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Romance, corrupção e envolvimento com facções: o que se sabe sobre ex-diretora suspeita de facilitar fuga de 16 presos

Romance, corrupção e envolvimento com facções: o que se sabe sobre ex-diretora suspeita de facilitar fuga de 16 presos
Joneuma Silva Neres está presa desde janeiro. Ex-gestora também é investigada por negociar votos dentro da unidade para beneficiar políticos e mandar matar um jovem que a chamou de 'miliciana'. Ex-diretora de presídio é presa suspeita de facilitar fuga de 16 detentos na Bahia
Arquivo Pessoal
A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, foi presa em janeiro deste ano por suspeita de facilitar a fuga de 16 presos, em dezembro de 2024. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) apontou que ela teve romance com um detento, negociou votos para políticos e permitiu regalias inusitadas dentro da unidade.
Joneuma Silva Neres também é investigada pela morte de um jovem, que teria a chamado de "miliaciana" nas redes sociais e revelado um esquema para facilitação de entrada de materiais ilícitos no presídio.
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Veja abaixo o que se sabe sobre o caso:
Romance, corrupção e envolvimento com facções;
Regalias inusitadas para detentos;
Negociação de votos para beneficiar políticos;
Investigação por morte de jovem;
Planejamento da fuga de 16 detentos;
Onde estão os envolvidos;
O que diz a Seap.
Romance, corrupção e envolvimento com facções
Joneuma Silva Neres esteve à frente do Conjunto Penal de Eunápolis por nove meses e foi a primeira mulher a ocupar este tipo de cargo no estado. No entanto, apesar da representatividade, o que veio à tona após as prisões revela que o conjunto penal estava sob comando do crime organizado.
O processo mostra que, desde que assumiu o cargo, em março de 2024, a gestora chamou a atenção das autoridades, especialmente pelas regalias dadas aos presos. Segundo informações presentes no documento, ela autorizou a entrada irregular de roupas, freezers, ventiladores e sanduicheiras.
Entre as regalias apontadas no depoimento, está o acesso de visitas. O ex-coordenador de segurança do presídio, Wellington Oliveira Sousa, disse que a "esposa de Ednaldo Pereira de Souza, o Dadá, detento foragido, passou a ingressar no conjunto penal, sem qualquer inspeção, mediante autorização da diretora".
Wellington também mencionou que Joneuma e Dadá tinham "encontros frequentes, que ocorriam na sala de videoconferências, sempre a sós, com uma folha de papel ofício obstruindo a visibilidade da porta pela abertura de vidro".
Dentro do presídio, os presos e funcionários relataram que os dois mantiveram relações sexuais dentro da unidade. O homem disse ainda que "as reuniões eram sigilosas e geravam estranheza entre os funcionários devido à regularidade e longa duração".
Ainda conforme a denúncia, um dos presos mencionou, em depoimento, que "a cadeia toda falava que a ex-diretora teria recebido aproximadamente R$ 800 mil para colaborar na fuga de presos". A denúncia, no entanto, crava que o valor de R$ 1,5 milhão foi repassado a Joneuma.
Regalias inusitadas para detentos
Conjunto Penal de Eunápolis, no extremo sul da Bahia
Taisa Moura/TVSC
Outros aspectos que a denúncia aborda são as condições de vida dos detentos do Conjunto Penal de Eunápolis. Alguns deles tiveram refeições especiais com moquecas de camarão e lasanhas e uma comemoração do Dia da Consciência Negra com direito a distribuição de acarajés e roda de capoeira.
Entre as autorizações inusitadas concedidas por Joneuma, chamou a atenção a entrada de um caixão e um corpo no interior do Conjunto Penal, para que um dos chefes de um grupo criminoso "velasse" o cadáver da avó.
Outras regalias citadas no documento são:
acesso irrestrito aos freezers introduzidos por determinação de Dadá, preso foragido apontado como amante de Joneuma;
refeições especiais como moquecas de camarão, lasanhas e chesters;
uso de equipamentos sonoros e caixas de som;
visitas íntimas dentro dos pavilhões.
Segundo o documento, um detento relatou à polícia que todas as celas estavam abertas no feriado da Consciência Negra. O homem estava preso há quatro meses quando prestou depoimento.
Ainda de acordo com o interno, uma mulher vestida com trajes típicos distribuiu acarajés para os detentos na presença de Joneuma. Além disso, outras duas mulheres fizeram uma roda de capoeira, da qual a própria diretora participou, convidando Dadá, para integrar a roda.
O preso contou que ficou impressionado com a coragem da diretora, porque muitos detentos estavam com facões e facas nas cinturas. Ele avaliou que, se assim desejassem, poderiam ter feito Joneuma e as outras mulheres reféns para facilitar uma fuga em massa naquele momento.
Quando questionado por que isso não aconteceu, o interno disse que, muito provavelmente, já havia um outro combinado e que os preparativos para a fuga que ocorreu no dia 12 de dezembro de 2024 já estavam em andamento.
Negociação de votos para beneficiar políticos
Dadá e Uldurico Júnior
Reprodução/TV Bahia
As investigações do Ministério Público da Bahia também apontaram que Joneuma Silva Neres e Ednaldo Pereira de Souza negociavam votos por R$ 100 para beneficiar políticos. De acordo com o processo ao qual a TV Bahia obteve acesso com exclusividade, Joneuma passou a trabalhar "politicamente" para uma organização criminosa baiana.
A ex-diretora intermediava encontros entre o amante, Dadá, e o então candidato a prefeito de Teixeira de Freitas, o ex-deputado federal Uldurico Jr. (MDB). O então candidato a vereador do município de Eunápolis Alberto Cley Santos Lima, conhecido como Cley da Autoescola (PSD), também comparecia a esses encontros. O homem é apoiado politicamente pelo ex-deputado federal.
O documento aponta que, na condição de padrinho "politico" de Joneuma, Uldurico Jr. passou a ter encontros repetidos com Dadá e outros membros da organização criminosa dele, dentro do Conjunto Penal de Eunápolis, com a participação da ex-diretora do local.
Conforme o documento, estes encontros eram cercados de cuidados "especiais", por parte de Joneuma, para que não ficassem registrados nas câmeras de segurança ou arquivos do Conjunto Penal. Depoimentos colhidos apontaram ainda que a intermediação de Joneuma chegou a lhe render valores próximos de R$ 1,5 milhão. A defesa dela nega.
Entre os eleitores cativos se incluía tanto os presos provisórios faccionados do grupo, que podiam votar, como os amigos e familiares deles. Segundo o depoimento de um dos internos da unidade, o voto compromissado era comercializado e cada eleitor aliciado recebia o dinheiro.
Investigação por morte de jovem
A ex-diretora também é investigada por mandar matar um jovem que teria chamado ela de "miliciana" nas redes sociais.
Segundo o documento ao qual a TV Bahia obteve acesso com exclusividade, Joneuma descobriu que Alan Quevin Santos Barbosa teria comentado com algumas pessoas que ela "trabalhava politicamente para determinados candidatos" e que facilitava a entrada de produtos e objetos ilícitos no presídio.
As investigações apontam que a diretora ficou "muito irritada" com as publicações feitas por Alan e solicitou para que Ednaldo Pereira de Souza "desse um jeito" no autor das postagens. Em 7 de junho de 2024, dias após a identificação do dono da página que publicou as críticas contra Joneuma nas redes sociais, Alan foi sequestrado dentro da casa em que morava, em Eunápolis, por dois integrantes do grupo criminoso.
O documento afirma que após ter sido sequestrado, Alan Quevin foi morto e teve o corpo descartado em um local que ainda não foi descoberto pela polícia.
Facilitação da fuga dos detentos
Saiba como ex-diretora de presídio acusada de envolvimento com facções facilitou fuga de detentos na Bahia
Reprodução/TV Bahia
A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, o ex-coordenador de segurança da unidade, Wellington Oliveira Sousa, e o suspeito de chefiar uma facção criminosa na cidade, Ednaldo Pereira de Souza, são apontados pelo Ministério Público da Bahia como responsáveis por planejar a fuga dos detentos.
A operação de fuga tinha o objetivo de livrar Ednaldo e outros 15 presos do cárcere. Além de Joneuma e Wellington, Dadá e os outros fugitivos também foram denunciados. A ex-diretora e o ex-coordenador estão presos em diferentes unidades prisionais no sul e extremo sul do estado.
Segundo as investigações, além de colocar todos os aliados de Dadá na mesma cela, dias antes da fuga, a ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis e o subordinado, Wellington, colaboraram de outras formas para o sucesso do plano.
Entre as ações, está o fato de Joneuma e Wellington terem "elevado o status" de mais de 12 integrantes da facção, que estavam presos, como meio de facilitar as fases da fuga. Com isso, atribuíram aos escolhidos o posto de "correrias", o que na linguagem do sistema carcerário significa que esses detentos têm liberdade de circulação na unidade prisional e atuam como intermediadores das reivindicações dos internos.
Conforme os depoimentos, os detentos chegavam a ficar com chaves de várias celas e de alas específicas do Conjunto Penal para serem mantidos na missão de "leva e traz".
Wellington Oliveira Sousa, ex-coordenador de segurança do Conjunto Penal de Eunápolis
Reprodução/TV Bahia
Ainda conforme o documento, o grupo passou a introduzir vários equipamentos ilícitos na unidade, como celulares, facas e até uma furadeira à bateria, que foi utilizada para fazer o buraco no teto usado pelos homens para fugir.
Para entrar com os materiais no presídio, o grupo contava com o auxílio externo de outros comparsas, que, segundo o MP-BA, se passavam como visitantes.
Em determinado momento, durante reformas no presídio, esses instrumentos ilícitos teriam sido transportados, em baldes, pelos próprios presos, na presença de Joneuma e de Wellington. O MP-BA aponta ainda que os membros do grupo também circulavam no presídio armados com facas e facões.
O Conjunto Penal de Eunápolis fica em uma área afastada do centro da cidade, no bairro Juca Rosa. A fuga contou com quatro veículos do tipo SUV e oito homens portando armas de grosso calibre.
Onde estão os envolvidos
Atualmente, Wellington Oliveira Sousa está preso no Conjunto Penal de Teixeira de Freitas, também no extremo sul. Em contato com a reportagem da TV Bahia, a defesa dele informou que não iria se posicionar.
Já Joneuma Silva Neres foi levada para o Conjunto Penal de Itabuna, no sul, após ser presa em janeiro deste ano. Ela estava grávida e deu à luz no presídio. O bebê segue na unidade.
Em entrevista à TV Bahia, Jocelma Neres, irmã e advogada de Joneuma, negou a existência de um caso entre ela e Dadá.
"A gente não sabe quem foi que articulou tudo isso, mas ela está sofrendo as consequências de um crime que não cometeu. Ela nunca teve nenhum relacionamento com essa pessoa", afirmou.
A advogada também destacou a preocupação com o fato de o sobrinho ainda estar no presídio com a mãe. "O presídio não é ambiente para uma criança recém-nascida e a família está desesperada, sem ter o que fazer. A gente não tem condições de estar lá com ela, pelo fato de ser uma cidade longe, e não ter recursos financeiros para estar lá".
O advogado Artur Nunes, que também representa Joneuma, reforçou que ela não tem relação com o crime. "Em nenhum momento, ela recebeu qualquer tipo de valor. Foi requerida pela Polícia Civil a quebra do sigilo bancário dela. No momento que eles quiserem, eles têm acesso", acrescentou.
Em janeiro, um dos fugitivos homens morreu em confronto com policiais civis na cidade. Os demais seguem foragidos. Dadá fugiu para o Rio de Janeiro (RJ), segundo pontuou a investigação.
Além deles, Vagno Oliveira Batista é um dos suspeitos de auxiliar a operação de fuga do lado de fora do presídio. Ele foi preso em fevereiro deste ano, portando uma pistola. Segundo as investigações, o homem era responsável por cuidar do armamento da facção.
Em depoimento, Vagno disse que, depois da fuga, foi até a favela da Rocinha, onde encontrou com Dadá e outros cinco fugitivos. O local, conforme depoimento, seria para onde Joneuma planejava fugir antes de ser presa.
O que diz a Seap
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado (Seap) informou que o ex-deputado Uldurico Júnior nunca teve influência política na pasta, "principalmente para acobertar qualquer tipo de ação criminosa dentro do Conjunto Penal de Eunápolis".
Segundo a Seap, "jamais" foi de conhecimento dos gestores da secretaria qualquer envolvimento da diretora com algum dos internos da unidade.
O posicionamento afirma ainda que é uma inverdade uma afirmação feita pelo advogado de Joneuma Andrade de que à época houve um comunicado dela sobre a possibilidade de fuga.
Por fim, a Seap destacou que, em todas as inspeções realizadas no Conjunto Penal de Eunápolis, na gestão de Joneuma, a servidora organizava tudo de modo a parecer que a unidade funcionava dentro "da mais perfeita ordem e cumprindo o que diz a Lei de Execução Penal".
Mapa mostra onde foi a fuga de detentos no Sul da Bahia
Arte g1
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