Catalogada pela primeira vez há mais de 100 anos, libélula é redescoberta no interior de MG

A libélula Lestes quadristriatus foi descrita pela única vez em 1909 pelo entomologista Philip P. Calvert. Agora, 116 anos depois, a espécie foi reencontrada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, por pesquisadores da UFTM, em parceria com a Universidad Nacional de Avellaneda, na Argentina, e da USP. Fêmea da libélula Lestes quadristriatus encontrada em Uberaba
Divulgação
A "redescoberta" de uma libélula que por mais de um século não era descrita por estudiosos na biodiversidade brasileira reacendeu o interesse da comunidade científica pela espécie no Triângulo Mineiro.
➡️ Clique aqui e siga o perfil do g1 Triângulo no Instagram
A libélula Lestes quadristriatus, descrita em 1909 pelo entomologista norte-americano Philip Powell Calvert, após encontrá-la na Chapada dos Guimarães (MT), foi achada 116 anos depois na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Vale Encantado, em Uberaba, por pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em parceria com a Universidad Nacional de Avellaneda, na Argentina, e da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar de pertencer a um gênero relativamente comum, a L. quadristriatus nunca foi novamente observada ou estudada em profundidade desde a descrição original.
“Essa espécie passou mais de 100 anos sem ser registrada, nem mesmo mencionada na literatura científica. Não quer dizer que ela não estava no ambiente, apenas que não estava sendo identificada”, explicou o biólogo Vinicius Lopez, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.
Além da RPPN Vale Encantado, outro exemplar foi encontrado na cidade de Corinto (MG) anos antes pelo biólogo Javier Muzon, mas só agora foi identificada como uma Lestes quadristriatus, reforçando a suspeita de que a espécie seja endêmica do estado de Minas Gerais. Por enquanto, os registros oficiais são todos brasileiros.
A captura
Libélula foi encontrada a cerca de 50 metros de um riacho
DIvulgação
A captura foi feita com o uso de redes entomológicas, a cerca de 50 metros de um riacho. O espécime chamou atenção pela aparência incomum e foi assim que a análise morfológica minuciosa confirmou a identidade e revelou: pela primeira vez, os cientistas conseguiram descrever formalmente a fêmea da espécie, algo inédito em mais de 100 anos.
“A taxonomia das libélulas é geralmente baseada nos machos, e muitas fêmeas sequer são conhecidas. A principal diferença está na genitália, os machos possuem cercos para prender a fêmea durante a cópula”, explicou Vinicius.
A redescoberta levantou ainda importantes questões sobre a biologia da libélula, ainda pouco compreendida. A espécie parece ser altamente camuflada e provavelmente sazonal, o que ajuda a explicar a raridade em coletas. “Estamos fazendo coletas há três anos na região da Área de Preservação Ambiental do Rio Uberaba, inclusive no Vale Encantado e só conseguimos capturá-la uma única vez, em uma análise esporádica”, relatou o pesquisador.
Para confirmar a identidade da libélula, os pesquisadores solicitaram o empréstimo do espécime-tipo, o exemplar original descrito por Calvert, guardado no Carnegie Museum of Pittsburgh, na Pensilvânia.
A análise revelou que o espécime de 1909 estava danificado, o que provavelmente levou a erros na descrição original. A descoberta também levou outros especialistas a revisitarem suas coleções: um pesquisador argentino encontrou outro exemplar da mesma espécie entre materiais coletados no Brasil.
Achado de 1909 por Philip P. Calvert
Divulgação
Leia também:
Entenda porque residências foram invadidas por insetos durante grande incêndio registrado em Uberlândia
Onças nas ruas assustam moradores do Triângulo e Alto Paranaíba nas últimas semanas; especialista explica aparições
Diamante de 646 quilates descoberto pode mudar de cor após lapidação? Entenda
A análise
Todas as análises foram feitas com espécimes mortos, de forma ética e com o objetivo de preservar os detalhes morfológicos essenciais para identificação. “Capturamos os insetos e os colocamos no freezer ou no álcool. Isso evita dor ao animal e garante a preservação para estudos futuros”, explicou a equipe.
A redescoberta não apenas corrige registros históricos como abre portas para novos estudos. Os pesquisadores agora planejam aplicar modelos preditivos para identificar possíveis áreas onde a espécie também possa ocorrer.
“Queremos entender aspectos básicos da biologia desse grupo, como a cópula, o surgimento das larvas e sua morfologia. É um pequeno tijolo que colocamos para, no futuro, entender melhor a natureza a partir dessa espécie.”
Apesar do entusiasmo, os cientistas reforçam que o status de conservação da libélula ainda é incerto. Como há pouquíssimos registros, ela não pode ser considerada oficialmente ameaçada. Por enquanto se enquadra na categoria “falta de dados”, segundo critérios internacionais.
Além da relevância científica, a Lestes quadristriatus cumpre papel ecológico fundamental. As libélulas, tanto na fase adulta quanto larval são predadoras vorazes de insetos como mosquitos e até girinos. “Elas ajudam a regular populações de parasitas que podem prejudicar outros organismos, inclusive plantas”, disse a equipe.
Para os pesquisadores, a descoberta também carrega uma mensagem simbólica.
“O que mais me surpreendeu foi que ninguém mais acreditava que essa espécie existia. Isso mostra a importância da observação em campo e da colaboração entre cientistas. Às vezes, redescobrir uma espécie esquecida é tão importante quanto descobrir uma nova.”
(a) visão geral do macho, destacando a mancha bicolor nas asas (pterostigma); (b) cabeça; (c) protórax (parte frontal do tórax); (d) porção principal do tórax (pterotórax); (e) padrão de coloração no peito (região peitoral); (f) apêndices caudais vistos de lado; (g) apêndices caudais vistos por cima (visão mediodorsal).
Divulgação
Diamante de mais de 500 quilates é encontrado em Coromandel
? Siga o g1 Triângulo no WhatsApp, Facebook e X
VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas
Divulgação
A "redescoberta" de uma libélula que por mais de um século não era descrita por estudiosos na biodiversidade brasileira reacendeu o interesse da comunidade científica pela espécie no Triângulo Mineiro.
➡️ Clique aqui e siga o perfil do g1 Triângulo no Instagram
A libélula Lestes quadristriatus, descrita em 1909 pelo entomologista norte-americano Philip Powell Calvert, após encontrá-la na Chapada dos Guimarães (MT), foi achada 116 anos depois na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Vale Encantado, em Uberaba, por pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em parceria com a Universidad Nacional de Avellaneda, na Argentina, e da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar de pertencer a um gênero relativamente comum, a L. quadristriatus nunca foi novamente observada ou estudada em profundidade desde a descrição original.
“Essa espécie passou mais de 100 anos sem ser registrada, nem mesmo mencionada na literatura científica. Não quer dizer que ela não estava no ambiente, apenas que não estava sendo identificada”, explicou o biólogo Vinicius Lopez, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.
Além da RPPN Vale Encantado, outro exemplar foi encontrado na cidade de Corinto (MG) anos antes pelo biólogo Javier Muzon, mas só agora foi identificada como uma Lestes quadristriatus, reforçando a suspeita de que a espécie seja endêmica do estado de Minas Gerais. Por enquanto, os registros oficiais são todos brasileiros.
A captura
Libélula foi encontrada a cerca de 50 metros de um riacho
DIvulgação
A captura foi feita com o uso de redes entomológicas, a cerca de 50 metros de um riacho. O espécime chamou atenção pela aparência incomum e foi assim que a análise morfológica minuciosa confirmou a identidade e revelou: pela primeira vez, os cientistas conseguiram descrever formalmente a fêmea da espécie, algo inédito em mais de 100 anos.
“A taxonomia das libélulas é geralmente baseada nos machos, e muitas fêmeas sequer são conhecidas. A principal diferença está na genitália, os machos possuem cercos para prender a fêmea durante a cópula”, explicou Vinicius.
A redescoberta levantou ainda importantes questões sobre a biologia da libélula, ainda pouco compreendida. A espécie parece ser altamente camuflada e provavelmente sazonal, o que ajuda a explicar a raridade em coletas. “Estamos fazendo coletas há três anos na região da Área de Preservação Ambiental do Rio Uberaba, inclusive no Vale Encantado e só conseguimos capturá-la uma única vez, em uma análise esporádica”, relatou o pesquisador.
Para confirmar a identidade da libélula, os pesquisadores solicitaram o empréstimo do espécime-tipo, o exemplar original descrito por Calvert, guardado no Carnegie Museum of Pittsburgh, na Pensilvânia.
A análise revelou que o espécime de 1909 estava danificado, o que provavelmente levou a erros na descrição original. A descoberta também levou outros especialistas a revisitarem suas coleções: um pesquisador argentino encontrou outro exemplar da mesma espécie entre materiais coletados no Brasil.
Achado de 1909 por Philip P. Calvert
Divulgação
Leia também:
Entenda porque residências foram invadidas por insetos durante grande incêndio registrado em Uberlândia
Onças nas ruas assustam moradores do Triângulo e Alto Paranaíba nas últimas semanas; especialista explica aparições
Diamante de 646 quilates descoberto pode mudar de cor após lapidação? Entenda
A análise
Todas as análises foram feitas com espécimes mortos, de forma ética e com o objetivo de preservar os detalhes morfológicos essenciais para identificação. “Capturamos os insetos e os colocamos no freezer ou no álcool. Isso evita dor ao animal e garante a preservação para estudos futuros”, explicou a equipe.
A redescoberta não apenas corrige registros históricos como abre portas para novos estudos. Os pesquisadores agora planejam aplicar modelos preditivos para identificar possíveis áreas onde a espécie também possa ocorrer.
“Queremos entender aspectos básicos da biologia desse grupo, como a cópula, o surgimento das larvas e sua morfologia. É um pequeno tijolo que colocamos para, no futuro, entender melhor a natureza a partir dessa espécie.”
Apesar do entusiasmo, os cientistas reforçam que o status de conservação da libélula ainda é incerto. Como há pouquíssimos registros, ela não pode ser considerada oficialmente ameaçada. Por enquanto se enquadra na categoria “falta de dados”, segundo critérios internacionais.
Além da relevância científica, a Lestes quadristriatus cumpre papel ecológico fundamental. As libélulas, tanto na fase adulta quanto larval são predadoras vorazes de insetos como mosquitos e até girinos. “Elas ajudam a regular populações de parasitas que podem prejudicar outros organismos, inclusive plantas”, disse a equipe.
Para os pesquisadores, a descoberta também carrega uma mensagem simbólica.
“O que mais me surpreendeu foi que ninguém mais acreditava que essa espécie existia. Isso mostra a importância da observação em campo e da colaboração entre cientistas. Às vezes, redescobrir uma espécie esquecida é tão importante quanto descobrir uma nova.”
(a) visão geral do macho, destacando a mancha bicolor nas asas (pterostigma); (b) cabeça; (c) protórax (parte frontal do tórax); (d) porção principal do tórax (pterotórax); (e) padrão de coloração no peito (região peitoral); (f) apêndices caudais vistos de lado; (g) apêndices caudais vistos por cima (visão mediodorsal).
Divulgação
Diamante de mais de 500 quilates é encontrado em Coromandel
? Siga o g1 Triângulo no WhatsApp, Facebook e X
VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas
Para ler a notícia completa, acesse o link original:
0 curtidas
Notícias Relacionadas
Não há mais notícias para carregar
Comentários 0