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Xamã Yanomami, Davi Kopenawa lamenta morte de Sebastião Salgado, ícone da fotografia: 'Era amigo do povo da floresta'

Xamã Yanomami, Davi Kopenawa lamenta morte de Sebastião Salgado, ícone da fotografia: 'Era amigo do povo da floresta'
Sebastião Salgado morreu aos 81 anos nessa sexta-feira (23), e é considerado um dos fotógrafos mais importantes da história. Mineiro foi mestre na arte de retratar a alma humana e do planeta em preto e branco. Davi Kopenawa, xamã e principal liderança Yanomami, fotografado por Sebastião Salgado
Sebastião Salgado/Reprodução/Ipol
"O trabalho [de Salgado] foi muito importante para mostrar os Yanomami com respeito. Ele era amigo do povo da floresta, amigo da terra, amigo do povo originário", disse o xamã Davi Kopenawa, principal liderança indígena do povo Yanomami ao lamentar a morte do fotógrafo Sebastião Salgado. Uma das principais lembranças de Davi com Salgado é um registro feito durante uma expedição na Terra Indígena Yanomami, a maior do Brasil (veja acima).
Sebastião Salgado, um dos fotógrafos mais importantes do mundo, morreu aos 81 anos, nessa sexta-feira (24). A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização não-governamental fundada por ele.
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As fotos tiradas do povo Yanomami são parte do projeto "Amazônia" que Salgado realizou entre 2013 e 2019. O fotógrafo passou sete anos viajando pela Amazônia, fotografando as florestas, rios, montanhas e os povos originários da região.
O xamã não se recorda do ano em que conheceu Salgado, mas as imagens podem ter sido capturadas entre os anos de 2014 e 2016, quando o fotografo excursionou pelo extremo Norte do país. A exposição "Amazônia", que apresenta as fotografias desse projeto, foi inaugurada em 2021.
Em entrevista ao g1 neste sábado (24,) Kopenawa contou que conheceu o fotógrafo durante uma visita à comunidade Watoriki, onde vive, na Terra Indígena Yanomami. Segundo ele, Salgado passou uma semana na região, convivendo com os indígenas e registrando imagens do cotidiano e da floresta.
"Levei ele pras comunidades, onde ele fotografou meus parentes e minha família. Ele fazia isso para que as pessoas da cidade, do mundo da mercadoria, nos respeitassem. Ele respeitava a gente e queria que todos nos vissem como ele nos via", relembra o líder Yanomami.
O adeus a Sebastião Salgado
Kopenawa diz que o trabalho do fotógrafo era uma forma de resistência e luta por respeito aos povos indígenas. As imagens de Salgado ajudaram a dar visibilidade à realidade dos Yanomami e de outros povos da floresta.
"O povo da cidade, até hoje, muitos não nos reconhecem. Então, o trabalho dele foi muito importante. Ele estava tentando nos ajudar, fazer com que os fazendeiros respeitassem nossa terra, nosso direito de viver em paz. Por isso, fiquei amigo dele", disse.
Indígenas Yanomami, fotografados para o projeto Amazônia, de Sebastião Salgado
Sebastião Salgado/Reprodução/Ipol
O xamã lembrou com carinho da relação construída ao longo dos anos e da amizade verdadeira que Salgado cultivou com o povo Yanomami.
"Gostamos muito do trabalho dele. Vi nossas imagens e de outros povos indígenas expostas em São Paulo. Era um bom trabalho, sim. Ele era uma pessoa muito amiga, um homem bom, um ser humano verdadeiro. Ele via que coisas ruins estavam acontecendo com a gente. Ele sabia".
Ao saber da morte do fotógrafo, Kopenawa disse que ficou muito abalado. Segundo ele, Salgado era visto pelos Yanomami como alguém que lutava ao lado deles.
"Fiquei muito, muito triste. Na cultura Yanomami, quando uma pessoa boa vai embora, a gente sente muito. Nós estamos tristes porque perdemos um amigo verdadeiro. Um homem que estava do nosso lado na luta. Chorei, porque admirava ele".
Indígena Yanomami fotografado por Sebastião Salgado durante ritual
Sebastião Salgado/Reprodução/Instituto Terra
Entre os registros mais emblemáticos de Sebastião Salgado está uma imagem feita no Pico da Neblina, com um Yanomami em uma corredeira. Segundo Davi, a foto foi feita com a proteção espiritual de um poderoso xamã chamado Shabiri.
"Esse xamã subiu com ele para que a natureza não ficasse brava. Ele estava ali para segurar a força da natureza, para que Sebastião Salgado não adoecesse enquanto fotografava nosso povo".
Kopenawa reforçou que a relação construída com Salgado foi baseada no respeito mútuo e na convivência.
“Um homem que entra na minha comunidade, come da minha comida, come banana, come beijú, ele é meu amigo. Mas aquele que entra na minha terra destruindo, sujando a água, trazendo doença… esses não são amigos. Esses são inimigos", destaca, emocionado, o líder.
Sebastião Salgado, ícone da fotografia, morre aos 81 anos
Sebastião Salgado em imagem de 18 de maio de 2021, em Paris
Joel Saget/AFP/Arquivo
Sebastião Salgado, um dos fotógrafos mais importantes do mundo, morreu aos 81 anos. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização não-governamental fundada por ele.
Ele tinha um distúrbio sanguíneo causado por malária, contraída na Indonésia, e não conseguiu tratar apropriadamente. Por isso, se aposentou do trabalho de campo em 2024, dizendo que seu corpo estava sentindo “os impactos de anos de trabalho em ambientes hostis e desafiadores”.
GALERIA: As fotos de Sebastião Salgado
FRASES: As reflexões nos 50 anos de carreira
VÍDEOS: Imagens da carreira e da vida pessoal
HOMENAGENS: Famosos e amigos lamentam
"Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", diz o texto do Instituto Terra.
Considerado um dos fotógrafos mais importantes do mundo, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu na cidade de Aimorés (MG), em 1944. O mineiro foi mestre na arte de retratar a alma humana e do planeta em preto e branco. Suas lentes captaram momentos históricos e gente simples, as maiores belezas da natureza e sua degradação.
Salgado ficou famoso por fazer registros documentais impressionantes, como o da Serra Pelada na década de 1980; "Trabalhadores"; e o ensaio "Êxodos" mostrando povos migrantes pelo mundo. Ao todo, percorreu mais de 120 países.
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