O que é câncer de pâncreas, que acometeu Edu Guedes; conheça sintomas e tratamentos

Tumor é um dos mais agressivos entre os tipos de câncer; diagnóstico precoce é raro, mas pode salvar vidas. Edu Guedes passou por cirurgia para retirada de tumor no pâncreas.
Reprodução Facebook
O apresentador e chef de cozinha Edu Guedes, de 50 anos, passou por uma cirurgia para remoção de um tumor no pâncreas no último sábado (5), em São Paulo. A descoberta aconteceu após uma crise renal, que levou à realização de exames mais detalhados. O caso chamou atenção para um tipo de câncer silencioso e letal: o de pâncreas.
A doença, segundo especialistas ouvidos pelo g1, é uma das mais agressivas entre os tumores sólidos e frequentemente é diagnosticada em estágio avançado.
“Apesar de representar apenas 3% dos tumores sólidos, o câncer de pâncreas tem uma das maiores taxas de letalidade”, explica o oncologista do grupo Oncoclínicas e coordenador do conselho da Americas Health Foundation, Stephen Stefani.
O que é o câncer de pâncreas?
O pâncreas é um órgão localizado atrás do estômago, na parte superior do abdômen, e tem funções essenciais: produzir hormônios como a insulina e enzimas que ajudam na digestão. O câncer no órgão surge a partir de mutações em suas células, que passam a se multiplicar de forma desordenada e, com frequência, se espalham para outros órgãos — processo conhecido como metástase.
Segundo o oncologista Elge Werneck, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, os principais tipos são o adenocarcinoma (mais comum e agressivo) e os tumores neuroendócrinos (mais raros e menos agressivos em muitos casos). “O adenocarcinoma é responsável por mais de 90% dos casos e tende a responder mal ao tratamento”, afirma.
Sintomas são vagos e surgem tardiamente
O câncer de pâncreas costuma ser silencioso nos estágios iniciais. Quando os sintomas aparecem, é comum que o tumor esteja avançado. Entre os sinais mais relatados estão dor abdominal persistente, perda de peso repentina, fraqueza, perda de apetite e icterícia (pele e olhos amarelados).
“Os sintomas são inespecíficos. Muitas vezes o paciente só descobre quando o tumor já comprometeu outros órgãos”, diz Stefani.
Quem está mais em risco?
De acordo com os médicos, os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença são:
Tabagismo.
Obesidade.
Diabetes tipo 2 de longa data.
Pancreatite crônica.
Histórico familiar da doença.
Mutação genética BRCA2 (a mesma associada a alguns tipos de câncer de mama).
“Mesmo pessoas sem esses fatores podem desenvolver a doença, mas eles aumentam significativamente o risco”, alerta Werneck.
Doutor em cirurgia pela USP e cirurgião do Hospital Nove de Julho, Rodrigo Surjan destaca que a incidência da doença tem aumentado em pessoas mais jovens, especialmente entre 25 e 40 anos.
“Ainda não se sabe as causas desse aumento, mas ele é real. Há 30 anos, era praticamente impossível ver câncer de pâncreas em pessoas com menos de 70 anos. Hoje, embora ainda incomum, é mais frequente. Os motivos podem ter a ver com qualidade da alimentação --cheia de ultraprocessados, por exemplo-- e obesidade”, explica Surjan.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do câncer de pâncreas geralmente exige exames de imagem como tomografia, ressonância magnética ou PET-CT. A confirmação se dá por meio de biópsia. Um exame de sangue chamado CA 19-9 também pode ajudar, mas não é definitivo. Há pacientes que não apresentam elevação no marcador e têm câncer de pâncreas, assim como o contrário também acontece.
Segundo os especialistas, o principal tratamento é cirurgia associada à quimioterapia — mas a operação é indicada apenas quando o tumor é localizado e não compromete vasos sanguíneos ou outros órgãos. Em casos avançados, a quimioterapia isolada, ou adjunta à radioterapia, é a opção indicada.
“Não há consenso entre médicos sobre o que vem primeiro no caso de tumores ressecáveis, a quimioterapia ou a cirurgia. No entanto, o principal estudo sobre isso, o North Pact, demonstra resultados mais promissores quando a cirurgia é feita antes da quimioterapia. Ainda assim tudo depende do tipo de tumor”, explica Surjan.
Tipos de câncer x tipos de cirurgia
O câncer de pâncreas pode se originar na cabeça, no corpo ou na cauda do órgão, explica o co-fundador do Instituto Vencer o Câncer, Antonio Carlos Buzaid, que é também diretor médico do Centro de Oncologia do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Ao crescer, ele explica, o tumor penetra o tecido pancreático até chegar à cápsula que reveste o órgão e à gordura ao seu redor. A partir dessa fase, as células cancerosas começam a invadir estruturas vizinhas e linfonodos. De início, são comprometidos os linfonodos situados nas imediações do pâncreas; em seguida, os linfonodos abdominais mais distantes.
Há dois tipos principais de cirurgia, dependendo da localização do tumor no pâncreas:
Divulgação/Instituto Vencer o Câncer
Tumor localizado na cabeça do pâncreas: retirada é feita com gastroduodenopancreatectomia, uma cirurgia que, além da retirada do tumor, envole a remoção parcial do estômago, duodeno e vias biliares. Após a retirada dessas estruturas, o cirurgião precisa reconectar o pâncreas, o canal biliar e o estômago ao intestino delgado. Essa fase de reconstrução é extremamente complexa, uma vez que exige múltiplas emendas (anastomoses) para restabelecer o fluxo dos sucos digestivos. É o tipo de cirurgia mais complexo e pode durar de 4 a 10 horas.
Tumor localizado no corpo ou cauda do pâncreas: quando o tumor se localiza no corpo ou na cauda do pâncreas, a abordagem cirúrgica é diferente e geralmente menos invasiva. Este procedimento se chama pancreatectomia corpo-caudal com esplenectomia e consiste na retirada do corpo e da cauda do pâncreas, juntamente com o baço. O baço é frequentemente removido porque sua proximidade com a cauda do pâncreas e a drenagem linfática comum aumentam o risco de envolvimento tumoral. É menos arriscada e mais rápida, com duração estimada de 3 a 4 horas.
Avanços e perspectivas
Embora o câncer de pâncreas seja um dos mais difíceis de tratar, a medicina tem avançado. Segundo Werneck, terapias-alvo, imunoterapia e novas drogas estão em desenvolvimento.
Além disso, há estudos com vacinas personalizadas para estimular o sistema imunológico a combater o tumor — uma das maiores dificuldades de detectar esse tipo de câncer é o fato de ele conseguir "se esconder" das defesas naturais do organismo.
Dá para viver sem o pâncreas?
Sim. Em casos extremos, é possível remover o pâncreas por completo. O paciente, no entanto, precisa tomar medicamentos para controlar o açúcar no sangue e auxiliar na digestão.
“Já tive pacientes que passaram por pancreatectomia total e hoje vivem bem, com acompanhamento”, relata Surjan.
O caso de Edu Guedes chama atenção para uma realidade que pode atingir qualquer pessoa — e reforça a importância do diagnóstico rápido e da atenção aos sinais do corpo.
“O câncer de pâncreas é agressivo, silencioso e desafiador — mas tem tratamento. A chave é a informação. Conhecer os fatores de risco e os sinais da doença pode fazer diferença entre um diagnóstico precoce ou tardio”, afirma Stefani.
Câncer de Pâncreas: saiba mais sobre a doença de evolução silenciosa
Reprodução Facebook
O apresentador e chef de cozinha Edu Guedes, de 50 anos, passou por uma cirurgia para remoção de um tumor no pâncreas no último sábado (5), em São Paulo. A descoberta aconteceu após uma crise renal, que levou à realização de exames mais detalhados. O caso chamou atenção para um tipo de câncer silencioso e letal: o de pâncreas.
A doença, segundo especialistas ouvidos pelo g1, é uma das mais agressivas entre os tumores sólidos e frequentemente é diagnosticada em estágio avançado.
“Apesar de representar apenas 3% dos tumores sólidos, o câncer de pâncreas tem uma das maiores taxas de letalidade”, explica o oncologista do grupo Oncoclínicas e coordenador do conselho da Americas Health Foundation, Stephen Stefani.
O que é o câncer de pâncreas?
O pâncreas é um órgão localizado atrás do estômago, na parte superior do abdômen, e tem funções essenciais: produzir hormônios como a insulina e enzimas que ajudam na digestão. O câncer no órgão surge a partir de mutações em suas células, que passam a se multiplicar de forma desordenada e, com frequência, se espalham para outros órgãos — processo conhecido como metástase.
Segundo o oncologista Elge Werneck, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, os principais tipos são o adenocarcinoma (mais comum e agressivo) e os tumores neuroendócrinos (mais raros e menos agressivos em muitos casos). “O adenocarcinoma é responsável por mais de 90% dos casos e tende a responder mal ao tratamento”, afirma.
Sintomas são vagos e surgem tardiamente
O câncer de pâncreas costuma ser silencioso nos estágios iniciais. Quando os sintomas aparecem, é comum que o tumor esteja avançado. Entre os sinais mais relatados estão dor abdominal persistente, perda de peso repentina, fraqueza, perda de apetite e icterícia (pele e olhos amarelados).
“Os sintomas são inespecíficos. Muitas vezes o paciente só descobre quando o tumor já comprometeu outros órgãos”, diz Stefani.
Quem está mais em risco?
De acordo com os médicos, os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença são:
Tabagismo.
Obesidade.
Diabetes tipo 2 de longa data.
Pancreatite crônica.
Histórico familiar da doença.
Mutação genética BRCA2 (a mesma associada a alguns tipos de câncer de mama).
“Mesmo pessoas sem esses fatores podem desenvolver a doença, mas eles aumentam significativamente o risco”, alerta Werneck.
Doutor em cirurgia pela USP e cirurgião do Hospital Nove de Julho, Rodrigo Surjan destaca que a incidência da doença tem aumentado em pessoas mais jovens, especialmente entre 25 e 40 anos.
“Ainda não se sabe as causas desse aumento, mas ele é real. Há 30 anos, era praticamente impossível ver câncer de pâncreas em pessoas com menos de 70 anos. Hoje, embora ainda incomum, é mais frequente. Os motivos podem ter a ver com qualidade da alimentação --cheia de ultraprocessados, por exemplo-- e obesidade”, explica Surjan.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do câncer de pâncreas geralmente exige exames de imagem como tomografia, ressonância magnética ou PET-CT. A confirmação se dá por meio de biópsia. Um exame de sangue chamado CA 19-9 também pode ajudar, mas não é definitivo. Há pacientes que não apresentam elevação no marcador e têm câncer de pâncreas, assim como o contrário também acontece.
Segundo os especialistas, o principal tratamento é cirurgia associada à quimioterapia — mas a operação é indicada apenas quando o tumor é localizado e não compromete vasos sanguíneos ou outros órgãos. Em casos avançados, a quimioterapia isolada, ou adjunta à radioterapia, é a opção indicada.
“Não há consenso entre médicos sobre o que vem primeiro no caso de tumores ressecáveis, a quimioterapia ou a cirurgia. No entanto, o principal estudo sobre isso, o North Pact, demonstra resultados mais promissores quando a cirurgia é feita antes da quimioterapia. Ainda assim tudo depende do tipo de tumor”, explica Surjan.
Tipos de câncer x tipos de cirurgia
O câncer de pâncreas pode se originar na cabeça, no corpo ou na cauda do órgão, explica o co-fundador do Instituto Vencer o Câncer, Antonio Carlos Buzaid, que é também diretor médico do Centro de Oncologia do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Ao crescer, ele explica, o tumor penetra o tecido pancreático até chegar à cápsula que reveste o órgão e à gordura ao seu redor. A partir dessa fase, as células cancerosas começam a invadir estruturas vizinhas e linfonodos. De início, são comprometidos os linfonodos situados nas imediações do pâncreas; em seguida, os linfonodos abdominais mais distantes.
Há dois tipos principais de cirurgia, dependendo da localização do tumor no pâncreas:
Divulgação/Instituto Vencer o Câncer
Tumor localizado na cabeça do pâncreas: retirada é feita com gastroduodenopancreatectomia, uma cirurgia que, além da retirada do tumor, envole a remoção parcial do estômago, duodeno e vias biliares. Após a retirada dessas estruturas, o cirurgião precisa reconectar o pâncreas, o canal biliar e o estômago ao intestino delgado. Essa fase de reconstrução é extremamente complexa, uma vez que exige múltiplas emendas (anastomoses) para restabelecer o fluxo dos sucos digestivos. É o tipo de cirurgia mais complexo e pode durar de 4 a 10 horas.
Tumor localizado no corpo ou cauda do pâncreas: quando o tumor se localiza no corpo ou na cauda do pâncreas, a abordagem cirúrgica é diferente e geralmente menos invasiva. Este procedimento se chama pancreatectomia corpo-caudal com esplenectomia e consiste na retirada do corpo e da cauda do pâncreas, juntamente com o baço. O baço é frequentemente removido porque sua proximidade com a cauda do pâncreas e a drenagem linfática comum aumentam o risco de envolvimento tumoral. É menos arriscada e mais rápida, com duração estimada de 3 a 4 horas.
Avanços e perspectivas
Embora o câncer de pâncreas seja um dos mais difíceis de tratar, a medicina tem avançado. Segundo Werneck, terapias-alvo, imunoterapia e novas drogas estão em desenvolvimento.
Além disso, há estudos com vacinas personalizadas para estimular o sistema imunológico a combater o tumor — uma das maiores dificuldades de detectar esse tipo de câncer é o fato de ele conseguir "se esconder" das defesas naturais do organismo.
Dá para viver sem o pâncreas?
Sim. Em casos extremos, é possível remover o pâncreas por completo. O paciente, no entanto, precisa tomar medicamentos para controlar o açúcar no sangue e auxiliar na digestão.
“Já tive pacientes que passaram por pancreatectomia total e hoje vivem bem, com acompanhamento”, relata Surjan.
O caso de Edu Guedes chama atenção para uma realidade que pode atingir qualquer pessoa — e reforça a importância do diagnóstico rápido e da atenção aos sinais do corpo.
“O câncer de pâncreas é agressivo, silencioso e desafiador — mas tem tratamento. A chave é a informação. Conhecer os fatores de risco e os sinais da doença pode fazer diferença entre um diagnóstico precoce ou tardio”, afirma Stefani.
Câncer de Pâncreas: saiba mais sobre a doença de evolução silenciosa
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