Campinas, 251 anos: quem são as pessoas que dão nome às principais ruas da metrópole? Conheça as histórias

De Francisco Glicério a Irmã Serafina e Mestre Tito, metrópole homenageia abolicionistas, cantores e escravagistas. Conheça a história das personalidades que dão nome às ruas de Campinas
Para celebrar o aniversário de Campinas (SP), que completa 251 anos nesta segunda-feira (14), o g1 mergulhou na memória da cidade e resgatou histórias diversas, curiosas e controversas sobre personagens que dão nomes a importantes ruas e avenidas - no Centro e fora dele.
De cantora lírica a abolicionistas e ex-escravizados, os homenageados têm relevância na história do país. E alguns, assim como o itinerário das ruas que agora recebem seus nomes, se cruzaram durante a trajetória de vida.
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Francisco Glicério e Moraes Salles
Maria Monteiro
Mestre Tito
Irmã Serafina
Caroline Florence
Ruy Rodriguez
Republicano e monarquista se 'encontram' no Centro
Moraes Salles
Reprodução
O republicano Francisco Glicério e o monarquista convicto Moraes Salles jamais poderiam imaginar que seus nomes ficariam entrelaçados no centro cidade em que nasceram.
RESPONDA O QUIZ
Você sabe quem são as personalidades que dão nome às ruas da metrópole?
Um dos cruzamentos mais movimentados da cidade, entre as avenidas Franscico Glicédio e Dr. Moraes Salles, homenageia duas figuras que rivalizaram ao longo da vida. Mas o encontro das vias não é o único ponto de conexão entre os dois. De acordo com o historiador e professor Sidnei Rocha:
ambos nasceram em 1846, com 19 dias de diferença
foram batizados no mesmo dia e na mesma igreja, na Matriz de Nossa Senhora do Carmo;
os pais de Moraes Salles batizaram o menino Glicério e vice-versa.
Esse poderia ser o início de uma história de amizade, mas nada poderia ser mais divergente do que as opiniões que cada um deles tinha sobre o destino político do país. Divergências essas que ultrapassaram as farpas trocadas nas colunas de jornais e chegaram à agressão física.
Francisco Glicério
Reprodução
Francisco Glicério foi um grande defensor da República e também da abolição da escravidão. Filho de um paulista com uma ex-escravizada, ele não conseguiu terminar a faculdade de Direito por problemas financeiros, mas chegou a trabalhar como tipógrafo e professor.
Participou da Convenção de Itu, foi ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e ainda fundou o Partido Republicano Federalista (PRF), primeiro partido de dimensão nacional na era republicana.
No jornal “A Gazeta de Campinas” defendeu o ideário republicano e trocou ofensas com Moraes Salles, que era colunista do “Correio de Campinas”.
Este, por sua vez, foi promotor público e juiz. Fundou a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro e foi um defensor do desenvolvimento urbano, e se preocupo especialmente com o abastecimento da cidade nos períodos de escassez de alimentos.
Era bem relacionado com a nobreza portuguesa e foi nomeado vice-cônsul de Portugal no Brasil, o que fez dele um monarquista, ou seja, defendia que o país fosse governado pela coroa portuguesa.
A pet sitter Samira Lima, maranhense que mora há anos em Campinas, passa todos os dias pelo cruzamento e não conhecia a história. Depois de ouvi-la, ficou reflexiva.
“Eu acho que a briga deles foi tão grande, o debate foi tão grande, que as ruas ficaram bem juntinhas, pra ninguém sair perdendo”, brincou Samira.
A única árvore
Imagem aérea da Avenida Francisco Glicério, em Campinas
Reprodução/EPTV
A avenida que leva o nome de Glicério se chamava Rua do Rosário por conta de uma igreja de mesmo nome que existia em frente.
Foi em 1889 que vereadores quiseram homenagear o republicano “considerando os importantíssimos serviços que o nosso conterrâneo Francisco Glicério cidadão tem prestado à pátria (...) e o papel saliente que tomou nos acontecimentos do dia 15 de novembro, que se dê à Rua Rosário o nome de Francisco Glicério”, conforme consta no livro “Campinas - Ruas da Época Imperial”, de Edmo Goulart.
Um dado curioso é que essa rua mesmo nesta época não era arborizada e a única árvore que existia ali no centro era originária da França e estava plantada no quintal de um fazendeiro e exalava um perfume que era sentido à distância.
LEIA MAIS:
Ser vendido a barão de Campinas era castigo para escravos, diz advogado
O que pensam sobre liberdade negros com história na última cidade a abolir, na prática, escravidão
Zica: a prima talentosa de Carlos Gomes
Maria Monteiro
Reprodução/EPTV
O tino para a música não foi exclusividade do maestro Carlos Gomes, conhecido em todo o país e autor da ópera "O Guarani". Conforme nos conta o professor Sidnei Rocha, a prima distante de Carlos Gomes, Maria Monteiro, também era muito talentosa.
Aos 16 anos, a jovem apelidada de Zica encantou o imperador D. Pedro II e a esposa dele, Teresa Cristina, com uma doce voz. A estudante do Colégio Florence (leia mais abaixo) ganhou do casal imperial uma bolsa para estudar na Itália.
Em Milão, ficou sob a proteção de Carlos Gomes e estudou canto lírico com o professor Alberto Giannini (1842-1903), no Real Conservatório, mesmo lugar onde, em 1866, o primo tinha recebido o diploma de maestro.
A primeira cantora lírica do Brasil brilhou e conquistou os palcos de países como Itália, França, Inglaterra e Espanha, nas óperas Carmem e Cavalaria Rusticana.
No entanto, após se casar com um rico comerciante italiano, Ermenegildo Grandi, Maria Monteiro abandonou a carreira para dedicar-se ao lar, como era da vontade do marido.
A cantora morreu em 1897, aos 27 anos, vítima de infecção na garganta e comprometimento nos pulmões.
Desde 1923, ela dá nome a uma charmosa rua - que antes se chamava São Miguel -, no bairro do Cambuí, um dos primeiros a se formar na cidade.
Além da rua, há uma estátua em homenagem à cantora. Quem estiver na Praça Bento Quirino, ao se deparar com o monumento-túmulo de Carlos Gomes, pode encontrar a figura de Maria Monteiro logo abaixo.
O curandeiro de multidões
Mestre Tito
Reprodução
Quem passa pela Paróquia São Benedito na Cônego Cipião, no Centro de Campinas, talvez não saiba que as bases da igreja foram fundadas por Mestre Tito.
Homem negro que trazido da África Central foi feito escravo e trabalhou para a família Camargo Andrade até conseguir comprar a alforria dele e da esposa com o dinheiro que acumulou como curandeiro.
Segundo livro da historiadora Regina Célia Lima Xavier, Mestre Tito tinha boa fama na cidade e atendia pessoas de todas as camadas sociais. Devoto de São Benedito, ele fez uma promessa: se não fosse infectado pela febre amarela, iria erguer uma igreja ao santo.
Dito e feito. Iniciou a construção das bases da igreja, mas morreu em 1882, antes de vê-la concluída. Pouco antes de morrer, pediu para ser enterrado dentro da igreja, pedido este recusado pela Câmara dos Vereadores.
A Gazeta de Campinas notificou seu falecimento: “um cidadão estimável, digno de um aperto de mão de todos os que compreendem que neste mundo há dois grandes títulos de nobreza par ao homem: a honestidade e o trabalho mesmo quando esse homem tenha sido um escravo”.
Coube à dona Ana de Campos da Paz Gonzaga, esposa de um médico que usava a fortuna em obras de caridade, terminar a construção da igreja, que foi inaugurada em 1885.
Em 1930, em ofício assinado pelo então prefeito Orosimbo Maia, foi solicitado que o nome de Mestre Tito fosse dado a uma das ruas de Campinas. A pequena ruela fica na atual Vila Industrial e é cortada pela rua Sete de Setembro.
Igreja São Benedito
Acervo/EPTV
Em entrevista ao g1, o fotógrafo Guilherme Soeiro, recém-chegado em Campinas, expressou a sua revolta em perceber que tantas avenidas e monumentos no Brasil são dedicados a pessoas que escravizaram povos e poucos são dedicados àqueles que realmente transformaram a vida da população.
“Tem prédios, ruas, estátuas, monumentos com pessoas que tiraram liberdade de um povo, que escravizaram um povo, maltrataram um povo e hoje são lembradas como um marco na história importante", indagou Guilherme.
Ele também questionou o modelo de ensino baseado na história contada pelos portugueses e disse que ficou surpreso ao saber Campinas foi uma das últimas cidades do Brasil a abolir a escravidão.
Ao descobrir a rua Mestre Tito, que fica próxima a sua casa, respirou com um pouco de alívio. “Muito bom ter uma representatividade... saber que tem uma rua que leva o nome dele que fica aqui perto também”, disse o fotógrafo.
A Irmã francesa que deu a vida pelos doentes
Irmã Serafina
Reprodução/EPTV
Onde hoje é a famosa Rua Irmã Serafina, era a Rua Sete de Setembro. Antes disso, a via também era conhecida como Rua da Bica Grande, pela existência de uma bica de água na esquina com a atual Rua General Osório.
A rua homenageia a Irmã Maria dos Serafins Favre, nascida em Saboia, na França, e que ganhou este nome exatamente pelo seu sobrenome do meio.
Ela se estabeleceu em Campinas em 1876, quando atuou no Hospital Santa Casa de Misericórdia e, posteriormente, fundou um asilo para órfãos. Um dos seus feitos mais lembrados foi na época das epidemias de febre amarela, que assolaram Campinas dizimando parte da população e fazendo o restante migrar dali.
Irmã Serafina, no entanto, não arredou pé e cuidou dos enfermos até que ela mesma caiu enferma pela peste, que acabou com sua vida.
Após três dias de sua morte, a cidade registraria o pico da epidemia na cidade, registrando 47 óbitos em um único dia.
Em sua lápide, no Cemitério da Saudade, está escrito: “Vítima de sua Dedicação”. Doze anos após sua morte, a Câmara Municipal decidiu homenageá-la em tributo a sua obra de caridade e abnegação em favor da “salvação de seus conterrâneos”.
Alguns pontos conhecidos e importantes da cidade de Campinas situam-se na Rua Irmã Serafina. A Praça Carlos Gomes, por exemplo, é um dos marcos históricos dela. O maestro Antônio Carlos Gomes chegou a morar lá, quando era criança. Em 1883, a praça - que já foi um antigo lixão a céu aberto - começou a ser enfeitada com palmeiras imperiais, sob orientação de Ramos de Azevedo. O coreto só foi construído em 1941
Monumento na Praça Carlos Gomes
Estevão Mamédio/g1
A educadora que veio da Europa
Caroline Florence
Reprodução
Hercule Florence foi um artista francês que veio para o Brasil em expedição registrando a travessia entre São Paulo e o Mato Grosso. Ele escolheu Campinas para se fixar e, na cidade, se voltou à ciência, contribuindo imensamente para a fotografia.
Caroline Florence, segunda esposa dele, tem uma longa e dedicada jornada na educação. A alemã da família Krug estudou na Suíça com renomados professores da área da pedagogia e trouxe seu conhecimento para o Brasil, como o professor Pestalozzi.
Sua família se mudou para Campinas, onde o pai se estabeleceu no comércio. Na cidade, viu uma oportunidade de se estabelecer casando com Hercule, de quem ganhou o sobrenome. Ela assumiu os filhos do casamento anterior do marido e ainda teve mais sete filhos com ele.
Juntos, Caroline e Hercule Florence fundaram o Colégio Florence, que ao longo de 25 anos foi referência no estudo das mulheres da região. Segundo o professor de História Sidney Rocha, a escola ficava onde hoje é o prédio da Telesp, próximo ao Mercado Municipal. Ainda de acordo com ele, Caroline viajava com frequência para a Europa para contratar professores.
A rua em sua homenagem situa-se na Vila Nova Campinas e culmina na Rodovia Professor Zeferino Vaz.
O protetor da infância
Ruy Rodriguez
Reprodução
Ruy Rodriguez. Uma das principais avenidas do distrito do Ouro Verde, homenageia um grande líder comunitário campineiro.
Ruy Rodriguez nasceu e morreu em Campinas. Herdou o espírito empreendedor do pai, que foi pioneiro na telefonia. Empreendeu e teve sucesso em diversas áreas, mas foi seu grande coração voltado ao desenvolvimento de crianças e adolescentes carentes que marcou a sua atuação na cidade.
Ele criou a Guardinha, que formou milhares de jovens para o mercado de trabalho e se tornou referência em várias cidades do país. Certa vez, seu gabinete começou a se encher de instrumentos.
“Olhem, é um violino e foi construído aqui. Vamos fazer uma pequena orquestra para os meninos carentes e ao mesmo tempo montaremos uma fábrica”, teria tido Ruy. E assim nasceu a Orquestra Sinfônica da Guardinha.
Paranhos de Siqueira o chamou de “continente humano”, porque a maioria dos homens nos mares deste mundo eram ilhas sem saída. Outros eram penínsulas e poucos eram continentes.
Ruy Rodriguez acreditava no poder da educação e dizia: “O problema no menor é não ter maiores para cuidarem dele”. Em 1987, partiu deste mundo, deixando vivo o legado em Campinas.
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Para celebrar o aniversário de Campinas (SP), que completa 251 anos nesta segunda-feira (14), o g1 mergulhou na memória da cidade e resgatou histórias diversas, curiosas e controversas sobre personagens que dão nomes a importantes ruas e avenidas - no Centro e fora dele.
De cantora lírica a abolicionistas e ex-escravizados, os homenageados têm relevância na história do país. E alguns, assim como o itinerário das ruas que agora recebem seus nomes, se cruzaram durante a trajetória de vida.
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Francisco Glicério e Moraes Salles
Maria Monteiro
Mestre Tito
Irmã Serafina
Caroline Florence
Ruy Rodriguez
Republicano e monarquista se 'encontram' no Centro
Moraes Salles
Reprodução
O republicano Francisco Glicério e o monarquista convicto Moraes Salles jamais poderiam imaginar que seus nomes ficariam entrelaçados no centro cidade em que nasceram.
RESPONDA O QUIZ
Você sabe quem são as personalidades que dão nome às ruas da metrópole?
Um dos cruzamentos mais movimentados da cidade, entre as avenidas Franscico Glicédio e Dr. Moraes Salles, homenageia duas figuras que rivalizaram ao longo da vida. Mas o encontro das vias não é o único ponto de conexão entre os dois. De acordo com o historiador e professor Sidnei Rocha:
ambos nasceram em 1846, com 19 dias de diferença
foram batizados no mesmo dia e na mesma igreja, na Matriz de Nossa Senhora do Carmo;
os pais de Moraes Salles batizaram o menino Glicério e vice-versa.
Esse poderia ser o início de uma história de amizade, mas nada poderia ser mais divergente do que as opiniões que cada um deles tinha sobre o destino político do país. Divergências essas que ultrapassaram as farpas trocadas nas colunas de jornais e chegaram à agressão física.
Francisco Glicério
Reprodução
Francisco Glicério foi um grande defensor da República e também da abolição da escravidão. Filho de um paulista com uma ex-escravizada, ele não conseguiu terminar a faculdade de Direito por problemas financeiros, mas chegou a trabalhar como tipógrafo e professor.
Participou da Convenção de Itu, foi ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e ainda fundou o Partido Republicano Federalista (PRF), primeiro partido de dimensão nacional na era republicana.
No jornal “A Gazeta de Campinas” defendeu o ideário republicano e trocou ofensas com Moraes Salles, que era colunista do “Correio de Campinas”.
Este, por sua vez, foi promotor público e juiz. Fundou a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro e foi um defensor do desenvolvimento urbano, e se preocupo especialmente com o abastecimento da cidade nos períodos de escassez de alimentos.
Era bem relacionado com a nobreza portuguesa e foi nomeado vice-cônsul de Portugal no Brasil, o que fez dele um monarquista, ou seja, defendia que o país fosse governado pela coroa portuguesa.
A pet sitter Samira Lima, maranhense que mora há anos em Campinas, passa todos os dias pelo cruzamento e não conhecia a história. Depois de ouvi-la, ficou reflexiva.
“Eu acho que a briga deles foi tão grande, o debate foi tão grande, que as ruas ficaram bem juntinhas, pra ninguém sair perdendo”, brincou Samira.
A única árvore
Imagem aérea da Avenida Francisco Glicério, em Campinas
Reprodução/EPTV
A avenida que leva o nome de Glicério se chamava Rua do Rosário por conta de uma igreja de mesmo nome que existia em frente.
Foi em 1889 que vereadores quiseram homenagear o republicano “considerando os importantíssimos serviços que o nosso conterrâneo Francisco Glicério cidadão tem prestado à pátria (...) e o papel saliente que tomou nos acontecimentos do dia 15 de novembro, que se dê à Rua Rosário o nome de Francisco Glicério”, conforme consta no livro “Campinas - Ruas da Época Imperial”, de Edmo Goulart.
Um dado curioso é que essa rua mesmo nesta época não era arborizada e a única árvore que existia ali no centro era originária da França e estava plantada no quintal de um fazendeiro e exalava um perfume que era sentido à distância.
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Ser vendido a barão de Campinas era castigo para escravos, diz advogado
O que pensam sobre liberdade negros com história na última cidade a abolir, na prática, escravidão
Zica: a prima talentosa de Carlos Gomes
Maria Monteiro
Reprodução/EPTV
O tino para a música não foi exclusividade do maestro Carlos Gomes, conhecido em todo o país e autor da ópera "O Guarani". Conforme nos conta o professor Sidnei Rocha, a prima distante de Carlos Gomes, Maria Monteiro, também era muito talentosa.
Aos 16 anos, a jovem apelidada de Zica encantou o imperador D. Pedro II e a esposa dele, Teresa Cristina, com uma doce voz. A estudante do Colégio Florence (leia mais abaixo) ganhou do casal imperial uma bolsa para estudar na Itália.
Em Milão, ficou sob a proteção de Carlos Gomes e estudou canto lírico com o professor Alberto Giannini (1842-1903), no Real Conservatório, mesmo lugar onde, em 1866, o primo tinha recebido o diploma de maestro.
A primeira cantora lírica do Brasil brilhou e conquistou os palcos de países como Itália, França, Inglaterra e Espanha, nas óperas Carmem e Cavalaria Rusticana.
No entanto, após se casar com um rico comerciante italiano, Ermenegildo Grandi, Maria Monteiro abandonou a carreira para dedicar-se ao lar, como era da vontade do marido.
A cantora morreu em 1897, aos 27 anos, vítima de infecção na garganta e comprometimento nos pulmões.
Desde 1923, ela dá nome a uma charmosa rua - que antes se chamava São Miguel -, no bairro do Cambuí, um dos primeiros a se formar na cidade.
Além da rua, há uma estátua em homenagem à cantora. Quem estiver na Praça Bento Quirino, ao se deparar com o monumento-túmulo de Carlos Gomes, pode encontrar a figura de Maria Monteiro logo abaixo.
O curandeiro de multidões
Mestre Tito
Reprodução
Quem passa pela Paróquia São Benedito na Cônego Cipião, no Centro de Campinas, talvez não saiba que as bases da igreja foram fundadas por Mestre Tito.
Homem negro que trazido da África Central foi feito escravo e trabalhou para a família Camargo Andrade até conseguir comprar a alforria dele e da esposa com o dinheiro que acumulou como curandeiro.
Segundo livro da historiadora Regina Célia Lima Xavier, Mestre Tito tinha boa fama na cidade e atendia pessoas de todas as camadas sociais. Devoto de São Benedito, ele fez uma promessa: se não fosse infectado pela febre amarela, iria erguer uma igreja ao santo.
Dito e feito. Iniciou a construção das bases da igreja, mas morreu em 1882, antes de vê-la concluída. Pouco antes de morrer, pediu para ser enterrado dentro da igreja, pedido este recusado pela Câmara dos Vereadores.
A Gazeta de Campinas notificou seu falecimento: “um cidadão estimável, digno de um aperto de mão de todos os que compreendem que neste mundo há dois grandes títulos de nobreza par ao homem: a honestidade e o trabalho mesmo quando esse homem tenha sido um escravo”.
Coube à dona Ana de Campos da Paz Gonzaga, esposa de um médico que usava a fortuna em obras de caridade, terminar a construção da igreja, que foi inaugurada em 1885.
Em 1930, em ofício assinado pelo então prefeito Orosimbo Maia, foi solicitado que o nome de Mestre Tito fosse dado a uma das ruas de Campinas. A pequena ruela fica na atual Vila Industrial e é cortada pela rua Sete de Setembro.
Igreja São Benedito
Acervo/EPTV
Em entrevista ao g1, o fotógrafo Guilherme Soeiro, recém-chegado em Campinas, expressou a sua revolta em perceber que tantas avenidas e monumentos no Brasil são dedicados a pessoas que escravizaram povos e poucos são dedicados àqueles que realmente transformaram a vida da população.
“Tem prédios, ruas, estátuas, monumentos com pessoas que tiraram liberdade de um povo, que escravizaram um povo, maltrataram um povo e hoje são lembradas como um marco na história importante", indagou Guilherme.
Ele também questionou o modelo de ensino baseado na história contada pelos portugueses e disse que ficou surpreso ao saber Campinas foi uma das últimas cidades do Brasil a abolir a escravidão.
Ao descobrir a rua Mestre Tito, que fica próxima a sua casa, respirou com um pouco de alívio. “Muito bom ter uma representatividade... saber que tem uma rua que leva o nome dele que fica aqui perto também”, disse o fotógrafo.
A Irmã francesa que deu a vida pelos doentes
Irmã Serafina
Reprodução/EPTV
Onde hoje é a famosa Rua Irmã Serafina, era a Rua Sete de Setembro. Antes disso, a via também era conhecida como Rua da Bica Grande, pela existência de uma bica de água na esquina com a atual Rua General Osório.
A rua homenageia a Irmã Maria dos Serafins Favre, nascida em Saboia, na França, e que ganhou este nome exatamente pelo seu sobrenome do meio.
Ela se estabeleceu em Campinas em 1876, quando atuou no Hospital Santa Casa de Misericórdia e, posteriormente, fundou um asilo para órfãos. Um dos seus feitos mais lembrados foi na época das epidemias de febre amarela, que assolaram Campinas dizimando parte da população e fazendo o restante migrar dali.
Irmã Serafina, no entanto, não arredou pé e cuidou dos enfermos até que ela mesma caiu enferma pela peste, que acabou com sua vida.
Após três dias de sua morte, a cidade registraria o pico da epidemia na cidade, registrando 47 óbitos em um único dia.
Em sua lápide, no Cemitério da Saudade, está escrito: “Vítima de sua Dedicação”. Doze anos após sua morte, a Câmara Municipal decidiu homenageá-la em tributo a sua obra de caridade e abnegação em favor da “salvação de seus conterrâneos”.
Alguns pontos conhecidos e importantes da cidade de Campinas situam-se na Rua Irmã Serafina. A Praça Carlos Gomes, por exemplo, é um dos marcos históricos dela. O maestro Antônio Carlos Gomes chegou a morar lá, quando era criança. Em 1883, a praça - que já foi um antigo lixão a céu aberto - começou a ser enfeitada com palmeiras imperiais, sob orientação de Ramos de Azevedo. O coreto só foi construído em 1941
Monumento na Praça Carlos Gomes
Estevão Mamédio/g1
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Caroline Florence
Reprodução
Hercule Florence foi um artista francês que veio para o Brasil em expedição registrando a travessia entre São Paulo e o Mato Grosso. Ele escolheu Campinas para se fixar e, na cidade, se voltou à ciência, contribuindo imensamente para a fotografia.
Caroline Florence, segunda esposa dele, tem uma longa e dedicada jornada na educação. A alemã da família Krug estudou na Suíça com renomados professores da área da pedagogia e trouxe seu conhecimento para o Brasil, como o professor Pestalozzi.
Sua família se mudou para Campinas, onde o pai se estabeleceu no comércio. Na cidade, viu uma oportunidade de se estabelecer casando com Hercule, de quem ganhou o sobrenome. Ela assumiu os filhos do casamento anterior do marido e ainda teve mais sete filhos com ele.
Juntos, Caroline e Hercule Florence fundaram o Colégio Florence, que ao longo de 25 anos foi referência no estudo das mulheres da região. Segundo o professor de História Sidney Rocha, a escola ficava onde hoje é o prédio da Telesp, próximo ao Mercado Municipal. Ainda de acordo com ele, Caroline viajava com frequência para a Europa para contratar professores.
A rua em sua homenagem situa-se na Vila Nova Campinas e culmina na Rodovia Professor Zeferino Vaz.
O protetor da infância
Ruy Rodriguez
Reprodução
Ruy Rodriguez. Uma das principais avenidas do distrito do Ouro Verde, homenageia um grande líder comunitário campineiro.
Ruy Rodriguez nasceu e morreu em Campinas. Herdou o espírito empreendedor do pai, que foi pioneiro na telefonia. Empreendeu e teve sucesso em diversas áreas, mas foi seu grande coração voltado ao desenvolvimento de crianças e adolescentes carentes que marcou a sua atuação na cidade.
Ele criou a Guardinha, que formou milhares de jovens para o mercado de trabalho e se tornou referência em várias cidades do país. Certa vez, seu gabinete começou a se encher de instrumentos.
“Olhem, é um violino e foi construído aqui. Vamos fazer uma pequena orquestra para os meninos carentes e ao mesmo tempo montaremos uma fábrica”, teria tido Ruy. E assim nasceu a Orquestra Sinfônica da Guardinha.
Paranhos de Siqueira o chamou de “continente humano”, porque a maioria dos homens nos mares deste mundo eram ilhas sem saída. Outros eram penínsulas e poucos eram continentes.
Ruy Rodriguez acreditava no poder da educação e dizia: “O problema no menor é não ter maiores para cuidarem dele”. Em 1987, partiu deste mundo, deixando vivo o legado em Campinas.
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