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Por que a Geração Z está repensando o namoro? Para os mais novos, amar é (ainda) um desafio

Por que a Geração Z está repensando o namoro? Para os mais novos, amar é (ainda) um desafio
Dia dos Namorados é comemorado nesta quinta-feira (12). Data para alguns é sobre o outro, para outros, é sobre si mesmo. Casal faz coração com as mãos, em imagem de arquivo
Matt Nelson / Unsplash / Divulgação
Marcado por declarações de amor, presentes e jantares à luz de velas, ?o Dia dos Namorados, celebrado nesta quinta (12), passou a ter novos significados – especialmente entre as gerações mais jovens.
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Para muitos da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), a compreensão do amor deixou de lado os padrões tradicionais. Para alguns é sobre o outro; para outros, é sobre si mesmo.
Em suma, é a correria do cotidiano e essa questão de a gente se acostumar com a nossa própria solitude. Quando penso que vou ter que demandar um tempo para outra pessoa, e que vou ter que dar uma atenção que às vezes nem consigo dar para mim mesmo, eu não quero namorar.
Relacionamentos abertos, poliamor, o conceito de "ficar sério" e até mesmo a escolha consciente de permanecer solteiro tornaram-se maneiras de viver.
Não é que as gerações contemporâneas tenham menos desejo ou vontade de se engajar em relações, eles têm menos habilidades e recursos para enfrentar os desafios que representam o convívio com o outro e o desejo do outro como parte de um processo da dualidade da relação – e não só a sua vontade como soberana.
Buscando amar ?
Segundo especialistas ouvidos pelo g1 a busca pelo amor é uma demanda primária do ser humano. Na psicologia existe uma teoria de que o ser humano é dirigido para atender duas necessidades fundamentais, a de se sentir amado e a de ser reconhecido ou sentir-se competente.
Para Ewerton Duarte, 22 anos, estudante universitário, a decisão de não namorar é resultado de uma combinação de fatores que refletem tanto sua realidade pessoal quanto a da sua geração.
Realmente acho que as pessoas da minha faixa etária estão cada vez menos interessadas em namorar.
O psiquiatra Thiago Blanco explica que nas etapas iniciais do desenvolvimento, ainda quando bebê, o ser humano não deve passar por nenhuma privação de segurança e de afeto. Por outro lado, passar por frustações ao longo do desenvolvimento é uma necessidade fundamental para a construção de uma identidade que tenha resistência a isso.
A escolha de permanecer solteiro é, acima de tudo, uma forma de autocuidado. O universitário Ewerton Duarte, de Brasília, diz que a prioridade de muitos jovens está voltada para os estudos, a carreira e o entretenimento pessoal.
'Melhor só do que mal acompanhado'
Pessoa desenha coração em vidro de carro, em imagem ilustrativa
Getty Images
Em tempos em que os relacionamentos parecem cada vez mais moldados por algoritmos e aplicativos, Rangel de Oliveira segue na contramão. O contador de 22 anos, conta que o momento é de foco em outras prioridades como:
"Estabilidade profissional
Conquista de um espaço próprio
Realização de metas pessoais "
Basicamente, conquistar minhas coisas para quem sabe, poder dividir com outras pessoas.
Mesmo que alcance todos os objetivos que considera essenciais para iniciar uma relação, Rangel acredita que ainda não conseguiria viver um relacionamento. "Ficar com aquela pessoa por toda a vida e diariamente, ter que falar para onde e quando vou e, basicamente, viver um pela vida do outro, essa ideia nunca me agradou e não me agrada ainda", diz o jovem.
Sobre a influência da internet e dos aplicativos de relacionamento, Rangel é pragmático. "Acredito que tanto os apps quanto a vida cotidiana podem ser formas de encontrar alguém, caso esteja procurando", destaca.
Para Juan Espiñeira, produtor audiovisual, a internet escancara diversas formas de relacionamentos amorosos. "Os apps de relacionamento já são parte do cotidiano, não há como negar, mas mais do que a maneira de ver um namoro, é a maneira de experienciar relações que eles proporcionam", diz o jovem de 27 anos.
O tempo é um dos principais fatores que o levaram Espiñeira a não estar em um relacionamento.
Tenho 27 anos e uma vida e uma carreira para construir, então não consigo me ver em meio a um relacionamento neste momento. Já são quatro anos solteiro e me acostumei tão bem com a minha companhia, que o processo de adicionar outra pessoa à minha rotina e atividades não me atrai.
Também com 27 anos, a técnica de enfermagem Julia de Oliveira decidiu dar uma pausa nos relacionamentos amorosos. "Passei muitos anos dentro de relacionamentos longos, sentia falta de me ver e estar sozinha", diz Julia.
A decisão, segundo ela, não foi motivada por decepções amorosas, mas por uma necessidade pessoal de autoconhecimento e liberdade.
É um momento meu, de me priorizar, de entender quem sou fora de um relacionamento.
Julia também observa como a internet e os aplicativos de relacionamento têm mudado a forma como as pessoas encaram o namoro. Para ela, a velocidade com que os relacionamentos se iniciam e terminam nas redes sociais pode dificultar conexões mais profundas.
"São muitas informações novas o tempo todo, tornando as coisas muito superficiais. É tudo muito rápido, muito descartável. Isso me fez querer desacelerar e olhar mais para dentro", diz a técnica de enfermagem.
Segundo o psiquiatra Thiago Blanco, as novas gerações têm expectativas diferentes em relação à construção social, especialmente nas estruturas e formas de amar. "Elas conseguem construir uma imagem de maior liberdade nesse campo. O senso de justiça é bastante fortalecido, mas também há uma liberdade maior na experimentação do próprio corpo e na abertura para questões de gênero", explica.
No geral, há uma tendência mais libertária, o que impacta os modelos familiares, tornando-os mais livres em relação às relações e experiências individuais, sexuais e sociais, promovendo uma maior aceitação da diversidade.
Amores líquidos não valem o meu tempo ❓
A escolha de permanecer solteiro, como demonstrado nos relatos, se alinha diretamente ao conceito de amores líquidos, proposto pelo filósofo Zygmunt Bauman.
? Esse conceito descreve uma sociedade em que os vínculos afetivos se tornaram mais frágeis, instáveis e marcados pela fluidez — ou seja, relações que se formam e se desfazem com facilidade, sem o compromisso duradouro que caracterizava os relacionamentos em tempos anteriores.
Características
Instabilidade: Relações não têm garantia de durabilidade; são facilmente descartáveis.
Individualismo: A busca pela satisfação pessoal prevalece sobre o compromisso com o outro.
Medo do Compromisso: Há receio de criar vínculos profundos por causa da imprevisibilidade e da possibilidade de sofrer.
Consumo de Relações: Pessoas tratam relações como produtos: descartam quando deixam de "servir".
Virtualidade: A tecnologia e as redes sociais potencializam interações superficiais e passageiras.
Impactos sociais e pessoais
Solidão: Apesar de conectadas, as pessoas sentem-se isoladas por não desenvolverem laços profundos.
Ansiedade Relacional: A incerteza sobre a reciprocidade causa insegurança e tensão.
Desumanização: Relações são pautadas mais pelo utilitarismo do que pelo afeto genuíno.
Contexto da Modernidade Líquida
Os “amores líquidos” são reflexo da modernidade líquida, em que tudo é transitório, fluido e efêmero.
Valores tradicionais como estabilidade e fidelidade são substituídos pela busca constante por novidades e satisfação instantânea.
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