Relembre discurso histórico de Mujica no Brasil, durante a Rio+20

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Ex-presidente uruguaio foi um dos convidados do evento de 2012 e questionou a concorrência desenfreada entre as nações. Ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica
Pablo Porciuncula/AFP
Durante a Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - realizada Rio de Janeiro em 2012, o então presidente do Uruguai José Pepe Mujica fez um de seus discursos mais memoráveis de sua trajetória política.
Mujica, que morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, fez - na ocasião - diversos questionamentos sobre o hiperconsumo e o papel dos líderes globais para conquistar um equilíbrio entre o mercado e a sustentabilidade.
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'A política me encanta, mas a vida me encanta mais': relembre frases de Pepe Mujica
“Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa? É possível falar de solidariedade e dizer que “estamos todos juntos” em uma economia baseada na competição selvagem? Até onde vai a nossa fraternidade?”, disse.
Em sua conclusão, Pepe Mujica reflete sobre o que buscam todos os povos, segundo ele: a felicidade.
Leia, abaixo, a íntegra de José Mujica na cúpula do Rio+20:
Autoridades presentes de todas as partes do mundo e organismos, muito obrigado. Muito obrigado ao povo do Brasil e à sua senhora presidenta, Dilma Rousseff. Muito obrigado à boa fé que, com certeza, foi manifestada por todos os oradores que me antecederam.
Expressamos a vontade sincera, como governantes, de apoiar todos os acordos que esta, nossa pobre humanidade, possa firmar.
No entanto, permitam-me fazer algumas perguntas em voz alta.
Durante toda a tarde falou-se de desenvolvimento sustentável. De tirar as imensas massas da pobreza.
O que está realmente passando em nossas cabeças? O modelo de desenvolvimento e consumo das sociedades ricas é o que temos em mente? Faço esta pergunta: o que aconteceria com este planeta se os indianos tivessem a mesma proporção de carros por família que os alemães? Quanto oxigênio nos restaria para respirar? Mais claro ainda: o mundo tem hoje os elementos materiais necessários para permitir que 7 ou 8 bilhões de pessoas possam ter o mesmo nível de consumo e desperdício que as sociedades ocidentais mais opulentas? Isso seria possível? Ou será que um dia teremos que começar outro tipo de discussão?
Porque nós criamos esta civilização em que vivemos: filha do mercado, filha da competição, que nos trouxe um progresso material portentoso e explosivo. Mas a economia de mercado criou sociedades de mercado. E nos trouxe esta globalização, que significa olhar para todo o planeta.
Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa? É possível falar de solidariedade e dizer que “estamos todos juntos” em uma economia baseada na competição selvagem? Até onde vai a nossa fraternidade?
Não digo isso para negar a importância deste evento. Pelo contrário: o desafio que temos pela frente é de proporções colossais. E a grande crise não é ecológica, é política.
O ser humano não governa hoje as forças que desencadeou, mas sim as forças que desencadeou governam o ser humano. E a vida. Porque não viemos ao planeta apenas para nos desenvolvermos, assim, de forma geral. Viemos ao planeta para ser felizes. Porque a vida é curta e passa. E nenhum bem vale tanto quanto a vida — isso é o essencial.
Mas se a vida vai escapar por entre os dedos, trabalhando e trabalhando para consumir um “extra”... e a sociedade de consumo é o motor — porque, no fim das contas, se o consumo para, a economia para, e se a economia para, aparece o fantasma da estagnação para cada um de nós —, esse hiperconsumo é o que está agredindo o planeta.
E é preciso gerar esse hiperconsumo, fazendo com que as coisas durem pouco, porque é preciso vender muito. E uma lâmpada, então, não pode durar mais que mil horas acesa. Mas há lâmpadas que podem durar cem mil horas! Mas essas não podem ser fabricadas, porque o problema é o mercado, porque temos que trabalhar e sustentar uma civilização do “use e jogue fora”, e assim seguimos em um círculo vicioso.
Esses são problemas de natureza política que nos indicam que é hora de começar a lutar por outra cultura.
Não se trata de voltar à época das cavernas, nem de fazer um “monumento ao atraso”. Mas não podemos seguir indefinidamente sendo governados pelo mercado — temos que governar o mercado.
Por isso digo, na minha humilde maneira de pensar, que o problema que temos é de caráter político. Os antigos pensadores — Epicuro, Sêneca ou mesmo os aimarás — definiam: “pobre não é quem tem pouco, mas sim quem precisa infinitamente de muito e deseja cada vez mais.”
Essa é uma chave de caráter cultural.
Assim, quero saudar o esforço e os acordos que estão sendo feitos. E vou apoiá-los, como governante. Sei que algumas das coisas que estou dizendo “soam mal”. Mas temos que entender que a crise da água e a agressão ao meio ambiente não são a causa. A causa é o modelo de civilização que construímos. E o que temos que revisar é a nossa forma de viver.
Eu pertenço a um pequeno país muito bem-dotado de recursos naturais para viver. No meu país, há pouco mais de 3 milhões de habitantes. Mas há cerca de 13 milhões de vacas, das melhores do mundo. E uns 8 ou 10 milhões de excelentes ovelhas. Meu país é exportador de alimentos, de laticínios, de carne. É uma planície suavemente ondulada e quase 90% do seu território é aproveitável.
Meus companheiros trabalhadores lutaram muito pela jornada de 8 horas. E agora estão conseguindo jornadas de 6 horas. Mas quem trabalha 6 horas, consegue dois empregos. E, portanto, trabalha mais que antes. Por quê? Porque tem que pagar uma porção de parcelas: da moto, do carro, e paga parcelas e parcelas, e quando se dá conta, é um velho reumático — como eu — a quem a vida escapou.
E a gente se pergunta: esse é o destino da vida humana?
Essas coisas que digo são muito simples: o desenvolvimento não pode ser contra a felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana: do amor pela vida, das relações humanas, do cuidado com os filhos, de ter amigos, de ter o essencial.
Justamente porque esse é o maior tesouro que temos: a felicidade. Quando lutamos pelo meio ambiente, temos que lembrar que o primeiro elemento do meio ambiente se chama felicidade humana.
Ariel: 'Mujica criticava do imperialismo americano até a ditadura venezuelana'
Pablo Porciuncula/AFP
Durante a Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - realizada Rio de Janeiro em 2012, o então presidente do Uruguai José Pepe Mujica fez um de seus discursos mais memoráveis de sua trajetória política.
Mujica, que morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, fez - na ocasião - diversos questionamentos sobre o hiperconsumo e o papel dos líderes globais para conquistar um equilíbrio entre o mercado e a sustentabilidade.
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'A política me encanta, mas a vida me encanta mais': relembre frases de Pepe Mujica
“Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa? É possível falar de solidariedade e dizer que “estamos todos juntos” em uma economia baseada na competição selvagem? Até onde vai a nossa fraternidade?”, disse.
Em sua conclusão, Pepe Mujica reflete sobre o que buscam todos os povos, segundo ele: a felicidade.
Leia, abaixo, a íntegra de José Mujica na cúpula do Rio+20:
Autoridades presentes de todas as partes do mundo e organismos, muito obrigado. Muito obrigado ao povo do Brasil e à sua senhora presidenta, Dilma Rousseff. Muito obrigado à boa fé que, com certeza, foi manifestada por todos os oradores que me antecederam.
Expressamos a vontade sincera, como governantes, de apoiar todos os acordos que esta, nossa pobre humanidade, possa firmar.
No entanto, permitam-me fazer algumas perguntas em voz alta.
Durante toda a tarde falou-se de desenvolvimento sustentável. De tirar as imensas massas da pobreza.
O que está realmente passando em nossas cabeças? O modelo de desenvolvimento e consumo das sociedades ricas é o que temos em mente? Faço esta pergunta: o que aconteceria com este planeta se os indianos tivessem a mesma proporção de carros por família que os alemães? Quanto oxigênio nos restaria para respirar? Mais claro ainda: o mundo tem hoje os elementos materiais necessários para permitir que 7 ou 8 bilhões de pessoas possam ter o mesmo nível de consumo e desperdício que as sociedades ocidentais mais opulentas? Isso seria possível? Ou será que um dia teremos que começar outro tipo de discussão?
Porque nós criamos esta civilização em que vivemos: filha do mercado, filha da competição, que nos trouxe um progresso material portentoso e explosivo. Mas a economia de mercado criou sociedades de mercado. E nos trouxe esta globalização, que significa olhar para todo o planeta.
Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa? É possível falar de solidariedade e dizer que “estamos todos juntos” em uma economia baseada na competição selvagem? Até onde vai a nossa fraternidade?
Não digo isso para negar a importância deste evento. Pelo contrário: o desafio que temos pela frente é de proporções colossais. E a grande crise não é ecológica, é política.
O ser humano não governa hoje as forças que desencadeou, mas sim as forças que desencadeou governam o ser humano. E a vida. Porque não viemos ao planeta apenas para nos desenvolvermos, assim, de forma geral. Viemos ao planeta para ser felizes. Porque a vida é curta e passa. E nenhum bem vale tanto quanto a vida — isso é o essencial.
Mas se a vida vai escapar por entre os dedos, trabalhando e trabalhando para consumir um “extra”... e a sociedade de consumo é o motor — porque, no fim das contas, se o consumo para, a economia para, e se a economia para, aparece o fantasma da estagnação para cada um de nós —, esse hiperconsumo é o que está agredindo o planeta.
E é preciso gerar esse hiperconsumo, fazendo com que as coisas durem pouco, porque é preciso vender muito. E uma lâmpada, então, não pode durar mais que mil horas acesa. Mas há lâmpadas que podem durar cem mil horas! Mas essas não podem ser fabricadas, porque o problema é o mercado, porque temos que trabalhar e sustentar uma civilização do “use e jogue fora”, e assim seguimos em um círculo vicioso.
Esses são problemas de natureza política que nos indicam que é hora de começar a lutar por outra cultura.
Não se trata de voltar à época das cavernas, nem de fazer um “monumento ao atraso”. Mas não podemos seguir indefinidamente sendo governados pelo mercado — temos que governar o mercado.
Por isso digo, na minha humilde maneira de pensar, que o problema que temos é de caráter político. Os antigos pensadores — Epicuro, Sêneca ou mesmo os aimarás — definiam: “pobre não é quem tem pouco, mas sim quem precisa infinitamente de muito e deseja cada vez mais.”
Essa é uma chave de caráter cultural.
Assim, quero saudar o esforço e os acordos que estão sendo feitos. E vou apoiá-los, como governante. Sei que algumas das coisas que estou dizendo “soam mal”. Mas temos que entender que a crise da água e a agressão ao meio ambiente não são a causa. A causa é o modelo de civilização que construímos. E o que temos que revisar é a nossa forma de viver.
Eu pertenço a um pequeno país muito bem-dotado de recursos naturais para viver. No meu país, há pouco mais de 3 milhões de habitantes. Mas há cerca de 13 milhões de vacas, das melhores do mundo. E uns 8 ou 10 milhões de excelentes ovelhas. Meu país é exportador de alimentos, de laticínios, de carne. É uma planície suavemente ondulada e quase 90% do seu território é aproveitável.
Meus companheiros trabalhadores lutaram muito pela jornada de 8 horas. E agora estão conseguindo jornadas de 6 horas. Mas quem trabalha 6 horas, consegue dois empregos. E, portanto, trabalha mais que antes. Por quê? Porque tem que pagar uma porção de parcelas: da moto, do carro, e paga parcelas e parcelas, e quando se dá conta, é um velho reumático — como eu — a quem a vida escapou.
E a gente se pergunta: esse é o destino da vida humana?
Essas coisas que digo são muito simples: o desenvolvimento não pode ser contra a felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana: do amor pela vida, das relações humanas, do cuidado com os filhos, de ter amigos, de ter o essencial.
Justamente porque esse é o maior tesouro que temos: a felicidade. Quando lutamos pelo meio ambiente, temos que lembrar que o primeiro elemento do meio ambiente se chama felicidade humana.
Ariel: 'Mujica criticava do imperialismo americano até a ditadura venezuelana'
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