Filho se reaproxima da mãe após ela ser diagnosticada com Alzheimer aos 54 anos: 'A esperança dela reavivou a minha'

Mirian de Oliveira é um caso de Alzheimer precoce. Antes do diagnóstico, mãe e filho não mantinham contato. Segundo especialista, doença exige apoio familiar para boa qualidade de vida dos pacientes. Filho se reaproxima da mãe após ela ser diagnosticada com Alzheimer aos 54 anos
Um ditado popular diz que quando nasce um filho, nasce uma mãe. Mas no caso de Victor Nascimento e Mirian de Oliveira, a frase pode ser adaptada: quando surge um diagnóstico, nasce um recomeço.
Essa é a tônica da relação dos dois desde que Mirian foi diagnosticada com Alzheimer, aos 54 anos da idade, em 2019. Quando receberam a notícia, o susto foi duplo: fora o próprio diagnóstico, houve surpresa da família, também, pela doença não atingir, na maioria dos casos, pessoas nessa faixa etária.
Victor tem 34 anos e é músico. Antes da doença, ele conta que não era próximo da mãe, mas depois do diagnóstico e do Alzheimer avançar rapidamente, passou a cuidar dela em tempo integral. Os dois vivem juntos em Umuarama, noroeste do Paraná, desde 2021.
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Para o compositor, o significado da palavra "mãe" sofreu uma metamorfose depois da doença – o que antes era visto por ele apenas como um grau de parentesco, hoje reflete o sentimento de esperança.
"Para mim ela significa esperança. Esperança no sentido de que ela espera, e todos nós esperamos, que eu consiga cuidar dela da melhor maneira possível até o final. A esperança dela reavivou a minha", ressalta Victor.
Hoje, a mobilidade de Mirian é comprometida e a comunicação dela é feita, na maior parte do tempo, pelo olhar. Para facilitar o contato com a mãe, Victor utiliza música. Ele, que trabalha como cantor em eventos, passou a fazer shows particulares para ela e compor canções inspiradas no dia a dia da família.
Nas redes sociais, Victor compartilha vídeos da rotina dos dois. Nas gravações, não só Mirian aprecia o talento de Victor, como também a filha do cantor: Maria Antonieta, de três meses.
"Músicas que a gente cantava desde a barriga pra Maria Antonieta, hoje são as músicas que acalmam ela. Músicas que a minha mãe ouvia e cantava, minha mãe também cantava e cantava muito bem, diga-se de passagem, hoje fazem diferença na hora do tratamento, porque ela reconhece as músicas."
Victor fez da música uma terapia alternativa para Mirian
Arquivo pessoal
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A vida antes e depois do diagnóstico
Hoje, Mirian tem 60 anos
Gislaine Reis/Fotógrafa
Apesar do diagnóstico ter sido em 2019, Victor conta que desde 1996 "o feijão dela não tem mais o mesmo sabor". Naquela época, Mirian era bancária e, durante uma cirurgia, ficou cerca de dois minutos sem oxigenação, o que gerou uma lesão no cérebro e deixou sequelas que não comprometeram a independência dela, mas afetaram o dia a dia.
Os anos passaram e Mirian começou a apresentar comportamentos que pediam mais atenção a partir de 2015. À época, ela se perdia pela cidade e tinha conversas desconexas com os vizinhos.
Em 2018, quando ela morava com o filho mais velho, a ex-nora de Mirian notou sintomas semelhantes aos da avó, também diagnosticada com Alzheimer.
A partir do acompanhamento médico, foi detectado uma progressão na diminuição da cognição de Mirian, o que acendeu o alerta para a doença, diagnosticada um ano depois.
O Alzheimer é um tipo de doença degenerativa cognitiva que compromete, principalmente, a memória, como explica Viviane Flumignan Zetola, professora de Neurologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atual coordenadora da pós-graduação em medicina interna e Ciências da Saúde da universidade.
Apesar de não existir uma idade especifica para o surgimento da doença, Zetola ressalta que casos de Alzheimer aos 50 anos são raros por, na maioria das vezes, a doença estar interligada a fatores de riscos da terceira idade, como hipertensão, diabetes, inatividade física, perda auditiva, isolamento social, entre outros.
"Para o diagnóstico, temos que realizar exames complementares como avaliação neuropsicometria e o que hoje denominamos de 'biomarcadores' para melhor diferenciar entre os processos degenerativos diferenciais e sermos mais assertivos na proposta do tratamento", explica a professora.
Zetola ressalta que a qualidade de vida de pessoas com a doença de Alzheimer exige cuidados para além das necessidades básicas.
"O apoio da família é fundamental, não só no cuidado que a longo prazo ele vai necessitar, como o cuidado com a higiene, a alimentação, mas também o cuidado de manter a pessoa dentro do convívio familiar", ressalta a professora.
No caso de Mirian, segundo o filho, os cuidados diários ficaram mais fáceis depois que foi estabelecida uma rotina.
Filho e mãe reconectados
Victor e Mirian
Gislaine Reis/Fotógrafa
Victor se recorda que durante os anos que antecederam o diagnóstico, a mãe apresentava sintomas de depressão, o que a fez se isolar dos três filhos.
"A gente não se visitava, não se ligava mais. Já não tinha mais tanto vínculo", lembra o cantor.
Em 2021, na pandemia da Covid-19, Victor passou a visitá-la, respeitando os cuidados necessários que o período exigia. À época, a família cogitou colocá-la em uma casa de repouso, porém, depois visitar seis instituições diferentes, Victor achou que o número de cuidadores dos locais insuficiente para a quantidade de pacientes.
Mãe e filho se reconectaram após o diagnóstico
Arquivo pessoal
"Não que o cuidado básico fosse negligenciado, mas não é só o cuidado básico que basta. Eu pensava assim na época: quem que vai rezar com a minha mãe à noite antes de dormir? Ela reza sempre."
Foi a partir disso que Mirian passou a morar com Victor. Desde então, a doença avançou, mas a relação entre os dois se fortaleceu como eles jamais tinham visto.
Importância da família repassada para os filhos
Victor e a família
Gislaine Reis/Fotógrafa
Quando os momentos parecem difíceis, Victor diz que encontra forças no amor que sente pela família. Busca refúgio, também, na religião. Católico, o cantor ressignificou o sentido da "cruz", fazendo referência a morte de Jesus Cristo.
"Muitas vezes eu estou cansado, muitos dias eu não quero dar banho na minha mãe e eu acho que o que me sustenta nesse momento é o senso de missão, é o senso de 'cruz'. No momento em que eu falo em carregar uma cruz, é entender que carregar uma cruz não é para ser sofrido. A cruz, assim como Jesus carregou, foi com amor. Sofrimento só pelo sofrimento, a gente desiste muito antes."
É com este pensamento que Victor cria Maria Antonieta e Daniel, filho do primeiro relacionamento, com a esperança de que eles possam compreender a importância da família e do cuidado com os mais velhos, assim como o pai entendeu depois do diagnóstico da mãe.
"Que eu cumpra a minha missão de criá-los bem para que, em determinado momento, eles não tenham dúvida na hora que as mães deles precisarem de ajuda", diz Victor.
*Com colaboração de Caroline Maltaca, assistente de produtos digitais.
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Um ditado popular diz que quando nasce um filho, nasce uma mãe. Mas no caso de Victor Nascimento e Mirian de Oliveira, a frase pode ser adaptada: quando surge um diagnóstico, nasce um recomeço.
Essa é a tônica da relação dos dois desde que Mirian foi diagnosticada com Alzheimer, aos 54 anos da idade, em 2019. Quando receberam a notícia, o susto foi duplo: fora o próprio diagnóstico, houve surpresa da família, também, pela doença não atingir, na maioria dos casos, pessoas nessa faixa etária.
Victor tem 34 anos e é músico. Antes da doença, ele conta que não era próximo da mãe, mas depois do diagnóstico e do Alzheimer avançar rapidamente, passou a cuidar dela em tempo integral. Os dois vivem juntos em Umuarama, noroeste do Paraná, desde 2021.
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"Para mim ela significa esperança. Esperança no sentido de que ela espera, e todos nós esperamos, que eu consiga cuidar dela da melhor maneira possível até o final. A esperança dela reavivou a minha", ressalta Victor.
Hoje, a mobilidade de Mirian é comprometida e a comunicação dela é feita, na maior parte do tempo, pelo olhar. Para facilitar o contato com a mãe, Victor utiliza música. Ele, que trabalha como cantor em eventos, passou a fazer shows particulares para ela e compor canções inspiradas no dia a dia da família.
Nas redes sociais, Victor compartilha vídeos da rotina dos dois. Nas gravações, não só Mirian aprecia o talento de Victor, como também a filha do cantor: Maria Antonieta, de três meses.
"Músicas que a gente cantava desde a barriga pra Maria Antonieta, hoje são as músicas que acalmam ela. Músicas que a minha mãe ouvia e cantava, minha mãe também cantava e cantava muito bem, diga-se de passagem, hoje fazem diferença na hora do tratamento, porque ela reconhece as músicas."
Victor fez da música uma terapia alternativa para Mirian
Arquivo pessoal
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A vida antes e depois do diagnóstico
Hoje, Mirian tem 60 anos
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Apesar do diagnóstico ter sido em 2019, Victor conta que desde 1996 "o feijão dela não tem mais o mesmo sabor". Naquela época, Mirian era bancária e, durante uma cirurgia, ficou cerca de dois minutos sem oxigenação, o que gerou uma lesão no cérebro e deixou sequelas que não comprometeram a independência dela, mas afetaram o dia a dia.
Os anos passaram e Mirian começou a apresentar comportamentos que pediam mais atenção a partir de 2015. À época, ela se perdia pela cidade e tinha conversas desconexas com os vizinhos.
Em 2018, quando ela morava com o filho mais velho, a ex-nora de Mirian notou sintomas semelhantes aos da avó, também diagnosticada com Alzheimer.
A partir do acompanhamento médico, foi detectado uma progressão na diminuição da cognição de Mirian, o que acendeu o alerta para a doença, diagnosticada um ano depois.
O Alzheimer é um tipo de doença degenerativa cognitiva que compromete, principalmente, a memória, como explica Viviane Flumignan Zetola, professora de Neurologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atual coordenadora da pós-graduação em medicina interna e Ciências da Saúde da universidade.
Apesar de não existir uma idade especifica para o surgimento da doença, Zetola ressalta que casos de Alzheimer aos 50 anos são raros por, na maioria das vezes, a doença estar interligada a fatores de riscos da terceira idade, como hipertensão, diabetes, inatividade física, perda auditiva, isolamento social, entre outros.
"Para o diagnóstico, temos que realizar exames complementares como avaliação neuropsicometria e o que hoje denominamos de 'biomarcadores' para melhor diferenciar entre os processos degenerativos diferenciais e sermos mais assertivos na proposta do tratamento", explica a professora.
Zetola ressalta que a qualidade de vida de pessoas com a doença de Alzheimer exige cuidados para além das necessidades básicas.
"O apoio da família é fundamental, não só no cuidado que a longo prazo ele vai necessitar, como o cuidado com a higiene, a alimentação, mas também o cuidado de manter a pessoa dentro do convívio familiar", ressalta a professora.
No caso de Mirian, segundo o filho, os cuidados diários ficaram mais fáceis depois que foi estabelecida uma rotina.
Filho e mãe reconectados
Victor e Mirian
Gislaine Reis/Fotógrafa
Victor se recorda que durante os anos que antecederam o diagnóstico, a mãe apresentava sintomas de depressão, o que a fez se isolar dos três filhos.
"A gente não se visitava, não se ligava mais. Já não tinha mais tanto vínculo", lembra o cantor.
Em 2021, na pandemia da Covid-19, Victor passou a visitá-la, respeitando os cuidados necessários que o período exigia. À época, a família cogitou colocá-la em uma casa de repouso, porém, depois visitar seis instituições diferentes, Victor achou que o número de cuidadores dos locais insuficiente para a quantidade de pacientes.
Mãe e filho se reconectaram após o diagnóstico
Arquivo pessoal
"Não que o cuidado básico fosse negligenciado, mas não é só o cuidado básico que basta. Eu pensava assim na época: quem que vai rezar com a minha mãe à noite antes de dormir? Ela reza sempre."
Foi a partir disso que Mirian passou a morar com Victor. Desde então, a doença avançou, mas a relação entre os dois se fortaleceu como eles jamais tinham visto.
Importância da família repassada para os filhos
Victor e a família
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Quando os momentos parecem difíceis, Victor diz que encontra forças no amor que sente pela família. Busca refúgio, também, na religião. Católico, o cantor ressignificou o sentido da "cruz", fazendo referência a morte de Jesus Cristo.
"Muitas vezes eu estou cansado, muitos dias eu não quero dar banho na minha mãe e eu acho que o que me sustenta nesse momento é o senso de missão, é o senso de 'cruz'. No momento em que eu falo em carregar uma cruz, é entender que carregar uma cruz não é para ser sofrido. A cruz, assim como Jesus carregou, foi com amor. Sofrimento só pelo sofrimento, a gente desiste muito antes."
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*Com colaboração de Caroline Maltaca, assistente de produtos digitais.
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