Primeira vez: Ju Moraes e outros famosos LGBTQIA+ relatam suas jornadas até a liberdade de expressar afeto em público

Para este sábado (28), Dia Internacional do Orgulho LGBT, o g1 conversou com a cantora baiana, com a influenciadora Gisele Palma e o intérprete da drag queen Desirée Beck para ouvir como foram suas primeiras vivências. No Dia do Orgulho, personalidades LGBTQIAPN+ comentam primeiras experiências
Andar de mãos dadas na rua, dar o primeiro beijo em público e apresentar alguém para a família podem ser experiências comuns na adolescência para heterossexuais. Já para pessoas LGBTQIA+, esses momentos costumam acontecer tardiamente, no início da vida adulta ou, até mesmo, depois.
Eu Te Explico #139: orgulho e luta da comunidade LGBTQIA+ contra o preconceito e a violência
Isso acontece devido ao processo de descoberta e aceitação da orientação sexual, bem como pelo preconceito presente na sociedade heteronormativa -- que tem a heterossexualidade como norma.
A LGBTfobia pode estar presente, até mesmo, dentro de casa. Nesse sentido, a dependência financeira familiar acaba sendo um impeditivo a mais, conforme explica a psicóloga e mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, Raíssa Lé.
"A gente costuma conquistar essa independência financeira não na época da adolescência, mas na fase jovem adulta ou até um pouco depois mesmo. Então, esse sujeito começa a fazer suas próprias escolhas sem depender ou sem ser tão submetido a uma lógica imposta, seja por familiares, seja pelos amigos, e vai poder expressar mais livremente sua sexualidade", afirma.
Para este sábado (28), Dia Internacional do Orgulho LGBT, o g1 conversou com personalidades que fazem parte dessa comunidade para ouvir como foram essas primeiras vivências. Entre as entrevistadas estão a cantora Ju Moraes, a influenciadora digital Gisele Palma, e a drag queen DesiRée Beck, interpretada por Michael Batista.
Primeiro afeto público
Ju Moraes na Barra
Francisco Carlos/Ag Haack
Se sentir à vontade em público por ser bissexual foi algo recente para a cantora e ex-participante do The Voice Brasil, Ju Moraes, de 39 anos. A baiana só conseguiu ficar confortável com isso há menos de uma década, após se casar com a ex-companheira.
"Por mais que eu me perceba uma mulher LGBT desde os meus 21 anos, que foi quando eu tive a minha primeira experiência, só há 8 eu realmente me sinto confortável nos ambientes para estar de mãos dadas, abraçar, fazer carinho", disse.
O medo de sofrer algum tipo de violência – verbal ou física – foi um dos fatores que contribuíram para que a artista não se sentisse segura em demonstrar afeto fora de casa ou nas redes sociais. Além disso, tinha o "peso" de ser uma pessoa pública.
Ainda não é fácil ser uma pessoa LGBT no Brasil. E seria uma mentira dizer que é fácil, né? Por mais que a gente lute e queira isso, ainda não é. O processo é longo e segue sendo difícil para muita gente ainda.
DesiRée Beck é interpretada por Michael Batista
Reprodução/Redes Sociais
Michael Batista, intérprete da drag queen DesiRée Beck, tem uma história parecida. A primeira vez que ele andou de mãos dadas na rua foi com o atual marido. Michael Batista disse que demonstrar afeto em público sempre foi algo que o travou.
Para ele, essa dificuldade começou na infância, quando se sentia diferente dos outros meninos. Nascido em Irecê, no interior da Bahia, Michael relembra como era difícil ser LGBT em uma cidade pequena.
"Eu não me identificava com os meninos e, às vezes, nem todas as meninas eram receptivas. Também tinha muitos pais que pediam para que as meninas não tivessem amizade comigo. Era uma coisa bem, assim, difícil", relembrou.
Já a influenciadora Gisele Palma demonstrou afeto publicamente pela primeira vez por volta dos 18 anos, em uma balada. Ela lembra que a situação aconteceu de forma natural e fluida, mas logo em seguida veio a preocupação sobre como as pessoas ao redor iriam reagir.
"Fiquei com medo do julgamento, se minhas amigas iam parar de ser minhas amigas, se elas iam ficar com medo de que: 'ah, então ela é lésbica, ela vai querer ficar comigo também'. Se os homens iam chegar e ficar assediando a gente, porque homem adora ser desagradável", disse.
Gisele Palma
Reprodução/Redes Sociais
Relação familiar
Aos 20 anos, Ju Moraes começou a se relacionar com uma mulher. Ela lembra que estava tão apaixonada que não conseguia disfarçar o que sentia para a família, mas o que os pais não sabiam era por quem Ju estava apaixonada.
Certo dia, o pai da artista mexeu nas coisas dela, sem autorização, e descobriu que a filha estava se relacionando com uma mulher. "Ele chamou minha mãe, no dia do meu aniversário, fez uma reunião familiar para me botar contra a parede e me dar um ultimato: 'ou você sai disso, ou esqueça que você tem pai'", relatou.
Ju conta que ficou desesperada e não soube o que responder. Em seguida, rompeu a relação com o pai. "Minha mãe, coitada, não sabia muito bem como lidar com aquilo, ficou muito mal, triste, mas jamais virou as costas para mim".
"Fiquei uns cinco anos afastada da minha família, até realmente eles começarem a respeitar o meu espaço, respeitar as minhas escolhas. A grande virada foi eu realmente passar a ser 'dona e proprietária' da minha vida".
Gisele Palma, por outro lado, não teve a experiência de ser "tirada do armário" como ocorreu com Ju Moraes. Quando apresentou a namorada à família, a influenciadora já tinha 30 anos.
"Eu já era independente financeiramente, já era bem-sucedida profissionalmente também. Então, eu não sentia naquele momento a necessidade de fazer um comunicado oficial, assim, de chegar e falar: 'ó, mãe, pai, irmãs, irmão, sou lésbica'", comentou.
Representatividade e rede de apoio
Bandeira LGBT
JL Rosa/SVM
A representatividade positiva na mídia, de modo mais abrangente, é algo recente para o público LGBTQIA+. Antigamente, pessoas da comunidade eram mais representadas de forma negativa, conforme explica a psicóloga Raíssa Lé.
"A gente tinha casos de novelas, filmes, que retratavam casais LGBT de uma forma muito sofrida, inclusive com fins trágicos", contextualizou.
Para Raíssa, as abordagens diversas e a exposição de outros modelos de família ajudaram a reforçar uma imagem positiva, com impacto na saúde mental de pessoas da comunidade. "Temos pessoas públicas e influentes falando que, olha, é possível ser LGBT. Essas pessoas existem, essas pessoas são felizes, essas pessoas podem constituir família, essas pessoas podem ter sucesso", pontuou.
Apesar disso, foi através de um reality show norte-americano de drags que DesiRée Beck descobriu seu lado artístico. "Eu não conhecia a arte drag e, quando assisti RuPaul's Drag Race, me encantei. Então, eu comecei [ a me montar] com o intuito de um dia poder participar desse reality, mas foi muito louco como tudo mudou e acabou que virou a minha profissão".
Na época, Michael já estava formado em Nutrição e cursava Gastronomia, mas largou tudo para viver da arte drag. E o resultado recompensou: DesiRée foi confirmada na segunda temporada da versão brasileira do reality de drags norte-americano. A estreia está prevista para 10 de julho.
Sem tamanha referência na TV, Gisele Palma contou com a rede de apoio de amigas que também amam mulheres, quando se entendeu enquanto pessoa LGBT.
"Minha mente estava borbulhando muito no processo de descoberta. Então, as pessoas que mais me ajudaram mesmo foram as amigas. Ah, e a minha namorada também. É como se ela tivesse me dado asas, sabe? Para eu voar mesmo, mergulhar em mim e me entender", analisou.
Raíssa Lé, psicóloga e mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo
Arquivo pessoal
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Andar de mãos dadas na rua, dar o primeiro beijo em público e apresentar alguém para a família podem ser experiências comuns na adolescência para heterossexuais. Já para pessoas LGBTQIA+, esses momentos costumam acontecer tardiamente, no início da vida adulta ou, até mesmo, depois.
Eu Te Explico #139: orgulho e luta da comunidade LGBTQIA+ contra o preconceito e a violência
Isso acontece devido ao processo de descoberta e aceitação da orientação sexual, bem como pelo preconceito presente na sociedade heteronormativa -- que tem a heterossexualidade como norma.
A LGBTfobia pode estar presente, até mesmo, dentro de casa. Nesse sentido, a dependência financeira familiar acaba sendo um impeditivo a mais, conforme explica a psicóloga e mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, Raíssa Lé.
"A gente costuma conquistar essa independência financeira não na época da adolescência, mas na fase jovem adulta ou até um pouco depois mesmo. Então, esse sujeito começa a fazer suas próprias escolhas sem depender ou sem ser tão submetido a uma lógica imposta, seja por familiares, seja pelos amigos, e vai poder expressar mais livremente sua sexualidade", afirma.
Para este sábado (28), Dia Internacional do Orgulho LGBT, o g1 conversou com personalidades que fazem parte dessa comunidade para ouvir como foram essas primeiras vivências. Entre as entrevistadas estão a cantora Ju Moraes, a influenciadora digital Gisele Palma, e a drag queen DesiRée Beck, interpretada por Michael Batista.
Primeiro afeto público
Ju Moraes na Barra
Francisco Carlos/Ag Haack
Se sentir à vontade em público por ser bissexual foi algo recente para a cantora e ex-participante do The Voice Brasil, Ju Moraes, de 39 anos. A baiana só conseguiu ficar confortável com isso há menos de uma década, após se casar com a ex-companheira.
"Por mais que eu me perceba uma mulher LGBT desde os meus 21 anos, que foi quando eu tive a minha primeira experiência, só há 8 eu realmente me sinto confortável nos ambientes para estar de mãos dadas, abraçar, fazer carinho", disse.
O medo de sofrer algum tipo de violência – verbal ou física – foi um dos fatores que contribuíram para que a artista não se sentisse segura em demonstrar afeto fora de casa ou nas redes sociais. Além disso, tinha o "peso" de ser uma pessoa pública.
Ainda não é fácil ser uma pessoa LGBT no Brasil. E seria uma mentira dizer que é fácil, né? Por mais que a gente lute e queira isso, ainda não é. O processo é longo e segue sendo difícil para muita gente ainda.
DesiRée Beck é interpretada por Michael Batista
Reprodução/Redes Sociais
Michael Batista, intérprete da drag queen DesiRée Beck, tem uma história parecida. A primeira vez que ele andou de mãos dadas na rua foi com o atual marido. Michael Batista disse que demonstrar afeto em público sempre foi algo que o travou.
Para ele, essa dificuldade começou na infância, quando se sentia diferente dos outros meninos. Nascido em Irecê, no interior da Bahia, Michael relembra como era difícil ser LGBT em uma cidade pequena.
"Eu não me identificava com os meninos e, às vezes, nem todas as meninas eram receptivas. Também tinha muitos pais que pediam para que as meninas não tivessem amizade comigo. Era uma coisa bem, assim, difícil", relembrou.
Já a influenciadora Gisele Palma demonstrou afeto publicamente pela primeira vez por volta dos 18 anos, em uma balada. Ela lembra que a situação aconteceu de forma natural e fluida, mas logo em seguida veio a preocupação sobre como as pessoas ao redor iriam reagir.
"Fiquei com medo do julgamento, se minhas amigas iam parar de ser minhas amigas, se elas iam ficar com medo de que: 'ah, então ela é lésbica, ela vai querer ficar comigo também'. Se os homens iam chegar e ficar assediando a gente, porque homem adora ser desagradável", disse.
Gisele Palma
Reprodução/Redes Sociais
Relação familiar
Aos 20 anos, Ju Moraes começou a se relacionar com uma mulher. Ela lembra que estava tão apaixonada que não conseguia disfarçar o que sentia para a família, mas o que os pais não sabiam era por quem Ju estava apaixonada.
Certo dia, o pai da artista mexeu nas coisas dela, sem autorização, e descobriu que a filha estava se relacionando com uma mulher. "Ele chamou minha mãe, no dia do meu aniversário, fez uma reunião familiar para me botar contra a parede e me dar um ultimato: 'ou você sai disso, ou esqueça que você tem pai'", relatou.
Ju conta que ficou desesperada e não soube o que responder. Em seguida, rompeu a relação com o pai. "Minha mãe, coitada, não sabia muito bem como lidar com aquilo, ficou muito mal, triste, mas jamais virou as costas para mim".
"Fiquei uns cinco anos afastada da minha família, até realmente eles começarem a respeitar o meu espaço, respeitar as minhas escolhas. A grande virada foi eu realmente passar a ser 'dona e proprietária' da minha vida".
Gisele Palma, por outro lado, não teve a experiência de ser "tirada do armário" como ocorreu com Ju Moraes. Quando apresentou a namorada à família, a influenciadora já tinha 30 anos.
"Eu já era independente financeiramente, já era bem-sucedida profissionalmente também. Então, eu não sentia naquele momento a necessidade de fazer um comunicado oficial, assim, de chegar e falar: 'ó, mãe, pai, irmãs, irmão, sou lésbica'", comentou.
Representatividade e rede de apoio
Bandeira LGBT
JL Rosa/SVM
A representatividade positiva na mídia, de modo mais abrangente, é algo recente para o público LGBTQIA+. Antigamente, pessoas da comunidade eram mais representadas de forma negativa, conforme explica a psicóloga Raíssa Lé.
"A gente tinha casos de novelas, filmes, que retratavam casais LGBT de uma forma muito sofrida, inclusive com fins trágicos", contextualizou.
Para Raíssa, as abordagens diversas e a exposição de outros modelos de família ajudaram a reforçar uma imagem positiva, com impacto na saúde mental de pessoas da comunidade. "Temos pessoas públicas e influentes falando que, olha, é possível ser LGBT. Essas pessoas existem, essas pessoas são felizes, essas pessoas podem constituir família, essas pessoas podem ter sucesso", pontuou.
Apesar disso, foi através de um reality show norte-americano de drags que DesiRée Beck descobriu seu lado artístico. "Eu não conhecia a arte drag e, quando assisti RuPaul's Drag Race, me encantei. Então, eu comecei [ a me montar] com o intuito de um dia poder participar desse reality, mas foi muito louco como tudo mudou e acabou que virou a minha profissão".
Na época, Michael já estava formado em Nutrição e cursava Gastronomia, mas largou tudo para viver da arte drag. E o resultado recompensou: DesiRée foi confirmada na segunda temporada da versão brasileira do reality de drags norte-americano. A estreia está prevista para 10 de julho.
Sem tamanha referência na TV, Gisele Palma contou com a rede de apoio de amigas que também amam mulheres, quando se entendeu enquanto pessoa LGBT.
"Minha mente estava borbulhando muito no processo de descoberta. Então, as pessoas que mais me ajudaram mesmo foram as amigas. Ah, e a minha namorada também. É como se ela tivesse me dado asas, sabe? Para eu voar mesmo, mergulhar em mim e me entender", analisou.
Raíssa Lé, psicóloga e mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo
Arquivo pessoal
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