas histórias de coragem e conquistas de homens trans na luta pela visibilidade e aceitação

Conheça duas histórias de coragem e conquistas de homens trans na luta pela visibilidade e aceitação
Ambos enfrentaram conflitos internos e familiares, mas, apesar de todas as dificuldades, conseguiram encontrar seu espaço e viver suas verdades. ucas William Santos Siqueira e Julyan Théo Bessa Camêlo
Arquivo Pessoal
Em cidades do interior no oeste do Pará, onde a aceitação da diversidade de gênero ainda é um desafio, Lucas William Santos Siqueira, 26 anos, e Julyan Théo Bessa Camêlo, 24, encontraram forças para transitar entre um mundo de normas rígidas e um caminho de autodescoberta e protagonismo.
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Lucas, é de Santarém, mas mora em Belterra, ele é servidor público, mestre em Letras e autor da crônica “Cheiro de Casa”, e Théo, cirurgião-dentista, sacerdote da Umbanda e ativista, não são apenas exemplos de resistência pessoal, mas também de uma luta coletiva por direitos, reconhecimento e um Brasil mais inclusivo para as pessoas trans.
A trajetória deles não é apenas sobre ser trans, mas sobre lutar pela sobrevivência em um país que ainda é o líder mundial em homicídios de pessoas trans, um dado alarmante que torna a visibilidade de suas histórias, um ato de coragem.
Identidade de gênero e o autoconhecimento desde a infância
Ambos enfrentaram conflitos internos e familiares, mas, apesar de todas as dificuldades, conseguiram encontrar seu espaço e viver suas verdades.
Para Lucas, a descoberta de sua identidade trans aconteceu aos poucos, desde sua infância, quando percebeu que o modelo de mulher imposto pela sociedade não correspondia ao que ele sentia por dentro.
“Eu sempre me entendi diferente. A transição, para mim, foi a chance de me tornar quem eu sempre soube que era, mas não tinha coragem de mostrar para o mundo”, relembra.
Théo cresceu em Monte Alegre, uma cidade pequena onde as discussões sobre identidade de gênero eram quase inexistentes. A virada veio em 2017, ao assistir a novela A Força do Querer, e ver pela primeira vez um personagem trans, Ivan, cuja história o fez refletir sobre sua própria identidade.
“Foi a primeira vez que eu me vi representado. Eu não sabia que era possível ser trans, mas a novela trouxe a visibilidade que eu tanto precisava”, afirma.
Resistência dentro da própria casa e sociedade
A luta pela aceitação, no entanto, não foi fácil. Para Lucas, a relação com a família, que era religiosa e conservadora, foi marcada pela rejeição e pela necessidade de sair de casa aos 18 anos para viver sua transição em paz. “Foi um processo doloroso, mas necessário. Hoje, apesar das dificuldades, conseguimos nos respeitar e aceitar. Eles entendem a minha identidade, mas foi preciso um tempo para que isso acontecesse.”
Théo, em um contexto similar, tem a aceitação de seus pais, mas enfrenta dificuldades com outros membros da família.
Théo é dentista e atua em Santarém
Arquivo Pessoal
“Apesar de ter documentos alterados e de ser tratado como homem trans pelos meus pais, a maior parte da minha família ainda usa meu nome de nascimento, o que dói. Eles sabem que sou trans, mas ainda assim preferem usar o nome de batismo, como se negassem minha identidade”, explica.
A transfobia no cotidiano: a luta por respeito e dignidade
Ambos os relatos demonstram as dificuldades diárias enfrentadas por homens trans que ainda vivem em cidades onde o preconceito está profundamente enraizado. Lucas, mesmo tendo adquirido passabilidade com a hormonioterapia, continua a sofrer transfobia velada. “A transfobia não desaparece, ela só muda de forma. Hoje, é mais sutil, mas é constante. As pessoas sabem que sou trans e ainda assim me desrespeitam, com olhares ou atitudes que tentam me diminuir”, diz Lucas.
A arte e a religião como válvulas de escape e resistência
Em 2024, ele publicou a crônica “Cheiro de Casa” na coletânea nacional Transcritos
Arquivo Pessoal
Théo compartilha uma experiência semelhante. “O preconceito vem de lugares inesperados. Em meu trabalho, muitos pacientes têm dificuldade em me chamar de doutor. Algumas pessoas mais velhas ainda confundem meu pronome e falam de forma grosseira. Eu tento ignorar, mas isso afeta o meu emocional”, desabafa.
Data marca resistência e reforça a luta por direitos da comunidade
Enquanto Lucas encontrou na literatura um meio de expressar suas emoções e lutas internas, Théo recorreu à religião, especialmente à Umbanda, para encontrar paz e apoio. Lucas escreveu a crônica “Cheiro de Casa” para compartilhar seus sentimentos sobre o processo de transição e a busca por um lar, que para ele, não é apenas um espaço físico, mas o lugar onde é acolhido e respeitado.
Théo, que também lida com o autismo, descreve a Umbanda como uma fonte de cura espiritual. “A religião me ajudou a superar crises de ansiedade e encontrar a força para seguir em frente. Como sacerdote, é um motivo de orgulho me ver ocupando um espaço que muitas vezes é negado a pessoas como eu”, comenta.
Quebrando barreiras: exemplos de superação e conquista
Lucas no dia do lançamento do livro
Arquivo Pessoal
Ambos veem sua história como uma ferramenta para inspirar outros transgêneros a acreditarem que o mundo está, aos poucos, se tornando mais inclusivo. “Eu sou um exemplo de que podemos ocupar qualquer espaço na sociedade. Eu sou trans, autista, religioso e profissional. Eu mostro que, independente de quem você é, você tem direito de estar onde quiser”, afirma Théo.
Théo é zelador de santo
Arquivo Pessoal
Lucas, por sua vez, vê sua visibilidade dentro da literatura e da academia como uma forma de dar voz à comunidade trans. “Escrever, publicar, ser lido, é uma forma de resistência. Não só para mim, mas para todos que não têm voz”, explica.
Para ambos, o Orgulho não é uma celebração apenas do mês de junho, mas uma luta constante por visibilidade e respeito.
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