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Do 'sumiço' de usuários a projeto de habitação: Cracolândia completa um mês deserta

Do 'sumiço' de usuários a projeto de habitação: Cracolândia completa um mês deserta
Presença de usuários nas imediações de onde ficava o antigo 'fluxo', no Centro de SP, era quase nula nesta segunda-feira (16). O g1 encontrou um grupo de quatro pessoas circulando apenas na Rua Helvétia e outras na Avenida Duque de Caxias. Área onde se concentrava o 'fluxo' da Cracolândia.
Deslange Paiva/ g1
A Cracolândia, no Centro de São Paulo, completou um mês deserta. Desde 13 de maio, o local amanhece vazio, sem usuários de drogas.
Com a ausência de usuários, também houve uma diminuição da presença de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Nas últimas semanas, a Prefeitura de São Paulo disse que vai construir um conjunto habitacional no terreno onde ficava o "fluxo" (veja mais abaixo).
O "fluxo" se concentrava em um triângulo formado pelas ruas General Couto de Magalhães, dos Protestantes e dos Gusmões. Além dessas vias, que delimitavam a área da Cracolândia, as ruas do Triunfo e dos Andradas também não contavam com a presença de usuários circulando.
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Nesta segunda-feira (16), o g1 esteve no local. Em maio, apesar da diminuição, ainda existiam pequenos grupos vagando pela região; nesta segunda, no entanto, não havia quase ninguém.
Na Rua Helvétia, ao menos quatro usuários circulavam. O g1 encontrou alguns usuários na Avenida Duque de Caxias.
Juíza ordena que gestão Nunes preserve imagens de câmeras de vigilância dias antes de a Cracolândia ficar vazia
Rua Helveria.
Deslange Paiva/ g1
A região próxima ao Terminal Princesa Isabel, onde havia se formado um pequeno "fluxo", também estava vazia.
Em 14 de maio, mais de cem pessoas se concentravam na Praça Marechal Deodoro, mas, na manhã desta segunda, a área também estava sem usuários.
Agressões antes do 'sumiço'
Antes de o local ficar vazio, os usuários foram agredidos por guardas da GCM, de acordo com vídeos obtidos com exclusividade pelo g1 (veja abaixo).
Vídeos mostram GCMs agredindo usuários antes do 'sumiço' da Cracolândia
De acordo com Rui Conegundes de Souza, corregedor da GCM, "agressão nunca fez e nunca fará parte de qualquer rotina de atuação da GCM/Polícia Municipal".
Comerciantes relataram ao g1 que as agressões na região, principalmente contra usuários, se intensificaram nos meses que antecederam o "sumiço". Três proprietários de estabelecimentos na região testemunharam os agentes lançando spray de pimenta, dando chutes e usando cassetetes contra os usuários de drogas. Os próprios comerciantes também disseram que foram agredidos.
Na sexta (13), a Justiça de São Paulo determinou que a prefeitura preserve as imagens captadas por câmeras de vigilância na região do período que antecedeu o momento em que a área ficou vazia. A decisão é da juíza Juliana Brescansin Demarchi Molina, da 7ª Vara da Fazenda Pública, em resposta a um pedido da Defensoria Pública e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Os órgãos querem analisar as gravações para verificar se houve ilegalidades nas ações dos GCMs antes do “sumiço” dos usuários.
Segundo a decisão, o município deve promover “a imediata preservação e conservação das imagens captadas por todas as câmeras de vigilância urbana localizadas no entorno da região popularmente conhecida como Cracolândia, notadamente nas imediações da Rua dos Protestantes e da esquina com a Rua dos Gusmões, no período compreendido entre 1º de maio de 2025 e 14 de maio de 2025”.
'Fluxo' da Cracolândia diminui, mas Prefeitura de SP não informa para onde usuários de drogas foram
No dia 12 de maio, câmeras do comerciante Valdeizo Fortunato de Lima, de 35 anos, que pediu para ser identificado nesta reportagem como uma forma de proteção, registraram agentes da GCM, acompanhados por outras equipes em duas viaturas, agredindo um grupo de usuários que andava pela Rua Mauá por volta das 22h.
Os agentes se aproximaram do grupo e agrediram as vítimas com o uso de cassetetes. Eles também aparecem armados.
Pelo vídeo, é possível ver um homem sendo agredido com um cassetete e levando chutes do agente.
"Eles querem dispersar o pessoal aqui do Centro, então eles agridem o pessoal, para o pessoal sair", diz Lima.
O g1 também teve acesso a vídeos de câmeras de segurança que mostram agressões nos dias 10 e 11 de maio.
Em 10 de maio - mesmo dia em que Orlando Morando, secretário de Segurança Urbana de São Paulo, publicou um vídeo na Cracolândia comemorando a ausência de usuários -, um homem que comprava mantimentos em uma mercearia na Rua Mauá foi puxado e empurrado por um GCM. A vítima precisou se segurar na grade do comércio para não ser levada.
No vídeo, Morando disse que a região vazia "é uma batalha que se vence a cada dia com a segurança urbana, com a saúde, com a assistência social".
Em 11 de maio, dois homens foram abordados por três agentes - um deles é comerciante da região. No vídeo, ele apareceu usando uma blusa vermelha. Durante a abordagem, um dos guardas segurou um dos homens pelo pescoço e, em seguida, o agrediu com chutes nas pernas. Em outro momento, outro guarda também segurou a vítima pelo pescoço, enquanto o primeiro desferiu socos em seu rosto. Ele chegou a apontar uma arma para o homem.
Câmeras registram GCMs agredindo upessoas na véspera da Cracolândia ficar vazia
Área onde ficava o 'fluxo' vai virar habitação
Projeto da Prefeitura de SP.
Reprodução
A Prefeitura de São Paulo anunciou em 6 de junho que vai construir um conjunto habitacional no terreno onde ficava o chamado "fluxo" de usuários da Cracolândia.
A área em questão pertence à gestão municipal e fica no triângulo entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes, atrelado a uma construção abandonada ligada ao muro que cercava o local.
Prefeitura de SP diz que vai construir conjunto habitacional em terreno onde ficava o 'fluxo' da Cracolândia
A prefeitura informou que o projeto prevê a demolição de um prédio deteriorado e a transferência da sede do teatro. A previsão é a de que as obras tenham início nos próximos dias. O espaço terá quadra esportiva, brinquedos, gramado e área de descanso. Também está prevista a construção de duas torres de apartamentos, num projeto entre COHAB e CDHU.
No terreno, ficam dois coletivos: o Teatro de Contêiner Mungunzá e Tem Sentimento. A prefeitura pediu que eles deixem área.
Em nota enviada ao g1, a gestão Ricardo Nunes (MDB) disse que convidou os representantes do teatro para uma reunião, para discutir propostas de imóveis para os quais o grupo poderia ser transferido.
Cracolândia: fluxo sai do Centro
O "fluxo" ficava confinado em uma área cercadas por gradis e atrás de um muro, de cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, construído pela prefeitura. Na época, a Defensoria Pública classificou o espaço como "curral humano".
O "sumiço" foi explicado pelo promotor de justiça Fabio Bechara após o fim de um ecossistema criminoso, que sustentou por décadas a existência da Cracolândia.
"O dependente, para nós, ele sempre foi visto como vítima desse processo. Vítima de mão de obra quase análoga à escravidão, porque ele ou furtava ou ele pegava aquilo que era abandonado nas ruas e levava para os ferros-velhos. Na medida em que a gente consegue identificar dentro dessa cadeia logística quem fazia o quê e olha para os consumidores dessa mão de obra quase análoga à escravidão, e a gente corta esse vínculo, naturalmente você gera um efeito dissuasório em toda a cadeia”, diz promotor de justiça Fabio Bechara.
Para o prefeito Ricardo Nunes (MDB), a ausência de usuários de drogas na região também é resultado das operações do governo estadual e da prefeitura de combate ao tráfico de drogas na Favela do Moinho, incluindo a prisão do traficante Léo do Moinho, responsável por abastecer a Cracolândia, também tiveram influência na redução do fluxo.
"Sem a droga presente, você tem uma facilidade maior de convencer as pessoas a irem para tratamento. Ontem, a gente tinha 60 pessoas que procuraram tratamento voluntariamente. A gente tem tido sucesso em convencer as pessoas."
O que diz a prefeitura
"A Prefeitura de São Paulo reforça que a Guarda Civil Metropolitana presta um serviço essencial para a proteção de toda a população e o combate à criminalidade em parceria com as polícias civil e militar. Eventuais condutas inadequadas serão apuradas. A administração tem feito desde 2021 um trabalho intenso e contínuo para oferecer tratamento em saúde e atendimento social às pessoas em situação de vulnerabilidade na Cena Aberta de Uso (CAU)."

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