Prefeitura de SP vai implementar Zona Azul no estacionamento sob o Minhocão a partir de segunda-feira

Há um mês, o bolsão com quatro vagas foi construído a partir de um recuo no canteiro central da Rua Amaral Gurgel. Contudo, a área vem sendo usada por uma oficina mecânica. Prefeitura vai implantar zona azul em vagas embaixo do Minhocão
A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (28) que vai implementar Zona Azul no bolsão de estacionamento sob o Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, na região central da capital. A medida é válida a partir da próxima segunda (2).
Segundo a prefeitura, a cobrança valerá de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e aos sábados, das 7h às 13h.
O espaço foi criado há cerca de um mês, com a construção de um recuo no canteiro central da Rua Amaral Gurgel, na altura do número 360. Com capacidade para aproximadamente quatro veículos, a área deveria atender motoristas em busca de vagas no Centro.
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No entanto, as vagas que são públicas vêm sendo ocupados por veículos de uma oficina mecânica localizada em frente ao local.
Segundo apuração da TV Globo, quatro carros permanecem estacionados — ou possivelmente abandonados — no bolsão há várias semanas.
Um funcionário da oficina afirmou que já foi notificado pela prefeitura para remover os veículos, o que, segundo ele, será feito ainda nesta semana.
Após a reportagem, agentes da prefeitura fixaram notificações nos para-brisas dos automóveis parados, informando que o tempo máximo de permanência no local é de cinco dias. O descumprimento pode acarretar multa de até R$ 25 mil.
A criação do bolsão também envolveu a retirada de pessoas em situação de rua que ocupavam a região. Nesta quarta-feira, a equipe da TV Globo flagrou servidores removendo colchões e pertences de moradores de rua sob o Minhocão.
"Ao invés da gente ver uma solução para as pessoas, a gente vê que é uma política de expulsão do Centro e por um uso que é completamente indevido — que são mais carros no Centro", criticou o arquiteto Lucas Borges.
Carros de oficina estão estacionados há dias no bolsão do Minhocão.
Reprodução/TV Globo
Moradora do bairro há quatro anos, a professora Catalina Brites relatou que aumentou a sensação de segurança com a presença das viaturas da Guarda Civil Metropolitana. Contudo, ela também se preocupa com o paradeiro das pessoas em situação de rua.
"Onde foram parar essas pessoas? Estão espalhadas por aí? Teve política pública para eles?", questiona.
Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse que tem mais de 26 mil vagas socio-assistenciais distribuídas para oferecer acolhimento e encaminhamento a serviços de saúde e assistência social.
Estacionamento experimental
Segundo a prefeitura, esse bolsão é o primeiro estacionamento embaixo no Minhocão e funcionará de forma experimental, "para avaliação de viabilidade". O projeto também prevê o mesmo serviço na Avenida São João.
Abaixo, entenda quais as principais mudanças com a implementação do projeto:
Confira como deve ficar o bolsão de estacionamento sob o Minhocão
Arte/g1 Design
A ideia da Prefeitura de São Paulo é ampliar o número de bolsões ao longo da rua Amaral Gurgel. A gestão municipal pretende instalar bolsões de estacionamento ao longo de 500 metros da via — entre os números 20 e 482.
Como o espaço é atualmente?
Debaixo do Minhocão, existe um canteiro central que acompanha toda a extensão do elevado;
Nesse canteiro, há pilastras de sustentação;
Nos trechos de ciclofaixas, há duas unidirecionais para os ciclistas — cada faixa segue apenas uma direção.
Como deve ficar após as obras?
Com o bolsão integrado à Rua Amaral Gurgel, há perda de espaço do canteiro central no trecho do estacionamento;
O trecho de ciclofaixa se torna bidirecional, ou seja, os ciclistas passam a compartilhar faixas mais estreitas nos dois sentidos;
Também haverá necessidade de instalação de gradis nos pontos de curva para a segurança de ciclistas e pedestres.
Questionada, a prefeitura não respondeu se houve estudo prévio de viabilidade da obra, quando o projeto ficará pronto, qual será a capacidade de veículos e quais as regras de utilização do bolsão.
"A ciclovia que já existe no local será mantida, sendo que alguns ajustes serão feitos para adequação à nova geometria. O projeto experimental conta com desenvolvimento da CET e implantação da Secretaria Municipal das Subprefeituras", afirmou, em nota.
Trecho na Rua Amaral Gurgel, em São Paulo
Reprodução/Google Street View
Especialistas criticam projeto
Pesquisadores e políticos se posicionaram contra a proposta da prefeitura.
Rafael Calabria, especialista em mobilidade urbana, vê com espanto o avanço do projeto e aponta que milhões de pessoas serão impactadas direta e indiretamente:
"A obra vai na contramão do que a cidade precisa para a mobilidade urbana. Viola as legislações municipais e federais sobre mobilidade urbana — priorizar o transporte coletivo e ativo e desestimular o transporte individual. Vai piorar o trânsito na região, porque vai ter parada de veículo na faixa da esquerda, vai ter um impacto muito ruim no trânsito da região, vai piorar a ciclovia".
"Se for expandida para a Avenida São João, vai destruir o corredor de ônibus, que é superimportante para toda a região da Zona Oeste, de Pirituba, de Brasilândia. Vai impactar milhões de pessoas para criar, no máximo, 20, 30 vagas. Completamente equivocada, sem propósito, sem planejamento, sem diálogo, não passou por nenhum dos conselhos. É assustador que esteja avançando um projeto assim", destacou.
Obra sob o Minhocão, na rua Amaral Gurgel
Arquivo pessoal/Rafael Calabria
O vereador Nabil Bonduki (PT) disse que acionou a Justiça para que as obras sejam paralisadas.
"Eu e a vereadora Renata Falzoni (PSB) entramos com uma Ação Popular contra a Prefeitura para parar as obras do estacionamento sob o Minhocão. Na manhã desta segunda-feira, as máquinas começaram a quebrar as calçadas sem qualquer debate público, planejamento, avaliação técnica ou estudo sobre a drenagem do local – por que tanta pressa, coronel Mello de Araújo? [vice-prefeito da capital]", questionou.
Nabil, que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, diz que o projeto contraria os princípios de mobilidade urbana da Lei Federal e do Plano Diretor porque incentiva o uso do carro.
"Para completar, o problema que o vice-prefeito quer maquiar – das pessoas em situação de rua no local – continuará, porque ainda sobrará espaço a ser ocupado. Reitero a necessidade de investir em políticas públicas de saúde mental e habitação para uma vida digna", completou o vereador.
Obra na rua Amaral Gurgel
Arquivo pessoal/Rafael Calabria
Prefeitura de SP inicia obras para criar estacionamento debaixo do Minhocão
A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (28) que vai implementar Zona Azul no bolsão de estacionamento sob o Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, na região central da capital. A medida é válida a partir da próxima segunda (2).
Segundo a prefeitura, a cobrança valerá de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e aos sábados, das 7h às 13h.
O espaço foi criado há cerca de um mês, com a construção de um recuo no canteiro central da Rua Amaral Gurgel, na altura do número 360. Com capacidade para aproximadamente quatro veículos, a área deveria atender motoristas em busca de vagas no Centro.
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No entanto, as vagas que são públicas vêm sendo ocupados por veículos de uma oficina mecânica localizada em frente ao local.
Segundo apuração da TV Globo, quatro carros permanecem estacionados — ou possivelmente abandonados — no bolsão há várias semanas.
Um funcionário da oficina afirmou que já foi notificado pela prefeitura para remover os veículos, o que, segundo ele, será feito ainda nesta semana.
Após a reportagem, agentes da prefeitura fixaram notificações nos para-brisas dos automóveis parados, informando que o tempo máximo de permanência no local é de cinco dias. O descumprimento pode acarretar multa de até R$ 25 mil.
A criação do bolsão também envolveu a retirada de pessoas em situação de rua que ocupavam a região. Nesta quarta-feira, a equipe da TV Globo flagrou servidores removendo colchões e pertences de moradores de rua sob o Minhocão.
"Ao invés da gente ver uma solução para as pessoas, a gente vê que é uma política de expulsão do Centro e por um uso que é completamente indevido — que são mais carros no Centro", criticou o arquiteto Lucas Borges.
Carros de oficina estão estacionados há dias no bolsão do Minhocão.
Reprodução/TV Globo
Moradora do bairro há quatro anos, a professora Catalina Brites relatou que aumentou a sensação de segurança com a presença das viaturas da Guarda Civil Metropolitana. Contudo, ela também se preocupa com o paradeiro das pessoas em situação de rua.
"Onde foram parar essas pessoas? Estão espalhadas por aí? Teve política pública para eles?", questiona.
Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse que tem mais de 26 mil vagas socio-assistenciais distribuídas para oferecer acolhimento e encaminhamento a serviços de saúde e assistência social.
Estacionamento experimental
Segundo a prefeitura, esse bolsão é o primeiro estacionamento embaixo no Minhocão e funcionará de forma experimental, "para avaliação de viabilidade". O projeto também prevê o mesmo serviço na Avenida São João.
Abaixo, entenda quais as principais mudanças com a implementação do projeto:
Confira como deve ficar o bolsão de estacionamento sob o Minhocão
Arte/g1 Design
A ideia da Prefeitura de São Paulo é ampliar o número de bolsões ao longo da rua Amaral Gurgel. A gestão municipal pretende instalar bolsões de estacionamento ao longo de 500 metros da via — entre os números 20 e 482.
Como o espaço é atualmente?
Debaixo do Minhocão, existe um canteiro central que acompanha toda a extensão do elevado;
Nesse canteiro, há pilastras de sustentação;
Nos trechos de ciclofaixas, há duas unidirecionais para os ciclistas — cada faixa segue apenas uma direção.
Como deve ficar após as obras?
Com o bolsão integrado à Rua Amaral Gurgel, há perda de espaço do canteiro central no trecho do estacionamento;
O trecho de ciclofaixa se torna bidirecional, ou seja, os ciclistas passam a compartilhar faixas mais estreitas nos dois sentidos;
Também haverá necessidade de instalação de gradis nos pontos de curva para a segurança de ciclistas e pedestres.
Questionada, a prefeitura não respondeu se houve estudo prévio de viabilidade da obra, quando o projeto ficará pronto, qual será a capacidade de veículos e quais as regras de utilização do bolsão.
"A ciclovia que já existe no local será mantida, sendo que alguns ajustes serão feitos para adequação à nova geometria. O projeto experimental conta com desenvolvimento da CET e implantação da Secretaria Municipal das Subprefeituras", afirmou, em nota.
Trecho na Rua Amaral Gurgel, em São Paulo
Reprodução/Google Street View
Especialistas criticam projeto
Pesquisadores e políticos se posicionaram contra a proposta da prefeitura.
Rafael Calabria, especialista em mobilidade urbana, vê com espanto o avanço do projeto e aponta que milhões de pessoas serão impactadas direta e indiretamente:
"A obra vai na contramão do que a cidade precisa para a mobilidade urbana. Viola as legislações municipais e federais sobre mobilidade urbana — priorizar o transporte coletivo e ativo e desestimular o transporte individual. Vai piorar o trânsito na região, porque vai ter parada de veículo na faixa da esquerda, vai ter um impacto muito ruim no trânsito da região, vai piorar a ciclovia".
"Se for expandida para a Avenida São João, vai destruir o corredor de ônibus, que é superimportante para toda a região da Zona Oeste, de Pirituba, de Brasilândia. Vai impactar milhões de pessoas para criar, no máximo, 20, 30 vagas. Completamente equivocada, sem propósito, sem planejamento, sem diálogo, não passou por nenhum dos conselhos. É assustador que esteja avançando um projeto assim", destacou.
Obra sob o Minhocão, na rua Amaral Gurgel
Arquivo pessoal/Rafael Calabria
O vereador Nabil Bonduki (PT) disse que acionou a Justiça para que as obras sejam paralisadas.
"Eu e a vereadora Renata Falzoni (PSB) entramos com uma Ação Popular contra a Prefeitura para parar as obras do estacionamento sob o Minhocão. Na manhã desta segunda-feira, as máquinas começaram a quebrar as calçadas sem qualquer debate público, planejamento, avaliação técnica ou estudo sobre a drenagem do local – por que tanta pressa, coronel Mello de Araújo? [vice-prefeito da capital]", questionou.
Nabil, que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, diz que o projeto contraria os princípios de mobilidade urbana da Lei Federal e do Plano Diretor porque incentiva o uso do carro.
"Para completar, o problema que o vice-prefeito quer maquiar – das pessoas em situação de rua no local – continuará, porque ainda sobrará espaço a ser ocupado. Reitero a necessidade de investir em políticas públicas de saúde mental e habitação para uma vida digna", completou o vereador.
Obra na rua Amaral Gurgel
Arquivo pessoal/Rafael Calabria
Prefeitura de SP inicia obras para criar estacionamento debaixo do Minhocão
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