Financeira é suspeita de captar público para esquema em que advogado enganava e fazia empréstimos em nome de clientes, diz polícia
Esquema, chamado pela Polícia Civil de "advocacia predatória", pode ter lesado milhares de pessoas e causado um prejuízo de milhares de reais. Financeira suspeita de envolvimento em esquema de fraude para empréstimos em nome de clientes é alvo de operação
Eduardo Paganella/RBS TV
Uma financeira no Centro de Porto Alegre foi alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Civil, na manhã desta terça-feira (3), por ser suspeita de captar público para um esquema de fraude em que um advogado enganava e fazia empréstimos em nome de clientes – a investigação indica que foram feitos empréstimos até em nome de pessoas mortas.
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O nome da financeira não foi divulgado pela Polícia Civil. O advogado é Daniel Nardon. Ele foi preso em Dourados (MS) na noite de 15 de maio e, então, transferido para Porto Alegre. A Justiça do Rio Grande do Sul determinou a prisão preventiva dele. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também suspendeu o exercício da profissão dele.
A Polícia Civil descobriu que funcionários da financeira entravam em contato com aposentados e pensionistas oferecendo a possibilidade de revisar empréstimos que haviam contratado e, assim, reduzir juros. As vítimas iam até a sede da financeira, onde deixavam documentos, acreditando que seriam revisados juros de empréstimos anteriores. No entanto, as provas indicam que a instituição tomava mais dinheiro emprestado no nome dessas vítimas.
No total, a Polícia Civil cumpriu sete mandados de busca e apreensão nesta terça. Foram apreendidos documentos, inclusive listas com nomes e senhas do gov.br de clientes e relacionados ao escritório de Nardon. Além disso, a polícia identificou material com orientações sobre como os clientes deveriam ser abordados por funcionários para convencê-los do negócio.
'Copiaram a assinatura do meu marido em estado vegetativo', diz vítima
Daniel Nardon, advogado preso sob suspeita de enganar clientes no RS
RBS TV/Reprodução
Relembre o caso
O escritório de Nardon foi alvo de operação da Polícia Civil em 7 de maio. O esquema, chamado pela Polícia Civil de "advocacia predatória", pode ter lesado milhares de pessoas e causado um prejuízo de até R$ 320 mil. Além dele, outras 13 pessoas são suspeitas dos crimes de estelionato, falsidade ideológica, falsificação de documento particular, patrocínio infiel, uso de documento falso, fraude processual e apropriação indébita. Há 45 inquéritos abertos contra os suspeitos.
Conforme a Polícia Civil, Nardon teria movimentado mais de 100 mil processos na Justiça. A polícia estima que cerca de 10% desses processos podem ser fraudulentos. Por esse motivo, a estimativa é de cerca de 10 mil vítimas.
Advogado Daniel Nardon está foragido da justiça
Documentos assinados em nome de pessoas mortas
Segundo a Polícia Civil, em janeiro de 2025, o Ministério Público (MP) solicitou investigações a respeito "da prática de ilícitos em ações judiciais movidas em nome de pessoa já falecida em 3 de junho de 2024".
"Conforme apurado, o investigado, na condição de advogado, ingressou com ações judiciais de revisão de contrato contra instituição bancária, juntando procuração supostamente firmada pelo autor em 23 de agosto de 2024, mais de dois meses após sua morte. A contradição foi detectada pelo juízo responsável e comunicada ao MP", divulgou a polícia.
Em um processo judicial, a Justiça disse que, "intimado para esclarecer a situação, já que a procuração e o ajuizamento distanciam mais de sessenta dias desde a morte, o advogado se limitou a indicar que 'à época da assinatura da procuração, desconhecia sobre a morte do autor. Portanto, não havia qualquer comunicação oficial ou informação acerca do óbito, o que impediu que tivesse ciência da procura não poderia ser validamente outorgada naquele momento'".
No entanto, conforme a Polícia Civil, a procuração falsa foi utilizada para o ajuizamento da ação em nome de pessoa morta, sem nenhuma ressalva, assim como foi usada para o ajuizamento de outras oito ações distribuídas para as outras unidades cíveis da comarca na mesma data.
A polícia confirmou a existência de múltiplos processos com o mesmo padrão de atuação, todos ajuizados em Porto Alegre – todas com procurações emitidas em nome da pessoa morta.
Em agosto de 2024, em Porto Alegre, um processo possuía procuração assinada em 16 de agosto de 2024 em nome de uma pessoa que morreu em 3 de junho de 2024 – essa pessoa teria assinado um documento dois meses depois de morrer.
Houve caso parecido com uma pessoa que morreu em 19 de abril de 2020 e que teria assinado um documento em 26 de maio de 2020.
Em outro caso, havia duas procurações assinadas em 10 de abril de 2023 e em 1º de agosto de 2023, porém o autor se encontra em estado vegetativo desde 2022.
Como era o esquema
Como era esquema de fraude contra clientes de advogado no RS
RBS TV
Conforme a Polícia Civil, representantes da empresa Pro Consumer entram em contato com potenciais clientes utilizando informações particulares, como dados sobre empréstimos consignados vinculados a benefícios previdenciários.
Os clientes, geralmente em situação de vulnerabilidade, são abordados com a promessa de resolver supostas cobranças "abusivas" de instituições financeiras, mediante honorários advocatícios de 30% sobre os valores que viriam a ser "recuperados" judicialmente.
Após ser convencido, o cliente fornece seus documentos, que passam a ser utilizados pelo grupo para instruir ações judiciais contra instituições financeiras.
Depois, os clientes são novamente contatados e acreditam que irão receber valores das ações, mas os montantes depositados nas suas contas bancárias não têm relação com os processos judiciais, são supostamente de novos empréstimos contratados, sem o consentimento deles, viabilizados possivelmente pela atuação da Pro Consumer.
Os clientes, acreditando estar pagando os honorários advocatícios combinados, transferem 30% dos valores recebidos para contas indicadas pelos representantes da empresa Pro Consumer. Porém, ao perceberem descontos em seus benefícios previdenciários, se dão conta de que foram vítimas.
Assim, as tentativas de contato com as empresas para esclarecimentos passavam a ser ignoradas, deixando os clientes sem respostas e sobrecarregados com dívidas inesperadas.
Local onde fica o escritório de onde o grupo atuaria em Porto Alegre
Ronaldo Bernardi/Agência RBS
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
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Eduardo Paganella/RBS TV
Uma financeira no Centro de Porto Alegre foi alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Civil, na manhã desta terça-feira (3), por ser suspeita de captar público para um esquema de fraude em que um advogado enganava e fazia empréstimos em nome de clientes – a investigação indica que foram feitos empréstimos até em nome de pessoas mortas.
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O nome da financeira não foi divulgado pela Polícia Civil. O advogado é Daniel Nardon. Ele foi preso em Dourados (MS) na noite de 15 de maio e, então, transferido para Porto Alegre. A Justiça do Rio Grande do Sul determinou a prisão preventiva dele. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também suspendeu o exercício da profissão dele.
A Polícia Civil descobriu que funcionários da financeira entravam em contato com aposentados e pensionistas oferecendo a possibilidade de revisar empréstimos que haviam contratado e, assim, reduzir juros. As vítimas iam até a sede da financeira, onde deixavam documentos, acreditando que seriam revisados juros de empréstimos anteriores. No entanto, as provas indicam que a instituição tomava mais dinheiro emprestado no nome dessas vítimas.
No total, a Polícia Civil cumpriu sete mandados de busca e apreensão nesta terça. Foram apreendidos documentos, inclusive listas com nomes e senhas do gov.br de clientes e relacionados ao escritório de Nardon. Além disso, a polícia identificou material com orientações sobre como os clientes deveriam ser abordados por funcionários para convencê-los do negócio.
'Copiaram a assinatura do meu marido em estado vegetativo', diz vítima
Daniel Nardon, advogado preso sob suspeita de enganar clientes no RS
RBS TV/Reprodução
Relembre o caso
O escritório de Nardon foi alvo de operação da Polícia Civil em 7 de maio. O esquema, chamado pela Polícia Civil de "advocacia predatória", pode ter lesado milhares de pessoas e causado um prejuízo de até R$ 320 mil. Além dele, outras 13 pessoas são suspeitas dos crimes de estelionato, falsidade ideológica, falsificação de documento particular, patrocínio infiel, uso de documento falso, fraude processual e apropriação indébita. Há 45 inquéritos abertos contra os suspeitos.
Conforme a Polícia Civil, Nardon teria movimentado mais de 100 mil processos na Justiça. A polícia estima que cerca de 10% desses processos podem ser fraudulentos. Por esse motivo, a estimativa é de cerca de 10 mil vítimas.
Advogado Daniel Nardon está foragido da justiça
Documentos assinados em nome de pessoas mortas
Segundo a Polícia Civil, em janeiro de 2025, o Ministério Público (MP) solicitou investigações a respeito "da prática de ilícitos em ações judiciais movidas em nome de pessoa já falecida em 3 de junho de 2024".
"Conforme apurado, o investigado, na condição de advogado, ingressou com ações judiciais de revisão de contrato contra instituição bancária, juntando procuração supostamente firmada pelo autor em 23 de agosto de 2024, mais de dois meses após sua morte. A contradição foi detectada pelo juízo responsável e comunicada ao MP", divulgou a polícia.
Em um processo judicial, a Justiça disse que, "intimado para esclarecer a situação, já que a procuração e o ajuizamento distanciam mais de sessenta dias desde a morte, o advogado se limitou a indicar que 'à época da assinatura da procuração, desconhecia sobre a morte do autor. Portanto, não havia qualquer comunicação oficial ou informação acerca do óbito, o que impediu que tivesse ciência da procura não poderia ser validamente outorgada naquele momento'".
No entanto, conforme a Polícia Civil, a procuração falsa foi utilizada para o ajuizamento da ação em nome de pessoa morta, sem nenhuma ressalva, assim como foi usada para o ajuizamento de outras oito ações distribuídas para as outras unidades cíveis da comarca na mesma data.
A polícia confirmou a existência de múltiplos processos com o mesmo padrão de atuação, todos ajuizados em Porto Alegre – todas com procurações emitidas em nome da pessoa morta.
Em agosto de 2024, em Porto Alegre, um processo possuía procuração assinada em 16 de agosto de 2024 em nome de uma pessoa que morreu em 3 de junho de 2024 – essa pessoa teria assinado um documento dois meses depois de morrer.
Houve caso parecido com uma pessoa que morreu em 19 de abril de 2020 e que teria assinado um documento em 26 de maio de 2020.
Em outro caso, havia duas procurações assinadas em 10 de abril de 2023 e em 1º de agosto de 2023, porém o autor se encontra em estado vegetativo desde 2022.
Como era o esquema
Como era esquema de fraude contra clientes de advogado no RS
RBS TV
Conforme a Polícia Civil, representantes da empresa Pro Consumer entram em contato com potenciais clientes utilizando informações particulares, como dados sobre empréstimos consignados vinculados a benefícios previdenciários.
Os clientes, geralmente em situação de vulnerabilidade, são abordados com a promessa de resolver supostas cobranças "abusivas" de instituições financeiras, mediante honorários advocatícios de 30% sobre os valores que viriam a ser "recuperados" judicialmente.
Após ser convencido, o cliente fornece seus documentos, que passam a ser utilizados pelo grupo para instruir ações judiciais contra instituições financeiras.
Depois, os clientes são novamente contatados e acreditam que irão receber valores das ações, mas os montantes depositados nas suas contas bancárias não têm relação com os processos judiciais, são supostamente de novos empréstimos contratados, sem o consentimento deles, viabilizados possivelmente pela atuação da Pro Consumer.
Os clientes, acreditando estar pagando os honorários advocatícios combinados, transferem 30% dos valores recebidos para contas indicadas pelos representantes da empresa Pro Consumer. Porém, ao perceberem descontos em seus benefícios previdenciários, se dão conta de que foram vítimas.
Assim, as tentativas de contato com as empresas para esclarecimentos passavam a ser ignoradas, deixando os clientes sem respostas e sobrecarregados com dívidas inesperadas.
Local onde fica o escritório de onde o grupo atuaria em Porto Alegre
Ronaldo Bernardi/Agência RBS
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