Ultrassom em água morna e alimentação constante: como é o pré-natal de serpentes grávidas no Instituto Butantan, em SP

Em laboratório, esses animais contribuem tanto na produção de soro antiofídico quanto em estudos sobre toxinas. Análise de imagens de ultrassom realizado em serpente
Renato Rordigues/Comunicação Butantan
Referência em pesquisas com serpentes, o Instituto Butantan, na Zona Oeste de São Paulo, recebe exemplares do réptil vindos de diversas partes do país — sejam resgatados em operações contra o tráfico ilegal de animais, capturados em áreas residenciais ou envolvidos em acidentes com humanos.
Em laboratório, esses seres contribuem tanto na produção de soro antiofídico quanto no desenvolvimento de estudos sobre toxinas.
No caso das fêmeas, a chegada requer uma atenção especial: é preciso verificar se elas estão "grávidas", carregando o que podem ser dezenas de embriões.
? Teste de gravidez
Segundo especialistas do Butantan, o nascimento de serpentes costuma ocorrer em épocas mais quentes. Por isso, todas as fêmeas que chegam ao instituto entre a primavera e o verão passam por um ultrassom.
? Para o aparelho deslizar melhor pelas escamas das fêmeas, elas ficam com parte do corpo mergulhado em água morna.
Quatro profissionais participam do exame: um tecnologista, responsável pela contenção dos animais; um pesquisador e um médico veterinário, que atuam em conjunto nas medições e avaliações; e um auxiliar, que preenche as fichas com o histórico de cada serpente.
Primeiro, os especialistas buscam a posição da vesícula biliar. É abaixo desse órgão que fica o sistema reprodutivo das serpentes;
Em seguida, eles medem o depósito de gordura ao redor dos órgãos reprodutivos, isso servirá de alimento para os possíveis embriões poderem se desenvolver;
Depois, observam o estágio de cada folículo. Cada um deles dá origem a um óvulo, que pode se transformar num filhote ou ovo, se for fecundado;
No caso das espécies vivíparas, aquelas em que os filhotes se desenvolvem no interior do corpo das mães (como jararacas e cascavéis), quando os especialistas identificam a presença de embriões, eles analisam os batimentos cardíacos, o desenvolvimento da coluna vertebral e o tamanho dos filhotes para saber se o crescimento está ocorrendo da forma adequada.
Já com as ovíparas, aquelas em que os filhotes se desenvolvem fora do corpo das mães, em ovos (a exemplo da falsa-coral), é preciso esperar que os ovos sejam postos para analisar se eles foram fecundados e se há embriões em desenvolvimento. Para isso, os profissionais encostam lanternas nas cascas. A luz permite que se identifique a presença de vasos sanguíneos e, depois, acompanhem o crescimento dos filhotes.
Exame de ultrassom sendo conduzido em água morna
Renato Rordigues/Comunicação Butantan
Foi assim que, na primavera de 2024, a equipe do laboratório de Herpetologia do Butantan conseguiu confirmar a gravidez de cinco fêmeas:
Uma jararaca-pintada (Bothrops neuwiedi) ➡ enviada pelo Departamento de Águas e Esgoto de Ouro Preto, em Minas Gerais, ela carregava dez embriões;
Duas cascavéis (Crotalus durissus) ➡ uma enviada por um morador de Pinhalzinho, no interior de São Paulo, e outra pelo Departamento de Águas e Esgoto de Ouro Preto, em Minas — cada uma com seis filhotes;
Duas urutu-da-serra (Bothrops fonsecai) ➡ ambas enviadas por moradores de Campos do Jordão, em São Paulo — uma com dez e outra com 11 embriões.
De acordo com a pesquisadora Kathleen Fernandes Grego, esses animais, assim como seus filhotes, não poderiam ser soltos na natureza numa área diferente da que foram encontrados, por questões de segurança sanitária.
“Para soltarmos serpentes de biotério [laboratório] na natureza, vários exames clínicos e laboratoriais devem ser realizados para verificar se possuem vírus, parasitas, etc, para não prejudicar as serpentes nativas”, explica.
Por isso, os répteis passam a integrar a criação do laboratório do Butantan.
? Rotina do pré-natal
As fêmeas peçonhentas que estiverem grávidas ou sob suspeita de gravidez deixam de participar do processo de extração de veneno, utilizado na produção de soro, para reduzir a exposição a fatores de estresse.
Além disso, elas passam a ter uma rotina de exames, que inclui coletas de sangue e ultrassons para acompanhar o desenvolvimento dos filhotes/ovos e a saúde das mães. Ao longo da gestação, cuja duração pode variar conforme a espécie, as serpentes realizam cerca de uma ultrassonografia por mês.
Extração de sangue da veia caudal de uma serpente
Renato Rordigues/Comunicação Butantan
Para acompanhar os diferentes estágios da gestação, os veterinários extraem sangue da veia caudal do animal.
"Sabemos que, por conta da formação dos folículos e do próprio desenvolvimento dos filhotes, as fêmeas podem apresentar uma maior concentração de cálcio e colesterol no organismo", exemplifica a veterinária Luciana Carla Rameh.
? Na natureza, serpentes grávidas tendem a ficar longos períodos sem se alimentar para evitar o risco de predação. Já no laboratório, elas seguem recebendo comida normalmente durante toda a gravidez.
? Parto e independência
Para as vivíparas, os exames de imagem também auxiliam na previsão do nascimento dos filhotes, cujo número pode variar entre algumas unidades e dezenas, a depender da espécie.
"Na maioria das vezes, as fêmeas entram em trabalho de parto durante a madrugada, e o tempo até o nascimento depende da quantidade de filhotes que cada uma carrega", diz Kathleen.
Segundo a pesquisadora, nos primeiros 15 dias de vida, os filhotes tendem a ficar mais quietos, uma vez que nascem alimentados pelo vitelo (reserva de nutrientes para os embriões) e não sentem necessidade de sair em busca de comida.
Após esse período, os filhotes já têm potencial de envenenamento, e podem comer normalmente.
No caso das serpentes que nascem dentro do laboratório, elas são mantidas numa espécie de "berçário" até os três anos de vida. Somente depois são incluídas nas rotinas de extração de veneno.
Renato Rordigues/Comunicação Butantan
Referência em pesquisas com serpentes, o Instituto Butantan, na Zona Oeste de São Paulo, recebe exemplares do réptil vindos de diversas partes do país — sejam resgatados em operações contra o tráfico ilegal de animais, capturados em áreas residenciais ou envolvidos em acidentes com humanos.
Em laboratório, esses seres contribuem tanto na produção de soro antiofídico quanto no desenvolvimento de estudos sobre toxinas.
No caso das fêmeas, a chegada requer uma atenção especial: é preciso verificar se elas estão "grávidas", carregando o que podem ser dezenas de embriões.
? Teste de gravidez
Segundo especialistas do Butantan, o nascimento de serpentes costuma ocorrer em épocas mais quentes. Por isso, todas as fêmeas que chegam ao instituto entre a primavera e o verão passam por um ultrassom.
? Para o aparelho deslizar melhor pelas escamas das fêmeas, elas ficam com parte do corpo mergulhado em água morna.
Quatro profissionais participam do exame: um tecnologista, responsável pela contenção dos animais; um pesquisador e um médico veterinário, que atuam em conjunto nas medições e avaliações; e um auxiliar, que preenche as fichas com o histórico de cada serpente.
Primeiro, os especialistas buscam a posição da vesícula biliar. É abaixo desse órgão que fica o sistema reprodutivo das serpentes;
Em seguida, eles medem o depósito de gordura ao redor dos órgãos reprodutivos, isso servirá de alimento para os possíveis embriões poderem se desenvolver;
Depois, observam o estágio de cada folículo. Cada um deles dá origem a um óvulo, que pode se transformar num filhote ou ovo, se for fecundado;
No caso das espécies vivíparas, aquelas em que os filhotes se desenvolvem no interior do corpo das mães (como jararacas e cascavéis), quando os especialistas identificam a presença de embriões, eles analisam os batimentos cardíacos, o desenvolvimento da coluna vertebral e o tamanho dos filhotes para saber se o crescimento está ocorrendo da forma adequada.
Já com as ovíparas, aquelas em que os filhotes se desenvolvem fora do corpo das mães, em ovos (a exemplo da falsa-coral), é preciso esperar que os ovos sejam postos para analisar se eles foram fecundados e se há embriões em desenvolvimento. Para isso, os profissionais encostam lanternas nas cascas. A luz permite que se identifique a presença de vasos sanguíneos e, depois, acompanhem o crescimento dos filhotes.
Exame de ultrassom sendo conduzido em água morna
Renato Rordigues/Comunicação Butantan
Foi assim que, na primavera de 2024, a equipe do laboratório de Herpetologia do Butantan conseguiu confirmar a gravidez de cinco fêmeas:
Uma jararaca-pintada (Bothrops neuwiedi) ➡ enviada pelo Departamento de Águas e Esgoto de Ouro Preto, em Minas Gerais, ela carregava dez embriões;
Duas cascavéis (Crotalus durissus) ➡ uma enviada por um morador de Pinhalzinho, no interior de São Paulo, e outra pelo Departamento de Águas e Esgoto de Ouro Preto, em Minas — cada uma com seis filhotes;
Duas urutu-da-serra (Bothrops fonsecai) ➡ ambas enviadas por moradores de Campos do Jordão, em São Paulo — uma com dez e outra com 11 embriões.
De acordo com a pesquisadora Kathleen Fernandes Grego, esses animais, assim como seus filhotes, não poderiam ser soltos na natureza numa área diferente da que foram encontrados, por questões de segurança sanitária.
“Para soltarmos serpentes de biotério [laboratório] na natureza, vários exames clínicos e laboratoriais devem ser realizados para verificar se possuem vírus, parasitas, etc, para não prejudicar as serpentes nativas”, explica.
Por isso, os répteis passam a integrar a criação do laboratório do Butantan.
? Rotina do pré-natal
As fêmeas peçonhentas que estiverem grávidas ou sob suspeita de gravidez deixam de participar do processo de extração de veneno, utilizado na produção de soro, para reduzir a exposição a fatores de estresse.
Além disso, elas passam a ter uma rotina de exames, que inclui coletas de sangue e ultrassons para acompanhar o desenvolvimento dos filhotes/ovos e a saúde das mães. Ao longo da gestação, cuja duração pode variar conforme a espécie, as serpentes realizam cerca de uma ultrassonografia por mês.
Extração de sangue da veia caudal de uma serpente
Renato Rordigues/Comunicação Butantan
Para acompanhar os diferentes estágios da gestação, os veterinários extraem sangue da veia caudal do animal.
"Sabemos que, por conta da formação dos folículos e do próprio desenvolvimento dos filhotes, as fêmeas podem apresentar uma maior concentração de cálcio e colesterol no organismo", exemplifica a veterinária Luciana Carla Rameh.
? Na natureza, serpentes grávidas tendem a ficar longos períodos sem se alimentar para evitar o risco de predação. Já no laboratório, elas seguem recebendo comida normalmente durante toda a gravidez.
? Parto e independência
Para as vivíparas, os exames de imagem também auxiliam na previsão do nascimento dos filhotes, cujo número pode variar entre algumas unidades e dezenas, a depender da espécie.
"Na maioria das vezes, as fêmeas entram em trabalho de parto durante a madrugada, e o tempo até o nascimento depende da quantidade de filhotes que cada uma carrega", diz Kathleen.
Segundo a pesquisadora, nos primeiros 15 dias de vida, os filhotes tendem a ficar mais quietos, uma vez que nascem alimentados pelo vitelo (reserva de nutrientes para os embriões) e não sentem necessidade de sair em busca de comida.
Após esse período, os filhotes já têm potencial de envenenamento, e podem comer normalmente.
No caso das serpentes que nascem dentro do laboratório, elas são mantidas numa espécie de "berçário" até os três anos de vida. Somente depois são incluídas nas rotinas de extração de veneno.
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