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Pesquisadores da USP descobrem indícios de interação humana pré-histórica em dentes de animal extinto

Pesquisadores da USP descobrem indícios de interação humana pré-histórica em dentes de animal extinto
Restos fósseis de Toxodonte (Toxodon platensis), um mamífero semelhante a um rinoceronte e um hipopótamo, foram achados em expedições em cavernas no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo. Toxodon frequentou a região do Vale do Ribeira há 11 mil anos
Reprodução
Pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) encontraram novos indícios de interação entre humanos e a megafauna brasileira extinta. A descoberta foi feita a partir da análise dos dentes de Toxodonte (Toxodon platensis), um mamífero com tamanho e semelhanças de um rinoceronte e hipopótamo, que foram encontrados em cavernas no Vale do Ribeira, interior paulista.
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Os restos fósseis foram achados em expedições nas cavernas Abismo Ponta de Flecha, Abismo do Fóssil e Abismo do Juvenal. Conforme apurado pelo g1, eles estavam guardados no Instituto de Geociências e Museu de Zoologia, que os emprestaram para estudo no Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH), também da USP.
Os pesquisadores estudaram 26 dentes - de quatro animais - e um processo condilar, ou seja, o osso que liga a mandíbula ao crânio. A equipe era formada por Mercedes Okumura, coordenadora do LEEH, Artur Chahud pesquisador colaborador e Paulo Ricardo de Oliveira Costa, estudante de Ciências Biológicas.
Apesar dos fósseis dos Toxodontes serem frequentes na região, são raros os trabalhos realizados nestes materiais, especialmente sobre a possível interação desses animais com humanos pré-históricos. A partir dos dentes, os pesquisadores também se aprofundaram em relação às doenças.
Ao g1, o pesquisador colaborador Artur Chahud afirmou que o Toxodonte viveu na região do Vale do Ribeira na época dos primeiros registros de atividade humana, sendo este um dos últimos da espécie no país.
Fósseis de animal da megafauna extinta achados em perfeito estado são catalogados pela USP
Pesquisa
O estudante Paulo Ricardo de Oliveira Costa contou que o projeto, a princípio, visava analisar se todos os dentes pertenciam a uma mesma espécie ou se eram diferentes. "Conforme eu fui fazendo as análises, foram surgindo várias outras coisas, como a identificação de uma doença", complementou.
De acordo com ele, a análise que identificou a doença foi feita a partir de um microscópio. "A gente olhou a superfície do esmalte [dentário] e viu que tinha vários buraquinhos, várias ausências, espaços ausentes de esmalte e, com isso, pôde identificar que poderia estar acontecendo alguma coisa aí".
Com base na análise literária, os pesquisadores concluíram que esses animais estavam com hipoplasia de esmalte - condição em que a camada externa do dente, o esmalte, não se forma completamente ou corretamente, resultando em dentes com aparência e estrutura alteradas.
Os dentes, segundo Paulo, são considerados grandes, com aproximadamente 20 centímetros. "Esse bicho tinha uma boca bem grande e esses mamíferos herbívoros têm uma dentição muito característica, muito específica, que é adaptada à alimentação deles, então têm formatos únicos".
De acordo com o estudante, os dentes são muito usados na identificação de espécies justamente por terem formatos diferentes. "Muda muito de grupo para grupo, de espécie para espécie". Ele contou que olhava para o material e o comparava com as informações presentes na literatura.
"Olhando essas especificidades dos detalhes do dente, a gente consegue tirar as informações de como identificar", complementou Paulo.
Com uso do microscópios, é possível enxergar pequenos detalhes, como arranhões na superfície dentária e fósseis dos animais. "Com isso, a gente consegue pegar e diferenciar o que está acontecendo ali, o que se passou desde o tempo que o animal faleceu", disse Paulo.
Descoberta incomum
Dentes (à esq.) do Toxodon e (à dir.) do Mixotoxodon
USP/Divulgação
Além disso, Paulo identificou outra espécie, o Mixotoxodon (Mixotoxodon larensis) que, segundo ele, não era comum para o sul do estado de São Paulo. "Foi um registro novo para um espécie que a gente só achava que existia mais para o norte da América do Sul".
"E também teve a confirmação de uma relação entre esse animal da megafauna e grupos humanos antigos, que era uma coisa que nunca tinha sido registrada para esses animais", afirmou Paulo.
11 mil anos
De acordo com Artur, o estudo apontou a possibilidade de povos na região vivendo no mesmo período que os Toxodontes, ou seja, há aproximadamente 11 mil anos. Os dentes, que foram escavados entre os anos 70 e 80, estavam nos museus que os cederam para a pesquisa.
"Poucos foram os trabalhos feitos nesse meio-tempo. Só agora mesmo que a gente deu um detalhamento maior para esse material", complementou ele.
Mercedes ressaltou a importância e o papel dos museus. "Têm esse caráter de ter uma exposição para educar as pessoas, mas também têm o que a gente chama da reserva e que é a maioria dos materiais que um museu vai ter, eles ficam lá guardados para esses estudos".
"É superimportante a gente entender como é fundamental preservar esse patrimônio e como é fundamental o papel dos museus na geração de conhecimento", acrescentou a coordenadora do LEEH.
Imagens mostram marca da ação humana nos dentes do Toxodonte
USP/Divulgação
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