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Ser Acessível: pesquisador surdo é primeiro a obter título de doutor em Educação pela Unicamp

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Ser Acessível: pesquisador surdo é primeiro a obter título de doutor em Educação pela Unicamp
Trabalho do professor Guilherme Nichols evidencia relevância de produção de conteúdos originalmente pensados na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Entrevista integra série de reportagens sobre educação acessível. #paratodosverem: Em duas fotos, lado a lado, o professor Guilherme Nichols, primeiro surdo a obter título de doutor na Faculdade de Educação da Unicamp, sinaliza em Libras durante defesa da tese em que reforça a importância da literatura surda na educação
Jason John Nichols
O professor Guilherme Nichols, de 37 anos, é o primeiro pesquisador surdo a obter título de doutor na Faculdade de Educação da Unicamp com um trabalho que reforça a importância da literatura surda na educação.
Um feito para quem enfrentou barreiras na educação básica, de escolas que o rejeitavam por ser surdo ou pela falta de preparo dos professores da época - leia mais abaixo.
A tese defendida no início de 2025 evidencia a relevância de uma produção de conteúdos originalmente pensados na Língua Brasileira de Sinais (Libras), pois valoriza elementos visuais, espaciais e corporais, e sua importância vai além de uma questão linguística, mas também cultural.
"A criação em Libras, e não apenas a tradução para Libras, é uma forma de valorizar a língua de sinais e, ao mesmo tempo, despertar a identidade surda. Acreditamos que essas produções ampliam as possibilidades de expressão, promovem o reconhecimento da comunidade surda e fortalecem a diversidade cultural nos diferentes espaços", afirma Nichols.
Professor no curso de Bacharelado em Tradução e Interpretação em Libras/Língua Portuguesa, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Nichols também é membro do projeto #CasaLibras, com produções em vídeo voltados à arte, cultura e educação bilíngue.
A entrevista com o pesquisador faz parte da série de reportagens "Ser Acessível", coprodução do g1 e da EPTV, que aborda questões sobre a educação para crianças e adolescentes com deficiência, de barreiras a bons exemplos de inclusão e acessibilidade.
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Barreiras na infância
Paulistano de nascimento, Guilherme Nichols mora atualmente em São Carlos (SP), onde é professor da UFSCar desde 2017. O pesquisador conta que nasceu surdo, após ele e a mãe, por volta do sétimo mês da gestação, contraírem rubéola.
Durante a infância, viveu na prática os desafios para a inclusão no ambiente escolar, enfrentando preconceitos e barreiras de comunicação.
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"Naquela época, a maioria das escolas não aceitava estudantes surdos, e acabei mudando de escola várias vezes, pois não ofereciam acessibilidade adequada. No início da minha trajetória escolar, a comunicação era predominantemente oral e, às vezes, escrita. Isso dificultava muito o meu aprendizado e a minha participação nas atividades escolares", lembra.
O professor destaca que as barreiras se perpetuavam principalmente pela falta de preparo dos profissionais da educação para atender aos direitos linguísticos de pessoas surdas.
? Libras é a língua de sinais utilizada pela maioria das comunidades surdas no Brasil, reconhecida por lei como meio de comunicação e expressão. É uma língua visual-motora, com estrutura gramatical e vocabulário próprios - não é, portanto, o português traduzido em sinais.
"Muitas vezes senti-me excluído das discussões, com pouco ou nenhum acesso pleno aos conteúdos e quase sem interações significativas dentro da escola", recorda.
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E quando conheceu a Libras? Mesmo diante dos desafios, Guilherme Nichols contou com o apoio da família para seguir estudando e avançando. Seu primeiro contato com uma escola de surdos foi em Campinas (SP), onde teve acesso à língua de sinais pela primeira vez.
Acabou retornando para uma escola inclusiva, quando passou a contar com o intérprete de Libras, isso a partir apenas da 6ª série do ensino fundamental.
Foi o contato com a Libras que fortaleceu o que define como "identidade surda", facilitando o aprendizado dos conteúdos ofertados na educação e permitindo uma melhor compreensão do mundo ao seu redor por meio da sua língua natural.
Desejo por transformação
Marcado por traumas vividos desde pequeno no período escolar, pela falta de acessibilidade e capacitismo, Guilherme Nichols desenvolveu um desejo por contribuir de alguma forma com a mudança desse cenário, eliminando barreiras no caminho do aprendizado.
"Não tive as mesmas oportunidades que outras crianças, e ainda guardo na memória lembranças de colegas e professores que, muitas vezes, não compreendiam minha realidade. Sempre vivi em situação de exclusão, o que impactou significativamente a minha vida. Essa vivência em um sistema educacional excludente despertou em mim o desejo de contribuir para a transformação desse cenário", explica.
Quis ser uma presença acessível, acolhedora e inspiradora para outras pessoas surdas, especialmente crianças e jovens que, como eu, enfrentam muitas barreiras para aprender.
Seu interesse pela educação bilíngue para surdos, explica, surgiu da compreensão de que é necessário respeitar os direitos linguísticos das pessoas surdas, garantindo-lhes acesso pleno às informações.
"Quando pude compreender os conteúdos escolares de forma mais profunda por meio da Língua Brasileira de Sinais, minha relação com a escola se transformou. Defendo que profissionais que atuam na educação de surdos devem incluir professores bilíngues, docentes sinalizantes e intérpretes de Libras, para assegurar um atendimento educacional de qualidade", afirma.
Direito fundamental
Nichols enfatiza que o fortalecimento de sua identidade surda ocorreu justamente por meio da valorização da língua de sinais na escola. Ele defende que a Libras não deve ser vista apenas como um recurso pedagógico, mas sim como um direito linguístico e cultural fundamental.
"Essa vivência me motivou a buscar uma formação acadêmica na área da educação, com foco em Libras, arte e literatura no contexto escolar", detalha.
Nessa trajetória profissional, atuou como professor de Libras, tradutor, ator e contador de histórias em língua de sinais, e afirma que a multiplicidade de experiências enriqueceu tanto a atuação pedagógica quando as pesquisas acadêmicas.
#paratodosverem: Numa sala, em frente a um painel escrito "Além da literatura surda", o professor Guilherme Nichols, ao centro, tem a companhia de duas mulheres e dois homens, professores da banca que avaliou seu doutorado na Unicamp
Jason John Nichols
Doutorado
Nichols tornou-se o primeiro pesquisador surdo a obter título de doutor na Faculdade de Educação da Unicamp. Seus trabalhos tanto no mestrado quanto no doutorado envolvem a valorização da literatura surda.
Em sua tese "Além da literatura surda: a sinalização menor como potência criativa no uso da Língua Brasileira de Sinais", defendeu como o uso de "sinalização menor", uma liberdade de criação de novos sinais ou modificações de sinais existentes de formas expressivas e artísticas, potencializam processos criativos e multiplicam os sentidos das pessoas e suas conexões.
"A 'minoração' da linguagem na literatura surda, por meio da sinalização menor, é uma potência criativa que rompe normas linguísticas e multiplica sentidos. Espera-se que este trabalho possa servir como base para futuras discussões e, sobretudo, para o fortalecimento do campo das literaturas surdas nos mais variados espaços institucionais", completa o pesquisador.
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