Em colégios sem estruturas, alunos do AC se revezam na limpeza das salas e professores fazem a merenda: 'É o que temos'

Fiscalização do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) e do Ministério Público (MP-AC), dentro do Projeto Sede de Aprender, encontrou escolas da zona rural do Acre sem equipes de limpeza, água potável, banheiros sem pias e com problemas de saneamento básico. Alunos limpam escola e professores fazem merenda em escolas rurais no Acre
Alunos que ajudam a limpar as escolas, que não têm água potável, professores que levam produtos de limpeza de casa para o trabalho para manter o local higienizado, banheiros improvisados. Essa é a situação de algumas instituições de ensino da zona rural do interior do Acre.
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Esse e outros problemas de saneamento foram apontados em uma fiscalização coordenada por auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) e integrantes do Ministério Público (MP-AC), em uma ação desenvolvida em todo o país dentro do Projeto Sede de Aprender, que avalia as condições de abastecimento de água e saneamento nas unidades de ensino.
Após as fiscalizações, o secretário de Educação e Esporte do Acre (SEE), Aberson Carvalho, falou sobre as medidas tomadas para as escolas precárias na área rural. "Essas melhorias são feitas rotineiramente. Fizemos reformas em 2024 e temos previstos adaptações no final deste ano e em 2026. Temos um cronograma de manutenção de escolas", argumentou. (Veja mais detalhes abaixo)
Água é armazenada em garrafas PET
Reprodução
No Acre, escolas estaduais e municipais de cinco cidades foram visitadas. Na última quarta-feira (4), a equipe da Rede Amazônica Acre acompanhou, com exclusividade, uma dessas fiscalizações em Sena Madureira.
De acordo com dados do Censo escolar de 2024, disponíveis no quadro público do Projeto Sede de Aprender, de um total de 1.523 escolas em atividade no Acre, 547 não têm água potável e 240 não têm banheiro.
A estudante Sulane Souza faz parte do grupo de alunos que se reveza para limpar a Escola Sângelo Nunes de Andrade junto com os colegas. Eles fazem uma escala, dividindo as funções entre meninos e meninas.
Os funcionários ficam responsáveis pelo preparo da merenda. O desejo da Sulane é simples.
Melhoras! Pra cá, para os próximos alunos que vierem, para que não fiquem nesse trabalho de limpar a escola e não focar tanto no estudo.
Heloísa Lima gasta cerca de uma hora e meia pra chegar à escola. Diferente da colega de aula, as condições básicas de saneamento ainda não são uma grande preocupação para ela. O pedido é o mesmo de muitas crianças.
" Um parquinho pra brincar na hora do recreio. Acho que mais nada" , confessou.
Sulane Souza sonha com condições melhores no colégio para poder focar nos estudos
Reprodução
Banheiros sem torneiras
Na Escola de Ensino Fundamental e Médio Madalena Nunes de Andrade, a situação também não é diferente. Os 23 alunos de diferentes séries na turma da professora Mara Lenkely Silva aprendem a escrever o nome dos colegas e a deixar as sandálias e sapatos na porta da sala.
Isso ajuda a manter o ambiente limpo. É que na instituição de ensino não tem funcionário responsável pela limpeza e os professores se revezam nesse trabalho.
Alunos deixam sapatos e sandálias do lado de fora da sala de aula para manter a limpeza
Reprodução
"Estou cansada de trazer produto de casa pra tá fazendo a higienização dos banheiros porque não tinha. Não só dos banheiros, mas das salas que a gente faz a limpeza e em torno da escola. Além do professor ter que está na sala, tem que tirar aquele tempinho pra está dando o básico [na limpeza] para não acumular muita sujeira em torno da escola, nas salas, nos banheiros", contou.
Os dois banheiros disponíveis para as crianças não têm pias e os alunos lavam as mãos em um tanque no lado de fora. Imagens divulgadas pelas equipes fiscalizadoras mostram que a água utilizada para consumo dos alunos vem de uma cacimba que fica a céu aberto.
Alunos tomam água de cacimba na zona rural do Acre
Reprodução
Juliana Moreira, da 8ª coordenadoria especializada de controle externo (Coecex), explicou que a fiscalização iniciou por Manoel Urbano onde as equipes estiveram em quatro escolas ribeirinhas.
No município foi identificado que os estudantes tomam água retirada de uma vertente e não tem tratamento para combater os microrganismos.
"Então, não recebe um tratamento adequado, não realiza uma análise de potabilidade, essa água não pode ser considerada potável. E aí coloca em risco a saúde dos alunos", destacou Juliana.
Pias do banheiro ficam do lado de fora
Reprodução
Sem bebedouros
No Ramal Mario Lobão, ainda em Sena Madureira, a equipe da Rede Amazônica percorreu cerca de 10 quilômetros até chegar à Escola Madalena Nunes de Andrade e quase 40 quilômetros até a Escola de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) Sângelo Nunes de Andrade, onde estudam 40 alunos.
Sem bebedouro, os estudantes tomam a água armazenada em garrafas PET. A água não é tratada e a escola tem apenas essa caixa d'água de 500 litros.
Um poço que fica a cerca de 5 minutos de caminhada é a única fonte de água da Escola Sângelo Nunes de Andrade. O poço fica em um terreno particular e a bomba utilizada no abastecimento foi cedida por uma igreja da região.
"A gente está aí no favor. É um problema muito sério, principalmente o tratamento. Não teve uma análise dessa água, não sabemos que tipo de água estamos ingerindo e passando para os nossos alunos, mas estamos. É o que temos", disse a coordenadora do colégio, Lucicléia Lima.
Água de poço artesiano é puxada com uma bomba cedida para escola
Reprodução
'Episódio pontual
Sobre os professores limparem as escolas e também levarem até produtos de limpeza de casa para o trabalho, o secretário Aberson Carvalho justificou que, às vezes, há problemas de logística na entrada dos materiais nas escolas.
"Temos nosso calendário de dispersão de material. Às vezes, o núcleo está distribuindo para diversas escolas e tem essa dificuldade de logística, mas a secretaria oferece esse tipo de material. Acho que foi um episódio pontual, não é rotineiro, mas, às vezes, isso acontece. Temos consciência de que os professores são da comunidade e há esse ambiente familiar", afirmou.
O secretário falou ainda sobre a situação encontrada na Escola Sângelo Nunes de Andrade. Carvalho ressaltou que o colégio também passou por uma reforma ano passado e há um processo em andamento para perfurar poços artesianos, colocar uma caixa d'água hidráulica e melhorar a distribuição no local.
Já com relação o fato da limpeza do colégio ser feita por alunos e a merenda pelos professores, o secretário justificou que é 'uma realidade que realmente existe'.
"Temos essa consciência. O dinheiro da Educação, que é tão falado, quando é investido não é suficiente para arcar com essa modalidade de ensino. Estamos fazendo uma previsão para escolas com mais de 50 alunos para que possam ter um serviço geral que faça a limpeza e também a merenda para garantir o melhor funcionamento. Mas, isso é para o próximo ano", concluiu.
Reveja os telejornais do Acre
Alunos que ajudam a limpar as escolas, que não têm água potável, professores que levam produtos de limpeza de casa para o trabalho para manter o local higienizado, banheiros improvisados. Essa é a situação de algumas instituições de ensino da zona rural do interior do Acre.
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Esse e outros problemas de saneamento foram apontados em uma fiscalização coordenada por auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) e integrantes do Ministério Público (MP-AC), em uma ação desenvolvida em todo o país dentro do Projeto Sede de Aprender, que avalia as condições de abastecimento de água e saneamento nas unidades de ensino.
Após as fiscalizações, o secretário de Educação e Esporte do Acre (SEE), Aberson Carvalho, falou sobre as medidas tomadas para as escolas precárias na área rural. "Essas melhorias são feitas rotineiramente. Fizemos reformas em 2024 e temos previstos adaptações no final deste ano e em 2026. Temos um cronograma de manutenção de escolas", argumentou. (Veja mais detalhes abaixo)
Água é armazenada em garrafas PET
Reprodução
No Acre, escolas estaduais e municipais de cinco cidades foram visitadas. Na última quarta-feira (4), a equipe da Rede Amazônica Acre acompanhou, com exclusividade, uma dessas fiscalizações em Sena Madureira.
De acordo com dados do Censo escolar de 2024, disponíveis no quadro público do Projeto Sede de Aprender, de um total de 1.523 escolas em atividade no Acre, 547 não têm água potável e 240 não têm banheiro.
A estudante Sulane Souza faz parte do grupo de alunos que se reveza para limpar a Escola Sângelo Nunes de Andrade junto com os colegas. Eles fazem uma escala, dividindo as funções entre meninos e meninas.
Os funcionários ficam responsáveis pelo preparo da merenda. O desejo da Sulane é simples.
Melhoras! Pra cá, para os próximos alunos que vierem, para que não fiquem nesse trabalho de limpar a escola e não focar tanto no estudo.
Heloísa Lima gasta cerca de uma hora e meia pra chegar à escola. Diferente da colega de aula, as condições básicas de saneamento ainda não são uma grande preocupação para ela. O pedido é o mesmo de muitas crianças.
" Um parquinho pra brincar na hora do recreio. Acho que mais nada" , confessou.
Sulane Souza sonha com condições melhores no colégio para poder focar nos estudos
Reprodução
Banheiros sem torneiras
Na Escola de Ensino Fundamental e Médio Madalena Nunes de Andrade, a situação também não é diferente. Os 23 alunos de diferentes séries na turma da professora Mara Lenkely Silva aprendem a escrever o nome dos colegas e a deixar as sandálias e sapatos na porta da sala.
Isso ajuda a manter o ambiente limpo. É que na instituição de ensino não tem funcionário responsável pela limpeza e os professores se revezam nesse trabalho.
Alunos deixam sapatos e sandálias do lado de fora da sala de aula para manter a limpeza
Reprodução
"Estou cansada de trazer produto de casa pra tá fazendo a higienização dos banheiros porque não tinha. Não só dos banheiros, mas das salas que a gente faz a limpeza e em torno da escola. Além do professor ter que está na sala, tem que tirar aquele tempinho pra está dando o básico [na limpeza] para não acumular muita sujeira em torno da escola, nas salas, nos banheiros", contou.
Os dois banheiros disponíveis para as crianças não têm pias e os alunos lavam as mãos em um tanque no lado de fora. Imagens divulgadas pelas equipes fiscalizadoras mostram que a água utilizada para consumo dos alunos vem de uma cacimba que fica a céu aberto.
Alunos tomam água de cacimba na zona rural do Acre
Reprodução
Juliana Moreira, da 8ª coordenadoria especializada de controle externo (Coecex), explicou que a fiscalização iniciou por Manoel Urbano onde as equipes estiveram em quatro escolas ribeirinhas.
No município foi identificado que os estudantes tomam água retirada de uma vertente e não tem tratamento para combater os microrganismos.
"Então, não recebe um tratamento adequado, não realiza uma análise de potabilidade, essa água não pode ser considerada potável. E aí coloca em risco a saúde dos alunos", destacou Juliana.
Pias do banheiro ficam do lado de fora
Reprodução
Sem bebedouros
No Ramal Mario Lobão, ainda em Sena Madureira, a equipe da Rede Amazônica percorreu cerca de 10 quilômetros até chegar à Escola Madalena Nunes de Andrade e quase 40 quilômetros até a Escola de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) Sângelo Nunes de Andrade, onde estudam 40 alunos.
Sem bebedouro, os estudantes tomam a água armazenada em garrafas PET. A água não é tratada e a escola tem apenas essa caixa d'água de 500 litros.
Um poço que fica a cerca de 5 minutos de caminhada é a única fonte de água da Escola Sângelo Nunes de Andrade. O poço fica em um terreno particular e a bomba utilizada no abastecimento foi cedida por uma igreja da região.
"A gente está aí no favor. É um problema muito sério, principalmente o tratamento. Não teve uma análise dessa água, não sabemos que tipo de água estamos ingerindo e passando para os nossos alunos, mas estamos. É o que temos", disse a coordenadora do colégio, Lucicléia Lima.
Água de poço artesiano é puxada com uma bomba cedida para escola
Reprodução
'Episódio pontual
Sobre os professores limparem as escolas e também levarem até produtos de limpeza de casa para o trabalho, o secretário Aberson Carvalho justificou que, às vezes, há problemas de logística na entrada dos materiais nas escolas.
"Temos nosso calendário de dispersão de material. Às vezes, o núcleo está distribuindo para diversas escolas e tem essa dificuldade de logística, mas a secretaria oferece esse tipo de material. Acho que foi um episódio pontual, não é rotineiro, mas, às vezes, isso acontece. Temos consciência de que os professores são da comunidade e há esse ambiente familiar", afirmou.
O secretário falou ainda sobre a situação encontrada na Escola Sângelo Nunes de Andrade. Carvalho ressaltou que o colégio também passou por uma reforma ano passado e há um processo em andamento para perfurar poços artesianos, colocar uma caixa d'água hidráulica e melhorar a distribuição no local.
Já com relação o fato da limpeza do colégio ser feita por alunos e a merenda pelos professores, o secretário justificou que é 'uma realidade que realmente existe'.
"Temos essa consciência. O dinheiro da Educação, que é tão falado, quando é investido não é suficiente para arcar com essa modalidade de ensino. Estamos fazendo uma previsão para escolas com mais de 50 alunos para que possam ter um serviço geral que faça a limpeza e também a merenda para garantir o melhor funcionamento. Mas, isso é para o próximo ano", concluiu.
Reveja os telejornais do Acre
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