Casamento de luxo e fogos de artifício: vídeos de influenciadores investigados por rifas virtuais fizeram MP cancelar acordo; assista

Gladison Pieri e Pâmela Pavão haviam firmado acordo para não serem processados após investigação de crimes de exploração ilegal de jogos. Segundo a Polícia Civil, o casal vinha desrespeitando decisões judiciais desde que foram alvo de operação em 2024. MP revoga acordo e manda prender casal de influenciadores
O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) firmado pelo Ministério Público (MP) com o casal de influenciadores digitais investigados por exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro foi cancelado após vídeos publicados por Gladison Pieri e Pâmela Pavão indicarem que o casal descumpria o acordo, segundo o promotor do caso. Veja acima.
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➡️Ao ser formalizado, um ANPP encerra a possibilidade de denúncia à Justiça por crimes cometidos e confessados. Em troca, esses acordos podem exigir outras medidas.
As imagens mostram um foguetório durante a noite que, segundo a investigação, vinha da casa dos influenciadores. De acordo com a Polícia Civil, seria uma comemoração pelo acordo que evitaria um processo criminal contra os dois.
"A gente realmente fica incrédulo, porque, pelo menos na minha carreira, eu nunca vi alguém comemorar um acordo de não persecução penal. Então a gente fica realmente desacreditando", diz a delegada Luciana Bertoletti.
Além disso, poucos dias após assinar o acordo, aconteceu o casamento dos influenciadores. A cerimônia aconteceu às margens de um lago, com música ao vivo e estrutura luxuosa.
"O que tínhamos conversado, inclusive com os advogados, é que não havia mais condições de firmar nenhum acordo, porque eles não tinham mais nenhum valor para alcançar. Mas depois de ter acesso às imagens da festa, que foi uma festa luxuosa, uma festa com altos contratos de prestação de serviço, até a presença de um MC, a gente interpretou que continuavam com um poder econômico fora do normal", diz a delegada.
O promotor de Justiça Tiago Moreira diz que os vídeos caracterizam alteração no rumo do processo e que, com base nos novos fatos trazidos pela investigação da Polícia Civil, o caso será reavaliado e pode resultar em uma nova denúncia à Justiça. Se a Justiça aceitar a denúncia, começarão a ser julgados.
Vídeos do casamento de influenciadores investigados motivaram o cancelamento de acordo que afastaria processo
Reprodução/RBS TV
Prisão
O casal voltou a ser preso preventivamente por descumprimento de ordem judicial na última quarta-feira (4). A investigação da Polícia Civil indica que eles sorteavam casas, apartamentos, motocicletas, motos aquáticas, dinheiro, carros e procedimentos estéticos por meio de rifas na internet, o que é ilegal. Entenda abaixo.
O advogado que defende o casal, André Callegari, disse ao g1 que "foi surpreendio pelo pedido de suspensão do acordo pelo Ministério Público" e que "parte da nova investigação repete fatos já analisados e alguns até arquivados". Afirmou também que "não há provas de que o casal tenha solicitado acesso a dados sigilosos, nem cometido crime ao contratar seguranças particulares".
PMs afastados
A Polícia Civil também descobriu que policiais militares que faziam a segurança privada do casal estavam repassando informações sigilosas aos influenciadores. Cinco PMs foram afastados.
"Informações sobre registros de ocorrência, propriedades de veículo, que são sigilosas e estão nesses bancos de dados, cujo acesso se dá só pelos agentes de segurança pública", explica Bertoletti.
Gladison Pieri e Pamela Pavão, influenciadores presos durante operação contra rifas virtuais ilegais
Reprodução
Ordens judiciais desrespeitadas
Conforme a Polícia Civil, os dois influenciadores vinham desrespeitando decisões judiciais desde que foram alvos de uma operação que aconteceu em 2024.
Eles chegaram a ser presos uma primeira vez, mas foram soltos sob algumas condições impostas pela Justiça, entre elas, deixar de fazer uso de redes sociais na internet. No entanto, a polícia afirma que os dois teriam continuado promovendo rifas e sorteios por meio de um "perfil de laranja" nas redes sociais. Foi identificado, durante investigação, um perfil de um amigo do casal que na verdade estaria na titularidade de Gladison Pierri.
➡️ A palavra "laranja", sozinha, pode ser empregada para definir alguém que assume uma função ou responsabilidade no papel, mas não na prática. Isso significa dizer que o laranja cede seu nome, com ou sem consentimento, para uso de outra pessoa. O termo, nesses casos, aparece geralmente em investigações policiais sobre fraudes.
O que é um ANPP
O ANPP é um acordo entre o MP e uma pessoa investigada para evitar o processo judicial: uma alternativa ao processo penal tradicional que é aplicada em casos de crimes menos graves, quando "não houve violência ou grave ameaça" e a pena é inferior a quatro anos de prisão.
O acordo é celebrado antes do início da ação penal e só passa a valer após avaliação de um juiz.
O esquema
O casal de influenciadores Gladison Pieri e Pâmela Pavão investigados por crimes contra a economia popular, jogos de azar, lavagem de dinheiro e associação criminosa
Reprodução
Conforme a legislação brasileira, rifas virtuais são ilegais. Exceto caso haja uma autorização expressa do Ministério da Fazenda, todo e qualquer tipo de sorteio, seja envolvendo rifa ou qualquer outro jogo de azar, é tido como um "ato ilícito". Geralmente, há permissão para causas filantrópicas, mas apenas de prêmio e brindes – não de dinheiro. Além disso, a investigação policial aponta que, até 2023, o dinheiro pago pelo público interessado nas rifas ia direto para as contas do casal, o que é irregular.
A partir de 2024, a dupla teria contratado uma "empresa de título de capitalização". Só que, por lei, os títulos precisavam estar vinculados a uma entidade beneficente, explica a Polícia Civil. O casal teria tentado dar legitimidade ao esquema ao associar as rifas a uma empresa de títulos de capitalização.
O sistema adotado teria sido o "filantropia premiável", em que parte da arrecadação das rifas deveria ser destinada a uma instituição social. No papel, 33,4% do valor arrecadado iria para uma ONG. No entanto, a investigação apontou que o projeto recebia apenas 2,4%, enquanto o restante voltava para os influenciadores, por meio de contratos de publicidade.
"Para nossa surpresa, a empresa capitalizadora, que é a maior especialista no assunto dentre todas as partes envolvidas, protagonizou a negociação que terminou por deixar apenas 2,4%, ao invés de 33,4% do faturamento bruto com as rifas para a filantropia", afirma o delegado Filipe Bringhenti.
Por fim, a polícia aponta para a prática do crime de lavagem de dinheiro. Os valores arrecadados com as rifas, segundo a investigação, seriam misturados com o faturamento de empresas do casal, voltadas à prestação de serviços e também à venda de produtos paralelos.
Casal suspeito de golpe da rifa vivia em apartamento de luxo em Balneário Camboriú
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) firmado pelo Ministério Público (MP) com o casal de influenciadores digitais investigados por exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro foi cancelado após vídeos publicados por Gladison Pieri e Pâmela Pavão indicarem que o casal descumpria o acordo, segundo o promotor do caso. Veja acima.
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➡️Ao ser formalizado, um ANPP encerra a possibilidade de denúncia à Justiça por crimes cometidos e confessados. Em troca, esses acordos podem exigir outras medidas.
As imagens mostram um foguetório durante a noite que, segundo a investigação, vinha da casa dos influenciadores. De acordo com a Polícia Civil, seria uma comemoração pelo acordo que evitaria um processo criminal contra os dois.
"A gente realmente fica incrédulo, porque, pelo menos na minha carreira, eu nunca vi alguém comemorar um acordo de não persecução penal. Então a gente fica realmente desacreditando", diz a delegada Luciana Bertoletti.
Além disso, poucos dias após assinar o acordo, aconteceu o casamento dos influenciadores. A cerimônia aconteceu às margens de um lago, com música ao vivo e estrutura luxuosa.
"O que tínhamos conversado, inclusive com os advogados, é que não havia mais condições de firmar nenhum acordo, porque eles não tinham mais nenhum valor para alcançar. Mas depois de ter acesso às imagens da festa, que foi uma festa luxuosa, uma festa com altos contratos de prestação de serviço, até a presença de um MC, a gente interpretou que continuavam com um poder econômico fora do normal", diz a delegada.
O promotor de Justiça Tiago Moreira diz que os vídeos caracterizam alteração no rumo do processo e que, com base nos novos fatos trazidos pela investigação da Polícia Civil, o caso será reavaliado e pode resultar em uma nova denúncia à Justiça. Se a Justiça aceitar a denúncia, começarão a ser julgados.
Vídeos do casamento de influenciadores investigados motivaram o cancelamento de acordo que afastaria processo
Reprodução/RBS TV
Prisão
O casal voltou a ser preso preventivamente por descumprimento de ordem judicial na última quarta-feira (4). A investigação da Polícia Civil indica que eles sorteavam casas, apartamentos, motocicletas, motos aquáticas, dinheiro, carros e procedimentos estéticos por meio de rifas na internet, o que é ilegal. Entenda abaixo.
O advogado que defende o casal, André Callegari, disse ao g1 que "foi surpreendio pelo pedido de suspensão do acordo pelo Ministério Público" e que "parte da nova investigação repete fatos já analisados e alguns até arquivados". Afirmou também que "não há provas de que o casal tenha solicitado acesso a dados sigilosos, nem cometido crime ao contratar seguranças particulares".
PMs afastados
A Polícia Civil também descobriu que policiais militares que faziam a segurança privada do casal estavam repassando informações sigilosas aos influenciadores. Cinco PMs foram afastados.
"Informações sobre registros de ocorrência, propriedades de veículo, que são sigilosas e estão nesses bancos de dados, cujo acesso se dá só pelos agentes de segurança pública", explica Bertoletti.
Gladison Pieri e Pamela Pavão, influenciadores presos durante operação contra rifas virtuais ilegais
Reprodução
Ordens judiciais desrespeitadas
Conforme a Polícia Civil, os dois influenciadores vinham desrespeitando decisões judiciais desde que foram alvos de uma operação que aconteceu em 2024.
Eles chegaram a ser presos uma primeira vez, mas foram soltos sob algumas condições impostas pela Justiça, entre elas, deixar de fazer uso de redes sociais na internet. No entanto, a polícia afirma que os dois teriam continuado promovendo rifas e sorteios por meio de um "perfil de laranja" nas redes sociais. Foi identificado, durante investigação, um perfil de um amigo do casal que na verdade estaria na titularidade de Gladison Pierri.
➡️ A palavra "laranja", sozinha, pode ser empregada para definir alguém que assume uma função ou responsabilidade no papel, mas não na prática. Isso significa dizer que o laranja cede seu nome, com ou sem consentimento, para uso de outra pessoa. O termo, nesses casos, aparece geralmente em investigações policiais sobre fraudes.
O que é um ANPP
O ANPP é um acordo entre o MP e uma pessoa investigada para evitar o processo judicial: uma alternativa ao processo penal tradicional que é aplicada em casos de crimes menos graves, quando "não houve violência ou grave ameaça" e a pena é inferior a quatro anos de prisão.
O acordo é celebrado antes do início da ação penal e só passa a valer após avaliação de um juiz.
O esquema
O casal de influenciadores Gladison Pieri e Pâmela Pavão investigados por crimes contra a economia popular, jogos de azar, lavagem de dinheiro e associação criminosa
Reprodução
Conforme a legislação brasileira, rifas virtuais são ilegais. Exceto caso haja uma autorização expressa do Ministério da Fazenda, todo e qualquer tipo de sorteio, seja envolvendo rifa ou qualquer outro jogo de azar, é tido como um "ato ilícito". Geralmente, há permissão para causas filantrópicas, mas apenas de prêmio e brindes – não de dinheiro. Além disso, a investigação policial aponta que, até 2023, o dinheiro pago pelo público interessado nas rifas ia direto para as contas do casal, o que é irregular.
A partir de 2024, a dupla teria contratado uma "empresa de título de capitalização". Só que, por lei, os títulos precisavam estar vinculados a uma entidade beneficente, explica a Polícia Civil. O casal teria tentado dar legitimidade ao esquema ao associar as rifas a uma empresa de títulos de capitalização.
O sistema adotado teria sido o "filantropia premiável", em que parte da arrecadação das rifas deveria ser destinada a uma instituição social. No papel, 33,4% do valor arrecadado iria para uma ONG. No entanto, a investigação apontou que o projeto recebia apenas 2,4%, enquanto o restante voltava para os influenciadores, por meio de contratos de publicidade.
"Para nossa surpresa, a empresa capitalizadora, que é a maior especialista no assunto dentre todas as partes envolvidas, protagonizou a negociação que terminou por deixar apenas 2,4%, ao invés de 33,4% do faturamento bruto com as rifas para a filantropia", afirma o delegado Filipe Bringhenti.
Por fim, a polícia aponta para a prática do crime de lavagem de dinheiro. Os valores arrecadados com as rifas, segundo a investigação, seriam misturados com o faturamento de empresas do casal, voltadas à prestação de serviços e também à venda de produtos paralelos.
Casal suspeito de golpe da rifa vivia em apartamento de luxo em Balneário Camboriú
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