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Aposentado identificou descontos incomuns um ano antes de fraude bilionária no INSS ser divulgada: 'Nem tentaram me ajudar'

Aposentado identificou descontos incomuns um ano antes de fraude bilionária no INSS ser divulgada: 'Nem tentaram me ajudar'
Morador de Sorocaba (SP) tentou atendimento no INSS, mas não teve sucesso. Advogada da cidade relata que já havia sido procurada por idosos com descontos não reconhecidos. Antonio Carlos Sartorelli notou cobranças que não reconhecia em sua aposentadoria cerca de um ano antes do esquema de fraude ser divulgado
Reprodução/Redes sociais
Um aposentado de Sorocaba (SP) identificou descontos indevidos em sua aposentadoria aproximadamente um ano antes de o esquema de desvio de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ser revelado por uma operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrada em abril deste ano.
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As entidades investigadas cobravam mensalidades de aposentados e pensionistas sem autorização. Os desvios ocorreram entre 2019 e 2024, e podem chegar a R$ 6,3 bilhões, segundo as estimativas.
Antonio Carlos Sartorelli, de 67 anos, contou ao g1 que, em abril de 2024, percebeu uma cobrança de R$ 39,53 para a Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), uma das entidades investigadas por suspeita de envolvimento no esquema. O aposentado diz que estranhou o desconto, já que não se lembrava de ter aderido a nenhuma associação.
"Eu tinha o hábito de entrar no aplicativo e baixar o extrato, como tenho alguns empréstimos consignados. Eu comecei a ver um desconto Conafer e fui procurar informações. Foi aí que eu descobri que não era somente eu que estava tendo um desconto indevido na aposentadoria", explica.
Na época, o idoso comentou sobre a cobrança com uma pessoa pelo WhatsApp. Depois, ele foi até uma agência do INSS para tentar solicitar o cancelamento da cobrança, mas não conseguiu ser atendido.
"Nem tentaram me ajudar. Pediram para ligar no telefone 135, mas, como sou usuário de aparelho auditivo, não consegui resolver por telefone."
Sem conseguir atendimento, o aposentado continuou tendo o valor descontado todos os meses da sua aposentadoria. Após alguns meses, o valor subiu para R$ 42,50. Segundo Antonio Carlos, somando os 26 meses de desconto, a quantia total descontada indevidamente do benefício dele chega a R$ 1 mil.
"Tenho dificuldade de locomoção por problemas na perna e uso bengala para locomover. Tentei resolver pelo site e pelo aplicativo, mas não consegui fazer nada em ambos e só restou torcer para estourar o escândalo."
Antonio Carlos Sartorelli registrou pelo aplicativo que não reconhecia a cobrança da Conafer
Reprodução
Descontos desde 2022
Ao contrário de Antonio Carlos, o aposentado Cláudio Sanches só soube que estava tendo parte da sua aposentadoria descontada indevidamente quando a fraude veio à tona. Ele procurou a ajuda de uma advogada, que analisou os extratos bancários dele e concluiu que as cobranças começaram em 2022.
"Quando eu entrei no aplicativo, havia muitos descontos, muitos erros. Coisas que eu não tinha autorizado. Por isso que eu entrei em contato com a advogada", relata.
Aposentado Cláudio Sanches teve descontos indevidos de duas entidades. Valor descontado em três anos chega a R$ 2,5 mil
Fernando Bellon/TV TEM
Conforme Márcia Cleide Ribeiro, advogada especializada em direito previdenciário, o dinheiro foi retirado da conta bancária de Cláudio por duas entidades: a Caixa de Assistência dos Aposentados e Pensionistas do INSS (Caap) e a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambes) - ambas constam na lista de entidades suspeitas de envolvimento no esquema bilionário.
O desconto da Caap começou no valor de R$ 36,36, em agosto de 2022. Em abril de 2025, o valor havia subido para R$ 45,54. Foram 33 cobranças não autorizadas feitas pela entidade. Já a Ambec começou a descontar em junho de 2023 o valor fixo de R$ 45. Esta entidade descontou indevidamente por 23 meses. Somando todos os descontos, o idoso deixou de receber aproximadamente R$ 2,5 mil em pouco menos de três anos.
"Quando nós fizemos o cálculo para ele, vimos que dá mais de R$ 2,5 mil... ele ficou chocado. Porque pode parecer pouco, mas, para uma pessoa que tem que comprar remédio, como é o caso dele, que tem muitos problemas de saúde, faz a diferença. Quando a pessoa vê o montante do que foi descontado em dois, três anos, ela vê que é um dinheiro consistente."
Idoso teve cobranças indevidas de duas entidades que constam na lista de entidades suspeitas de envolvimento em esquema bilionário
TV TEM
Idoso teve cobranças indevidas de duas entidades que constam na lista de entidades suspeitas de envolvimento em esquema bilionário
TV TEM
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A advogada relata que já havia sido contatada por idosos que haviam percebido descontos não reconhecidos em seus benefícios.
"Tem pessoas que já são um pouco mais organizadas e já tinham percebido. Principalmente aqueles que não tinham empréstimo nenhum e recebiam um salário mínimo, quando vinha um desconto de R$ 50, R$ 70, a pessoa notava a diferença e estranhava. Mas agora, depois de toda essa divulgação, a demanda de pessoas procurando a gente com dúvidas aumentou bastante."
Advogada Márcia Cleide Ribeiro, especializada em direito previdenciário, relata que já havia sido procurada por idosos com descontos não reconhecidos
Arquivo pessoal
Segundo a especialista, algumas pessoas podem enfrentar dificuldades para obter o ressarcimento dos valores descontados. Ela avalia que, em determinados casos, será necessário recorrer à Justiça para comprovar a ilegalidade das cobranças.
"Acredito que existirão muitos casos em que a pessoa vai falar que não aderiu, mas a entidade vai apresentar documentos de que a pessoa aderiu. Pode ser que essas entidades ou as pessoas que colheram isso até deram para a pessoa assinar sem ela saber o que estava assinando. Acho que nesses casos, em que a entidade apresentar para o INSS tudo assinado, acredito que a pessoa vai ter que recorrer ao Judiciário para comprovar que ela não fez aquele documento, que foi produzido de alguma forma."
Como contestar descontos
No dia 14 de maio, o governo federal liberou para que aposentados e pensionistas do INSS que tiveram descontos de entidades associativas em seus benefícios nos últimos cinco anos pudessem verificar os valores e contestá-los, pelo app Meu INSS.
As vítimas receberam uma notificação no aplicativo no dia anterior. No app Meu INSS, os aposentados e pensionistas podem informar ao governo se os descontos haviam sido autorizados ou não.
O governo quer identificar os brasileiros que foram vítimas da fraude das cobranças irregulares do INSS para dar início ao processo de ressarcimento.
Prédio do INSS em Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Na quinta-feira (22), o governo federal anunciou que começará o atendimento presencial às vítimas de fraudes e descontos indevidos no INSS a partir do dia 30 de maio.
➡️ Esse atendimento será feito apenas nas agências dos Correios, e não nos postos de atendimento do próprio INSS.
➡️ O atendimento virtual pelo aplicativo Meu INSS ou pelo número de telefone 135 segue em vigor, e oferece os mesmos serviços.
➡️ A ida a uma agência é apenas uma opção adicional. Segundo o governo, como os descontos já foram suspensos e o ressarcimento ainda não começou, não é preciso correr e nem formar filas.
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