Thiago Amud acha um público pequeno (mas interessado) na complexidade vanguardista do show ‘Enseada perdida’

Thiago Amud na estreia carioca do show 'Enseada perdida' no clube Manouche
Mauro Ferreira / g1
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Enseada perdida
Artista: Thiago Amud
Data e local: 18 de junho de 2025 no Manouche (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Na estreia carioca do show Enseada perdida no reformado clube Manouche, Thiago Amud contou ao público que, certa vez, Guinga ligou para ele para falar que a música feita por Pedro Dias Carneiro – vulgo Vovô Bebê – não se parecia com nada que vinha sendo produzido na música brasileira.
O mesmo pode ser dito há 15 anos da obra do próprio Amud, cantor, compositor, arranjador e violonista carioca cujo cancioneiro já surgiu pronto, embora tenha atingido pontos de maturação nos álbuns São (2021) e o recente Enseada perdida (2025), disco lançado em janeiro pela gravadora Rocinante.
Na noite de quarta-feira, 18 de junho, foi possível identificar ecos da face mais vanguardista de Caetano Veloso no som, no movimento e na expressões de Amud no palco do Manouche, sobretudo quando o cantor seguiu a toada de O raio (2025). Contudo, Thiago Amud soou como... Thiago Amud desde que entrou em cena para cantar o samba-enredo Baía de janeiro (2025).
O show Enseada perdida deixou no começou uma sensação de lentidão, ainda que a beleza do arranjo de Oração à cobra grande (Thiago Amud e Luiza Brina, 2025) tenha saltado logo aos ouvidos já habituados com a arquitetura intrincada de músicas como o ijexá Mar de minha mãe (2021).
Foi a partir do aliciante entra-e-sai do artista no palco, durante o canto Se você pensasse (2025), que o show ganhou pulso em fluxo potencializado pelo arranjo heavy noise do número.
Dividindo o palco da charmosa casa-cabaré com Aline Gonçalves (clarinete, clarone e flauta), Elisio Freitas (guitarra e violão), Lourenço Vasconcellos (bateria) e Vovô Bebê (baixo), Thiago Amud (voz e violão) se confirmou um artista posicionado na dianteira da música brasileira do século XXI em movimento que ganhou relevo a partir do segundo álbum do artista, De ponta a ponta tudo é praia-palma (2013).
A complexidade dos arranjos realçou a construção pessoal de melodias e versos como os de Catirina desejosa (2018), parceria de Amud com Edu Kneip apresentada (com a letra caudalosa que segue toada poética de ar nordestino) no terceiro álbum do artista, O cinema que o sol não apaga (2018).
Pelo hermetismo da obra que vem construindo desde o primeiro disco, Sacradança (2010), Thiago Amud provavelmente jamais cantará para públicos mais amplos do que a centena de pessoas agrupadas (e antenadas) na plateia do Manouche na estreia do show Enseada perdida no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do artista.
Contudo, esse público talvez se ampliasse (um pouco) se cantoras de técnica apurada – como Mônica Salmaso e Leila Pinheiro, esta presente na plateia – se dedicassem a cantar músicas como o samba E a galera ria (2021) e a canção Papoula brava (2013), ambas revividas por Amud no roteiro do show Enseada perdida. Cabe lembrar que a mesma Leila Pinheiro ampliou o alcance da obra de Guinga com Aldir Blanc (1946 – 2020) no álbum Catavento & girassol (1996).
De toda forma, é justo ressaltar que o compositor é intérprete seguro e sedutor do próprio cancioneiro, como se observou no canto de Candeeiro, mariposa (2021) – samba que entra na roda baiana na gravação do autor no álbum São (2021) – e o frevo Cidade possessa (2025), gravado por Amud com (ninguém menos do que) Chico Buarque no álbum Enseada perdida e apresentado pelo autor no show após outra música foliã, Carnaval na Mesopotâmia (2013).
Entoada no bis anticlimático em número de voz e violão, Cantiga de ninar o mar (2025) antecedeu o arremate do show, encerrado com Levante sul (2021), tema enraizado na África – sob a perspectiva do Sudão – que embute citação de música do bloco afro-baiano Olodum, Olodum Ologbom (Tita Lopes e Lazinho do Pandeiro, 1989), para incitar a revolução social.
Na música do Brasil, a revolução vem sendo feita por Thiago Amud com o eco (por ora moderado, mas de alcance atemporal) de quem transita na vanguarda.
Mauro Ferreira / g1
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Enseada perdida
Artista: Thiago Amud
Data e local: 18 de junho de 2025 no Manouche (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Na estreia carioca do show Enseada perdida no reformado clube Manouche, Thiago Amud contou ao público que, certa vez, Guinga ligou para ele para falar que a música feita por Pedro Dias Carneiro – vulgo Vovô Bebê – não se parecia com nada que vinha sendo produzido na música brasileira.
O mesmo pode ser dito há 15 anos da obra do próprio Amud, cantor, compositor, arranjador e violonista carioca cujo cancioneiro já surgiu pronto, embora tenha atingido pontos de maturação nos álbuns São (2021) e o recente Enseada perdida (2025), disco lançado em janeiro pela gravadora Rocinante.
Na noite de quarta-feira, 18 de junho, foi possível identificar ecos da face mais vanguardista de Caetano Veloso no som, no movimento e na expressões de Amud no palco do Manouche, sobretudo quando o cantor seguiu a toada de O raio (2025). Contudo, Thiago Amud soou como... Thiago Amud desde que entrou em cena para cantar o samba-enredo Baía de janeiro (2025).
O show Enseada perdida deixou no começou uma sensação de lentidão, ainda que a beleza do arranjo de Oração à cobra grande (Thiago Amud e Luiza Brina, 2025) tenha saltado logo aos ouvidos já habituados com a arquitetura intrincada de músicas como o ijexá Mar de minha mãe (2021).
Foi a partir do aliciante entra-e-sai do artista no palco, durante o canto Se você pensasse (2025), que o show ganhou pulso em fluxo potencializado pelo arranjo heavy noise do número.
Dividindo o palco da charmosa casa-cabaré com Aline Gonçalves (clarinete, clarone e flauta), Elisio Freitas (guitarra e violão), Lourenço Vasconcellos (bateria) e Vovô Bebê (baixo), Thiago Amud (voz e violão) se confirmou um artista posicionado na dianteira da música brasileira do século XXI em movimento que ganhou relevo a partir do segundo álbum do artista, De ponta a ponta tudo é praia-palma (2013).
A complexidade dos arranjos realçou a construção pessoal de melodias e versos como os de Catirina desejosa (2018), parceria de Amud com Edu Kneip apresentada (com a letra caudalosa que segue toada poética de ar nordestino) no terceiro álbum do artista, O cinema que o sol não apaga (2018).
Pelo hermetismo da obra que vem construindo desde o primeiro disco, Sacradança (2010), Thiago Amud provavelmente jamais cantará para públicos mais amplos do que a centena de pessoas agrupadas (e antenadas) na plateia do Manouche na estreia do show Enseada perdida no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do artista.
Contudo, esse público talvez se ampliasse (um pouco) se cantoras de técnica apurada – como Mônica Salmaso e Leila Pinheiro, esta presente na plateia – se dedicassem a cantar músicas como o samba E a galera ria (2021) e a canção Papoula brava (2013), ambas revividas por Amud no roteiro do show Enseada perdida. Cabe lembrar que a mesma Leila Pinheiro ampliou o alcance da obra de Guinga com Aldir Blanc (1946 – 2020) no álbum Catavento & girassol (1996).
De toda forma, é justo ressaltar que o compositor é intérprete seguro e sedutor do próprio cancioneiro, como se observou no canto de Candeeiro, mariposa (2021) – samba que entra na roda baiana na gravação do autor no álbum São (2021) – e o frevo Cidade possessa (2025), gravado por Amud com (ninguém menos do que) Chico Buarque no álbum Enseada perdida e apresentado pelo autor no show após outra música foliã, Carnaval na Mesopotâmia (2013).
Entoada no bis anticlimático em número de voz e violão, Cantiga de ninar o mar (2025) antecedeu o arremate do show, encerrado com Levante sul (2021), tema enraizado na África – sob a perspectiva do Sudão – que embute citação de música do bloco afro-baiano Olodum, Olodum Ologbom (Tita Lopes e Lazinho do Pandeiro, 1989), para incitar a revolução social.
Na música do Brasil, a revolução vem sendo feita por Thiago Amud com o eco (por ora moderado, mas de alcance atemporal) de quem transita na vanguarda.
Para ler a notícia completa, acesse o link original:
0 curtidas
Notícias Relacionadas
Não há mais notícias para carregar
Comentários 0