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O que explica a 'febre' por loja do BTS e filas imensas para viver experiências 'instagramáveis' em SP

O que explica a 'febre' por loja do BTS e filas imensas para viver experiências 'instagramáveis' em SP
Inauguração de estabelecimentos arrasta multidões para filas quilométricas em busca de experiências exclusivas. Especialistas explicam o motivo. Os portões da loja temporária, que funciona até o dia 10 de agosto, abriram oficialmente às 10h nesta sexta-feia (13).
Reprodução/Instagram
O Shopping Cidade São Paulo, na Avenida Paulista, inaugurou nesta sexta-feira (13) uma loja com produtos oficiais do BTS — o maior grupo de K-pop do mundo — e, antes mesmo da abertura, fãs já aguardavam em filas que dobravam o quarteirão para ter acesso aos itens de seus ídolos.
Os vídeos das filas registrados pelos fãs do grupo coreano inundaram as redes sociais. No Instagram e no TikTok, a dançarina Mari Santos contou que chegou às 5h, quando os termômetros marcavam 10 °C em São Paulo, para garantir seu lugar na fila.
Os portões da loja temporária, que funciona até 10 de agosto, abriram oficialmente às 10h. Para organizar a multidão, os funcionários do shopping escreveram à caneta nas mãos dos fãs seu lugar na fila. Mari foi o número 94.
"O dia está amanhecendo e está ficando tudo bem. Estamos aqui na fila e vão distribuir as senhas às 7h. Mas já estou com carimbo, porque ali na frente já estava meio caótico", diz ela em um vídeo publicado no Instagram.
Na loja, estão à venda produtos como roupas, canecas e chaveiros. Os preços vão de R$ 27 a R$ 1.700.
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Esse cenário, marcado por filas imensas e a busca por experiências "instagramáveis", não é novidade na capital paulista.
No mês passado, a rede de rosquinhas Krispy Kreme enlouqueceu o público encantado pelo "lifestyle" norte-americano com a inauguração de sua loja em São Paulo. As filas chegaram a 4 horas de espera.
Quando o confeiteiro Buddy Valastro, celebridade do programa de televisão criado nos Estados Unidos "Cake Boss", abriu a Carlo's Bakery em 2017 em São Paulo, as pessoas correram para comprar doces, ou melhor, "ter uma experiência", como comunicou o empresário Marcos Kherlakian, sócio do confeiteiro, na época. As filas passaram de uma hora.
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VIACOM via REUTERS
O mesmo aconteceu com a cafeteira We Coffee, em 2020, que arrastou multidões ao bairro da Liberdade e aos Jardins, e o restaurante temático do Bob Esponja, que prometeu fazer os clientes se sentirem na Fenda do Biquíni com a abertura da loja no final de 2024.
A socióloga Camila Crumo, especialista em sociologia do consumo e sociologia da alimentação, explica que a febre por lojas com filas imensas está ligada a muitos fatores. Mas ela destaca que vender a "experiência" em vez de somente a refeição cria uma espécie de ritual.
"Quando você participa de uma refeição, de um jantar, que não tem simplesmente o objetivo de matar a sua fome, te nutrir biologicamente, você está envolvido num tipo de ritual, e ali você transforma a simples função biológica do comer, para se alimentar, para sobreviver, em um 'comer social,' e isso envolve o consumo de um determinado discurso, de símbolos, de status", diz.
Cafeteira We Coffee, que arrastou multidões ao bairro da Liberdade, em São Paulo
Reprodução
Força da indústria
Outro fator que chamou a atenção da especialista que investiga o campo gastronômico e a profissão dos críticos no país é a influência cultural e econômica, o acesso a um bem que "até então era inacessível". Segundo ela, isso faz com que os consumidores julguem que o produto é valioso.
"Chegam as rosquinhas americanas novas no mercado e a pessoa diz: 'Meu Deus, eu nunca pude comer uma rosquinha dos Estados Unidos'. Tem uma autenticidade por trás disso que as pessoas querem consumir. Mesmo que a gente tenha outras rosquinhas aqui no Brasil, não é a rosquinha americana. Então a própria escassez do produto leva as pessoas a se interessarem muito por aquilo, têm a disposição de ir atrás", diz.
Segundo ela, ao incorporar essa ideia do "estilo de vida desejável", algumas pessoas querem viver como "protagonistas do filme que admiram" e ter acesso aos luxos que seus ídolos têm. A socióloga, no entanto, ressalta que o fenômeno não é recente, mas as redes sociais intensificaram esse movimento pela urgência dos assuntos.
Pesquisadora diz que há "dominação cultural dos Estados Unidos no Brasil" e no mundo, que só acontece devido aos recursos financeiros do país norte-americano
Divulgação / Reprodução / M2 Comunicação
"Tudo muito efêmero, as modas acontecem e passam muito rápido nas 'trends', então cria um senso de urgência maior nas pessoas. Além disso, há a capacidade das marcas de impulsionar um determinado produto ou serviço dentro desse espaço e de bombardear as pessoas com as imagens sobre esses produtos. Fazem com que as pessoas fiquem sabendo que aquilo existe e que tem essa impressão, essa urgência de participar, comer e postar."
A pesquisadora também avalia o que chamou de "dominação cultural dos Estados Unidos no Brasil" e no mundo, que só acontece devido aos recursos financeiros do país norte-americano.
"A influência dos Estados Unidos vem da capacidade de dominar, principalmente, a produção da indústria cultural. Eles têm domínio do mercado de filmes e séries e, dentro desses produtos, promovem o estilo de vida americano como o mais desejável. E a gente vive no Brasil sendo bombardeado por essas informações", diz.
Na entrada principal, onde a fila chegou a uma hora no último dia 9, o cliente acessa a loja e pode personalizar seu pedido. Já na parte dos fundos, onde o atendimento demorou 30 minutos em média, só há a opção das rosquinhas tradicionais.
João de Mari / g1
Brasil com Z
As estudantes de medicina Vitória Tomé, 20, e Laura Gea, 21, encararam a fila do Krispy Kreme em maio. Laura contou que é acostumada a "lugares modinha", principalmente as franquias que vêm "de fora".
“Já fui em vários 'lugares modinha'. Lembro quando o Starbucks abriu aqui no Brasil, esperei muito tempo na fila para comprar algo. O próprio MC Fish, sanduíche de peixe do MC Donald’s, quando voltou, comprei vários na pré-venda pelo aplicativo do restaurante. Se é uma coisa que você já comeu e sabe que é bom, você fica mais ansioso ainda para comer de novo”, diz.
Daniela Klaiman, mestre e palestrante em tecnologia e futurismo que analisa o comportamento do consumidor há mais de 18 anos, analisa que a ideia de o "importado ser mais caro" traz uma sugestão de mais qualidade.
"Até alguns anos atrás a gente tinha uma cultura que dizia: 'o que é de fora do Brasil é melhor do que daqui'. E a gente tinha um olhar como se a parte de fora fosse melhor mesmo", diz.
Ela, no entanto, avalia que nos últimos dez anos, o cenário não é exatamente esse. Segundo a pesquisadora, o orgulho nacional cresceu a partir da ascensão social das classes sociais mais baixas, por meio do acesso ao ensino superior. Com mais dinheiro, essas pessoas acessaram itens que, até então, eram exclusividade da classe média.
"O Brasil foi capa da revista 'Times', teve Copa do Mundo, Olimpíadas, vimos o país decolar, olhávamos para as produções brasileiras e tínhamos orgulho", diz.
"Com todo esse cenário mudando, não só no Brasil, mas mudando o cenário político, uma onda de mudanças, crises, as pessoas ficam mais inseguranças, com medo de aquecimento global, de faltar dinheiro, com medo de absolutamente tudo. A gente vê o oposto de novo voltando. O famoso 'o gringo é melhor'", finaliza.
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