Paulistrans: campeonato de futsal para pessoas trans chega à 3ª edição com mais times e estrutura, mas enfrenta desafios

Iniciativa, que começou em 2023 com equipe de Campinas, reúne atletas de diferentes partes do estado. Campeonato de futsal trans criado por time de Campinas chega à terceira edição
O Paulistrans, campeonato de futsal para pessoas trans, chega à terceira edição em 2025 com mais equipes inscritas - cresceu de três para pelo menos oito. A expansão alcançou outras cidades do estado, ganhou reforço na representatividade e na organização, mas ainda enfrenta desafios importantes. Inclusive, segundo um dos criadores, em relação a apoio público ou privado.
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Criada pelo time Pogonas, que é de Campinas, a competição receberá em 2025 equipes de São Paulo, Osasco, São Roque e Guarulhos entre os meses de agosto e setembro. O número de times pode aumentar, já que as inscrições seguem abertas até segunda-feira (30).
Para atletas, o campeonato é um grito por visibilidade e pertencimento. "É a oportunidade de encontrar a rede que foi criada no estado de São Paulo ao longo do tempo em busca de um futebol inclusivo para pessoas trans", analisa Ali, de 26 anos, que atua no Instituto Meninos Bons de Bola.
"Além do esporte, o Paulistrans reflete a luta de anos de cada coletivo pela sua existência e permanência de pessoas trans nos espaços", completa.
Fundador do Pogonas e um dos idealizadores do Paulistrans, Tiago Miguel explica como o campeonato evoluiu e o impacto que ele tem causado na vida dos jogadores. Segundo ele, a primeira edição foi organizada às pressas, com apenas quatro pessoas à frente da produção.
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Para a edição 2025, o evento buscou reforçar a estrutura, com planejamento coletivo e um modelo de disputa adaptado para preservar a saúde dos atletas e incentivar a cultura produzida por pessoas trans. Neste ano, terá duas cidades sedes, já que a primeira fase será em São Paulo e a etapa final ocorrerá em Campinas.
"A gente começou fazendo reuniões com a galera. O que deu certo, o que não deu certo. O formato foi diferente nos três anos. [...] A gente tem os jogos, que são a parte central ali do campeonato, mas agora também nos preocupamos em fazer uma abertura, um encerramento", comentou Tiago.
O evento passou a incorporar atividades culturais, apresentações artísticas e oficinas. Segundo ele, a intenção é ampliar o acesso à cultura e dar visibilidade a talentos trans.
“Para muitas pessoas que participam, é uma oportunidade também de fazer uma apresentação musical. Participar de uma oficina de capoeira. A gente já teve oficina de defesa pessoal", comentou.
Oficina de capoeira durante o Paulistrans em 2024.
Velaardi
'Segunda chance', diz participante
Para Petra Prado, uma das fundadoras do time E. C. Oceanes, a competição representa uma segunda chance no esporte.
"E não só para minha experiência pessoal dentro deste universo, mas uma segunda chance para o esporte como um todo, que por muito tempo se viu preso e amarrado às violências impostas pela sociedade que tornou do futebol/futsal, um espaço exclusivo para homens cis héteros", explica.
Tiago explica que o Paulistrans foi pensado para ser um ambiente seguro e acolhedor. A organização se preocupa com alimentação adequada, oferece marmitas completas - além do tradicional kit lanche - e conta com uma comissão de acolhimento formada por voluntários e psicólogos.
“O que a gente faz desde o primeiro, e tem sido positivo, é manter no campeonato uma comissão acolhedora. Então, [temos] pessoas voluntárias para fazer mediações de conflitos e acolher pessoas que eventualmente podem ter se sentido discriminadas por qualquer razão" , afirmou Tiago.
Segundo Tiago, a inclusão vai além do quesito gênero. Na edição de 2024, o campeonato também contou com uma intérprete de Libras durante a abertura na tentativa de acolher pessoas com deficiência.
"Na medida do possível, a gente se esforça muito para que todo mundo se sinta bem fisicamente e emocionalmente no campeonato”, completou.
Evento do ano para equipe de Campinas
Para quem participa, o campeonato é mais que uma competição: é motivo de reencontros, motivação e pertencimento. Segundo ele, o Paulistrans se tornou “o evento do ano” para o Pogonas.
"Ele gera uma motivação muito grande na galera para estar nos treinos. E isso é muito bom, porque esse convívio é positivo na vida das pessoas. De ter uma convivência com as pessoas trans e tal. E o campeonato, assim, ele virou meio que o evento do ano para o nosso time. Então, a galera fica empolgada com essa oportunidade de competir", comentou Tiago.
Além do lazer, a troca entre atletas de diferentes times também fortalece a luta coletiva.
"A gente conversa, às vezes a galera desabafa sobre os problemas que a gente tem. E ai vamos vendo que, apesar de sermos adversário na quadra, fora dela está meio que todo mundo passando pela mesma coisa", disse ao g1.
Além do lazer, a troca entre atletas de diferentes times também fortalece a luta coletiva.
Arquivo pessoal
O fundador do Pogonas defende que o objetivo do Paulistrans nunca foi criar uma divisão no esporte, mas abrir as portas para quem viu elas se fecharem por conta da orientação sexual.
Ele reforça que o campeonato não é uma solução definitiva, mas uma resposta a uma realidade ainda excludente para pessoas transsexuais, mesmo em ambientes esportivos amadores.
“As pessoas acham que: 'ah, então resolver o problema de pessoas trans no esporte é só fazer uma categoria separada'. E não é por aí. Não é essa a nossa proposta. Não estamos fazendo algo porque queremos segregar e criar uma categoria. Mas justamente porque as pessoas, quando transicionam, não encontram espaço para jogar. Ou então encontram muitas dificuldades para atos em times de pessoas cis”, afirma.
Petra Prado, do E.C. Oceanes, defende que o campeonato tem a missão de acolher todas as pessoas em um esporte que é paixão nacional.
"Viver e construir o Paulistrans não é só celebrar a união de coletividades trans e travestis, mas uma semente para a construção de um novo esporte, com suas histórias e míticas que já fazem parte da cultura nacional, mas agora com a preocupação de acolher a todes, principalmente aqueles que por tanto tempo foram colocados a margem do direito de chutar uma bola", diz Petra.
? Barreiras
Apesar dos avanços, os obstáculos permanecem — especialmente os financeiros. De acordo com Tiago, a falta de apoio público e privado limita o crescimento do campeonato e gera dificuldades práticas, como a escassez de locais adequados para treinos e jogos.
Ele conta que solicita, em todas as edições, um horário para realizar as partidas no ginásio Rogê Ferreira, que recebe jogos do time profissional de Campinas, mas recebe resposta negativa por falta de disponibilidade de horário do espaço.
“A gente tem ainda uma resistência com a prefeitura, eu acho de encarar mesmo como um projeto sério. Assim, eu vejo que a Secretária de Esporte não dá muita moral pra gente. Eles veem a gente só como um time de várzea”, diz Tiago.
O g1 questionou a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Campinas, que negou ter recebido, recentemente, solicitação de uso de ginásio ou campo, por parte do time Pogonas, e que as solicitações encaminhadas normalmente são atendidas.
Segundo a pasta, quando existe agendamento anterior, há sempre a intenção de equacionar a situação para atender o pedido, mesmo que o local a ser disponibilizado seja de um parceiro da secretaria.
A secretaria comunicou, ainda, que o objetivo é atender integralmente as solicitações que são encaminhadas, contemplando todos os segmentos da população de Campinas, e que já foi disponibilizado para o Pogonas um espaço para treinamento na Praça de Esportes Edgar Ariani (Novo Cambuí) e também na Praça Primavera (Costa e Silva).
Sobre a diponibilidade de horário no ginásio de Esportes Rogê Ferreira, ela informou que o espaço recebe jogos oficiais do Pulo Futsal e também desenvolve projetos ligados à modalidade esportiva. E sempre que há pedidos para sediar eventos, é avaliado e autorizado, desde que a agenda permita.
Evoluir para edição nacional?
Tiago conta que a organização do Paulistrans já recebe mensagens de interesse de times do Paraná e Distrito Federal, porém limita o acesso ao estado de São Paulo por não contar com estrutura que garanta a participação de equipes de outros estado.
" Isso mostra que precisamos pensar também em algo nacional. Mas é algo que a gente, no momento, ainda não tem estrutura para organizar", disse ao g1.
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O Paulistrans, campeonato de futsal para pessoas trans, chega à terceira edição em 2025 com mais equipes inscritas - cresceu de três para pelo menos oito. A expansão alcançou outras cidades do estado, ganhou reforço na representatividade e na organização, mas ainda enfrenta desafios importantes. Inclusive, segundo um dos criadores, em relação a apoio público ou privado.
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Criada pelo time Pogonas, que é de Campinas, a competição receberá em 2025 equipes de São Paulo, Osasco, São Roque e Guarulhos entre os meses de agosto e setembro. O número de times pode aumentar, já que as inscrições seguem abertas até segunda-feira (30).
Para atletas, o campeonato é um grito por visibilidade e pertencimento. "É a oportunidade de encontrar a rede que foi criada no estado de São Paulo ao longo do tempo em busca de um futebol inclusivo para pessoas trans", analisa Ali, de 26 anos, que atua no Instituto Meninos Bons de Bola.
"Além do esporte, o Paulistrans reflete a luta de anos de cada coletivo pela sua existência e permanência de pessoas trans nos espaços", completa.
Fundador do Pogonas e um dos idealizadores do Paulistrans, Tiago Miguel explica como o campeonato evoluiu e o impacto que ele tem causado na vida dos jogadores. Segundo ele, a primeira edição foi organizada às pressas, com apenas quatro pessoas à frente da produção.
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Ator da Globo participará da Parada LGBT+ em Campinas
Para a edição 2025, o evento buscou reforçar a estrutura, com planejamento coletivo e um modelo de disputa adaptado para preservar a saúde dos atletas e incentivar a cultura produzida por pessoas trans. Neste ano, terá duas cidades sedes, já que a primeira fase será em São Paulo e a etapa final ocorrerá em Campinas.
"A gente começou fazendo reuniões com a galera. O que deu certo, o que não deu certo. O formato foi diferente nos três anos. [...] A gente tem os jogos, que são a parte central ali do campeonato, mas agora também nos preocupamos em fazer uma abertura, um encerramento", comentou Tiago.
O evento passou a incorporar atividades culturais, apresentações artísticas e oficinas. Segundo ele, a intenção é ampliar o acesso à cultura e dar visibilidade a talentos trans.
“Para muitas pessoas que participam, é uma oportunidade também de fazer uma apresentação musical. Participar de uma oficina de capoeira. A gente já teve oficina de defesa pessoal", comentou.
Oficina de capoeira durante o Paulistrans em 2024.
Velaardi
'Segunda chance', diz participante
Para Petra Prado, uma das fundadoras do time E. C. Oceanes, a competição representa uma segunda chance no esporte.
"E não só para minha experiência pessoal dentro deste universo, mas uma segunda chance para o esporte como um todo, que por muito tempo se viu preso e amarrado às violências impostas pela sociedade que tornou do futebol/futsal, um espaço exclusivo para homens cis héteros", explica.
Tiago explica que o Paulistrans foi pensado para ser um ambiente seguro e acolhedor. A organização se preocupa com alimentação adequada, oferece marmitas completas - além do tradicional kit lanche - e conta com uma comissão de acolhimento formada por voluntários e psicólogos.
“O que a gente faz desde o primeiro, e tem sido positivo, é manter no campeonato uma comissão acolhedora. Então, [temos] pessoas voluntárias para fazer mediações de conflitos e acolher pessoas que eventualmente podem ter se sentido discriminadas por qualquer razão" , afirmou Tiago.
Segundo Tiago, a inclusão vai além do quesito gênero. Na edição de 2024, o campeonato também contou com uma intérprete de Libras durante a abertura na tentativa de acolher pessoas com deficiência.
"Na medida do possível, a gente se esforça muito para que todo mundo se sinta bem fisicamente e emocionalmente no campeonato”, completou.
Evento do ano para equipe de Campinas
Para quem participa, o campeonato é mais que uma competição: é motivo de reencontros, motivação e pertencimento. Segundo ele, o Paulistrans se tornou “o evento do ano” para o Pogonas.
"Ele gera uma motivação muito grande na galera para estar nos treinos. E isso é muito bom, porque esse convívio é positivo na vida das pessoas. De ter uma convivência com as pessoas trans e tal. E o campeonato, assim, ele virou meio que o evento do ano para o nosso time. Então, a galera fica empolgada com essa oportunidade de competir", comentou Tiago.
Além do lazer, a troca entre atletas de diferentes times também fortalece a luta coletiva.
"A gente conversa, às vezes a galera desabafa sobre os problemas que a gente tem. E ai vamos vendo que, apesar de sermos adversário na quadra, fora dela está meio que todo mundo passando pela mesma coisa", disse ao g1.
Além do lazer, a troca entre atletas de diferentes times também fortalece a luta coletiva.
Arquivo pessoal
O fundador do Pogonas defende que o objetivo do Paulistrans nunca foi criar uma divisão no esporte, mas abrir as portas para quem viu elas se fecharem por conta da orientação sexual.
Ele reforça que o campeonato não é uma solução definitiva, mas uma resposta a uma realidade ainda excludente para pessoas transsexuais, mesmo em ambientes esportivos amadores.
“As pessoas acham que: 'ah, então resolver o problema de pessoas trans no esporte é só fazer uma categoria separada'. E não é por aí. Não é essa a nossa proposta. Não estamos fazendo algo porque queremos segregar e criar uma categoria. Mas justamente porque as pessoas, quando transicionam, não encontram espaço para jogar. Ou então encontram muitas dificuldades para atos em times de pessoas cis”, afirma.
Petra Prado, do E.C. Oceanes, defende que o campeonato tem a missão de acolher todas as pessoas em um esporte que é paixão nacional.
"Viver e construir o Paulistrans não é só celebrar a união de coletividades trans e travestis, mas uma semente para a construção de um novo esporte, com suas histórias e míticas que já fazem parte da cultura nacional, mas agora com a preocupação de acolher a todes, principalmente aqueles que por tanto tempo foram colocados a margem do direito de chutar uma bola", diz Petra.
? Barreiras
Apesar dos avanços, os obstáculos permanecem — especialmente os financeiros. De acordo com Tiago, a falta de apoio público e privado limita o crescimento do campeonato e gera dificuldades práticas, como a escassez de locais adequados para treinos e jogos.
Ele conta que solicita, em todas as edições, um horário para realizar as partidas no ginásio Rogê Ferreira, que recebe jogos do time profissional de Campinas, mas recebe resposta negativa por falta de disponibilidade de horário do espaço.
“A gente tem ainda uma resistência com a prefeitura, eu acho de encarar mesmo como um projeto sério. Assim, eu vejo que a Secretária de Esporte não dá muita moral pra gente. Eles veem a gente só como um time de várzea”, diz Tiago.
O g1 questionou a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Campinas, que negou ter recebido, recentemente, solicitação de uso de ginásio ou campo, por parte do time Pogonas, e que as solicitações encaminhadas normalmente são atendidas.
Segundo a pasta, quando existe agendamento anterior, há sempre a intenção de equacionar a situação para atender o pedido, mesmo que o local a ser disponibilizado seja de um parceiro da secretaria.
A secretaria comunicou, ainda, que o objetivo é atender integralmente as solicitações que são encaminhadas, contemplando todos os segmentos da população de Campinas, e que já foi disponibilizado para o Pogonas um espaço para treinamento na Praça de Esportes Edgar Ariani (Novo Cambuí) e também na Praça Primavera (Costa e Silva).
Sobre a diponibilidade de horário no ginásio de Esportes Rogê Ferreira, ela informou que o espaço recebe jogos oficiais do Pulo Futsal e também desenvolve projetos ligados à modalidade esportiva. E sempre que há pedidos para sediar eventos, é avaliado e autorizado, desde que a agenda permita.
Evoluir para edição nacional?
Tiago conta que a organização do Paulistrans já recebe mensagens de interesse de times do Paraná e Distrito Federal, porém limita o acesso ao estado de São Paulo por não contar com estrutura que garanta a participação de equipes de outros estado.
" Isso mostra que precisamos pensar também em algo nacional. Mas é algo que a gente, no momento, ainda não tem estrutura para organizar", disse ao g1.
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