De Gonzaga a Fidellis: a sanfona que ganha o coração do Nordeste e conquista Alagoas

No mês dos festejos juninos, o g1 AL reuniu a história do instrumento que ganha o coração do povo brasileiro. Alagoano Fidellis fala sobre sua trajetória e inspirações
Não há como negar que a sanfona é a melhor amiga de todo sanfoneiro. Como já bem dizia Luiz Gonzaga, ‘olha aqui, essa sanfona sempre foi minha dona e tem valor de estimação!’ Dona do Nordeste e dos festejos juninos, se confunde com nomes como Luiz Gonzaga e Sivuca, mas acima de tudo, mostra a história e a identidade de um povo. Não é só um instrumento, é a sanfona do povo.
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Na terra de artistas tão plurais quanto Alagoas, nomes como Anderson Fidellis ilustram a representatividade desse instrumento tão complexo. Ao g1 AL, ele fala sobre trajetória, inspirações e a história da sanfona em sua vida.
?? A rainha do forró
Também conhecida como acordeon ou gaita, a sanfona chegou ao Brasil através dos imigrantes italianos e alemães. Disseminada primeiramente no sudeste brasileiro, o instrumento chegou ao norte através dos soldados nordestinos que lutaram na Guerra do Paraguai e foi popularizado pelo rei do baião, Luiz Gonzaga.
O instrumento é complexo: de um lado, possui o teclado, responsável pela melodia da música; no meio está o fole, que sopra o ar; e, do outro lado, estão os baixos, responsáveis pela harmonia.
"Rapaz, a primeira dificuldade é comprar uma, é cara! Pra pessoa comprar tem que ter jogo de cintura, juntar um dinheirinho para começar a brincadeira. Mas, o fato de ela ter essa divisão de baixo, teclado e fole, onde passa o ar e faz o som vibrar. Então você controlar esse movimento aqui e saber onde apertar, saber onde colocar a mão, isso requer um tempinho pra estudo. Então primeiro é comprar uma, segundo é ter tempo pra aprender porque não é fácil não", brincou Fidellis.
Há também a sanfona de oito baixos, uma variação do instrumento que possui baixos dos dois lados, sendo ainda mais difícil para quem toca.
“É uma arte que está em extinção, principalmente a sanfona de oito baixos, que é muito difícil de ser tocada. Ela não é como uma sanfona comum. A sanfona de oito baixos, as notas são dadas no fole. Então quando aperta e fecha o fôlei é uma nota. Quando abre, a mesma tecla da outra nota. Então é um instrumento muito difícil de ser tocado e que os instrumentistas dele estão morrendo, estão velhos”, explica o jornalista e produtor Paulo Poeta.
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Sanfoneiro e cantador: saiba mais sobre Anderson Fidellis
O nome do instrumento é inseparável do nome de Luiz Gonzaga, a maior inspiração para Fidellis. Natural de Maceió, o cantador de baião já toca há 17 anos e homenageia grandes nomes da música brasileira.
"Seja esteticamente, seja nas composições, eu sempre busco entender como que era feito o baião no começo do lançamento, nos anos 1940, a formação da sanfona, da zabumba, do triângulo e como eles se comportavam pra poder falar aquilo que o povo nordestino precisava naquela época, né? Então, a forma como se coloca a poesia, a estrutura da poesia, os acordes, as harmonias, tudo isso vem do Luiz Gonzaga, não tem pra onde", disse.
Esse instrumento tão rico e característico do Nordeste ganha ainda mais visibilidade nas festas juninas, quando se junta à zabumba e ao triângulo, formando o ritmo que ganha o coração dos brasileiros: o forró. Para Fidellis, o nordestino já nasce com essa paixão.
"Se você for ver na região do Litoral Norte, o pessoal lá dança forró empurrado mesmo. Mas é loucura, é doidice! Então, assim, o forró hoje, ele ganhou um status, né? Um status de ser patrimônio cultural e material do povo brasileiro. O forró hoje tem esse status de ser um supra-sumo de tantas outras linguagens, né? Ele é, ao mesmo tempo, erudito popular, ele é folclórico também. Não adianta. Por mais tempo que passe, por mais que o mercado persiga e massacre o forró, a gente sempre volta. Sempre volta", fala.
?O instrumento em Alagoas
No abre e fecha do fole, as mãos de um afinador se fazem umas das protagonistas da história e desenvolvimento da sanfona em Arapiraca, no Agreste de Alagoas. Seu Cecílio, como é popularmente conhecido na cidade, tem 87 anos e formou o 'Hospital das Sanfonas', um local de restauração e preservação dessa cultura no estado.
Seu Cecílio trabalha afinando o instrumento há 55 anos e conta que é muito procurado pelos sanfoneiros do estado. Para ele, o amor à música é essencial e indispensável para quem deseja tocar.
"Tem gente que chega aqui perguntando se é difícil tocar. Primeiramente tem amor a ela, tendo amor a música vai trabalhando, né? Se tiver amor a música vai aprender! Tem que ter o ritmo", disse.
Para ele, Alagoas precisa resgatar a cultura do forró e do São João raiz.
"A mocidade não quer mais tocar sanfona. A gente vê muito essas festas em Caruaru, mas aqui em Arapiraca mesmo não tem. Uma cidade desse tamanho, com tanto sanfoneiro, não tem uma festa grande. Trabalho não falta, sabe? É muita sanfona para afinar, mas não tem essa festa", afirmou.
Mas para Paulo Poeta, a cidade de Arapiraca pode ser considerada um polo exportador da cultura do forró para Alagoas. Segundo ele, a feira da cidade costumava ser um ponto de encontro cultural.
“A grande feira de Arapiraca era mais importante até do que a feira de Caruaru. Então tudo corria para a Arapiraca. Tudo corria para a feira. A feira é um grande encontro das pessoas de toda a região, e, claro, o encontro do Forró, o encontro da literatura de Cordel, o encontro dos repentistas, o encontro dos folguedos. Então, a expressão econômica que a Arapiraca sempre teve puxou para si isso de ser um polo onde todas essas vertentes se manifestaram enfaticamente”, fala.
Assim como Fidellis, que cresceu ouvindo forró na casa dos avós, a história de Cecílio com esse instrumento também fala sobre laços, afetos e herança geracional. Segundo ele, o "hospital" nasceu quando ele aprendeu a afinar a própria sanfona.
"Eu aprendi a tocar menino. Tem 55 anos que eu toco, né? O meu pai tocava e no tempo que eu era criança mão tinha dinheiro pra comprar sanfona, aí inventei um cavaquinho numa lata de doce pra tocar, comecei a tocar violão também. Depois que me apaixonei, comprei uma sanfona e aí não parei mais", compartilhou o músico.
Entre afetos, dificuldades e o amor de uma nação, a sanfona resiste à tecnologia, ao tempo e a desvalorização. É um instrumento do povo.
Sanfona ganha coração do nordeste
g1 AL
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Não há como negar que a sanfona é a melhor amiga de todo sanfoneiro. Como já bem dizia Luiz Gonzaga, ‘olha aqui, essa sanfona sempre foi minha dona e tem valor de estimação!’ Dona do Nordeste e dos festejos juninos, se confunde com nomes como Luiz Gonzaga e Sivuca, mas acima de tudo, mostra a história e a identidade de um povo. Não é só um instrumento, é a sanfona do povo.
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Na terra de artistas tão plurais quanto Alagoas, nomes como Anderson Fidellis ilustram a representatividade desse instrumento tão complexo. Ao g1 AL, ele fala sobre trajetória, inspirações e a história da sanfona em sua vida.
?? A rainha do forró
Também conhecida como acordeon ou gaita, a sanfona chegou ao Brasil através dos imigrantes italianos e alemães. Disseminada primeiramente no sudeste brasileiro, o instrumento chegou ao norte através dos soldados nordestinos que lutaram na Guerra do Paraguai e foi popularizado pelo rei do baião, Luiz Gonzaga.
O instrumento é complexo: de um lado, possui o teclado, responsável pela melodia da música; no meio está o fole, que sopra o ar; e, do outro lado, estão os baixos, responsáveis pela harmonia.
"Rapaz, a primeira dificuldade é comprar uma, é cara! Pra pessoa comprar tem que ter jogo de cintura, juntar um dinheirinho para começar a brincadeira. Mas, o fato de ela ter essa divisão de baixo, teclado e fole, onde passa o ar e faz o som vibrar. Então você controlar esse movimento aqui e saber onde apertar, saber onde colocar a mão, isso requer um tempinho pra estudo. Então primeiro é comprar uma, segundo é ter tempo pra aprender porque não é fácil não", brincou Fidellis.
Há também a sanfona de oito baixos, uma variação do instrumento que possui baixos dos dois lados, sendo ainda mais difícil para quem toca.
“É uma arte que está em extinção, principalmente a sanfona de oito baixos, que é muito difícil de ser tocada. Ela não é como uma sanfona comum. A sanfona de oito baixos, as notas são dadas no fole. Então quando aperta e fecha o fôlei é uma nota. Quando abre, a mesma tecla da outra nota. Então é um instrumento muito difícil de ser tocado e que os instrumentistas dele estão morrendo, estão velhos”, explica o jornalista e produtor Paulo Poeta.
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Sanfoneiro e cantador: saiba mais sobre Anderson Fidellis
O nome do instrumento é inseparável do nome de Luiz Gonzaga, a maior inspiração para Fidellis. Natural de Maceió, o cantador de baião já toca há 17 anos e homenageia grandes nomes da música brasileira.
"Seja esteticamente, seja nas composições, eu sempre busco entender como que era feito o baião no começo do lançamento, nos anos 1940, a formação da sanfona, da zabumba, do triângulo e como eles se comportavam pra poder falar aquilo que o povo nordestino precisava naquela época, né? Então, a forma como se coloca a poesia, a estrutura da poesia, os acordes, as harmonias, tudo isso vem do Luiz Gonzaga, não tem pra onde", disse.
Esse instrumento tão rico e característico do Nordeste ganha ainda mais visibilidade nas festas juninas, quando se junta à zabumba e ao triângulo, formando o ritmo que ganha o coração dos brasileiros: o forró. Para Fidellis, o nordestino já nasce com essa paixão.
"Se você for ver na região do Litoral Norte, o pessoal lá dança forró empurrado mesmo. Mas é loucura, é doidice! Então, assim, o forró hoje, ele ganhou um status, né? Um status de ser patrimônio cultural e material do povo brasileiro. O forró hoje tem esse status de ser um supra-sumo de tantas outras linguagens, né? Ele é, ao mesmo tempo, erudito popular, ele é folclórico também. Não adianta. Por mais tempo que passe, por mais que o mercado persiga e massacre o forró, a gente sempre volta. Sempre volta", fala.
?O instrumento em Alagoas
No abre e fecha do fole, as mãos de um afinador se fazem umas das protagonistas da história e desenvolvimento da sanfona em Arapiraca, no Agreste de Alagoas. Seu Cecílio, como é popularmente conhecido na cidade, tem 87 anos e formou o 'Hospital das Sanfonas', um local de restauração e preservação dessa cultura no estado.
Seu Cecílio trabalha afinando o instrumento há 55 anos e conta que é muito procurado pelos sanfoneiros do estado. Para ele, o amor à música é essencial e indispensável para quem deseja tocar.
"Tem gente que chega aqui perguntando se é difícil tocar. Primeiramente tem amor a ela, tendo amor a música vai trabalhando, né? Se tiver amor a música vai aprender! Tem que ter o ritmo", disse.
Para ele, Alagoas precisa resgatar a cultura do forró e do São João raiz.
"A mocidade não quer mais tocar sanfona. A gente vê muito essas festas em Caruaru, mas aqui em Arapiraca mesmo não tem. Uma cidade desse tamanho, com tanto sanfoneiro, não tem uma festa grande. Trabalho não falta, sabe? É muita sanfona para afinar, mas não tem essa festa", afirmou.
Mas para Paulo Poeta, a cidade de Arapiraca pode ser considerada um polo exportador da cultura do forró para Alagoas. Segundo ele, a feira da cidade costumava ser um ponto de encontro cultural.
“A grande feira de Arapiraca era mais importante até do que a feira de Caruaru. Então tudo corria para a Arapiraca. Tudo corria para a feira. A feira é um grande encontro das pessoas de toda a região, e, claro, o encontro do Forró, o encontro da literatura de Cordel, o encontro dos repentistas, o encontro dos folguedos. Então, a expressão econômica que a Arapiraca sempre teve puxou para si isso de ser um polo onde todas essas vertentes se manifestaram enfaticamente”, fala.
Assim como Fidellis, que cresceu ouvindo forró na casa dos avós, a história de Cecílio com esse instrumento também fala sobre laços, afetos e herança geracional. Segundo ele, o "hospital" nasceu quando ele aprendeu a afinar a própria sanfona.
"Eu aprendi a tocar menino. Tem 55 anos que eu toco, né? O meu pai tocava e no tempo que eu era criança mão tinha dinheiro pra comprar sanfona, aí inventei um cavaquinho numa lata de doce pra tocar, comecei a tocar violão também. Depois que me apaixonei, comprei uma sanfona e aí não parei mais", compartilhou o músico.
Entre afetos, dificuldades e o amor de uma nação, a sanfona resiste à tecnologia, ao tempo e a desvalorização. É um instrumento do povo.
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