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Brasileira que teve a maior nota da turma de Harvard em 2025 largou medicina na USP, onde estudava com a irmã gêmea

Brasileira que teve a maior nota da turma de Harvard em 2025 largou medicina na USP, onde estudava com a irmã gêmea
Sarah Aguiar Monteiro Borges é uma das vencedoras do Sophia Freund Prize 2025, concedido apenas a estudantes que alcançam o mais alto desempenho acadêmico da turma. Sarah Borges alcançou a nota mais alta da turma de 2025 de Harvard
Reprodução/Redes sociais
Sarah Aguiar Monteiro Borges, hoje com 23 anos, já tinha um motivo mais do que justificável para ser protagonista de uma reportagem do g1 Educação: em 2020, logo após ter se formado no ensino médio, foi aprovada em 5º lugar para o curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Na mesma lista de selecionados, também estava… sua irmã gêmea, Sophia. Sim, as duas “passaram direto” em uma das graduações mais concorridas do país.
?Mas Sarah acabou dando um toque internacional para a reportagem que contaria sua trajetória acadêmica. Em 26 de março de 2020, um dia antes de seu aniversário, abriu um e-mail que a fez gritar pela casa e assustar a família inteira. “Eu achava que veria um ‘não’, mas estava escrito: ‘Congratulations!’ [parabéns, em inglês]”, diz, em uma entrevista ao g1. Ela havia sido aprovada para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Ok, temos, então, uma jovem:
aprovada em medicina na USP;
cursando a graduação ao lado da irmã gêmea;
selecionada, poucos meses depois, para Harvard, instituição de ensino prestigiada no mundo inteiro.
?Está suficiente? Não. Após quatro anos, Sarah formou-se em Psicologia e ainda foi a primeira brasileira a ganhar o Sophia Freund Prize (sim, Sophia) em Harvard, prêmio reservado a quem tira a nota final mais alta da turma e conclui o curso summa cum laude [entenda abaixo].
✏️O que isso significa? Nos Estados Unidos, especialmente em universidades como Harvard, o summa cum laude é o mais alto nível de honra acadêmica que um estudante pode receber ao terminar a graduação. É preciso atingir um padrão de excelência muito rigoroso, geralmente relacionado a um GPA (média de notas) elevadíssimo.
O anúncio chegou por e-mail durante a cerimônia de formatura, no fim de maio de 2025.
“Eu já estava emocionada, mas quando abri o celular e vi a mensagem, comecei a chorar de novo. Nunca imaginei isso”, conta.
Na turma de 2025, segundo o comunicado oficial de Harvard, Sarah e outros 53 alunos ganharam esse prêmio (entre quase 2 mil estudantes). Cada um receberá mil dólares (cerca de 5.500 reais) — além do imenso destaque no currículo.
?A brasileira, por exemplo, já conquistou uma bolsa disputadíssima no doutorado da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, para estudar Psiquiatria a partir do 2º semestre. A princípio, seria um mestrado – mas a própria orientadora recomendou que ela “pulasse” esse degrau (prática permitida nos EUA).
Nesta reportagem, leia mais sobre:
a dúvida de Sarah entre USP e Harvard;
todos os seus feitos durante um ano sabático, na pandemia;
a experiência no campus de Harvard, morando em uma 'casa do Harry Potter';
a tristeza em relação às políticas do presidente Trump para restringir alunos estrangeiros no país;
a dedicação a atividades extracurriculares e à aplicação para faculdades internacionais;
o desafio do doutorado no Reino Unido.
?USP ou Harvard?
A decisão entre USP e Harvard não foi fácil. Ir para a universidade americana significaria necessariamente mudar de curso, porque os Estados Unidos não oferecem Medicina como graduação. Seria o caso de optar por outra carreira e estudar fora?
“Estava muito em dúvida. Lembro que liguei para vários amigos e refleti bastante, porque gostava de Medicina e estava admirada pelas oportunidades da USP. Mas queria também focar em pesquisa e explorar outros campos de conhecimento, como filosofia e sociologia. Meu interesse não era tanto por atender pacientes. Por isso, decidi ir para Harvard”, conta Sarah.
“Tive medo de desistir de um sonho, mas era só o começo de outro.”
Aluna brasileira tem a nota mais alta entre formandos da Universidade de Harvard em 2025
?Antes de mais glórias, um ano sabático
A jovem havia saído de Goiânia e se mudado para São Paulo junto com Sophia, logo quando começaram a estudar na USP, em janeiro de 2020. Pouco tempo depois, em março, a universidade passou a oferecer só aulas on-line, por causa da pandemia da Covid-19. Foi quando as meninas voltaram para a cidade natal e receberam, já ao lado da família, a notícia da aprovação em Harvard.
➡️Sarah decidiu que solicitaria o “ano sabático” à universidade americana, para poder começar a estudar somente em agosto de 2021 — quando provavelmente a crise sanitária mundial estaria resolvida.
Ela ainda continuou o curso da USP até o início do segundo semestre de 2020. Dali em diante, até realmente se mudar para Harvard, usou o tempo livre para:
participar de projetos voluntários em Goiânia;
propor e organizar um curso on-line de Enem para uma ONG;
aprender a pintar e a tocar violão (essa última tarefa “não deu muito certo”, segundo ela própria).
“Essas experiências me fizeram sentir que dava para fazer algo naqueles tempos de desesperança”, afirma.
?️Primeira vez no campus: ‘Parecia um filme’
Aos 20 anos, depois de um ano sabático e da pandemia, Sarah desembarcou sozinha nos Estados Unidos e foi recebida por uma família anfitriã voluntária.
“Eu passava pelas ruas de Cambridge [cidade em que fica Harvard] e pensava: meu Deus, vou estudar aqui! Parecia que eu estava dentro de um filme”, lembra.
Na universidade, ela morava no campus, em dormitórios que, segundo ela, seguem o modelo das houses de Harry Potter: cada estudante é acolhido em uma “casa” com refeitório próprio, áreas de convivência e uma pequena comunidade acadêmica.
“Eu tinha aprendido inglês nas escolas em Goiânia, mas não era fluente na fala. Nos primeiros dias, ficava insegura, mas a convivência te força a usar o idioma — e você vai aprendendo na marra.”
A rotina incluía aulas, encontros com tutores, seminários com professores renomados e atividades extracurriculares. Sarah ainda foi guia turística do campus da universidade, embaixadora do departamento de ciências sociais e tutora de colegas mais novos — atividades pelas quais recebia apoio financeiro adicional. Também recebia recursos pela bolsa Líderes Estudar, da Fundação Estudar, para se manter na instituição de ensino.
Nos primeiros semestres em Harvard, ela explorou diversas áreas: filosofia, ciência da computação, budismo e ciência política. A decisão final de escolher Psicologia como formação principal veio depois de uma aula introdutória do tema.
“Não teve mais volta. Vi que era aquilo que eu queria estudar. A psicologia social me permitia juntar ciência, comportamento humano e impacto social.”
? Estudantes internacionais sob ataque: 'Me entristece ver esse tipo de discurso'
Durante a graduação, Sarah testemunhou o impacto das políticas anti-imigração adotadas nos Estados Unidos, especialmente as medidas do presidente Donald Trump para restringir a presença de estudantes estrangeiros nas universidades americanas.
Apesar de a jovem não ter sido diretamente afetada, porque já estava concluindo a faculdade, ela lamenta o impacto das novas regras na vida de quem sonha se formar no exterior.
“A presença de alunos internacionais foi o que mais me atraiu para Harvard. Eles tornam o campus mais rico, mais diverso. Ver discursos querendo tirar essas pessoas da universidade me entristece muito”, diz.
“Talvez eu tenha aprendido mais convivendo com colegas de outros países do que nas próprias aulas.”
?Dedicação desde o ensino fundamental
Sarah estudou em colégios privados, com auxílios financeiros parciais. Sempre participou de todas as atividades extracurriculares possíveis (teatro, xadrez, natação, artes etc.) e foi estimulada por seus pais a se dedicar aos estudos. A mãe, que trabalhou por anos como professora, ainda contribuiu para transmitir o gosto pela educação e pelas ciências sociais.
➡️Apesar de ter ganhado diversas medalhas em olimpíadas científicas e ficado em 1º lugar em rankings de simulados, ela só começou a considerar estudar fora do Brasil no último ano do ensino médio, após incentivo da irmã mais velha.
“Eu nem sabia por onde começar. Muita gente paga consultoria, mas eu encontrei a BRASA, que oferece mentorias gratuitas. Faltava uma semana para o prazo, me inscrevi correndo e fui aceita.”
Ela precisou traduzir históricos escolares, escrever redações pessoais, fazer provas específicas como SAT e testes de proficiência em inglês — além de revisar toda a trajetória extracurricular desde o 9º ano.
“Lembro de estudar com apostilas do ensino médio e o livrão do SAT ao mesmo tempo. Meus professores ficavam em choque.”
?Próximos desafios: doutorado
Depois de encerrar a graduação com a maior nota da turma de Harvard, Sarah Borges se prepara para um novo desafio: o doutorado em psiquiatria na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. A brasileira foi aceita com bolsa integral da Gates Cambridge, uma das mais competitivas do país, voltada a jovens com potencial de liderança e impacto social global.
Ela foi indicada ao programa pela própria universidade, após um processo que envolveu entrevistas com professores e envio de propostas de pesquisa. Seu foco, a princípio, será na saúde mental de jovens brasileiros.
“Quero entender se os serviços de saúde mental no Brasil são eficazes, para quem funcionam melhor e por quê”, resume.
A pesquisa vai investigar não só a redução de sintomas psicológicos, mas também os efeitos dos tratamentos no desempenho escolar, nas relações sociais e na qualidade de vida dos jovens atendidos.
O programa começa em setembro. Até lá, Sarah aproveita os meses de férias com a família em Goiânia.
“Vejo, pela trajetória da minha irmã, que ficar na USP teria me aberto muitas portas também. Mas acabamos seguindo caminhos diferentes. Sinto falta de ter todos por perto e é sempre difícil me despedir. Mas são oportunidades incríveis. A vida passa rápido — e quero aproveitá-la ao máximo.”
Vídeo: alunos estrangeiros sentem-se ameaçados por Trump
Abaixo, veja um vídeo sobre as recentes decisões do presidente americano Donald Trump para restringir a presença de alunos estrangeiros em universidades dos EUA.
Acuados por Trump, estudantes estrangeiros apagam redes e evitam sair de casa

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