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EXCLUSIVO: depoimento revela detalhes da 'fábrica' de espiões russos no Brasil

EXCLUSIVO: depoimento revela detalhes da 'fábrica' de espiões russos no Brasil
Vídeo de depoimento realizado na Polícia Federal revela como esquema foi além da falsificação de documentos. Testemunha afirmou que diplomatas russos participaram ativamente da trama. EXCLUSIVO: depoimento revela detalhes da 'fábrica' de espiões russos no Brasil
O jornal The New York Times apresentou em uma reportagem publicada nesta semana uma lista de nove espiões russos que atuaram no Brasil.
A reportagem afirma que "por anos, a Rússia usou o Brasil como ponto de partida para a elite dos seus oficiais de inteligência, os chamados ilegais". E que esses espiões apagaram os rastros de seu passado russo e, por aqui, criaram identidades inteiramente novas.
No Brasil, os russos encontraram facilidade para tirar documentos forjados, conseguir passaportes e atuar em outros países como brasileiros. Um disfarce perfeito.
A chamada "Fábrica de Espiões" funcionava no Brasil desde os anos 1980, quando a Rússia era parte da União Soviética e os espiões atuavam para a temida KGB.
O Fantástico teve acesso com exclusividade a um vídeo de um depoimento que mostra como o esquema foi além da falsificação de documentos.
Na gravação, um homem revela que diplomatas russos participaram ativamente da trama. Ele foi dono de uma agência de turismo entre 1999 e 2013 e contou que prestou serviços para o Consulado da Rússia no Rio de Janeiro por 13 anos.
Resultado de um acordo de cooperação internacional, o depoimento foi gravado numa sala da Polícia Federal e foi acompanhado por dois promotores, dois agentes do FBI, a polícia federal americana, e um membro da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).
A pedido dos russos, a testemunha mandou dinheiro para o espião Sergey Cherkasov, que estava na Irlanda com um passaporte brasileiro. O Fantástico já havia mostrado que Sergey chegou ao Brasil em 2010 e adotou o nome de Victor Miller Ferreira.
Em mensagens de texto para um colega de espionagem examinadas pela PF, Sergei Cherkasov contou que tinha conseguido a papelada brasileira com a ajuda de uma amiga.
Sergey Cherkasov adotou no Brasil o nome de Victor Miller Ferreira
Reprodução/TV Globo
Como Brasil se tornou 'berçário' de espiões russos
A testemunha contou que sempre recebia pedidos para enviar dinheiro para o exterior, sendo uma delas no valor de R$ 40 mil. "Quando começaram essas remessas a se tornarem constantes, começou a me incomodar".
O espião até aprendeu a dançar forró em São Paulo. "Eu fiquei chocado", disse um professor de dança. "Um cara bacana, comunicativo, que saía com a gente para dançar. Depois, a gente descobre que o cara é um espião russo".
Sergey Cherkasov, ou Victor Muller Ferreira, é o único espião russo preso no Brasil. "O Victor já estava no Brasil há muito tempo treinando português", disse a testemunha. "O plano era que ele fosse fazer estágio lá na Europa".
Estágio no Tribunal de Haia
Em abril de 2022, Sergey, de fato, iniciou um estágio no Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda. Em 2023, o Fantástico mostrou o interesse russo na corte, que já emitiu mandado de prisão contra Vladimir Putin pelo deslocamento forçado de milhares de crianças ucranianas para a Rússia.
Sergey chegou a viajar para Amsterdã, mas o serviço secreto americano avisou a imigração holandesa que ele não era Victor Ferreira, como constava em seu passaporte. O espião russo foi enviado de volta para o Brasil e acabou preso pela Polícia Federal.
No depoimento, a testemunha contou que, por cinco anos, funcionários do consulado russo no Rio de Janeiro pediam que ele fosse a cartórios de registro civil em Niterói para checar certidões de pessoas mortas há décadas.
Os investigadores suspeitam que os nomes eram usados na confecção de documentos falsos para permitir que novos espiões pudessem pedir a cidadania brasileira.
O advogado Sergey, Paulo Maurício Ferreira, alegou que o seu cliente já deveria ter sido solto. "O Ministério Público Federal não conseguiu comprovar sequer um único ato de espionagem", disse.
"A prisão dele no Sistema Federal, Penitenciária de Segurança Máxima, se deve a uma decisão do Supremo Tribunal Federal por atos de extradição", afirmou o advogado.
A Rússia pediu a extradição de Sergey alegando que ele é acusado no país por tráfico de drogas. O pedido levantou a suspeita de que lá ele seria protegido por autoridades.
Novos espiões revelados
Na lista de novos agentes que o New York Times publicou esta semana, há o que usava o nome de Gerhard Daniel Campos Wittich.
Ele mantinha uma empresa de impressão 3D em uma sala de um prédio no centro do Rio de Janeiro, a menos de 100 metros do Consulado dos EUA. Ele fugiu do país há três anos.
Três homens que se consideravam amigos de Daniel disseram que não desconfiavam de nada, mas que o russo não revelava nada sobre seu passado. "Ele se esquivava quando a gente perguntava coisas da vida dele", disse um deles.
Reportagem do The New York Times apresentou lista de nove espiões russos que atuavam no Brasil
Reprodução/TV Globo
Segundo a Polícia Federal, o verdadeiro nome de Daniel era Artem Shmyrev. A certidão de nascimento forjada diz que ele seria filho de Fátima Regina Campos Monteiro. Se a informação fosse verdadeira, o eletricista Carlos Monteiro seria o tio dele.
Carlos disse que sua irmã já morreu e nunca teve filhos. Ele prestou depoimento e mostrou provas. "Apresentei tanto a certidão de nascimento original da minha irmã, como a certidão de óbito, inclusive um inventário dela do falecimento, onde a única herdeira seria a minha mãe".
Outro, que dizia ser joalheiro e usava o nome de Eric Lopes, seria na verdade Aleksandr Andreyevich Utekhin. Há dois anos, quando a PF chegou numa loja dele em São Paulo, Aleksandr já havia desaparecido.
O casal de russos que usava os nomes Manuel Francisco e Adriana Carolina Pereira morou no Brasil até 2018. Os dois se mudaram para Portugal antes da polícia chegar até eles. E depois também sumiram do mapa.
A russa que usava o nome Maria Luisa Dominguez Cardozo teve como último destino conhecido a Namíbia. Ela tinha documentos brasileiros.
Outros dois russos da lista divulgada esta semana não tiveram seus nomes brasileiros revelados. Eles teriam deixado o país rumo ao Uruguai.
O Fantástico procurou as embaixadas da Rússia, dos Estados Unidos e a Polícia Federal, mas não houve retorno.
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