Ciclovias de Niterói batem 'concorrente' paulista e são as mais movimentadas do Brasil; conheça outros modelos de micromobilidade

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A Avenida Marquês do Paraná é a ciclovia mais utilizada do Brasil, segundo a empresa Eco-Counter, responsável pela contagem de ciclistas nas principais vias do país. Assim como a Av. Roberto Silveira, as pistas de Niterói tiveram mais ciclistas em um ano do que a Faria Lima, de São Paulo. Ciclovia da rua Marques do Paraná, em Niterói, bate concorrente paulista e é a mais movimentada do Brasil.
Divulgação
A ciclovia da Avenida Marquês do Paraná, em Niterói, é a mais movimentada do Brasil. A pista exclusiva para quem anda de bicicleta ou autopropelidos teve mais usuários do que a Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, que historicamente sempre foi a ciclovia mais utilizadas do país.
Também ultrapassou a Faria Lima outra ciclovia de Niterói, a Avenida Roberto Silveira. Os dados são da empresa Eco-Counter Brasil, responsável pelo monitoramento e contagem de ciclistas e pedestres nas principais ciclovias do país.
Inaugurada em 2024, a ciclovia da Marques do Paraná, via que liga o bairro de Icaraí ao Centro da cidade, registrou a passagem de 1.526.807 ciclistas, entre os dias 24 de março de 2024 e 24 de março desse ano.
No mesmo período, a Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, contabilizou 1.192.711 usuários. São cerca de 330 mil ciclistas a menos do que o total registrado na ciclovia niteroiense.
"A ciclovia de Niterói é a mais movimentada do Brasil sem duvida. O sistema de contagem é igual ao da Faria Lima. Foi uma grande conquista pra gente e mostra que estamos no caminho certo", celebrou o coordenador do projeto Niterói de Bicicleta, Filipe Simões.
A ciclovia da Avenida Roberto Silveira teve 1.474.104 ciclistas em um ano.
Divulgação
Segunda ciclovia mais movimentada do país de acordo com o estudo, a Avenida Roberto Silveira, no mesmo período analisado teve 1.474.104 ciclistas.
"O nosso diferencial é ter uma estrutura de governo formada por ciclistas que estão construindo essa infraestrutura e incentivando uma cultura da bicicleta na cidade. E o melhor é que essa ideia vem sendo abraçada pela população", comentou Filipe Simões.
"Em 2015, a Roberto Silveira tinha média de 900 bicicletas passando por dia. Na última semana, foram mais de 8 mil. É um modelo que faz sentido para as pessoas, completou Simões.
Micromobilidade
Nas últimas semanas, o g1 ouviu especialistas e publicou uma série de reportagens sobre micromobilidade, com foco na situação do Rio de Janeiro.
Rio tem alta de 702% de acidentes com veículos de micromobilidade, como patinetes e ciclomotores
Dois anos após resolução nacional, Rio ainda não regulamentou regras para patinetes, bicicletas, autopropelidos e ciclomotores
Patinetes, bicicletas elétricas, autopropelidos e ciclomotores: saiba como diferenciar cada veículo
Ciclomotor em ciclovias pode gerar multa de R$ 880: saiba as regras para bicicletas, patinetes e autopropelidos
➡️ O que é micromobilidade? Trata-se do uso de meios de transporte leves e individuais. Entre eles, estão as bicicletas elétricas (com motor auxiliar, mas sem acelerador, só com pedal), os veículos autopropelidos (patinetes e bicicletas elétricas com acelerador, com ou sem pedal) e os ciclomotores (maiores, mais potentes, que exigem emplacamento e carteira de habilitação). Estes últimos não podem circular nas ciclovias.
Contran divulga regras para o uso de bicicletas elétricas e ciclomotores
Independente dos problemas, a micromobilidade apresenta diversos pontos positivos cruciais para o desenvolvimento de uma cidade e a melhor qualidade de vida de seus moradores. Todos esses novos veículos leves são alternativas eficientes e de baixo carbono aos veículos particulares, especialmente para deslocamentos urbanos de curta distância, como destaca Danielle Hoppe, Gerente de Mobilidade Ativa do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP).
"Os carros ocupam entre 60% e 70% do espaço público de uma cidade. É desproporcional o espaço que um carro ocupa para transportar uma pessoa de 70 kg. Não faz sentido a maneira que utilizamos o carro hoje em dia", comentou Danielle Hoppe.
"Aumenta a qualidade de vida poder acessar os lugares, parques e praças com mais facilidade. Do ponto de vista mais conceitual, todo deslocamento que a gente não precisar de um carro para fazer é bem-vindo. A cidade foi construída pensando só no automóvel e agora temos que saber como absorver esses novos veículos", acrescentou Hoppe.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia, apenas os carros particulares e vans são responsáveis por 10% de todas as emissões de CO2 do planeta. E a questão ambiental não é a única vantagem do sistema. De acordo com o ITDP, entre as vantagens de um sistema de micromobilidade bem aplicado estão:
Expansão da área urbana que pode ser alcançada sem a necessidade de um automóvel;
diminuição das emissões de gases de efeito estufa;
melhora da qualidade do ar e da saúde geral da população, reduzindo a poluição;
redução do fluxo de trânsito e maior eficiência do transporte, aumentando a diversificação das opções disponíveis para as pessoas;
redução do tempo de deslocamento diário;
maior facilidade para trabalhadores de serviços de entrega;
Exemplos de sucesso
Com todos os benefícios da micromobilidade, algumas cidades passaram a apostar em uma política de integração entre o modelo rodoviário tradicional e a infraestrutura de ciclovias. O objetivo é incentivar deslocamentos com bicicletas e outros veículos leves.
Niterói ampliou em mais de dez vezes sua infraestrutura de ciclovias nos últimos anos.
Divulgação
Todos os especialistas ouvidos pelo g1 concordaram que o modelo adotado por Niterói, na Região Metropolitana do Rio, é eficiente e deveria ser replicado em outros municípios.
Em 2013, o município elaborou algumas diretrizes para que os ciclistas tivessem mais segurança para circular pela cidade, não só por lazer, mas principalmente para efetuar seus deslocamentos diários.
Na época, Niterói contava com apenas 10 km de rede cicloviária. Dez anos depois, a estrutura foi multiplicada e atingiu os 86 km de vias dedicadas aos ciclistas.
O Plano Cicloviário Participativo de Niterói foi desenvolvido através de um processo colaborativo, que contou com a participação da Associação Transporte Ativo. Entre as metas estabelecidas estavam:
Ampliar e requalificar a malha cicloviária de Niterói;
gerir o Bicicletário Araribóia e instalar novos bicicletários;
implantar novos paraciclos;
implantar um Sistema de Bicicletas Compartilhadas;
e realizar campanhas educativas sobre uso da bicicleta.
"Niterói vem dando um show em infraestrutura e espaço para bicicleta. Desde 2016, com o programa Niterói de Bicicleta, eles tiraram 22 vagas de carro para fazer 400 vagas de bicicleta, com o Bicicletário Araribóia. O Túnel do Jardim Oceânico foi feito já com uma ciclovia ótima. Eles vêm expandindo a malha cicloviária constantemente", comentou Luiz Saldanha, diretor executivo da Aliança Bike.
"Eles fizeram uma ciclovia na Marques de Paraná que foi uma grande conquista. Ter uma ciclovia que conecta a região da Baia de Guanabara com o Centro é ótimo", ressaltou o especialista.
Para o coordenador do projeto Niterói de Bicicleta, Filipe Simões, o objetivo é deixar de enxergar a cidade como uma autopista e oferecer possibilidades de deslocamento seguro, com menos impacto ambiental.
As ciclovias de Niterói são sucesso entre os moradores
Divulgação
Filipe também reforçou a importância da cidade ter abraçado a ideia. Segundo ele, a política de expansão das ciclovias não será modificada mesmo com uma eventual mudança de gestão na prefeitura.
"A gente teve uma sociedade civil atuante, com o governo comprometido, com os gestores adeptos da causa. Os dois prefeitos, Rodrigo Neves e Axel Grael, sempre foram muito apoiadores e as pessoas responderam a isso. O espaço nas vias é finito, então precisamos acomodar os demais modais, o que é sempre complexo e precisa de dialogo. Mas o que vemos é que a demanda ta crescendo. Quem reclamava antes que estava perdendo a vaga de carro, hoje é super a favor das ciclovias", disse Simões.
"Na eleição de 2020, a gente teve a certeza que estávamos no caminho certo. Não teve nenhum candidato a prefeito que pretendia retroceder na pauta cicloviária. Todos queriam ampliar as ciclovias. Isso é um indicador muito importante", comentou.
Bicicleta compartilhada
Niterói também possui o 'Nitbike', um sistema público de bicicletas compartilhadas subsidiado pela prefeitura, que oferece viagens gratuitas de até uma hora. O sistema conta com 50 estações (46 para adultos e quatro para crianças) e cerca de 600 bicicletas.
"Hoje esse sistema é um dos mais movimentados no Brasil. Cada bike faz 14 viagens todos os dias", comentou Simões.
As estações estão localizadas em um raio de 5 km a partir do Centro de Niterói, abrangendo bairros da região Norte e as praias da Baía. O horário de funcionamento do sistema é das 6h às 0h, de segunda a domingo, sendo que a devolução das bicicletas pode ser feita durante 24 horas.
Segundo os gestores municipais, desde 2019, Niterói não tem nenhuma vítima fatal de acidentes envolvendo ciclistas na cidade.
"Os acidentes tendem a diminuir quando o número de ciclistas aumenta. Com o tempo, o motorista acaba se preparando e se acostumando com o ciclista e a estrutura das ciclovias. Ele se acostuma a ter uma distância segura dos ciclistas e isso ajuda muito", disse Filipe Simões.
Apesar dos avanços, a cidade também enxerga desafios na fiscalização desses condutores, mas aposta em campanhas educativas e sinalização eficiente para evitar acidentes.
"O que a nossa regulamentação fez foi reforçar que o ciclomotor não pode usar as ciclovias e determinar uma velocidade máxima para os outros", disse Filipe.
"O fluxo de bicicletas acaba limitando a velocidade em uma malha cicloviária segura. E a cidade já está acostumada com a presença do ciclista, muito por conta desse investimento em campanhas de educação. Mesmo assim, a fiscalização ainda é um desafio", completou.
Bicicletário Arariboia em Niterói dobrou de tamanho em abril de 2025
Divulgação
No Rio, onde a regulamentação das regras para utilização das ciclovias ainda não foi feita pela prefeitura, o número de atendimentos a pacientes envolvidos em acidentes com veículos de micromobilidade aumentou 702% em um ano.
Segundo o coordenador Filipe Simões, o futuro de Niterói passa pela ampliação da rede cicloviária e o fortalecimento da cultura da bicicleta no município.
"Reforçar a cultura da bicicleta é o maior desafio. Construir ciclovia, desenvolver campanhas, manter o diálogo é importante. Sem dúvidas, mudar a questão cultural da cidade é nosso grande objetivo e estamos no caminho", comentou Simões.
De Paris à Bogotá
Além do projeto que transformou a cidade de Niterói, outros exemplos de sucesso estão espalhados pelo mundo e podem inspirar as cidades brasileiras.
Bogotá, na Colômbia, talvez seja o modelo de cidade que mais se aproxima da realidade do Rio de Janeiro e também foi palco de uma transformação a favor das bicicletas.
Desde 1974, a capital colombiana implementou o projeto Ciclovía, um evento dominical sem carros que se tornou uma tradição, demonstrando os benefícios da mobilidade ativa.
A iniciativa abriu 120 quilômetros de ruas para pedestres e ciclistas, atraindo mais de 1,5 milhão de participantes semanalmente. Essa ação pioneira permitiu aos cidadãos experimentarem as ruas de uma nova forma, evidenciando a importância de espaços seguros para caminhada e ciclismo.
Bogotá também desenvolveu uma extensa rede de ciclovias permanentes, a Red de Ciclorrutas, que conta atualmente com mais de 593 quilômetros.
Divulgação
Segundo o estudo 'Lições Aprendidas com o Planejamento Integral da Mobilidade Urbana de Bogotá', publicado no Brasil pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), o projeto de Bogotá transformou a percepção do espaço urbano aos domingos, oferecendo uma vasta área para atividades não motorizadas.
A partir de 2000, com a inauguração do sistema do BRT TransMilenio, Bogotá intensificou seus esforços na integração da bicicleta com o transporte público. A cidade investiu na criação de estacionamentos seguros para bicicletas nas estações e terminais do BRT, facilitando a combinação de diferentes modais de transporte.
Essa medida visa tornar o transporte público mais acessível e abrangente, incentivando os usuários a utilizarem a bicicleta para o primeiro e o último trecho de suas viagens. Bogotá também desenvolveu uma extensa rede de ciclovias permanentes, a Red de Ciclorrutas, que conta atualmente com mais de 593 quilômetros.
Em 2021, a cidade colombiana formalizou a Política Pública da Bicicleta, estabelecendo diretrizes para melhorar as condições para ciclistas, com foco em segurança e inclusão. A política prevê alocação de recursos até 2039 e prioriza a bicicleta como meio de transporte, autorizando a redistribuição do espaço viário para a criação de mais ciclovias.
Pessoas andam de bicicleta em ciclovia feita durante a quarentena em Paris
Christophe Ena/AP
De acordo com o ITDP, a cidade demonstra liderança em mobilidade urbana sustentável na América Latina, possuindo uma rede cicloviária proporcionalmente maior que a do Rio de Janeiro, com aproximadamente 7,91 quilômetros para cada 100 mil habitantes, enquanto o Rio possui 5,1 km na mesma proporção.
De acordo com Danielle Hoppe, Gerente de Mobilidade Ativa do ITDP, Paris e Londres também são exemplos muito positivos. As duas cidades apostaram na retirada de estacionamentos e fechamento de acessos para carros, liberando espaço para ciclistas e pedestres.
"Paris tem avançado muito nesse sentido. A cidade tem bancado muitas decisões, como retiradas de estacionamentos, fechando acesso de carros e liberando para ciclistas e pedestres. Londres, tem exemplos muitos positivos também, como ciclovias expressas e uma rede muito consistente e segura para os usuários", analisou Hoppe.
A especialista ainda mencionou Buenos Aires, a capital da Argentina, como um modelo de avanço na micromobilidade, com a criação de redes de ciclovias paralelas ao BRT nos últimos 10 anos.
Divulgação
A ciclovia da Avenida Marquês do Paraná, em Niterói, é a mais movimentada do Brasil. A pista exclusiva para quem anda de bicicleta ou autopropelidos teve mais usuários do que a Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, que historicamente sempre foi a ciclovia mais utilizadas do país.
Também ultrapassou a Faria Lima outra ciclovia de Niterói, a Avenida Roberto Silveira. Os dados são da empresa Eco-Counter Brasil, responsável pelo monitoramento e contagem de ciclistas e pedestres nas principais ciclovias do país.
Inaugurada em 2024, a ciclovia da Marques do Paraná, via que liga o bairro de Icaraí ao Centro da cidade, registrou a passagem de 1.526.807 ciclistas, entre os dias 24 de março de 2024 e 24 de março desse ano.
No mesmo período, a Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, contabilizou 1.192.711 usuários. São cerca de 330 mil ciclistas a menos do que o total registrado na ciclovia niteroiense.
"A ciclovia de Niterói é a mais movimentada do Brasil sem duvida. O sistema de contagem é igual ao da Faria Lima. Foi uma grande conquista pra gente e mostra que estamos no caminho certo", celebrou o coordenador do projeto Niterói de Bicicleta, Filipe Simões.
A ciclovia da Avenida Roberto Silveira teve 1.474.104 ciclistas em um ano.
Divulgação
Segunda ciclovia mais movimentada do país de acordo com o estudo, a Avenida Roberto Silveira, no mesmo período analisado teve 1.474.104 ciclistas.
"O nosso diferencial é ter uma estrutura de governo formada por ciclistas que estão construindo essa infraestrutura e incentivando uma cultura da bicicleta na cidade. E o melhor é que essa ideia vem sendo abraçada pela população", comentou Filipe Simões.
"Em 2015, a Roberto Silveira tinha média de 900 bicicletas passando por dia. Na última semana, foram mais de 8 mil. É um modelo que faz sentido para as pessoas, completou Simões.
Micromobilidade
Nas últimas semanas, o g1 ouviu especialistas e publicou uma série de reportagens sobre micromobilidade, com foco na situação do Rio de Janeiro.
Rio tem alta de 702% de acidentes com veículos de micromobilidade, como patinetes e ciclomotores
Dois anos após resolução nacional, Rio ainda não regulamentou regras para patinetes, bicicletas, autopropelidos e ciclomotores
Patinetes, bicicletas elétricas, autopropelidos e ciclomotores: saiba como diferenciar cada veículo
Ciclomotor em ciclovias pode gerar multa de R$ 880: saiba as regras para bicicletas, patinetes e autopropelidos
➡️ O que é micromobilidade? Trata-se do uso de meios de transporte leves e individuais. Entre eles, estão as bicicletas elétricas (com motor auxiliar, mas sem acelerador, só com pedal), os veículos autopropelidos (patinetes e bicicletas elétricas com acelerador, com ou sem pedal) e os ciclomotores (maiores, mais potentes, que exigem emplacamento e carteira de habilitação). Estes últimos não podem circular nas ciclovias.
Contran divulga regras para o uso de bicicletas elétricas e ciclomotores
Independente dos problemas, a micromobilidade apresenta diversos pontos positivos cruciais para o desenvolvimento de uma cidade e a melhor qualidade de vida de seus moradores. Todos esses novos veículos leves são alternativas eficientes e de baixo carbono aos veículos particulares, especialmente para deslocamentos urbanos de curta distância, como destaca Danielle Hoppe, Gerente de Mobilidade Ativa do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP).
"Os carros ocupam entre 60% e 70% do espaço público de uma cidade. É desproporcional o espaço que um carro ocupa para transportar uma pessoa de 70 kg. Não faz sentido a maneira que utilizamos o carro hoje em dia", comentou Danielle Hoppe.
"Aumenta a qualidade de vida poder acessar os lugares, parques e praças com mais facilidade. Do ponto de vista mais conceitual, todo deslocamento que a gente não precisar de um carro para fazer é bem-vindo. A cidade foi construída pensando só no automóvel e agora temos que saber como absorver esses novos veículos", acrescentou Hoppe.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia, apenas os carros particulares e vans são responsáveis por 10% de todas as emissões de CO2 do planeta. E a questão ambiental não é a única vantagem do sistema. De acordo com o ITDP, entre as vantagens de um sistema de micromobilidade bem aplicado estão:
Expansão da área urbana que pode ser alcançada sem a necessidade de um automóvel;
diminuição das emissões de gases de efeito estufa;
melhora da qualidade do ar e da saúde geral da população, reduzindo a poluição;
redução do fluxo de trânsito e maior eficiência do transporte, aumentando a diversificação das opções disponíveis para as pessoas;
redução do tempo de deslocamento diário;
maior facilidade para trabalhadores de serviços de entrega;
Exemplos de sucesso
Com todos os benefícios da micromobilidade, algumas cidades passaram a apostar em uma política de integração entre o modelo rodoviário tradicional e a infraestrutura de ciclovias. O objetivo é incentivar deslocamentos com bicicletas e outros veículos leves.
Niterói ampliou em mais de dez vezes sua infraestrutura de ciclovias nos últimos anos.
Divulgação
Todos os especialistas ouvidos pelo g1 concordaram que o modelo adotado por Niterói, na Região Metropolitana do Rio, é eficiente e deveria ser replicado em outros municípios.
Em 2013, o município elaborou algumas diretrizes para que os ciclistas tivessem mais segurança para circular pela cidade, não só por lazer, mas principalmente para efetuar seus deslocamentos diários.
Na época, Niterói contava com apenas 10 km de rede cicloviária. Dez anos depois, a estrutura foi multiplicada e atingiu os 86 km de vias dedicadas aos ciclistas.
O Plano Cicloviário Participativo de Niterói foi desenvolvido através de um processo colaborativo, que contou com a participação da Associação Transporte Ativo. Entre as metas estabelecidas estavam:
Ampliar e requalificar a malha cicloviária de Niterói;
gerir o Bicicletário Araribóia e instalar novos bicicletários;
implantar novos paraciclos;
implantar um Sistema de Bicicletas Compartilhadas;
e realizar campanhas educativas sobre uso da bicicleta.
"Niterói vem dando um show em infraestrutura e espaço para bicicleta. Desde 2016, com o programa Niterói de Bicicleta, eles tiraram 22 vagas de carro para fazer 400 vagas de bicicleta, com o Bicicletário Araribóia. O Túnel do Jardim Oceânico foi feito já com uma ciclovia ótima. Eles vêm expandindo a malha cicloviária constantemente", comentou Luiz Saldanha, diretor executivo da Aliança Bike.
"Eles fizeram uma ciclovia na Marques de Paraná que foi uma grande conquista. Ter uma ciclovia que conecta a região da Baia de Guanabara com o Centro é ótimo", ressaltou o especialista.
Para o coordenador do projeto Niterói de Bicicleta, Filipe Simões, o objetivo é deixar de enxergar a cidade como uma autopista e oferecer possibilidades de deslocamento seguro, com menos impacto ambiental.
As ciclovias de Niterói são sucesso entre os moradores
Divulgação
Filipe também reforçou a importância da cidade ter abraçado a ideia. Segundo ele, a política de expansão das ciclovias não será modificada mesmo com uma eventual mudança de gestão na prefeitura.
"A gente teve uma sociedade civil atuante, com o governo comprometido, com os gestores adeptos da causa. Os dois prefeitos, Rodrigo Neves e Axel Grael, sempre foram muito apoiadores e as pessoas responderam a isso. O espaço nas vias é finito, então precisamos acomodar os demais modais, o que é sempre complexo e precisa de dialogo. Mas o que vemos é que a demanda ta crescendo. Quem reclamava antes que estava perdendo a vaga de carro, hoje é super a favor das ciclovias", disse Simões.
"Na eleição de 2020, a gente teve a certeza que estávamos no caminho certo. Não teve nenhum candidato a prefeito que pretendia retroceder na pauta cicloviária. Todos queriam ampliar as ciclovias. Isso é um indicador muito importante", comentou.
Bicicleta compartilhada
Niterói também possui o 'Nitbike', um sistema público de bicicletas compartilhadas subsidiado pela prefeitura, que oferece viagens gratuitas de até uma hora. O sistema conta com 50 estações (46 para adultos e quatro para crianças) e cerca de 600 bicicletas.
"Hoje esse sistema é um dos mais movimentados no Brasil. Cada bike faz 14 viagens todos os dias", comentou Simões.
As estações estão localizadas em um raio de 5 km a partir do Centro de Niterói, abrangendo bairros da região Norte e as praias da Baía. O horário de funcionamento do sistema é das 6h às 0h, de segunda a domingo, sendo que a devolução das bicicletas pode ser feita durante 24 horas.
Segundo os gestores municipais, desde 2019, Niterói não tem nenhuma vítima fatal de acidentes envolvendo ciclistas na cidade.
"Os acidentes tendem a diminuir quando o número de ciclistas aumenta. Com o tempo, o motorista acaba se preparando e se acostumando com o ciclista e a estrutura das ciclovias. Ele se acostuma a ter uma distância segura dos ciclistas e isso ajuda muito", disse Filipe Simões.
Apesar dos avanços, a cidade também enxerga desafios na fiscalização desses condutores, mas aposta em campanhas educativas e sinalização eficiente para evitar acidentes.
"O que a nossa regulamentação fez foi reforçar que o ciclomotor não pode usar as ciclovias e determinar uma velocidade máxima para os outros", disse Filipe.
"O fluxo de bicicletas acaba limitando a velocidade em uma malha cicloviária segura. E a cidade já está acostumada com a presença do ciclista, muito por conta desse investimento em campanhas de educação. Mesmo assim, a fiscalização ainda é um desafio", completou.
Bicicletário Arariboia em Niterói dobrou de tamanho em abril de 2025
Divulgação
No Rio, onde a regulamentação das regras para utilização das ciclovias ainda não foi feita pela prefeitura, o número de atendimentos a pacientes envolvidos em acidentes com veículos de micromobilidade aumentou 702% em um ano.
Segundo o coordenador Filipe Simões, o futuro de Niterói passa pela ampliação da rede cicloviária e o fortalecimento da cultura da bicicleta no município.
"Reforçar a cultura da bicicleta é o maior desafio. Construir ciclovia, desenvolver campanhas, manter o diálogo é importante. Sem dúvidas, mudar a questão cultural da cidade é nosso grande objetivo e estamos no caminho", comentou Simões.
De Paris à Bogotá
Além do projeto que transformou a cidade de Niterói, outros exemplos de sucesso estão espalhados pelo mundo e podem inspirar as cidades brasileiras.
Bogotá, na Colômbia, talvez seja o modelo de cidade que mais se aproxima da realidade do Rio de Janeiro e também foi palco de uma transformação a favor das bicicletas.
Desde 1974, a capital colombiana implementou o projeto Ciclovía, um evento dominical sem carros que se tornou uma tradição, demonstrando os benefícios da mobilidade ativa.
A iniciativa abriu 120 quilômetros de ruas para pedestres e ciclistas, atraindo mais de 1,5 milhão de participantes semanalmente. Essa ação pioneira permitiu aos cidadãos experimentarem as ruas de uma nova forma, evidenciando a importância de espaços seguros para caminhada e ciclismo.
Bogotá também desenvolveu uma extensa rede de ciclovias permanentes, a Red de Ciclorrutas, que conta atualmente com mais de 593 quilômetros.
Divulgação
Segundo o estudo 'Lições Aprendidas com o Planejamento Integral da Mobilidade Urbana de Bogotá', publicado no Brasil pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), o projeto de Bogotá transformou a percepção do espaço urbano aos domingos, oferecendo uma vasta área para atividades não motorizadas.
A partir de 2000, com a inauguração do sistema do BRT TransMilenio, Bogotá intensificou seus esforços na integração da bicicleta com o transporte público. A cidade investiu na criação de estacionamentos seguros para bicicletas nas estações e terminais do BRT, facilitando a combinação de diferentes modais de transporte.
Essa medida visa tornar o transporte público mais acessível e abrangente, incentivando os usuários a utilizarem a bicicleta para o primeiro e o último trecho de suas viagens. Bogotá também desenvolveu uma extensa rede de ciclovias permanentes, a Red de Ciclorrutas, que conta atualmente com mais de 593 quilômetros.
Em 2021, a cidade colombiana formalizou a Política Pública da Bicicleta, estabelecendo diretrizes para melhorar as condições para ciclistas, com foco em segurança e inclusão. A política prevê alocação de recursos até 2039 e prioriza a bicicleta como meio de transporte, autorizando a redistribuição do espaço viário para a criação de mais ciclovias.
Pessoas andam de bicicleta em ciclovia feita durante a quarentena em Paris
Christophe Ena/AP
De acordo com o ITDP, a cidade demonstra liderança em mobilidade urbana sustentável na América Latina, possuindo uma rede cicloviária proporcionalmente maior que a do Rio de Janeiro, com aproximadamente 7,91 quilômetros para cada 100 mil habitantes, enquanto o Rio possui 5,1 km na mesma proporção.
De acordo com Danielle Hoppe, Gerente de Mobilidade Ativa do ITDP, Paris e Londres também são exemplos muito positivos. As duas cidades apostaram na retirada de estacionamentos e fechamento de acessos para carros, liberando espaço para ciclistas e pedestres.
"Paris tem avançado muito nesse sentido. A cidade tem bancado muitas decisões, como retiradas de estacionamentos, fechando acesso de carros e liberando para ciclistas e pedestres. Londres, tem exemplos muitos positivos também, como ciclovias expressas e uma rede muito consistente e segura para os usuários", analisou Hoppe.
A especialista ainda mencionou Buenos Aires, a capital da Argentina, como um modelo de avanço na micromobilidade, com a criação de redes de ciclovias paralelas ao BRT nos últimos 10 anos.
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