Sementes que passam pelo intestino de antas germinam até 2 vezes mais rápido, aponta estudo

Pesquisa brasileira mostra que fezes de antas aceleram a germinação de espécies nativas e reforçam o papel do animal na recuperação de áreas degradadas. Antas favorecem a regeneração mais rápida de florestas e fragmentos verdes
Ercole Sartori / Pixabay
As fezes das antas guardam um segredo poderoso para a natureza: sementes que germinam mais rápido e com maior eficiência. É o que mostra um estudo publicado na revista Acta Amazonica nesta sexta-feira (27), conduzido por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates (RS) e do Instituto de Geociências da UFRGS.
Essas sementes passaram por testes de germinação no laboratório. Foram analisadas seis espécies nativas que são comuns na dieta da anta: cajá-da-mata, mirindibá-do-cerrado, angelim-favela, sete-cascas, goiabinha-do-mato e jenipapo.
Mirindiba-do-cerrado ou mirindiba-rosa (Lafoensia glyptocarpa) é uma das espécies que germinaram mais rápido
fredericosonntag / iNaturalist
Os resultados surpreenderam os pesquisadores, uma vez que a taxa de germinação de algumas espécies subiu para até 89% após a passagem pelo trato digestivo do animal. Além disso, em três delas, as sementes brotaram até duas vezes mais rápido do que aquelas que caem diretamente das árvores.
Entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, a bióloga Lucirene Pinto percorreu uma área de preservação permanente próxima a uma usina hidrelétrica em Mato Grosso, na transição entre Amazônia e Cerrado. Ali, ela coletou fezes de antas em 140 latrinas e, em 88% dessas amostras, encontrou sementes viáveis.
Indivíduos da espécie Tapirus terrestris fotografados em Goiás
KENNEDY BORGES / iNaturalist
“Nas antas, as sementes são expostas a tratamentos: um químico, com microrganismos e enzimas, e outro físico, pela maceração no intestino”, explica o biólogo Mateus Marques Pires, coautor do artigo. Segundo ele, estudos sobre dispersão de sementes por antas remontam aos anos 1980, mas só agora foi quantificada com precisão a aceleração da germinação.
Be acordo com o pesquisador, a identificação das sementes foi feita com o auxílio de manuais especializados, como o de Harri Lorenzi, e pela comparação com um banco de sementes local.
O trabalho reforça o papel da anta, o maior mamífero terrestre da América do Sul, como aliada natural na regeneração de florestas degradadas. Ele é assinado pela doutora Lucirene Pinto, sob orientação do professor Eduardo Périco, ambos vinculados ao PPG Ambiente e Desenvolvimento da Univates (Lajeado, RS).
Sete-cascas ou bordão-de-velho (Samanea tubulosa) também foi analisada na pesquisa
heikomaxbrunken / iNaturalist
Benefícios da pesquisa
A escolha das seis espécies estudadas não foi por acaso. Segundo os pesquisadores, elas representam boa parte da alimentação das antas e são nativas da região, o que fortalece seu potencial para reflorestamento.
“Ao identificar as espécies de plantas cujas sementes passam pelo trato digestivo das antas, e tendem a germinar em maior número e em menor tempo, temos uma boa sinalização de quais espécies podem ser priorizadas para acelerar a restauração de fragmentos de florestas em projetos de restauração ecológica ou reflorestamento”, comenta Mateus.
Outro benefício da pesquisa é que, em locais onde não há mais dispersores naturais como a anta, a ranhura manual das sementes (processo que simula a abrasão intestinal) pode ser uma estratégia complementar eficaz.
Jenipapo (Genipa americana) também foi analisado
scotstewart / iNaturalist
A presença de antas em áreas degradadas pode, portanto, ser uma aliada estratégica para recuperar a vegetação nativa. Isso porque, ao defecar longe das árvores-mãe, a anta favorece o crescimento de novas plântulas, diminuindo a competição com plantas adultas e espalhando sementes a longas distâncias.
“Nossos resultados demonstram que a extinção local da anta prejudicaria o recrutamento de plantas e a dinâmica da vegetação e, por consequência, a capacidade de recuperação natural de florestas degradadas, interrompendo a dispersão de sementes a longa distância”, finaliza.
No momento, o grupo também conduz um estudo sobre a preferência alimentar das antas, mas ainda não há planos para expandir a pesquisa para outras regiões ou espécies frugívoras.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente
Ercole Sartori / Pixabay
As fezes das antas guardam um segredo poderoso para a natureza: sementes que germinam mais rápido e com maior eficiência. É o que mostra um estudo publicado na revista Acta Amazonica nesta sexta-feira (27), conduzido por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates (RS) e do Instituto de Geociências da UFRGS.
Essas sementes passaram por testes de germinação no laboratório. Foram analisadas seis espécies nativas que são comuns na dieta da anta: cajá-da-mata, mirindibá-do-cerrado, angelim-favela, sete-cascas, goiabinha-do-mato e jenipapo.
Mirindiba-do-cerrado ou mirindiba-rosa (Lafoensia glyptocarpa) é uma das espécies que germinaram mais rápido
fredericosonntag / iNaturalist
Os resultados surpreenderam os pesquisadores, uma vez que a taxa de germinação de algumas espécies subiu para até 89% após a passagem pelo trato digestivo do animal. Além disso, em três delas, as sementes brotaram até duas vezes mais rápido do que aquelas que caem diretamente das árvores.
Entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, a bióloga Lucirene Pinto percorreu uma área de preservação permanente próxima a uma usina hidrelétrica em Mato Grosso, na transição entre Amazônia e Cerrado. Ali, ela coletou fezes de antas em 140 latrinas e, em 88% dessas amostras, encontrou sementes viáveis.
Indivíduos da espécie Tapirus terrestris fotografados em Goiás
KENNEDY BORGES / iNaturalist
“Nas antas, as sementes são expostas a tratamentos: um químico, com microrganismos e enzimas, e outro físico, pela maceração no intestino”, explica o biólogo Mateus Marques Pires, coautor do artigo. Segundo ele, estudos sobre dispersão de sementes por antas remontam aos anos 1980, mas só agora foi quantificada com precisão a aceleração da germinação.
Be acordo com o pesquisador, a identificação das sementes foi feita com o auxílio de manuais especializados, como o de Harri Lorenzi, e pela comparação com um banco de sementes local.
O trabalho reforça o papel da anta, o maior mamífero terrestre da América do Sul, como aliada natural na regeneração de florestas degradadas. Ele é assinado pela doutora Lucirene Pinto, sob orientação do professor Eduardo Périco, ambos vinculados ao PPG Ambiente e Desenvolvimento da Univates (Lajeado, RS).
Sete-cascas ou bordão-de-velho (Samanea tubulosa) também foi analisada na pesquisa
heikomaxbrunken / iNaturalist
Benefícios da pesquisa
A escolha das seis espécies estudadas não foi por acaso. Segundo os pesquisadores, elas representam boa parte da alimentação das antas e são nativas da região, o que fortalece seu potencial para reflorestamento.
“Ao identificar as espécies de plantas cujas sementes passam pelo trato digestivo das antas, e tendem a germinar em maior número e em menor tempo, temos uma boa sinalização de quais espécies podem ser priorizadas para acelerar a restauração de fragmentos de florestas em projetos de restauração ecológica ou reflorestamento”, comenta Mateus.
Outro benefício da pesquisa é que, em locais onde não há mais dispersores naturais como a anta, a ranhura manual das sementes (processo que simula a abrasão intestinal) pode ser uma estratégia complementar eficaz.
Jenipapo (Genipa americana) também foi analisado
scotstewart / iNaturalist
A presença de antas em áreas degradadas pode, portanto, ser uma aliada estratégica para recuperar a vegetação nativa. Isso porque, ao defecar longe das árvores-mãe, a anta favorece o crescimento de novas plântulas, diminuindo a competição com plantas adultas e espalhando sementes a longas distâncias.
“Nossos resultados demonstram que a extinção local da anta prejudicaria o recrutamento de plantas e a dinâmica da vegetação e, por consequência, a capacidade de recuperação natural de florestas degradadas, interrompendo a dispersão de sementes a longa distância”, finaliza.
No momento, o grupo também conduz um estudo sobre a preferência alimentar das antas, mas ainda não há planos para expandir a pesquisa para outras regiões ou espécies frugívoras.
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