Funk bruxaria, umbrellas e público de até 10 mil pessoas: conheça o 'baile privado' do interior de SP que conquista público no Brasil

Primeira edição da Submundo 808, em abril de 2023 em Campinas, reuniu cerca de 500 pessoas. Hoje, só no TikTok, festa acumula mais de 11,5 milhões de curtidas e soma 255 mil seguidores no Instagram. Festa Submundo privada em Campinas, no Interior de SP.
Divulgação/ Submundo 808
A primeira edição da Submundo 808, realizada em abril de 2023 em Campinas (SP), reuniu cerca de 500 pessoas. Na época, os sete criadores não imaginavam que produziriam a mesma festa para um público estimado em 10 mil.
O Dia Nacional do Funk é celebrado neste sábado (12), em homenagem ao Baile da Pesada, um evento que marcou a popularização do funk no Brasil. Apesar de acontecerem em épocas diferentes, a festa campineira ganhou o público - e viralizou nas redes - reproduzindo a estética de bailes funks de rua de SP.
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Com funk 'bruxaria' paulista, line-up underground, 'umbrellas' e uma estética semelhante ao que é visto nas ruas, a Submundo 808 angaria seguidores e fãs nas redes sociais: só no TikTok, a festa acumula mais de 11,5 milhões de curtidas e soma 255 mil seguidores no Instagram.
O funk "bruxaria" pode ser considerado, atualmente, uma vertente mais experimental do funk — e bem mais grave. Geralmente é composta por um sample (um trecho de alguma música/produção já existente, mais aguda e robótica); um assovio (geralmente bem fino); e muitos elementos agudos e estourados.
O g1 conversou com Vinicius Mariano, de 33 anos, e André Miquelotti (conhecido profissionalmente como DJ Tresk), de 31 anos, co-fundadores da festa. Apesar de ser um "baile privado", os jovens afirmam que mantém o compromisso com as causas sociais e identitárias do funk.
Os sete fundadores nasceram e cresceram em periferias de Campinas. Durante a adolescência e início da juventude, os jovens frequentavam bailes funks da cidade, como o Baile do Ozipa e o Baile do Paiol. Vinicius e André explicam que as experiências com o funk na juventude foram a inspiração para a construção estética da Submundo 808.
Entenda como ‘umbrellas’ se tornaram símbolo dos bailes funk de SP
"Nossa ideia era criar uma festa que valorizasse a cultura do funk em todas as suas vertentes. Até por a gente consumir os bailes de rua, e as quermesses e comícios que tinha nos nossos bairros. A nossa criação veio muito a partir do que a gente já consumia e ouvia", diz Vinicius.
Os produtores afirmam que a idealização da festa também surgiu de uma falta: todos cresceram sem acesso a eventos culturais e de entretenimento voltado para pessoas periféricas.
"Eu queria oportunidade de ir na Submundo quando eu era mais novo. Infelizmente, a gente não teve essa oportunidade lá atrás, e isso é coisa que a gente queria ter tido. Tanto como espaço seguro, como um espaço para poder ser quem a gente é", explica André.
Funk bruxaria, umbrellas e público de até 10 mil pessoas: conheça o 'baile privado' do interior de SP que conquista público no Brasil
Júulios Mariano/@juulios
Baile funk privado?
A mesa do DJ no centro do público, a música extremamente alta e uma estética bem próxima do que vemos nas ruas: funk "bruxaria", line-up underground e muitas umbrellas pelo ar. Apesar da lista de semelhanças, uma diferença separa a Submundo do movimento dos bailes de funk: o QR Code da entrada.
Enquanto os pancadões são abertos ao público, a Submundo 808 é um "baile funk privado". Os ingressos para a festa são vendidos em lotes, com preços médios entre R$ 50 e R$ 80 — valores que podem ser caros para quem não tem muito.
Vinícius e André afirmam que os lotes promocionais das primeiras festas partiam de R$ 15, e que ainda procuram iniciar a venda da festa por um valor acessível. Contudo, a festa cresceu muito. Então, por maiores que sejam esses lotes, eles esgotam muito rápido.
"O volume de procura, ele é muito alto, né? Mas em outro lado, a gente tem algumas outras iniciativas que a gente sempre achou importante desde o começo das primeiras festas, que a gente leva isso até hoje, como o lote social", diz Vinícius.
Primeira edição da festa Submundo em SP.
Divulgação/ Submundo 808
Para não afastar a periferia da festa, o grupo criou um ingresso social para quem comprovar estar inscrito no Cadastro Único (CadÚnico). Além disso, eles afirmam que também promovem o acesso através de iniciativas como a Lista Trans e VIP Aniversário, voltado para aniversariantes do mês.
Mesmo com o preço salgado, o professor de música especialista em funk, Thiago de Souza, percebe que a periferia não se afastou da festa.
"A molecada também precisa que outras camadas sociais acessem para ganhar dinheiro, para poder trabalhar. Também é muito perverso, é muito ruim a gente querer que a pessoa de periferia, de favela, fique só na favela, só na periferia", explica o professor.
"O problema é o destino que isso pode ter. A chance de se elitizar, de se gourmetizar, é grande se a rapaziada não tomar um cuidado de sempre ter o compromisso de dialogar com as bases", finaliza Thiago.
Compromisso com o funk
Apesar de ser um "baile privado", os co-fundadores da festa afirmam que mantém o compromisso com as causas sociais e identitárias do funk. Temas como CPI dos Pancadões e acesso das periferias à cultura são pontos importantes para o grupo.
"A gente tá passando por um momento muito delicado sobre CPI dos pancadões, e muitas outras coisas. E a gente sempre se preocupou muito de trazer essas coisas", explica André.
A Submundo 808 ganhou notoriedade nas redes sociais no mesmo período em que o funk era alvo de tentativas de controle por parte do poder público, com projetos de lei discutidos no Congresso para restringir ou criminalizar manifestações culturais ligadas ao gênero musical.
Desde fevereiro deste ano, um projeto de lei de autoria da vereadora Amanda Vettorazzo (União) discute a proibição shows em eventos com apoio do poder público de artistas que, segundo ela, fazem 'apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas'. O projeto de Lei na Câmara Municipal de São Paulo é chamado de "Lei Anti-Oruam".
Além desse projeto mais midiático, também na capital, a "CPI dos Pancadões" investiga os bailes funks do município.
Vou para Campinas!
A Submundo ficou tão popular que passou a receber frequentadores em ônibus fretados vindos da capital. Os organizadores conseguiram encher casas em Brasília (DF) e São Paulo (SP).
Nas redes sociais, o público pergunta aos produtores quando haverá uma edição em São Carlos (SP), Ribeirão Preto (SP) e... Lisboa, capital de Portugal.
Funk bruxaria, umbrellas e público de até 10 mil pessoas: conheça o 'baile privado' do interior de SP que conquista público no Brasil
Júulios Mariano/@juulios
Apesar de viverem na zona leste da capital, os amigos Rodrigo Vasconcelos, de 24 anos, Gabriel Gaglioni, de 25 anos, Guilherme Augusto, de 21 anos, Paulo Roberto, de 26 anos, Arthur de Andrade, de 25 anos, frequentam religiosamente as edições da Submundo 808.
O quinteto conheceu a festa pelas redes sociais, e, mesmo a quilômetros de distância, passaram a viajar para Campinas (e até Brasília) para curtir todas as edições.
"O que chamou a nossa atenção para ir foi o jeito que eles faziam a festa. Era muito diferente do que a gente ia e frequentava aqui em São Paulo. A gente falou: "mano, a gente tem que ir lá, o rolê só vai ter de bruxaria". A gente foi, e está aí até hoje sem faltar uma", conta Guilherme Augusto.
*estagiária sob supervisão de Bárbara Camilotti
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Divulgação/ Submundo 808
A primeira edição da Submundo 808, realizada em abril de 2023 em Campinas (SP), reuniu cerca de 500 pessoas. Na época, os sete criadores não imaginavam que produziriam a mesma festa para um público estimado em 10 mil.
O Dia Nacional do Funk é celebrado neste sábado (12), em homenagem ao Baile da Pesada, um evento que marcou a popularização do funk no Brasil. Apesar de acontecerem em épocas diferentes, a festa campineira ganhou o público - e viralizou nas redes - reproduzindo a estética de bailes funks de rua de SP.
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Com funk 'bruxaria' paulista, line-up underground, 'umbrellas' e uma estética semelhante ao que é visto nas ruas, a Submundo 808 angaria seguidores e fãs nas redes sociais: só no TikTok, a festa acumula mais de 11,5 milhões de curtidas e soma 255 mil seguidores no Instagram.
O funk "bruxaria" pode ser considerado, atualmente, uma vertente mais experimental do funk — e bem mais grave. Geralmente é composta por um sample (um trecho de alguma música/produção já existente, mais aguda e robótica); um assovio (geralmente bem fino); e muitos elementos agudos e estourados.
O g1 conversou com Vinicius Mariano, de 33 anos, e André Miquelotti (conhecido profissionalmente como DJ Tresk), de 31 anos, co-fundadores da festa. Apesar de ser um "baile privado", os jovens afirmam que mantém o compromisso com as causas sociais e identitárias do funk.
Os sete fundadores nasceram e cresceram em periferias de Campinas. Durante a adolescência e início da juventude, os jovens frequentavam bailes funks da cidade, como o Baile do Ozipa e o Baile do Paiol. Vinicius e André explicam que as experiências com o funk na juventude foram a inspiração para a construção estética da Submundo 808.
Entenda como ‘umbrellas’ se tornaram símbolo dos bailes funk de SP
"Nossa ideia era criar uma festa que valorizasse a cultura do funk em todas as suas vertentes. Até por a gente consumir os bailes de rua, e as quermesses e comícios que tinha nos nossos bairros. A nossa criação veio muito a partir do que a gente já consumia e ouvia", diz Vinicius.
Os produtores afirmam que a idealização da festa também surgiu de uma falta: todos cresceram sem acesso a eventos culturais e de entretenimento voltado para pessoas periféricas.
"Eu queria oportunidade de ir na Submundo quando eu era mais novo. Infelizmente, a gente não teve essa oportunidade lá atrás, e isso é coisa que a gente queria ter tido. Tanto como espaço seguro, como um espaço para poder ser quem a gente é", explica André.
Funk bruxaria, umbrellas e público de até 10 mil pessoas: conheça o 'baile privado' do interior de SP que conquista público no Brasil
Júulios Mariano/@juulios
Baile funk privado?
A mesa do DJ no centro do público, a música extremamente alta e uma estética bem próxima do que vemos nas ruas: funk "bruxaria", line-up underground e muitas umbrellas pelo ar. Apesar da lista de semelhanças, uma diferença separa a Submundo do movimento dos bailes de funk: o QR Code da entrada.
Enquanto os pancadões são abertos ao público, a Submundo 808 é um "baile funk privado". Os ingressos para a festa são vendidos em lotes, com preços médios entre R$ 50 e R$ 80 — valores que podem ser caros para quem não tem muito.
Vinícius e André afirmam que os lotes promocionais das primeiras festas partiam de R$ 15, e que ainda procuram iniciar a venda da festa por um valor acessível. Contudo, a festa cresceu muito. Então, por maiores que sejam esses lotes, eles esgotam muito rápido.
"O volume de procura, ele é muito alto, né? Mas em outro lado, a gente tem algumas outras iniciativas que a gente sempre achou importante desde o começo das primeiras festas, que a gente leva isso até hoje, como o lote social", diz Vinícius.
Primeira edição da festa Submundo em SP.
Divulgação/ Submundo 808
Para não afastar a periferia da festa, o grupo criou um ingresso social para quem comprovar estar inscrito no Cadastro Único (CadÚnico). Além disso, eles afirmam que também promovem o acesso através de iniciativas como a Lista Trans e VIP Aniversário, voltado para aniversariantes do mês.
Mesmo com o preço salgado, o professor de música especialista em funk, Thiago de Souza, percebe que a periferia não se afastou da festa.
"A molecada também precisa que outras camadas sociais acessem para ganhar dinheiro, para poder trabalhar. Também é muito perverso, é muito ruim a gente querer que a pessoa de periferia, de favela, fique só na favela, só na periferia", explica o professor.
"O problema é o destino que isso pode ter. A chance de se elitizar, de se gourmetizar, é grande se a rapaziada não tomar um cuidado de sempre ter o compromisso de dialogar com as bases", finaliza Thiago.
Compromisso com o funk
Apesar de ser um "baile privado", os co-fundadores da festa afirmam que mantém o compromisso com as causas sociais e identitárias do funk. Temas como CPI dos Pancadões e acesso das periferias à cultura são pontos importantes para o grupo.
"A gente tá passando por um momento muito delicado sobre CPI dos pancadões, e muitas outras coisas. E a gente sempre se preocupou muito de trazer essas coisas", explica André.
A Submundo 808 ganhou notoriedade nas redes sociais no mesmo período em que o funk era alvo de tentativas de controle por parte do poder público, com projetos de lei discutidos no Congresso para restringir ou criminalizar manifestações culturais ligadas ao gênero musical.
Desde fevereiro deste ano, um projeto de lei de autoria da vereadora Amanda Vettorazzo (União) discute a proibição shows em eventos com apoio do poder público de artistas que, segundo ela, fazem 'apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas'. O projeto de Lei na Câmara Municipal de São Paulo é chamado de "Lei Anti-Oruam".
Além desse projeto mais midiático, também na capital, a "CPI dos Pancadões" investiga os bailes funks do município.
Vou para Campinas!
A Submundo ficou tão popular que passou a receber frequentadores em ônibus fretados vindos da capital. Os organizadores conseguiram encher casas em Brasília (DF) e São Paulo (SP).
Nas redes sociais, o público pergunta aos produtores quando haverá uma edição em São Carlos (SP), Ribeirão Preto (SP) e... Lisboa, capital de Portugal.
Funk bruxaria, umbrellas e público de até 10 mil pessoas: conheça o 'baile privado' do interior de SP que conquista público no Brasil
Júulios Mariano/@juulios
Apesar de viverem na zona leste da capital, os amigos Rodrigo Vasconcelos, de 24 anos, Gabriel Gaglioni, de 25 anos, Guilherme Augusto, de 21 anos, Paulo Roberto, de 26 anos, Arthur de Andrade, de 25 anos, frequentam religiosamente as edições da Submundo 808.
O quinteto conheceu a festa pelas redes sociais, e, mesmo a quilômetros de distância, passaram a viajar para Campinas (e até Brasília) para curtir todas as edições.
"O que chamou a nossa atenção para ir foi o jeito que eles faziam a festa. Era muito diferente do que a gente ia e frequentava aqui em São Paulo. A gente falou: "mano, a gente tem que ir lá, o rolê só vai ter de bruxaria". A gente foi, e está aí até hoje sem faltar uma", conta Guilherme Augusto.
*estagiária sob supervisão de Bárbara Camilotti
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