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25 histórias inacabadas: o que dizem famílias de desaparecidos 1 ano após enchente do RS

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25 histórias inacabadas: o que dizem famílias de desaparecidos 1 ano após enchente do RS
Tragédia ambiental aconteceu entre abril e maio de 2024 e deixou 184 vítimas. Desaparecidos da enchente do Rio Grande do Sul em maio de 2024
Arquivo pessoal
As águas baixaram, as ruas foram limpas, os muros repintados, e a vida retomou seu curso. No entanto, para 25 famílias, o tempo está parado desde maio de 2024. Seus filhos, irmãos, pais ou companheiros seguem desaparecidos desde a enchente que varreu bairros inteiros do Rio Grande do Sul, levando consigo memórias e nomes que até hoje não puderam ganhar uma despedida.
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Para a maioria das famílias, a esperança não existe mais. O g1 conversou com oito parentes que lidam diariamente com o vazio no peito e que precisam de informações para poderem seguir a vida. Confira abaixo.
A enchente histórica provocou danos em quase todos os municípios, devastou cidades em sua maioria na Região Metropolitana e Vale do Taquari, retirou milhares de casa e deixou 184 mortos. De todo o país, voluntários e doadores se mobilizaram para prestar ajuda aos atingidos.
Após um ano, a RBS TV apresenta o RBS.Doc sobre a tragédia. A equipe de reportagem conversou com pessoas afetadas, voluntários, moradores que perderam tudo e familiares de vítimas. Nos locais atingidos, encontrou exemplos de solidariedade e união, que fizeram com que o estado se reerguesse após a devastação.
Na última semana, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou que o número de desaparecidos caiu de 27 para 25 pessoas. A diferença aconteceu devido a uma morte que foi definitivamente confirmada e a um homem localizado com vida.
A reportagem solicitou à Defesa Civil e à Secretaria de Segurança Pública mais detalhes sobre os desaparecidos, além dos nomes e cidades (veja lista completa abaixo). Contudo, ambas as entidades informaram que esses dados estão protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
De acordo com o Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), Coronel Julimar Fortes Pinheiro, as buscas pelos desaparecidos seguem, mas não na mesma intensidade que no início dos eventos meteorológicos. Confira abaixo nota oficial do CBMRS.
"Agora as buscas têm, digamos, focos específicos. Então, quando nós temos alguma informação que nos dê a possibilidade de enviar esforços naquele local e tentar ainda encontrar alguma situação a nos entregar um resultado quanto a encontro de algum material humano a ser analisado, nós retornamos ao local com toda a nossa possibilidade", explica o comandante.
O delegado Mário Souza, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, relembra que 470 pessoas foram contabilizadas como desaparecidas na enchente. Dessas, 445 foram localizadas, entre vivas e mortas.
"Ninguém pode ser esquecido e nós continuamos com o trabalho aberto para tentar encontrar todas as pessoas", diz Souza.
De acordo com o delegado, a investigação está em uma fase de buscas por novas informações. Caso surjam pistas diferentes, a polícia, com o apoio dos bombeiros da Brigada Militar, irá atrás dessas pessoas.
Adriana Maria da Silva, "lutou até o último segundo"
Adriana Maria da Silva, desaparecida na enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arquivo pessoal
Adriana era uma figura especial na família, de acordo com a sobrinha Paloma Gerevini. Mãe de dois filhos e avó dedicada, a desaparecida "lutou até o último segundo" contra as águas da enchente. Paloma relembra que conversava com Adriana no telefone enquanto a tia se segurava em uma árvore, esperando pelo resgate que nunca chegou. Até que, em determinado momento, não pôde mais ouvir a voz da desaparecida.
"Uma guerreira mesmo, ela não queria morrer", diz Paloma.
Em um primeiro momento após as enchentes, a família buscou por Adriana nos abrigos, no Instituto Médico Legal (IML) e nas redes sociais. Agora, os parentes lidam com o que a sobrinha descreve como "a falsa esperança": "por mais que teu cérebro saiba que não tem a possibilidade, a gente fica com aquele sentimento no coração", explica.
? Desaparecida em Cruzeiro do Sul
Carlos Eduardo Lassakoski dos Santos, "um filho carinhoso"
Carlos Eduardo Lassakoski dos Santos, desaparecido na enchente de 2024 no RIo Grande do Sul
Arquivo pessoal
Daiana Lassakoski, mãe de Carlos Eduardo, conhecido como Dudu, ressalta que, um ano após a enchente, a dor de viver sem o filho segue insuportável. Para ela, o jovem, que tinha 22 anos na época, era um "filho carinhoso e amoroso".
A mulher mudou-se da região em que morava, pois afirma que "não tem psicológico" para continuar no mesmo lugar em que o filho desapareceu. Inclusive, ela tenta não pensar na perda e prefere ocupar a mente com trabalho e conversas. O irmão mais novo de Dudu faz o mesmo.
Daiana busca desesperadamente por qualquer sinal de Dudu, enquanto tenta se reerguer e lidar com a dor que, segundo ela, "parece que vai arrancar o coração".
"Depois que baixou a enchente, eu entrei no mato, fomos ver se a gente achava pelo menos um rastro, um corpo", relembra. "O que eu quero é encontrar meu filho, não importa como ele esteja. Quero uma resposta do que realmente aconteceu", diz.
? Desaparecido em São Leopoldo
Doceliria Lourenço da Silva, "como uma mãe"
Doceliria Lourenço da Silva, desaparecida na enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arquivo pessoal
Doceliria era uma figura maternal na família, independente de não ter tido filhos. Ela foi levada pelo rio enquanto morava com a irmã. Apesar da falta de esperança de encontrá-la, a família se conforma com a perda.
A mulher, que sempre cuidou do sobrinho Pablo Diego Didoné e seus irmãos "como uma mãe", deixou um legado de amor e dedicação, inclusive aos animais que ela tanto amava.
"Quando eu era criança, tinha medo de ir para a escola, e ela ia comigo e ficava a tarde toda lá me esperando", comenta Didoné.
Conforme o sobrinho, ela era completamente cega por conta de uma doença genética degenerativa e estava morando com a irmã nos últimos seis meses antes da tragédia devido a alguns problemas de saúde.
? Desaparecida em Caxias do Sul
Elirio e Erica Brino, o casal
Elirio e Erica Brino, desaparecidos na enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arquivo pessoal
O casal composto por Elirio e Erica Brino estava em casa, em uma propriedade rural, quando a enchente chegou a Roca Sales. A reportagem do g1 conversou em novembro com o sobrinho do casal, Nivaldino, que afirmou que a ausência dos tios é sentida por toda a família, deixando uma "sensação de vazio".
"É muito dolorido não encontrar, não dar um sepultamento digno", comentou.
A família precisa lidar com um grande luto, visto que, das 14 vítimas confirmadas, quatro são da família Brino: o filho do casal, Dorly; a esposa dele, Janice; e as netas dos idosos, Maria Eduarda e Gabriela. Outro neto, Eduardo, sobreviveu à tragédia.
? Desaparecidos em Roca Sales
Isabel Velere Antonello Gallon, "grande coração"
Isabel Velere Antonello Gallon, desaparecida na enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arquivo pessoal
Uma pessoa sempre alegre e disposta querendo ajudar, Isabel adorava caminhar e visitar amigos. Para a nora Patrícia De Borba, era uma mulher de "grande coração".
Isabel, que estava com 70 anos, deixou um filho, um neto e irmãos. Conforme relata Patrícia, lidar com a perda não está sendo fácil e a família também não tem mais esperança.
"A falta é muita, a dor imensa. Não tivemos a oportunidade de nos despedir e dar um último adeus", comentou.
? Desaparecida em Bento Gonçalves
Lourdes Helena Lazarini, "uma irmã"
Lourdes Helena Lazarini, desaparecida na enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arquivo pessoal
Glorete perdeu a irmã mais velha, Lourdes Helena, para a catástrofe de 2024. Lourdes, que tinha problemas de surdez, não teria ouvido os avisos para escapar e foi levada pelas águas.
A esperança de encontrá-la diminuiu com o passar do tempo.
"Cada vez que tentavam procurar ela, surgia uma esperança. Dias, meses se passavam e a esperança de encontrá-la ficava mais distante", comenta Glorete.
A irmã relembra os momentos de aflição e comenta que o cenário atual é muito difícil para a família.
? Desaparecida em Bento Gonçalves
Nelsa Faccin Gallon, "dedicação de esposa"
Alceu Ângelo Gallon junto da esposa Nelsa Faccin Gallon, desaparecida na enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arquivo pessoal
Alceu Ângelo Gallon compartilha o pior ano de sua vida após perder sua esposa Nelsa, com quem viveu por quase 52 anos. Uma mulher sempre pronta a ajudar os outros, teria sido levada por uma avalanche de terra durante a enchente, segundo o marido.
"Imagine, de um momento para o outro você ficar sozinho, chegar na sua casa onde ela estava me esperando, com um largo sorriso no rosto e com muito amor e carinho, e não tê-la mais, a vontade é de nem entrar, mas infelizmente não se tem como mudar", desabafa Alceu.
O marido mantém viva a memória de Nelsa, que entregou sua vida à comunidade e à família. "A maior falta que eu sinto dela é a convivência, o companheirismo, a dedicação de esposa, pois ela sempre viveu para os outros, avós, pais, irmãos, amigos", diz.
Entre as ocupações que teve na vida, Nelsa foi professora por quase 12 anos em uma escola municipal e cozinheira de uma vinícola por mais de 14 anos.
O casal tinha 10 anos de diferença. Na data do acontecimento, Alceu tinha 76 e Nelsa 86 anos de idade. No entanto, segundo ele, isso nunca foi um problema para o relacionamento.
Agora, o marido tenta encontrar forças para seguir em frente e honrar a memória de Nelsa.
? Desaparecida em Bento Gonçalves
Lista dos 27 desaparecidos:
Agudo (1): William da Silva Ramos
Bento Gonçalves (4): Carine Milani, Isabel Velere Antonello Gallon, Lourdes Helena Lazarini e Nelsa Faccin Gallon
Canoas (1): Adriano Sandaowski
Caxias do Sul (1): Doceliria Lourenço da Silva
Cruzeiro do Sul (5): Adriana Maria da Silva, Diana Alves Meirelles, Fabricio Adriano Wendt, Jorge Lauri Rodrigues e Valdelirio Farias do Amaral
Encantado (2): Bernadete Marques da Silva e César Gilmar das Chagas
Estrela (1): Andre Dutra
Lajeado (3): João Luiz Maurante, Gladis Elisabeth da Silva e Alexânder Júnior da Silva
Marques de Souza (1): Clair Teresinha Bergmann
Poço das Antas (1): Vanderlei da Rosa
Porto Alegre (1): Diulnei Silva Corrêa
Relvado (1): Leandro da Rocha
Roca Sales (2): Elirio Brino e Erica Brino
São Leopoldo (1): Carlos Eduardo Lassakoski dos Santos
Nota do CBMRS
"NOTA OFICIAL
SITUAÇÃO ATUAL DAS OPERAÇÕES NO RIO GRANDE DO SUL APÓS TRAGÉDIA CLIMÁTICA
O Rio Grande do Sul enfrenta desafios sem precedentes devido aos impactos de uma grave tragédia climática, com alagamentos e movimentos de massa que afetaram extensas áreas, incluindo os rios atingidos, os quais deságuam na Lagoa dos Patos e no mar, após longos percursos.
As equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul seguem atuando incansavelmente, utilizando tecnologias, técnicas avançadas e cinotécnicos (binômio de Bombeiros Militares e cães farejadores) para localizar os desaparecidos, mas a dimensão do cenário exige paciência e compreensão de todos.
Nesse viés, a vastidão do cenário, a complexidade do terreno, o acúmulo de detritos em diversos pontos decorrente da elevação de aproximadamente 32 metros no leito da Bacia Taquari/Antas — que alterou significativamente a hidrodinâmica da região — dificultam a estimativa de trajetos das vítimas e a busca em pontos específicos.
Cabe ressaltar, que todos os setores de buscas já foram exauridos com múltiplas técnicas de detecção e busca, tanto de superfície quanto subaquáticas, sendo que as equipes do Corpo de Bombeiros Militar retornam aos locais sempre que surgem novas informações.
A solidariedade gaúcha, no entanto, segue sendo uma força motriz. Com o apoio da população e de voluntários, o Estado se mobiliza para superar esse momento difícil, Enquanto autoridades e especialistas avaliam os próximos passos para a reconstrução. Diante da complexidade desta operação, reforçamos o compromisso com transparência e ações contínuas."
Números da enchente de 2024 no Rio Grande do Sul
Arte/g1
1 ano da enchente no Rio Grande do Sul: g1 faz raio-X da tragédia e mostra antes e depois
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