Morte de brasileira expõe problemas no setor de turismo da Indonésia

Especialistas locais cobram equipamentos e equipes de prontidão, adoção de um procedimento de resgate padrão e mais participação do governo. Brasileira caiu com vida em trilha de vulcão, e resgate só chegou até ela três dias depois, quando já estava morta. Relatos de montanhistas que fizeram trilha de vulcão na Indonésia onde Juliana Marins morreu
Desfecho trágico da viagem de Juliana Marins em vulcão chamou a atenção para padrões deficientes de segurança e resgate no país. Especialistas locais defendem melhoria das regras e procedimentos para mitigação de riscos.
O corpo da brasileira Juliana Marins, que caiu no sábado (21/06) em um penhasco na trilha rumo ao cume do Monte Rinjani, na Indonésia, e ficou por três dias sem água, comida ou roupas para o frio até ser localizada, foi içado do local e transportado por helicóptero até um hospital nesta quarta-feira.
Após a saga do resgate, diversos veículos de imprensa do país asiático agora discutem a segurança deficiente do país para excursões turísticas ao ar livre de risco, que atraem não só montanhistas experientes, como visitantes amadores do mundo todo.
A tragédia que tirou a vida de Juliana não foi a primeira a ocorrer em Rinjani. Segundo o jornal indonésio Kompas, apenas de abril a junho deste ano outros três incidentes ocorreram no local – e um turista da Malásia também morreu.
Destinos turísticos administrados por comunidades
Infográfico mostra como foi queda de brasileira morta em vulcão na Indonésia
Arte g1
Sari Lenggogeni, professora de turismo da Universidade de Andalas, afirma à DW que o governo indonésio tem o dever de dar mais atenção à mitigação de desastres em atrações naturais do país e aplicar regras mais rigorosas. Atualmente, a maioria dos destinos naturais na Indonésia ainda é administrada por comunidades locais.
"É necessário que os reguladores tenham um papel de fortalecer um plano de mitigação de desastres em áreas de alto risco, abrangendo tudo – desde a melhoria da padronização e certificação, treinamento e postos de segurança até infraestrutura e suprimentos adequados", diz.
Regras claras
Por outro lado, o professor Janianton Damanik, pesquisador do Centro de Estudos de Turismo da Universidade Gadjah Mada, pontua que as regras para caminhadas em tese deveriam estar afixadas no início da trilha, e cita o dever dos turistas de segui-las.
"O cumprimento das regras de viagem também depende de cada turista, porque sempre haverá algum risco a todo momento. Mesmo em trilhas profissionais, existem termos e condições que estabelecem que os guias não podem ser totalmente responsáveis pela vida de quem faz a trilha", afirma.
Falta de equipamentos e procedimento padrão
Mas eles concordam que o equipamento básico e o socorro de emergência nos postos de descanso são inadequados. E enfatizam a importância dos exames de saúde para os caminhantes antes de iniciar a jornada, a fim de evitar riscos indesejados.
Outro ponto fraco é a falta de um procedimento operacional padrão, que não foi amplamente divulgado pelo governo nos níveis provincial, municipal e municipal.
"Honestamente, o procedimento de segurança em destinos naturais na Indonésia ainda é insuficiente. O plano de segurança ainda é mínimo. Por exemplo, raramente há sinalização de segurança para evacuação em caso de desastre nas praias", diz Lenggogeni.
O ministro da Floresta, Raja Juli Antoni, afirmou na terça-feira que o governo estava levando o incidente a sério, e citou o destacamento de helicópteros para apoiar o resgate do corpo de Juliana.
Desafios no cumprimento de normas internacionais
Embora os especialistas enfatizem a importância da padronização internacional, a Indonésia enfrenta alguns desafios para cumprir essas normas. Um deles é a característica única de alguns destinos naturais, que poderia dificultar a adoção de um padrão de acordo com as normas internacionais.
A capacitação dos trabalhadores do setor é outro fator a ser considerado.
"As garantias de segurança dos turistas precisam se feitas por meio da certificação dos guias. O problema é que muitos guias de Rinjani herdaram o conhecimento local por gerações, então, às vezes, eles não atendem aos requisitos internacionais, como educação formal, habilidades linguísticas e experiência internacional", diz Damanik.
Guias locais que não cumprem esses requisitos poderiam acabar sendo substituídos por guias de outros países, ou mesmo por turistas que tenham a certificação. Dessa forma, as oportunidades de emprego e de ganho econômico beneficiaram outros atores, sem melhorar o bem-estar da comunidade local, afirma.
Especialistas pedem mais medidas de segurança
Damanik aponta ainda que é necessário avaliar os procedimentos adotados nas trilhas, o número de visitantes e a capacidade de cada ponto de destino.
De acordo com os especialistas, o governo está muito focado em aumentar o número de turistas para impulsionar a economia, mas a qualidade e a experiência também devem ser avaliadas, pois muitas montanhas são visitadas por mais turistas do que seriam capazes de receber.
"O risco é muito alto durante a estação chuvosa ou quando há excesso de visitantes. Dito isso, equipes de segurança e de proteção devem estar sempre no local para realizar uma mitigação de riscos mais rápida, se houver necessidade", diz.
Além de melhorar a gestão de riscos, eles enfatizam o importante papel desempenhado pela Basarnas, a Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia.
"Aprecio o trabalho da equipe de busca e resgate e da Basarnas, mas eles são apenas parte dos sistemas de apoio para ajudar quando ocorrem incidentes. O regulador do turismo, que é o governo, continua sendo o principal ator", afirma Lenggogeni.
"Qualquer falta de capacidade da Basarnas decorre do sistema e do regulador. É preciso haver melhorias para que eles possam trabalhar melhor para realizar evacuações."
Autor: Adelia Dinda Sani (da DW em Jacarta)
Desfecho trágico da viagem de Juliana Marins em vulcão chamou a atenção para padrões deficientes de segurança e resgate no país. Especialistas locais defendem melhoria das regras e procedimentos para mitigação de riscos.
O corpo da brasileira Juliana Marins, que caiu no sábado (21/06) em um penhasco na trilha rumo ao cume do Monte Rinjani, na Indonésia, e ficou por três dias sem água, comida ou roupas para o frio até ser localizada, foi içado do local e transportado por helicóptero até um hospital nesta quarta-feira.
Após a saga do resgate, diversos veículos de imprensa do país asiático agora discutem a segurança deficiente do país para excursões turísticas ao ar livre de risco, que atraem não só montanhistas experientes, como visitantes amadores do mundo todo.
A tragédia que tirou a vida de Juliana não foi a primeira a ocorrer em Rinjani. Segundo o jornal indonésio Kompas, apenas de abril a junho deste ano outros três incidentes ocorreram no local – e um turista da Malásia também morreu.
Destinos turísticos administrados por comunidades
Infográfico mostra como foi queda de brasileira morta em vulcão na Indonésia
Arte g1
Sari Lenggogeni, professora de turismo da Universidade de Andalas, afirma à DW que o governo indonésio tem o dever de dar mais atenção à mitigação de desastres em atrações naturais do país e aplicar regras mais rigorosas. Atualmente, a maioria dos destinos naturais na Indonésia ainda é administrada por comunidades locais.
"É necessário que os reguladores tenham um papel de fortalecer um plano de mitigação de desastres em áreas de alto risco, abrangendo tudo – desde a melhoria da padronização e certificação, treinamento e postos de segurança até infraestrutura e suprimentos adequados", diz.
Regras claras
Por outro lado, o professor Janianton Damanik, pesquisador do Centro de Estudos de Turismo da Universidade Gadjah Mada, pontua que as regras para caminhadas em tese deveriam estar afixadas no início da trilha, e cita o dever dos turistas de segui-las.
"O cumprimento das regras de viagem também depende de cada turista, porque sempre haverá algum risco a todo momento. Mesmo em trilhas profissionais, existem termos e condições que estabelecem que os guias não podem ser totalmente responsáveis pela vida de quem faz a trilha", afirma.
Falta de equipamentos e procedimento padrão
Mas eles concordam que o equipamento básico e o socorro de emergência nos postos de descanso são inadequados. E enfatizam a importância dos exames de saúde para os caminhantes antes de iniciar a jornada, a fim de evitar riscos indesejados.
Outro ponto fraco é a falta de um procedimento operacional padrão, que não foi amplamente divulgado pelo governo nos níveis provincial, municipal e municipal.
"Honestamente, o procedimento de segurança em destinos naturais na Indonésia ainda é insuficiente. O plano de segurança ainda é mínimo. Por exemplo, raramente há sinalização de segurança para evacuação em caso de desastre nas praias", diz Lenggogeni.
O ministro da Floresta, Raja Juli Antoni, afirmou na terça-feira que o governo estava levando o incidente a sério, e citou o destacamento de helicópteros para apoiar o resgate do corpo de Juliana.
Desafios no cumprimento de normas internacionais
Embora os especialistas enfatizem a importância da padronização internacional, a Indonésia enfrenta alguns desafios para cumprir essas normas. Um deles é a característica única de alguns destinos naturais, que poderia dificultar a adoção de um padrão de acordo com as normas internacionais.
A capacitação dos trabalhadores do setor é outro fator a ser considerado.
"As garantias de segurança dos turistas precisam se feitas por meio da certificação dos guias. O problema é que muitos guias de Rinjani herdaram o conhecimento local por gerações, então, às vezes, eles não atendem aos requisitos internacionais, como educação formal, habilidades linguísticas e experiência internacional", diz Damanik.
Guias locais que não cumprem esses requisitos poderiam acabar sendo substituídos por guias de outros países, ou mesmo por turistas que tenham a certificação. Dessa forma, as oportunidades de emprego e de ganho econômico beneficiaram outros atores, sem melhorar o bem-estar da comunidade local, afirma.
Especialistas pedem mais medidas de segurança
Damanik aponta ainda que é necessário avaliar os procedimentos adotados nas trilhas, o número de visitantes e a capacidade de cada ponto de destino.
De acordo com os especialistas, o governo está muito focado em aumentar o número de turistas para impulsionar a economia, mas a qualidade e a experiência também devem ser avaliadas, pois muitas montanhas são visitadas por mais turistas do que seriam capazes de receber.
"O risco é muito alto durante a estação chuvosa ou quando há excesso de visitantes. Dito isso, equipes de segurança e de proteção devem estar sempre no local para realizar uma mitigação de riscos mais rápida, se houver necessidade", diz.
Além de melhorar a gestão de riscos, eles enfatizam o importante papel desempenhado pela Basarnas, a Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia.
"Aprecio o trabalho da equipe de busca e resgate e da Basarnas, mas eles são apenas parte dos sistemas de apoio para ajudar quando ocorrem incidentes. O regulador do turismo, que é o governo, continua sendo o principal ator", afirma Lenggogeni.
"Qualquer falta de capacidade da Basarnas decorre do sistema e do regulador. É preciso haver melhorias para que eles possam trabalhar melhor para realizar evacuações."
Autor: Adelia Dinda Sani (da DW em Jacarta)
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