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Morador da periferia de SP tem chance maior de pegar Covid mais de uma vez, diz estudo inédito

Morador da periferia de SP tem chance maior de pegar Covid mais de uma vez, diz estudo inédito
Pesquisa do Hospital Albert Einstein e do Instituto Todos pela Saúde mostra que renda, IDH e presença de favela têm impacto. Resultado acende alerta para outras doenças transmitidas da mesma forma que Covid, como a influenza. Vacinação contra influenza em SP está abaixo da meta
Reprodução
Morador do Jardim Nordeste, quase na ponta da Zona Leste de São Paulo, Ranieri Rangon, de 34 anos, já teve Covid-19 "umas 4 ou 5 vezes" pelos seus cálculos. Professor da rede pública, ele pertence a uma categoria que foi uma das primeiras a voltar ao esquema presencial na pandemia.
O caso dele está entre os mais de 73 mil analisados por um estudo inédito do Hospital Israelita Brasileira Albert Einstein e do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e obtido com exclusividade pelo g1. A pesquisa constatou que a periferia da cidade concentra as maiores taxas de reinfecção da doença.
Não à toa, as regiões nos extremos do município são as de maior vulnerabilidade social e com infraestrutura mais precária. Em contraste, a área central, que conta com uma rede maior de serviços e melhores indicadores sociais, teve os menores índices.
Até a questão espacial tem impacto: trabalhadores que moram na periferia ficaram mais expostos na pandemia porque, além de exercerem atividades em que não dava para fazer home office, ainda percorriam longas distâncias no transporte público até o emprego.
Rangon, por exemplo, conta que, embora morasse perto da escola municipal onde dá aula de geografia, ele convivia com dezenas de alunos cujos pais estavam nessa situação.
Mesmo eu não me locomovendo, os pais dos estudantes precisavam se locomover. Então, eu acabava, inevitavelmente, tendo contato por tabela com muitas pessoas. Não tinha como.
Na família dele, ele não foi o único a ficar mais exposto: a mãe é auxiliar de enfermagem, o pai trabalha como segurança e um irmão é militar – todas funções que só podem ser presenciais.
Professor da rede pública Ranieri Rangon teve Covid várias vezes
Arquivo pessoal
Hoje, o cenário em relação à Covid é menos preocupante, mas os resultados do estudo servem de alerta para outras doenças que têm sintomas e formas de transmissão parecidos, como a gripe e as síndromes respiratórias, atualmente em alta na cidade. (Leia mais abaixo.)
A vacinação contra a influenza ainda está aquém da meta no município, e os pacientes têm enfrentado filas nos prontos-socorros dos hospitais.
O que diz o estudo
Segundo os pesquisadores, fatores como baixa renda, menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - indicador que considera renda, saúde e educação - , e maior presença de favelas estão diretamente associados às taxas mais elevadas de reinfecção.
Foram usados os resultados de diagnóstico confirmado de Covid em exames laboratoriais feitos no Einstein e nas 40 unidades de saúde geridas pelo hospital. Foi contabilizada como reinfecção quando o paciente teve de novo a doença em menos de 90 dias.
Os dados foram cruzados com os indicadores do Mapa da Desigualdade, realizado pela Rede Nossa São Paulo, que analisa diversos aspectos socioeconômicos por distrito.
O objetivo foi identificar o perfil dos pacientes mais suscetíveis à reinfecção por Covid e entender as características associadas – como forma de desenvolver estratégias de prevenção e controle efetivas. O estudo foi divulgado no final de abril na revista científica Clinical Infectious Diseases, publicada pela Oxford University Press.
Segundo Marcelo Bragatte, pesquisador científico do ITpS e um dos autores do estudo, compreender a dinâmica da reinfecção em uma cidade populosa como São Paulo é determinante para desenvolver políticas públicas de saúde eficazes.
Os resultados deixam evidente que as populações mais vulneráveis são mais impactadas pelas emergências sanitárias.
O ITpS é uma entidade sem fins lucrativos criada no meio da pandemia para ajudar no enfrentamento de futuras emergências sanitárias. Mantida pela Fundação Itaú, tem entre seus associados, além do Einstein, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Nacional de Medicina (ANM), a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Os resultados
O estudo se baseia nos exames laboratoriais de 73.741 pacientes que tiveram resultado confirmado para Covid entre fevereiro de 2020 e dezembro de 2023, 5.626 tiveram reinfecção, sendo que a maioria (95%) teve apenas uma vez.
A Zona Leste apresentou a taxa mais alta de reinfecção (9,6%), enquanto a Região Central, mais rica, registrou o menor índice (6,4%). A diferença representa um risco 50% maior entre os extremos socioeconômicos da cidade.
No geral, a taxa de reinfecção nos 96 distritos foi de 7.6 por 100 pacientes. Considerando a taxa mediana de reinfecção foi de 8.06 a cada 100 pacientes.
? A taxa média é a soma de todos os valores dividida pelo número de valores. Já a taxa mediana é o valor central quando os dados são ordenados. A diferença é que a média é afetada pelos valores extremos, enquanto a mediana é mais resistente a esses valores.
Abaixo, veja as taxas medianas de reinfecção por Covic por distrito da cidade de São Paulo e compare com os dados do Mapa da Desigualdade sobre renda, IDH e presença de favela.




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Fatores de vulnerabilidade
A pesquisa pondera que a camada mais pobre da população costuma viver em casas mais lotadas e exerce atividades sem opção de trabalho remoto, o que aumenta a sua exposição ao risco.
Além isso, os indivíduos com condição socioeconômica mais precária estão sujeitos a encarar obstáculos como falta de plano de saúde, custos médicos elevados, dificuldades de transporte e acesso limitado a profissionais de saúde.
Esses fatores de vulnerabilidade explicam os resultados da pesquisa, corroborando o entendimento de que a desigualdade social afeta de forma diferente a população do ponto de vista epidemiológico.
Covid x Influenza
Mortes por gripe crescem na cidade de SP
Hoje, o cenário na cidade de São Paulo em relação à Covid é menos preocupante. No mês de maio, por exemplo, foram 723 casos confirmados no município e 5 mortes (considerando dados compilados até 11 de junho).
Em contrapartida, os casos de Síndrome Gripal (SG) e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificadas seguem em alta. Foram mais de 24,8 mil casos só em maio.
Hospitalizações: As hospitalizações por Covid somaram 29 no mês passado. Considerando só as internações por influenza, foram 863 no período, além de 476 causadas por outros vírus, sem contar outras 308 que ainda estão em investigação. Mais 560 foram registradas como SRAG não especificada. O total foi de 2.236 de hospitalizações por SRAG.
Considerando só os casos de SRAG por influenza, foram 1.694 casos de janeiro a maio deste ano, considerando dados até 11 de junho.
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) abrange casos de Síndrome Gripal (SG) que evoluem com comprometimento da função respiratória.
➡️ O paciente com Síndrome Gripal tem pelo menos dois destes sintomas: febre repentina, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza e ausência e/ou dificuldade em perceber cheiro/sabor.
➡️ Já a SRAG é classificada quando, além dos sintomas acima, a pessoa tem dificuldade e desconforto para respirar ou apresenta uma respiração rápida e curta; dor persistente no peito; saturação de oxigênio abaixo de 95% (quantidade de oxigênio que está circulando no sangue) e coloração azulada nos lábios ou no rosto.
Assim como no caso da Covid, a transmissão do vírus da gripe vírus ocorre de uma pessoa a outra por meio de gotículas eliminadas ao tossir ou espirrar.
Em relação à vacinação contra a influenza, a cobertura vacinal estava, até o dia 10 de junho, em 40,25% entre o público-alvo, sendo que a meta é de 90%.
O que diz a Prefeitura de SP
Procurada para comentar a questão do impacto da desigualdade na saúde pública, a Prefeitura de São Paulo disse que, "em relação à pesquisa citada, a SMS [Secretaria Municipal de Saúde] informa que não teve acesso ao estudo para análise", mas que "tem investido na ampliação da rede de atenção à saúde, especialmente com a entrega de novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)".
Afirmou ainda que "de três unidades na capital em 2016, o número subiu para 34 atualmente, principalmente nas regiões periféricas".
Segundo a prefeitura, "essas unidades atendem pessoas com sintomas respiratórios, e a população pode consultar o serviço mais próximo pelo site Busca Saúde: http://buscasaude.prefeitura.sp.gov.br/".
Influenza causa 72% de mortes de síndrome respiratória
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